quinta-feira, 4 de março de 2010

Comissão da Câmara dos EUA reconhece genocídio armênio

Por 23 a 22 votos, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos reconheceu hoje como genocídio a morte de cerca de 1,5 milhão de armênios pelo Império Otomano (turco) em 1915-16, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-18).

Em protesto, a Turquia convocou seu embaixador em Washington para consultas em Ancara.

A moção vai agora para o plenário da Câmara, onde há grande possibilidade de que seja rejeitada para não abalar as relações com a Turquia, um aliado importante dos EUA na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e no Oriente Médio.

No momento, a Turquia é membro temporário do Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde os EUA precisam de nove votos a favor e nenhum veto dos cinco membros permanentes (EUA, China, Rússia, França e Reino Unido) para aprovar sanções mais duras contra o Irã.

Na Turquia, um jornalista que ousou mencionar o genocídio armênio foi assassinado no ano passado por um nacionalista.

O país vive sob uma permanente tensão política entre o governo islamita moderado e as Forças Armadas, que se consideram fiadoras da república turca secularista criada por Mustafá Kemal Ataturk, o Pai dos Turcos, em 1923, depois da dissolução do Império Otomano no fim da guerra.

Enquanto as grandes cidades, como Istambul e Ancara, são modernas, cosmopolitas e europeizadas, o interior garante a predominância dos partidos muçulmanos. Os militares são os maiores aliados dos EUA e os fiadores do nacionalismo secularista turco, que renega totalmente o genocídio dos armênios.

Se a Câmara dos EUA aprovar a moção reconhecendo e repudiando o genocídio armênio vai corrigir uma injustiça histórica ocorrida há quase cem anos. Corre o risco de alienar um aliado no Oriente Médio.

A Turquia já se afastou de Israel. No Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, no ano passado, o primeiro-ministro turco, Recep Taiyyp Erdogan, saiu no meio de uma mesa redonda onde também estava o presidente de Israel, Shimon Peres. Foi um protesto contra a ofensiva israelense contra o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) na Faixa de Gaza, em dezembro de 2008 e janeiro de 2009.

Israel e a Turquia já não fazem mais manobras militares conjuntas. Democrática e moderada, a Turquia poderia desempenhar um papel importante no processo de paz no Oriente Médio. Já intermediou negociações com a Turquia, que não avançaram.

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