quarta-feira, 8 de junho de 2011

Guarda Revolucionária defende teste nuclear no Irã

No momento em que o Irã anuncia a decisão de enriquecer urânio a 20%, a Guarda Revolucionária Iraniana defende a realização de testes nucleares, a credencial definitiva para pertencer ao exclusivo clube das potências atômicas.

Os Estados Unidos consideraram uma provocação. Na sua última visita a Washington, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu,

Um artigo publicado no sítio da Guarda na Internet, O Dia Seguinte ao Primeiro Teste Nuclear Iraniano - Um Dia Normal, afirma que "para os iranianos, será um dia normal, mas, nos olhos de muitos de nós haverá um novo brilho do poder e da dignidade desta nação".

É o nacionalismo típico de um regime fascista como a ditadura teocrática fundada pelo aiatolá Khomeini depois da revolução que derrubou o xá Reza Pahlevi, um facínora também acusado por dezenas de milhares de mortes.

Os países fizeram a bomba atômica como resposta a uma ameaça à sua própria existência. A bomba nasceu do Projeto Manhattan, criado pelo presidente americano Franklin Roosevelt porque Albert Einstein e outros grandes cientistas advertiram os Estados Unidos: a Alemanha de Hitler estava tentando desenvolver armas com base na terrível energia do núcleo do átomo.

A primeira explosão foi em 16 de julho de 1945, num deserto no Novo México.

Quando os EUA bombardearam Hiroxima e Nagasaki, no Japão, acabando com a Segunda Guerra Mundial, mandaram um recado claro à União Soviética, que seria a inimiga na Guerra Fria. Em 29 de agosto de 1949, Stalin explodiu a sua bomba. Começava a era do equilíbrio do terror nuclear.

O decadente mas orgulhoso Império Britânico não quis ficar atrás. Em 2 de outubro de 1952, fez seu primeiro teste nuclear, na Austrália.

A França, centro de outro império em desagregação, explodiu sua primeira bomba nuclear em 13 de fevereiro de 1960 para se igualar ao Reino Unido, inimigo histórico que desde 1905 se tornara aliado.

A República Popular da China começou seu programa nuclear nos anos 50 com a ajuda soviética, que rejeitou um pedido chinês de fornecimento de uma bomba nuclear com manual de instruções sobre como fazer mais.

Com o esfriamento das relações depois que o líder soviético Nikita Kruschev denunciou os crimes de Stalin no Congresso do Partido Comunista, em 1956, a China decidiu fazer a bomba por contra própria "para romper o monopólio nuclear das superpotências". Sem primeiro teste foi em 16 de outubro de 1964.

Logo, a China passou a ter o terceiro maior arsenal nuclear do planeta. Com sua ascensão a superpotência econômica, é o único país capaz de rivalizar com o hoje incontrastável poderio militar dos EUA.

Essas eram as potências atômicas quando foi assinado o Tratado de Não Proliferação Nuclear, em 1968. Os outros países não têm direito de fazer a bomba com base nesse tratado, que cria duas categorias diferentes de países e por isso sempre foi rejeitado pela Índia como discriminatório.

A Índia começou seu programa nuclear nos anos 50 com o plano Átomos para a Paz, um projeto do governo Dwight Eisenhower. Os EUA ofereciam tecnologia nuclear em troca do compromisso de não usar essa tecnologia para fazer armas.

Derrotada pela China numa guerra de fronteiras em 1962, a Índia decidiu fazer armas nucleares. Explodiu sua primeira bomba atômica em 18 de maio de 1974, mas só assumiu abertamente a condição de potência nuclear com outro teste, em 11 maio de 1998.

Um ano depois de perder a guerra contra a Índia que levou à independência de Bangladesh, o Paquistão iniciou seu programa nuclear em 1972 com Zulfikar ali Bhutto, que logo se tornaria um dos primeiros-ministros mais importantes da história do país.

