quinta-feira, 8 de junho de 2006

Censura e dirigismo cultural

Jobim - Você se manifestou, a classe artística em geral se manifestou, contra a censura do quadro da Márcia X, no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB).

Tunga - Veja bem, eu acho que isso é uma pontinha de um iceberg bem maior do que isso. Eu acho que há uma gestão de cultura intencional no Brasil. Há toda uma complexidade, há um sistema complexo, uma cultura brasileira muito bem subvencionada, muito bem paga com valores fora dos valores do mercado. Há um dirigismo cultural nisso e isso é gravíssimo porque em vez disso ser explícito que é a política cultural, aparece de um modo escamoteado.

J - Que perfil é esse de que você fala?

T - Veja o currículo de algumas dessas instituições e veja o que nos representa tanto nacional como internacionalmente pelo que recebe patrocínio subsídios vindos da isenção fiscal, vindo de leis que são nosso dinheiro...

J – É tudo renúncia fiscal...

T - Essa lei de renúncia fiscal, não estou só falando da lei, precisamente. Estou falando de como essa lei é utilizada por estes centros culturais dessas companhias que se têm, enfim, um lado do Estado e um lado de empresa ...

J - ...privada, o que há torna de economia mista.

T - Economia mista, exato. Quer dizer, eu acho que essas empresas que são de economia mista, que tem esse pé no Estado, e que são geridas, funcionam com isenção fiscal, tem uma responsabilidade cultural que não é só fazer o bem ou fazer publicidade ou dizer como nós somos bonitos.

Estão traçando milionariamente o perfil da cultura brasileira. E ninguém é capaz de mostrar isso e dizer isso claramente. Isso termina nos dando um confronto com o mercado espontâneo muito curioso. Eu acho que é isso é que se deveria ver. Quando há uma coisa arbitrária como uma censura exercida...

Não é a primeira vez que isso acontece no Centro Cultural Banco do Brasil. Aconteceu no Museu de Arte Moderna. Deve acontecer freqüentemente nas escolhas que essas instituições fazem. É evidente que eles escolhem aquilo que os apraz e aquilo que os apraz tem um perfil ideológico, privado, do cidadão que está ali por trás.

Então quero saber que lugar é esse e isso nunca é dito. Isso é apresentado anualmente, esse ano vamos fazer tal qual e tal. Eu não nego a qualidade de muitas dessas coisas que são apresentadas. O que nego é a ausência total de uma responsabilidade cultural. Um museu é um lugar que deve ter e pede-se dele uma responsabilidade cultural.

O papel do museu é sedimentar, sedimentar as referências, os paradigmas, que são aqueles onde se deve espelhar, se deve pensar a cultura que está construindo.

Qual é o papel de um centro cultural? O centro cultural, o papel dele é fazer agir as obras, as manifestações de uma cultura presente, uma cultura que se faz a cada dia.
Não quero um catálogo, não quero uma exposição. Eu quero um perfil cultural. Eu quero um programa para transformar essa sociedade. Um programa cultural explícito.

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