Três pesquisadores ganharam o Prêmio Nobel de Economia "por estudos sobre como as instituições se formam a afetam a prosperidade", sobre como a democracia é importante para o desenvolvimento econômico e social, anunciou hoje em Estocolmo a Academia Real de Ciências da Suécia.
Acemoglu e Robinson são autores do livro Por que as Nações Fracassam: as origens da prosperidade e da pobreza, um best-seller. A tese central é que a divergência no desenvolvimento econômico e social não se deve a cultura, etnia ou religião, mas à qualidade das instituições.
As distorções vêm do período colonial, da forma como a colonização aconteceu. "Em vez de questionar se o colonialismo é bom ou mau, notamos que diferentes estratégias coloniais levaram a diferentes padrões institucionais que persistem ao longo do tempo. Falando em termos gerais, o trabalho que fizemos destaca a democracia", declarou Acemoglu em entrevista coletiva depois do anúncio.
"Quando os europeus colonizaram grande parte do globo, as instituições nessas sociedades mudaram. Isso às vezes foi dramático, mas não aconteceu da mesma forma em toda parte", observou a Academia da Suécia.
"Em alguns lugares", geralmente com maiores riquezas naturais, "o objetivo era explorar as populações indígenas e extrair recursos para benefício dos colonizadores", geralmente enviados para a matriz. São as colônias de exploração.
"Em outros", sem tanta riqueza, "os colonizadores criaram sistemas políticos e econômicos inclusivos para beneficiar os migrantes europeus a longo prazo", acrescentou o comitê. São as colônias de povoamento, dos que foram para ficar e não enriquecer e voltar para o coração do império.
O resultado é que os 20% países mais ricos são 30 vezes mais ricos do que os 20% mais pobres. O Império Asteca era mais rico e populoso do que o resto da América do Norte, mas hoje os Estados Unidos e o Canadá são muito mais ricos do que o México. Duas cidades fronteiriças, Nogales, têm o mesmo nome dos dois lados da fronteira. A norte-americana é muito mais próspera, apesar da mesma cultura e localização geográfica.
"Reduzir as enormes diferenças de renda entre países é um dos grandes desafios do nosso tempo", comentou o presidente do Comitê do Nobel de Economia, Jakob Svensson. Graças ao que chamou de "pesquisas inovadoras", acrescentou, "temos um conhecimento muito maior das causas profundas de por que os países fracassam ou têm sucesso."
Uma explicação é a qualidade das instituições criadas durante a colonização. Assim, países que eram pobres enriqueceram e colônias ricas viraram países pobres. "Alguns países estão presos numa armadilha com instituições extrativistas e baixo crescimento econômico. A introdução de instituições inclusivas criaria benefícios de longo prazo para todos, mas instituições extrativistas dão ganhos de curto prazo para quem está no poder. Enquanto o sistema político garantir que vão manter o controle, ninguém vai acreditar nas promessas de futuras reformas econômicas", continua a declaração do Nobel.
Diante da pergunta de um repórter sobre como explicar o extraordinário desenvolvimento chinês, o professor Acemoglu respondeu: "Nosso argumento é que este tipo de crescimento autoritário é frequentemente mais instável" e menos inovador.
É preciso ver como vai reagir o regime chinês quando a crise chegar. O país já tem problemas no mercado imobiliário, de endividamento e queda no crescimento. Criou um mercado formidável capaz de garantir a estabilidade a longo prazo, mas a legitimidade da ditadura repousa sobre o sucesso da economia. Quando a crise vier, o poder absoluto do Partido Comunista será questionado.
Acemoglu reconheceu que há uma crise da democracia por não conseguir promover o bem-estar social do conjunto da população: "Muitas pessoas estão descontentes, muitas pessoas sentem que não têm uma voz – e não é isso o que a democracia promete."
Os três laureados vão dividir igualmente o prêmio de 11 milhões de coroas suecas, cerca de R$ 5,9 milhões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário