sábado, 23 de maio de 2020

Trump ataca voto pelo correio

Com popularidade em queda por causa da pandemia do coronavírus, que tem mais de 1,665 milhão de casos registrados e 98.639 mortes nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump atacou nesta semana a votação pelo correio, a melhor alternativa para evitar que os eleitores tenham de enfrentar longas filas nas eleições de 3 de novembro, alegando que podem ter fraude generalizada.

Trump ameaçou suspender a ajuda federal a estados governados pelo Partido Democrata, como Michigan e Nevada, que estão oferecendo a alternativa aos eleitores. A Califórnia e Wisconsin oferecem a mesma oportunidade para evitar um aumento da abstenção.

"Para votar de verdade, sem fraude, você precisar votar numa sessão eleitoral", declarou o presidente ao visitar uma fábrica da Ford em Michigan, um dos estados-chaves, alegando que o voto pelo correio pode "estar sujeito a fraude e abuso".

Em 2016, o candidato Trump levantou suspeitas de fraude. Mesmo depois da vitória, insistiu no assunto para justificar a derrota por quase 3 milhões de votos para a candidata democrata, Hillary Clinton, no voto popular. Nunca apresentou nenhuma prova para corroborar a acusação.

Como nos EUA e nas democracias liberais de modo geral, o voto não é obrigatório, o risco de pegar a covid-19 pode levar muito mais eleitores a ficar em casa. Historicamente o Partido Republicano se beneficia quando a abstenção aumenta e tenta criar problemas, por exemplo, para desestimular o voto de minorias como negros e latinos, bases eleitorais importantes do Partido Democrata.

Michigan e Nevada estão entre os chamados estados-pêndulo, o pequeno grupo de 10 a 15 estados onde a situação está indefinida, que são os que decidem a eleição presidencial. Nos EUA, a eleição presidencial é realizada por um Colégio Eleitoral de 538 delegados. Quem vence num estado no voto popular leva todos os votos daquele estado no Colégio Eleitoral.

Nos estados mais liberais, como a Califórnia e Nova York, a vitória do Partido Democrata é certa. Em estados conservadores como Texas, Kansas, Idaho, Dakota do Sul e Dakota do Norte, o Partido Republicano é amplamente favorito, embora no Texas haja dúvida por causa do aumento da população de origem latino-americana.

Assim, a eleição presidencial costuma ser decidida em estados como a Flórida, Michigan, Ohio, Pensilvânia e Wisconsin. Em 2016, Trump se elegeu derrotando Hillary por margens apertadas de dezenas de milhares de votos nestes últimos quatro estados. A tendência é que a disputa seja apertada mais uma vez neste ano.

Por causa do crescimento econômico e do desemprego no menor nível em 50 anos, Trump era o favorito antes da pandemia. A situação mudou. Desde março, 38,6 milhões de americanos perderam o emprego. A taxa de desemprego subiu de 3,5% para 14,7% no mês passado e pode chegar a 20% neste mês.

No momento, o candidato democrata, o ex-vice-presidente Joe Biden, tem uma vantagem de 2 a 10 pontos percentuais nas pesquisas nacionais, que não necessariamente refletem a realidade de uma eleição decidida pelos estados. Mas Trump está preocupado. As pesquisas indicam a chance de vitória democrata em estados conservadores como o Arizona, onde Biden lidera com vantagem de quatro pontos percentuais.

Em nível nacional, 53,4% dos americano desaprovam o governo Trump e 42,9% aprovam, de acordo com o sítio FiveThirtyEight, do matemático Nate Silver, que acertou o resultado das últimas eleições presidenciais, menos a vitória de Trump em 2016. Só a pesquisa do jornal Los Angeles Times acertou. Usou sempre a mesma amostra, conseguindo detectar melhor a tendência do eleitorado.

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