quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Mubarak transfere parte dos poderes e não sai

Em pronunciamento agora há pouco na televisão, o ditador do Egito, Hosni Mubarak, anunciou uma transferência parcial de seus poderes para o vice-presidente Omar Suleiman e reafirmou a intenção de só deixar o poder no fim de seu mandato, em setembro.

Pouco depois, Suleiman pediu à população que deixe as ruas e volte ao trabalho, revoltando ainda mais os manifestantes. O ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica Mohamed ElBaradei, ganhador do Prêmio Nobel 2005, advertiu que "o Egito está prestes a explodir".

"Estou me dirigindo à juventude na Praça da Libertação e no resto do Egito", começou o ditador. "Tenho orgulho de vocês, a nova geração de egípcios que está construindo o futuro."

Sem pedir desculpas, Mubarak afirmou que "o sangue dos mártires não foi em vão". No primeiro sinal evidente de que não iria renunciar, prometeu punir os responsáveis pela violência que matou pelo menos 349 pessoas desde 25 de janeiro de 2011.

Com o clássico discurso dos ditadores, Mubarak disse que "suas demandas são legítimas. Qualquer sistema político pode cometer erros", desculpou-se.

"Não tenho vergonha de escutar a juventude, mas não vou aceitar um ditado do exterior", numa alfinetada no aliado americano, que está ajudando a puxar o tapete do faraó.

Ao reafirmar sua intenção de não ser candidato à reeleição na eleição presidencial de setembro, o presidente insistiu que vai permanecer no cargo até lá. Era o que faltava.

Na Praça da Libertação, a multidão enfurecida mostrava o sapato para Mubarak, que tentava inutilmente fazer uma ponte com a massa: "Vou manter esta promessa até que juntos levemos o Egito para um lugar seguro, fazendo as reformas necessárias para isso".

Um dos argumentos do regime para minar o movimento pela democracia é o risco de desestabilização do país.

"Já criei um cronograma para a transferência pacífica do poder", acrescentou, como se estivesse no controle da situação. "Espero o apoio de todos os interessados numa mudança real. Começamos agora o processo de transição".

Para isso, foram criadas três comissões, o que o vice-presidente Suleiman tinha anunciado dois dias antes, uma para examinar propostas de reforma constitucional e outra para acompanhar a implementação das reformas aprovadas.

"Recebi ontem uma lista de prioridades para as reformas constitucionais. Estou pedindo a mudança de cinco artigos da Constituição e a anulação de um sexto para facilitar uma eleição presidencial livre e transparente", disse o ditador egípcio, alegando que não pode suspender o estado de emergência em vigor há 30 anos "enquanto a estabilidade não for reconquistada".

Apesar de encurralado por 17 dias de manifestações de massa nas ruas, Mubarak e seu regime não dão sinal de ceder. São vagos. A transferência de poderes não definidos do presidente para o vice deixa a impressão de que há um vácuo de poder.

"A prioridade agora é recuperar a confiança dos egípcios e a economia. Não há retorno aos velhos tempos", prometeu o ditador, sem que o povo na praça acreditasse.

Em mais um apelo emocional, Mubarak lembrou: "Já fui jovem. Era jovem quando entrei para as Forças Armadas. Passei a minha vida defendendo o Egito. Não vou aceitar pressões estrangeiras. A maioria dos egípcios save quem é Hosni Mubarak".

O ditador usou a frase do diretor de marketing do Google para o Egito e Oriente Médio, Wael Ghonim: "É preciso colocar o Egito acima de nós".

Neste momento de suposto desprendimento e generosidade, ainda que a frase se pareça com o lema nazista, Mubarak anunciou a transferência de poderes para o vice-presidente.

A seguir, retomou o discurso nacionalista: "Não tomo instruções dos outros. O Egito tem 7 mil anos. (...) O Egito vai prevalecer, e eu não vou deixá-lo até morrer em seu solo".

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