sábado, 6 de julho de 2024

Reformista vence eleição presidencial no Irã

Com 16,3 milhões de votos (54,8%), o candidato reformista Masoud Pezeshkian foi eleito nesta sexta-feira no segundo turno presidente da República Islâmica do Irã. Venceu o candidato linha-dura Said Jalili, mais alinhado com o regime fundamentalista iraniano, que recebeu 13,5 milhões de votos (45,2%). Eleitores do presidente eleito festejaram a vitória nas ruas de Teerã e outras cidades iranianas.

A eleição foi antecipada por causa da morte do presidente linha-dura Ebrahim Raïsi num acidente de helicóptero em 19 de maio de 2024. 

Como no primeiro turno, a abstenção foi alta. Mais de 61 milhões estavam aptos para votar, entre eles 18 milhões de jovens entre 18 e 30 anos que não conheceram outro regime. A fraca participação indica que os iranianos não acreditam em grandes mudanças pelo voto.

Pezeshkian foi ministro da Saúde e da Educação Médica (2001-5) no governo Mohamed Khatami (1997-2005) e ex-vice-presidente do Parlamento do Irã (2016-21). No primeiro turno, conquistou 42,5% dos votos contra 38,6% de Jalili, ex-negociador da questão nuclear, ex-secretário do Supremo Conselho de Segurança Nacional (2007-13), ex-candidato a presidente (2013) e atual membro do Conselho de Discernimento,  um órgão de assessoria do Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, o aiatolá Ali Khamenei, o ditador do país.

O presidente eleito é contra a confrontação com o Ocidente e criticou o regime quando a polícia de costumes prendeu, torturou e matou a jovem Mahsa Amina em setembro de 2022, deflagrando uma onda de protestos contra a ditadura dos aiatolás em que cerca de 530 pessoas foram mortas pelo regime. 

Ele promete menos rigor no uso do véu e quer melhorar as relações com os Estados Unidos e a Europa para melhorar a economia iraniana, alvo de sanções. É um contraste com Raïsi, um dos juízes da morte responsáveis por cerca de 5 mil execuções na repressão a adversários do regime, especialmente de esquerda, no fim dos anos 1980. Também é acusado pelas mortes nos protestos pela morte de Mahsa Amina.

Em abril, depois de um bombardeio israelense ao consulado iraniano em Beirute, a capital do Líbano, que matou quatro generais da Guarda Revolucionária Iraniana, o Irã fez o primeiro ataque direto ao território de Israel, com cerca de 350 foguetes sem causar grandes danos porque a maioria foi interceptada. 

É um problema para o novo presidente, especialmente com o aumento da tensão na fronteira entre o Norte de Israel e o Sul do Líbano, com risco de uma guerra entre Israel e a milícia fundamentalista xiita libanesa Hesbolá (Partido de Deus), que é um braço armado do Irã.

No regime iraniano, o presidente é um executivo. O poder real está nas mãos do Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, aiatolá Ali Khamenei, que já criticou indiretamente como ingênua qualquer tentativa de aproximação dos EUA. 

Khamenei nunca aceitou a retirada por Donald Trump dos EUA do acordo nuclear negociado com o governo Barack Obama, as outras grandes potências do Conselho de Segurança da ONU e a Alemanha. Não vê sentido em fazer acordos com os EUA se o próximo governo pode anular tudo.

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