quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Polonesa e austríaco ganham prêmios Nobel de Literatura de 2018 e 2019

Depois de um escândalo sexual na Academia Real da Suécia que suspendeu a premiação no ano passado, a Fundação Alfred Nobel anunciou hoje em Estocolmo dois ganhadores do Prêmio Nobel de Literatura. 

A escritora polonesa Olga Tokarczuk foi agraciada pelo ano de 2018 por "uma imaginação narrativa que, com uma paixão enciclopédica, representa a transposição de fronteira. 

O austríaco Peter Handke levou o prêmio deste ano por "sua obra influente que explora com engenhosidade linguística a periferia e a especificidade da experiência humana."

Olga Tokarczuk nasceu em Sulechow, na Polônia, em 1962. Antes de se tornar uma escritora de renome internacional, formou-se em psicologia na Universidade de Varsóvia. Já havia recebido três prêmios literários internacionais, Nike duas vezes e Man-Booker.

Em 2014, ela publicou Os Livros de Jacó, sobre os dissidentes judeus do século 18. Em entrevista ao jornal francês Le Monde em 2010, confessou: "É duro ser polonesa, sente-se o azar o karma ruim! Por causa de Auschwitz, com certeza. Mas não somente. É uma história longa, dolorosa, um combate contínuo aos complexos de inferioridade. E, às vezes, de superioridade."

Peter Handke nasceu em Griffen, na Caríntia, uma região da Áustria, em 1942, e largou a faculdade de direito em 1965, quando seu primeiro romance, As Vespas, foi aceito por uma editora. Desde então, publicou mais de 40 contos, romances, ensaios e peças de teatro, entre eles A Angústia do Goleiro na Hora do Pênalti, tornando-se um dos maiores escritores austríacos, ao lado de Thomas Bernard e de Elfriede Jelinek.

Sua premiação provocou protestos na Bósnia-Herzegovina , no Kossovo e na Albânia por causa de sua admiração pelo falecido ditador sérvio Slobodan Milosevic e sua negação dos crimes cometidos durante as guerras que destruíram a antiga Iugoslávia no fim do século passado.

"Nos anos 1990s, Václav Havel, Susan Sontag e muitos outros sabiam que o mal na Europa precisava ser parado. O genocídio na Bósnia e no Kossovo teve um autor. Handke escolheu apoiar e defender seus autores. A decisão do Prêmio Nobel causa imenso sofrimento a inúmeras vítimas", reagiu o presidente do Kossovo, Hashim Thaçi, no Twitter.

O representante bósnio na presidência colegiada da Bósnia-Herzegovina, Sefik Dzaferovic, considerou a decisão "escandalosa e vergonhosa": "É uma vergonha que a decisão do Comitê do Prêmio Nobel ignore o fato de que Handke justificou as ações de Slobodan Milosevic e que o tenha protegido, assim como a seus executores Radovan Karadzic e Ratko Mladic, que foram condenados por graves crimes de guerra, entre eles genocídio."

"Nunca pensei que teria ânsia de vômito em razão de um Prêmio Nobel", escreveu o primeiro-ministro da Albânia, Edi Rama, na mesma rede social. "Diante da escolha vergonhosa da Academia do Nobel, a vergonha é selada como um novo valor. Não, não devemos ser insensíveis assim ao racismo e ao genocídio."

O diretor de cinema bósnio Dino Musfafic lembrou que "Handke negou o genocídio em Srebrenica e foi ao funeral de Milosevic", que morreu na prisão do tribunal de Haia antes do fim do julgamento.

Em Estocolmo, o acadêmico Anders Olsson, ex-secretário da academia, defendeu a premiação: "Este é um prêmio literário, não é um prêmio político, é sobre seus méritos literários que o prêmio lhe foi atribuído. Peter Handke é um grande escritor, com uma grande obra literária e é ela unicamente que recompensamos."

Apesar de criticar o apoio a Milosevic, o escritor bósnio Ahmed Buric declarou que "os critérios literários devem estar acima da política. Alguns de seus textos dos anos 1980s são verdadeiras obras-primas."

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