quarta-feira, 9 de novembro de 2011

China faz ofensiva cultural para fortalecer poder suave

Depois se tornar uma superpotência econômica capaz de projetar sua influência todos os cantos da Terra, a China lançou em 25 de outubro de 2011 uma ofensiva cultural para reforçar o chamado poder suave (ou brando, numa tradução equivocada), informa o jornal The New York Times.

"Uma nação não pode estar entre as grandes potências sem expressar a riqueza espiritual de seu povo e de toda a criatividade da nação", afirmou em editorial o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista da China.

Ironicamente a estratégia de expansão cultural chinesa acontece num momento de grande repressão interna por temor do regime comunista de uma revolta popular pela democracia e liberdade como as que estão sacudindo o mundo árabe.

O principal artista plástico do país, Ai Weiwei, que ficou 81 dias presos em meados do ano, acaba de ser multado em US$ 2,4 milhões por suposta sonegação de impostos, uma jogada da ditadura comunista para punir a dissidência.

Outro artista, Yue Luping, com dez anos de profissão, estava montando uma exposição no distrito de Shunyi, no Norte de Beijim, quando a polícia interveio, no mês passado, e cancelou a mostra.

No dia seguinte, agentes locais de segurança pública o interrogaram, com atenção especial sobre uma que tinha números formados com grãos de pimenta. Os policiais fotografaram tudo. Terminaram descobrindo que os números estavam numa linguagem de computador conhecida como Unicode e formavam cinco frases que os censores chineses proibiram os mecanismos de busca da Internet de apresentar.

"É irônico", comentou Yue, de 36 anos. "Por um lado, querem promover o desenvolvimento cultural. Por outro, suspendem minha exposição." Um censor disse a ele: "A situação neste ano é muito tensa. Nenhum tema sensível é permitido".

O manifesto da ofensiva cultural do partido prega a inclusão das "ideias centrais do socialismo" nas atividades artísticas para transformar a China numa "superpotência cultural socialista".

A China está implantando Institutos Confúcio por todo o mundo, no modelos dos institutos culturais americano e do Instituto Goethe, da Alemanha, para promover sua língua e sua cultura.

Essa ofensiva cultural segue a fórmula de sucesso da reforma econômica: estabelecer metas de longo prazo, impor critérios rígidos, investir um monte de dinheiro público e controlar com atenção para garantir o resultado desejado.

"O governo tem excesso de confiança quanto à sua capacidade de controlar a arte", afirmou o cientista político Zhang Ming, professor da Universidade do Povo, em Beijim. "Eles acreditam que dando dinheiro e orientação haverá uma grande produção artística. Isto não é surpreendente porque eles nunca experimentaram o processo de livre expressão."

A China já produz grandes filmes como o dirigidos por Zhang Yimou, mas não há nenhuma marca famosa mundialmente ligada à indústria cultural chinesa. Praticamente não exporta programas de televisão. Toda a literatura publicada tem menos títulos do que a editora alemã Bertelsmann.

Em 1956, num raro momento de abertura política do regime, Mao Tsé-tung fez um discurso famoso: "Vamos fazer centenas de flores desabrochar" e "centenas de escolas de pensamento debater", mencionado agora como base para a nova ofensiva cultural.

Dois anos depois, a política do Grande Salto para a Frente acabou com o breve período de florescimento da liberdade intelectual e reinstaurou a repressão cultural no estilo stalinista da União Soviética.

Dez anos depois, começava a Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76), talvez a maior destruição sistemática da cultura de um país na história recente - e isso a ditadura militar chinesa prefere ignorar.

Falta aos hierarcas chinesas a noção de que uma grande cultura depende do talento e da capacidade do povo de ampliar as fronteiras, desafiar barreiras e quebrar tabus.

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