segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Eleição presidencial no Uruguai terá segundo turno em novembro

 O candidato da Frente Ampla, de esquerda, Yamandú Orsi, venceu o primeiro turno da eleição presidencial de domingo no Uruguai, mas não conseguiu maioria absoluta. Vai para o segundo turno em 24 de novembro contra Álvaro Delgado, do Partido Nacional (blanco), de centro-direita, o mesmo do atual presidente Luis Lacalle Pou. Será uma disputa apertada.

Com 99,9% das urnas apuradas, Orsi recebeu 1.057.515 votos (43,94%) contra 644.147 (26,77%) de Delgado. Em terceiro lugar, com 385.684 (16,03%) ficou Andrés Ojeda, do Partido Colorado, que vai apoiar Delgado, seguido por Gustavo Salle, do novo partido Identidade Soberana, que se apresenta como antiglobalista, republicano, conservador e anticorrupção, com 64.735 votos (2,69%). Outros sete candidatos tiveram pequenas votações.

"Talvez seja meu último voto", declarou o principal cabo eleitoral de Orsi, o ex-presidente José Pepe Mujica (2010-15). Aos 89 anos, o ex-guerrilheiro está muito doente, mas ainda é o político mais querido pelo povo uruguaio. Mujica destacou a importância da participação política das novas gerações: "Se os jovens não se envolverem, estamos fritos."

Orsi, um professor de história e ex-prefeito de 57 anos, indicou a intenção de permanecer no Mercosul. O atual governo queria fazer em separado um acordo de livre comércio com a China, contrariando uma regra fundamental do bloco de negociar em conjunto.

Delgado, um veterinário de 55 anos, declarou que a coalizão entre blancos e colorados é a melhor maneira de administrar o país. Ele terá o apoio de Ojeda, um advogado de 40 anos comparado ao presidente da Argentina, Javier Milei, pelo estilo estridente. A coalizão governista teve cerca de 84 mil votos a mais do que a Frente Ampla.

Dois plebiscitos derrotaram uma proposta de reforma previdenciária e a autorização para a polícia fazer batidas em residências à noite.

Com pouco mais de 3,4 milhões de habitantes, o Uruguai é a democracia mais estável e com o melhor nível de vida da América do Sul. Nos últimos anos, foi superado em renda per capita pela Guiana, que descobriu grandes reservas de petróleo.

Os partidos blanco e nacional dominaram a política do Uruguai desde a independência, em 1828, e travaram guerras civis até 1904, quando começa a transformação numa social-democracia com divórcio e direito ao aborto. Quando não havia divórcio no Brasil, casais de desquitados se casavam no Uruguai.

Como a Argentina, o Uruguai ganhou muito dinheiro vendendo carne e lã aos aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45) e depois com a Guerra da Coreia (1950-53). A crise do modelo social-democrata levou à ascensão da Frente Ampla, que chegou a ser considerada favorita na eleição presidencial de 1971 e ao surgimento de um grupo guerrilheiro, o Movimento de Libertação Nacional os Tupamaros.

Em 27 de junho de 1973, um golpe de Estado dá poderes absolutos ao presidente colorado Juan María Bordaberry, fecha o Congresso e impõe uma ditadura cívico-militar que vai até 1985, quando assume o presidente colorado Julio María Sanguinetti (1985-90 e 1995-2000), sucedido no fim do primeiro mandato pelo blanco Luis Alberto Lacalle (1990-95), pai do atual presidente.

Depois do segundo governo Sanguinetti, é eleito Jorge Batlle (2000-5), neto do presidente Jorge Batlle y Ordoñez (1903-7 e 1911-15), que pacificou o país em 1904.

A Frente Ampla chegou ao poder com Tabaré Vázquez (2005-10) e governou o país por três mandatos consecutivos com Mujica e um segundo mandato para Vázquez (2015-20), até a vitória de Lacalle Pou.

O novo governo toma posse em 1º de março de 2025.

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