Com vetos da China e da Rússia, o Conselho de Segurança das Nações Unidas rejeitou agora há pouco uma resolução que condenava a Síria e exigia a renúncia do ditador Bachar Assad. Todos os outros 13 países-membros votaram a favor.
A Rússia alega que a condenação abriria caminho para um intervenção militar como aconteceu na Líbia, levando a uma mudança de regime que não teria sido autorizada pelo Conselho de Segurança.
Os Estados Unidos, a França e o Reino Unido, que lideraram a intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), argumentam que não havia como proteger a população civil sem derrubar o coronel Muamar Kadafi.
Agora há pouco, a embaixadora americana na ONU, Susan Rice, acusou a China e a Rússia de bloquearem a meses a atuação do Conselho de Segurança, que tem a obrigação legal de garantir a paz e a segurança internacionais: "Mais uma vez, o povo sírio pôde ver quem está do seu lado, na defesa da liberdade e dos direitos humanos universais".
O embaixador britânico acaba de afirmar que o total de mortos em quase 11 meses de revolta popular na Síria chegou a 6 mil e negou que a resolução pudesse ser um primeiro passo para o uso da força. A proposta estava baseada no capítulo 6 da Carta da ONU. O uso da força é autorizado no capítulo 7.
A China e a Rússia, duas ditaduras que não abrem mão do direito de massacrar seus próprios povos, alegam que a revolta é uma questão interna. Qualquer intervenção externa seria uma ingerência indevida que contrariaria o princípio de soberania nacional, um dos pilares do sistema ONU. Mas há uma série de leis internacionais, surgidas sobretudo depois do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, para proteger o indivíduo diante do poder do Estado.
Em nota, o presidente dos EUA, Barack Obama, considerou inaceitável o ataque a Homs e refirmou que Assad "não tem o direito de liderar a Síria, perdeu toda a legitimidade diante de seu povo e da comunidade internacional".
Já o ministro do Exterior da França, Alain Juppé, que foi a Nova York pressionar o Conselho de Segurança da ONU a condenar o regime sírio, declarou que o bombardeio a Homs "foi um crime contra a humanidade, e os responsáveis terá de responder por isso".
Para alguns observadores das relações internacionais, o primeiro-ministro e homem-forte da Rússia, Vladimir Putin, está travando uma última batalha da Guerra Fria, em sua tentativa vã de resgatar o poder imperial da extinta União Soviética.
Na Guerra do Yom Kippur, em 1973, quando o Exército de Israel cercou e ameaçou destruir o Exército do Egito na Península do Sinai, a URSS entrou em alerta nuclear, advertindo que entraria em combate para defender os egípcios. Isso poderia ter levado a uma guerra nuclear entre as duas superpotências.
Isso não impediu que o então presidente do Egito, Anuar Sadat, se afastasse da URSS e se aproximasse dos EUA, que considerava a única maneira viável para retomar o Sinai, ocupado por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.
Em 1977, Sadat visitou Israel e depois fechou um acordo de paz com este país. A URSS deixava de ser uma grande potência no Oriente Médio.
Hoje Moscou vê uma oportunidade de reafirmar suas ambições imperiais na crise em torno do programa nuclear do Irã, suspeito de desenvolver armas atômicas, e nas revoltas da Primavera Árabe. Mais do que interesses econômicos e militares, a Rússia quer bancar a grande potência a um custo de milhares de vidas humanas.
Se o ditador soviético Josef Stalin, um dos heróis de Putin, matou milhões, e a turbulenta era de Mao Tsé-tung causou cerca de 30 milhões de morte na China, quanto valem alguns milhares de árabes?
Parece que as duas grandes potências comunistas do passado querem voltar à Guerra Fria. Seu maior medo é do poder popular e da democracia, uma ideia contagiosa.
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