quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Argentina entre a civilização e a barbárie

BUENOS AIRES - O eterno dilema argentino entre a civilização e a barbárie é o tema de um novo livro. Mas em El Dilema Argentino, a socióloga Maristella Svampa tenta na verdade tentar fugir desta encruzilhada em que Domingo Faustino Sarmiento colocou a nação argentina no século 19 com o livro Civilización y Barbarie, escrito e publicado no exílio no Chile durante a guerra contra Rosas, em 1845.

Vinte anos depois, ele seria presidente. Seu livro mais famoso é Facundo, que descrevia um caudilho provinciano de La Rioja, Juan Facundo Quiroga. Na verdade, era uma crítica ao caudilho dos caudilhos, o ditador Juan Manuel de Rosas, e ao caudilhismo de modo geral. O ex-presidente Carlos Menem, que é de La Rioja, onde foi governador, usava suíças largas, imitando Facundo.

Sarmiento via os caudilhos provinciais, os 'federales' de Rosas, como um exemplo daquela barbárie que foi a conquista do Sul do país, em caravanas onde o capitão tinha direito de vida e morte sobre seu rebanho humano.

À noite, os carroções se organizavam em círculos, sempre temendo os ataques dos índios, o que impunha uma cultura militarista, onde valia a lei do mais forte. Estaria aí a origem do autoritarismo argentino, que levaria a mais de meio século de golpes e instabilidade, de 1930 a 1989, quando Menem, um peronista, convidou o maior grupo empresarial da Argentina a indicar o ministro da Economia.

Sarmiento era um liberal bonaerense de tradição européia. Sonhava com um país diferente. Criou um dilema que até hoje atormenta a alma argentina.

Agora, Maristella acredita que é preciso fugir do dilema sarmentiano, que sempre se renova, como recentemente, nos conflitos entre diferentes facções peronistas quando os restos mortais do general Juan Domingo Perón eram levados para um mausoléu nos arredores de Buenos Aires.

Do conflito entre os federais de Rosas e os unitários, que sonhavam em introduzir um liberalismo europeu na Argentina, à guerra suja de 1976-82 e aos conflitos entre peronistas e antiperonistas, e entre peronistas e peronistas, a tragédia argentina se renova. Mas Maristella Svampa acha que chegou a hora de quebrar o molde.

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