quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Extrema direita chega ao poder na Suécia

 Três dias depois das eleições gerais na Suécia, o resultado foi definido hoje. Com 99,95% das urnas apuradas, a aliança entre a direita e a extrema direita, liderada pelo conservador moderado Ulf Kristersson, terá maioria com 176 deputados contra 173 da esquerda no Parlamento, de 349 cadeiras. Pela primeira vez, a ultradireita chega ao poder.

A primeira-ministra esquerdista Magdalena Andersson (foto) pede demissão amanhã ao rei Carlos Gustavo, mas deve continuar na liderança do Partido Social-Democrata, que ainda é o maior do país, com 107 deputados, sete a mais do que antes. Sua aliança perdeu por causa de partidos menores da coalizão de governo.

O Centro perdeu 7 cadeiras, caindo para 24, o mesmo número de deputados da Esquerda, que perdeu 4. Os Liberais também perderam quatro deputados e agora têm 16. Os Verdes ganharam mais duas cadeiras, chegando a 18. Não foi suficiente.

O grande vitorioso foi o partido Democratas da Suécia, de extrema direita, anti-imigrantes, que se tornou o segundo maior do país, com 20,5% dos votos e 73 deputados, 11 a mais, e terá força para influir no programa do futuro governo.

“Agora, começa o trabalho para tornar a Suécia grande de novo”, declarou seu líder, Jimmie Akesson, reproduzindo o discurso do ex-presidente norte-americano Donald Trump. Ele promete ser uma “força construtiva, com iniciativa”.

Herdeiro de um grupo neonazista na sua origem, em 1988, os Democratas da Suécia foram pouco a pouco sendo aceitos, a exemplo de outros partidos e líderes de extrema nesta ascensão do neofascismo no século 21.

A esquerda governou a Suécia em 80 dos últimos 100 anos. Com 10,5 milhões de habitantes e renda média de US$ 60 mil por ano, o país tem o 7º maior índice de desenvolvimento humano.

Em 2010, a ultradireita entrou no Parlamento com 5,7% dos votos. Anti-imigrantes, explora a criminalidade cometida por gangues de estrangeiros. Neste ano, houve 44 homicídios até agora. No ano passado, foram 45.

“Nunca antes a segurança pública havia sido um tema central de uma eleição na Suécia”, observou o cientista político Henrik Oscarsson.

A extrema direita defende o Estado previdenciário, o bem-estar social do modelo social-democrata escandinavo, mas acusa os estrangeiros de sobrecarregar o sistema e quer limitar o acesso a benefícios aos suecos étnicos.

Historicamente, a Suécia tinha uma política de imigração liberal. Costumava acolher refugiados, inclusive das ditaduras da América Latina. Desde 2015, o país recebeu 150 mil candidatos a asilo político, principalmente da Síria, do Iraque e do Afeganistão. O eixo da campanha eleitoral mudou da questão social para imigração e identidade nacional.

Apesar do sucesso, Akesson não tem o apoio dos três partidos da direita republicana (Moderado, Democratas-Cristãos e Liberais) para se tornar chefe do governo, cargo prometido ao moderado Kristersson (foto), e talvez nem para formar parte do governo formalmente. Os Democratas da Suécia podem dar “apoio crítico” ao novo governo no Parlamento sem ter ministérios, desde que possam emplacar suas políticas.

A campanha durante o processo de adesão da Suécia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA, em reação à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, mas isso não foi objeto de grandes discussões. Os sociais-democratas, que historicamente eram contra, mudaram de posição com a guerra.

O sucesso da aliança da direita com a extrema direita empolgou estas correntes políticas na Itália, onde uma coligação entre partidos da mesma coloração política é favorita nas eleições de  25 de setembro.

“Mesmo na bela e democrática Suécia, as esquerdas foram derrotadas e mandadas para casa. O domingo 25 é nossa hora. Vamos ganhar”, festejou Matteo Salvini, líder da neofascista Liga, que não festeja a queda do ditador Benito Mussolini no fim da Segunda Guerra Mundial (1939-45). 

Quem lidera as pesquisas na Itália é o partido pós-fascista Irmãos da Itália, chefiado por Giorgia Meloni, provável futura primeira-ministra. A Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, também faz parte da aliança.

Se na Suécia a questão central que levou a extrema direita ao poder foi a imigração, causada especialmente pela guerra civil na Síria e outros conflitos do Grande Oriente Medio, na Itália, o peso maior é da guerra na Ucrânia. A Itália comprava 40% do gás que consome da Rússia. Sofre com a inflação de energia e alimentos, e corre risco de passar frio no inverno.

Um governo de extrema direita na Itália tende a ser mais favorável à Rússia. Pode se aliar ao primeiro-ministro neofascista da Hungria, Viktor Orbán, para dividir a frente contra a guerra de agressão de Vladimir Putin.

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