domingo, 3 de fevereiro de 2008

Fidel pediu a Aznar asilo para Chávez

Quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estava entrincheirado no Palácio Miraflores, em Caracas, temendo que o golpe de 11 de abril de 2002 pudesse derrubá-lo, o ditador de Cuba, Fidel Castro, pediu ao então primeiro-ministro conservador da Espanha, José María Aznar, que desse asilo a Chávez.

"Não te imoles!", pediu Castro por telefone, na madrugada de 12 de abril, alarmado pelo colapso emocional de Chávez, que chegou a pensar em suicídio.

Ao mesmo tempo, Fidel negociava com Aznar um asilo político na Espanha para salvar a vida do amigo e aliado, afirma em suas memórias o bispo Baltasar Porras, ex-presidente da Conferência Episcopal Venezolana (CEV).

"Soubemos que, através da Embaixada na Espanha, houve um apelo do próprio Fidel Castro ao chefe do governo espanhol, dom José María Aznar, para que se o recebesse na península, já que o mandatário cubano não queria recebê-lo na ilha caribenha", escreve Porras.

Na madrugada de 12 de abril, pouco depois de falar com Fidel, Chávez chamou o bispo para comunicar que pretendia se render e entregar o governo, e lhe pedir a bênção: "Perdoem-me todas as barbaridades que disse de você. Chamei para lhe perguntar se está disposto a proteger minha vida e dos que estão comigo aqui em Miraflores. Decidi abandonar o poder. Uns estão de acordo; outros, não. Mas é a minha decisão. Não quero mais derramamento de sangue, embora aqui no palácio estejamos suficientemente armados para nos defender de qualquer ataque. Mas não quero chegar a isso."

Nem ele nem os outros iniciados sabia que os pára-quedistas de Maracay não aceitavam o golpe e ameaçavam marchar sobre Caracas no dia 13, se o presidente não fosse reconduzido ao cargo. O povo saía as ruas para defender o mandato de Chávez.

Em 14 de abril de 2002, Chávez retomava o poder.

Fidel compara a situação de Chávez com a do presidente socialista chileno Salvador Allende no Palácio de La Moneda durante o golpe de 11 setembro de 1997. Allende se matou ao perceber que a resistência seria inútil. Não queria ser pego com vida pelos militares liderados pelo general Augusto Pinochet.

"Allende não tinha um só soldado", lembra Fidel. Chávez contava com uma grande parte dos soldados e oficiais do Exército, especialmente os mais jovens".

Cuba fez uma mobilização diplomática frenética para salvar o presidente venezuelano. "Temíamos que o matassem ou que se imolassem em Miraflores", conta o líder cubano.

O embaixador espanhol em Cuba, Jesús Gracia, revela que foi chamado para uma reunião de emergência no Palácio da Revolução. Estavam presentes ainda os embaixadores do Brasil e de outros países europeus.

Era "muito urgente", afirmou o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Felipe Pérez-Roque, apontado como um dos possíveis sucessores de Fidel. O líder cubano estava no palácio coordenando uma operação para salvar Chávez.

Pérez-Roque explicou que Chávez estava à beira da morte ou do suicídio. Não se sabia como reagiriai. Queriam proteger sua vida".

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