O programa recebeu um grande impulso com a chegada de Abdul Kadir Khan, um metalúrgico treinado na Alemanha que aprendera a tecnologia de centrífugas a gás numa usina de enriquecimento de urânio na Holanda.

Khan virou chefe do programa. Ele é chamado de pai da bomba atômica paquistanesa e acusado de passar tecnologia nuclear para a Coreia do Norte e o Irã. O Paquistão teria adquirido capacidade nuclear em 1987. Oficialmente, fez seus primeiros testes em 28 de maio de 1998.

Outro país com um programa nuclear clandestino é Israel. Criou sua Comissão de Energia Atômica em 1952. Comprou reatores da França, negociados por seu fundador, David ben Gurion, com o general Charles de Gaulle.

Em maio de 1960, a França passa a pressionar Israel a abrir suas instalações nucleares a inspeção internacional. Um avião-espião dos EUA fotografou a usina nuclear de Dimona em 1958, mas só dois anos depois o governo americano descobriu que era uma central atômica.

Já na Guerra dos Seis Dias, 5-10 de junho de 1967, Israel teria duas bombas atômicas prontas para uso. Em 1973, temendo uma derrota na Guerra dos Seis Dias, a maior empreitada militar árabe da era moderna, Israel teria preparado 20 bombas nucleares de 13 quilotons (equivalente a 13 mil toneladas de dinamite).

Hoje, estima-se que Israel tenha cerca de 200 armas nucleares.

A África do Sul branca e racista do regime segragacionista do apartheid, isolada internacionalmente, colaborou com Israel. Em 1977, instalou um campo de testes no Deserto de Kalahari. Chegou a ter seis armas nucleares táticas.

Como parte do desmantelamento do regime do apartheid, em 1989, a África do Sul abandonou voluntariamente sua armas nucleares e aderiu ao TNP.

No mesmo ano, Brasil e Argentina assinaram um acordo para abrir as instalações dos dois países a inspeções mútuas e da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), enterrando a ameaça de uma corrida nuclear na América Latina.

Se a maioria dos países fez armas nucleares para se defender do que consideravam ameaças à sua própria existência como nação independente, na África do Sul a bomba serviria para proteger a minoria branca da maioria negra, uma situação insustentável.

Da mesma forma, os dois países acusados no momento pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas de desenvolver armas atômicas em violação ao TNP - Coreia do Norte e Irã - não têm ameaças à sua existência ou independência nacional. São as ditaduras que os governam que se sentem ameaçadas.

O Irã iniciou seu programa nuclear em 1975, ainda sob o xá. Com a revolução, teria sido desativado. O aiatolá Khomeini considerava a bomba uma arma anti-islâmica por matar indiscriminadamente. Teria mudado de ideia em 1987, durante a chamada "guerra das cidades" quando os grandes centros urbanos foram atacados dentro da Guerra Irã-Iraque.

A Coreia do Norte está ainda mais adiantada. Já fez dois testes, o primeiro em 9 de outubro de 2006 e o segundo em 25 de maio de 2009. Ainda não é certo que seja capaz de acondicionar os explosivos numa bomba capaz de atingir o inimigo, mas é considerada pelo ex-diretor-geral da AIEA Mohamed ElBaradei como "uma potência nuclear".

Ao que tudo indica, o Irã será o próximo sócio do clube atômico. A julgar pela arrogância da Guarda Revolucionária, que controla o programa nuclear militar, o projeto já chegou a um estágio irreversível. Um bombardeio pode atrasar a bomba iraniana, não acabar com ela.

Em 6 de setembro de 2007, a Força Aérea de Israel destruiu uma usina nuclear em construção na Síria, onde seria instalado um reator de grafite com tecnologia norte-coreana. Acabou com o nascente programa nuclear sírio, assim como fizeram com o Iraque, em 1981. Talvez seja tarde demais para fazer o mesmo com o Irã.

Nenhum comentário:

Postar um comentário