domingo, 7 de maio de 2006

Chávez ameaça convocar referendo para governar Venezuela até 2031

Se a oposição boicotar a eleição presidencial de 3 de dezembro deste ano, o caudilho venezuelano Hugo Chávez ameaça convocar um referendo que permitiria sua reeleição como presidente até 2031. Uma pesquisa recente indicou que 71% dos venezuelanos acreditam que Chávez será reeleito; 41% manifestaram apoio ao presidente e 47% se declararam contra ele.

Diante de uma multidão reunida num estádio no estado de Lara, Chávez negou ser um tirano sedento de poder mas não escondeu sua intenção de continuar no poder: "Ditarei um decreto e se perguntará ao povo: 'Você está de acordo que Chávez seja presidente da Venezuela até 2031?' Vamos ver o que acontece". E acrescentou: "De toda maneira, algum dia irei. Mas o mais importante não é que vá ou não vá e sim que este movimento que está apenas começando jamais se vá."

A Constituição da Venezuela, aprovada em 1999 sob a liderança de Chávez, prevê apenas uma reeleição. Mas pode ser emendada por referendo.

Até agora, quatro candidatos de oposição se apresentaram para desafiar Chávez: o jornalista Teodoro Petkoff; William Ojeda, jornalista e ex-aliado do presidente; Julio Borges, um advogado conservador; e Roberto Smith, que foi ministro no governo Carlos Andrés Pérez. Mas paira no ar uma ameaça de boicote, se ficar evidente que nenhum terá qualquer chance.

A oposição acusa Chávez, um ex-oficial de elite eleito pela primeira vez em 1998, de governar de modo cada vez mais autoritário e de dividir o país com sua retórica populista e esquerdista inflamada e antiamericana.

O ex-coronel golpista que tentou derrubar o presidente Andrés Pérez em 1992 tem hoje domínio total da máquina do Estado na Venezuela. Controla os três poderes e a empresa estatal Petróleos de Venezuela (PdVSA), de onde tira bilhões de dólares para programas sociais e para alimentar suas pretensões de liderar a América Latina.

Chávez comprou US$ 1 bilhão da dívida argentina e apóia candidatos populistas como Evo Morales, eleito presidente da Bolívia em dezembro passado, e Ollanta Humala, que disputa o segundo turno da eleição presidencial no Peru em 28 de maio.

Ele aliou-se ao ditador cubano, Fidel Castro. Mantém o regime comunista cubano com petróleo subsidiado. Lançou com Castro e Morales a Alternativa Bolivarista para as América (Alba) para se contrapor ao projeto americano da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Defende um mal definido "socialismo do século 21", mas especialistas em América Latina como o sociólogo francês Alain Touraine entendem que ele não tem um modelo de desenvolvimento socioeconômico que tire a região de seu atraso histórico.

Na quarta-feira passada, deu uma carona a Morales para a reunião de cúpula com os presidentes do Brasil e da Argentina que discutiu a crise provocada pela estatização do gás e do petróleo da Bolívia. Isto foi considerado uma interferência indevida pelo governo brasileiro, cada vez mais preocupado com as bravatas do caudilho venezuelano. No encontro, Chávez defendeu seu projeto de um gasoduto de US$ 30 bilhões ligando Venezuela, Brasil e Argentina, o que tornaria o gás boliviano desnecessário.

Seu ativismo e antiamericanismo estão destruindo o projeto de integração regional da América do Sul defendido pelo Brasil. Chávez incentivou Morales a radicalizar e vai retirar a Venezuela da Comunidade Andina de Nações porque Colômbia e Peru assinaram acordos de livre comércio com os Estados Unidos. Ainda ameaçou romper relações com o Peru se o ex-presidente Alan García derrotar seu candidato favorito, Ollanta Humala, outro ex-oficial golpista, no segundo turno da eleição presidencial peruana, em 28 de maio.

A integração sul-americana depende da criação de instituições que tornem as regras do jogo transparentes e estáveis, e sirvam como antídoto contra o personalismo político e o populismo que grassam na região em conseqüência de suas injustiças sociais e da terrível má distribuição da riqueza. Mas a inclusão social das massas despossuídas, o grande desafio da América Latina para sua reinserção competitiva no mundo globalizado neste início de século 21, depende de crescimento econômico. A incerteza política cria riscos que afastam investimentos produtivos, deixando a região para trás na concorrência com a Ásia e a Europa Oriental.

Por ironia da História, o jornal conservador americano The Wall St. Journal, porta-voz do centro financeiro de Nova Iorque, observou que a oposição de Chávez deve facilitar a aprovação dos acordos comerciais no Congresso dos EUA.

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