segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Ex-chefe da campanha de Trump é preso por conspirar contra os EUA

O ex-chefe de campanha e ex-assessor especial da Casa Branca Paul Manafort e seu sócio, Rick Gates, se apresentaram hoje a um tribunal federal em Washington e negaram ter culpa em 12 acusações, inclusive de fraude fiscal, lavagem de US$ 18 milhões e conspiração contra os Estados Unidos quando trabalhavam para o presidente da Ucrânia Viktor Yanukovich, deposto numa revolta popular em fevereiro de 2014.

São os dois primeiros denunciados na investigação do procurador especial Robert Mueller, ex-diretor-geral do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos EUA, sobre um possível conluio da campanha de Donald Trump com o Kremlin. Por enquanto, ficam em prisão domiciliar, informou o jornal The New York Times. Só a lavagem de dinheiro pode dar até 20 anos de cadeia.

Em outro processo, o ex-assessor de política externa da campanha de Trump George Papadopoulos reconheceu a culpa por mentir ao FBI sobre um contato com um professor ligado ao governo russo que prometeu revelar informações negativas sobre a candidata democrata, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton.

A denúncia de 31 páginas contra Manafort e Gates não cita o presidente nem o possível conluio com a Rússia. "Manafort usou sua riqueza escondida no exterior para levar uma vida luxuosa nos EUA sem pagar impostos sobre aquela renda", afirma o procurador especial. Gates é acusado de movimentar US$ 3 milhões em paraísos fiscais.

"Como parte do esquema, Manafort e Gates deram informações falsas a contadores, auditores fiscais e conselheiros legais", acrescenta a denúncia.

Yanukovich foi o beneficiário da fraude eleitoral que provocou a Revolução Laranja, na Ucrânia, em dezembro de 2004, afastando a ex-república soviética da Ucrânia da órbita de Moscou para desespero do protoditador russo, Vladimir Putin.

Quando finalmente chegou à Presidência, em 2010, Yanukovich trabalhou ativamente, em aliança com Putin, para evitar o ingresso da Ucrânia na UE e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como exigira a Revolução Laranja. Ao não assinar um acordo de associação com a Europa, em novembro de 2013, sob pressão do Kremlin, Yanukovich deflagrou nova revolução.

Depois de meses de protestos na Praça Maidan, Yanukovich renunciou em fevereiro de 2014. Putin aproveitou a revolução para intervir militarmente na Ucrânia, anexar a Península da Crimeia, sede da Frota do Mar Negro da antiga União Soviética, e fomentar uma rebelião no Leste do país.

Como a OTAN é a aliança militar da Europa e da América do Norte liderada pelos EUA, ao tentar impedir a adesão da Ucrânia, Manafort sabotou os interesses americanos, uma das acusações contra ele.

Por sua vez, Papadopoulos admitiu ter mentido ao FBI em janeiro sobre seus contatos com um professor russo que, de acordo com os autos do processo, tinha "conexões substanciais com funcionários do governo russo".

Na época, ele declarou que o encontro tinha ocorrido antes de trabalhar para a campanha de Trump. Em realidade, aconteceu dias depois do assessor entrar na campanha. O interesse do professor russo era por causa da proximidade com o candidato.

Em mensagens trocadas com os russos, Papadopoulos chegou a dizer que DT não poderia ir. Os entrevistadores acreditam que DT seja Donald Trump.

Manafort é um veterano estrategista do Partido Republicano e lobista. Trabalhou em campanhas presidenciais do partido desde Gerald Ford, em 1976. No século passado, foi assessor de ditadores como Ferdinand Marcos, das Filipinas, e Joseph Mobutu, do Zaire, hoje República Democrática do Congresso. Era editor do boletim de notícias Breitbart, que alavancou várias temas da campanha de Trump: imigração, comércio, antiglobalização.

Ele entrou na campanha de Trump em março de 2016 para tentar impedir a debandada de delegados à convenção nacional para candidatos mais ligados à máquina do partido. De junho e agosto, foi chefe da campanha e principal estrategista de Trump.

Ultranacionalista, Manafort defende políticas como o protecionismo econômico, é contra a globalização e não acredita nas teorias científicas que atribuem o aquecimento global ao homem. Quando o general John Kelly foi nomeado chefe da Casa Civil da Casa Branca para pôr um mínimo de ordem no governo Trump, Manafort caiu fora.

Ao sair do governo, declarou guerra aos atuais líderes do partido, prometendo apoiar nas eleições de 2018 candidatos comprometidos com o programa de Trump. Todos os deputados e senadores que discordarem de suas propostas de extrema direita devem enfrentar uma oposição feroz nas primárias do partido.

O procurador especial Robert Mueller foi nomeado em maio, depois que o presidente demitiu o então diretor-geral do FBI, James Comey, que se negou a encerrar o inquérito sobre as ligações do ex-assessor de Segurança Nacional general Michael Flynn com o Kremlin.

A Casa Branca festejou discretamente a denúncia contra Manafort e Gates porque os fatos que lhes são imputados aconteceram antes deles participarem da campanha de Trump. Mas, se condenados, as penas serão longas. Eles podem fazer delações premiadas.

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