quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Congresso do Partido Comunista da China consagra Xi Jinping

O 19º Congresso do Partido Comunista Chinês começa hoje em Beijim suscitando duas questões: o líder Xi Jinping é o mais poderoso dirigente chinês desde Mao Tsé-tung, o fundador da República Popular da China, ou Deng Xiaoping, o arquiteto das reformas que transformaram o país na segunda maior potência mundial, rumo ao primeiro lugar? 

O todo-poderoso Xi Jinping vai deixar a chefia do partido e do governo em 2022, mantendo uma regra em vigor desde 1992, depois do Massacre na Praça da Paz Celestial, em 1989, ou pretende ficar indefinidamente no cargo como um novo imperador?

No discurso de abertura do congresso do partido mais importante deste século, durante quase quatro horas, Xi exaltou o combate à corrupção, no plano interno, e o aumento do poderio econômico e militar do país, no plano internacional. Anunciou uma "nova era" para as relações com o mundo. E defendeu a realização do "sonho chinês", expressão que pretende transformar em marca de seu governo.

Xi Jinping falou pela primeira vez no "sonho chinês" durante visita ao Museu Nacional, em Beijim, em novembro de 2012, logo depois de ser escolhido secretário-geral do PC. Ele declarou que "os jovens devem ousar e sonhar, trabalhar assiduamente para realizar seus sonhos e contribuir para revitalizar da nação".

Os teóricos do partido definiram o "sonho chinês" como prosperidade, esforço coletivo, socialismo e glória nacional. É o nacionalismo chinês da era Xi.

Em cinco anos, o homem-forte da China apelou para o nacionalismo, centralizou poderes, combateu inimigos políticos dentro do partido e do governo com sua campanha anticorrupção, aumentou a repressão aos dissidentes e a censura na Internet, e o controle do Estado sobre a economia.

Sua visão de mundo tem o poder absoluto do partido como centro, como guia da economia, da sociedade e até do comportamento individual. A meta é garantir o papel do PC como pai, fiador e protetor perpétuo da Nova China.

O maior projeto internacional é recriar a Rota da Seda como uma via de comércio ligando a China a seu maior mercado, a União Europeia, criando oportunidades de desenvolvimento ao longo do caminho, inclusive no Grande Oriente Médio, uma das regiões mais conturbadas da Terra, numa diplomacia econômica.

Ao discursar para empresários no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, no início do ano, Xi apresentou-se como defensor do livre comércio e da abertura econômico, no momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adota políticas protecionistas.

O recuo internacional e a incompetência de Trump tornam Xi no homem mais poderoso do mundo, como observou o revista inglesa The Economist.

Durante o 19º congresso do PC chinês, não se espera nada muito espetacular. Não se espera uma discussão sobre os problemas do país, o elevado endividamento das empresas, o excesso de capacidade instalada, a poluição, a falta de habitação, a educação e o aumento na desigualdade social. A expectativa é de consolidação do poder de Xi.

Num regime ditatorial como o chinês, as mudanças e alianças são negociadas em encontros secretos a portas fechadas. Mas as posições ideológicas se cristalizam nos congressos. Em 1982, Deng anunciava uma nova era de prosperidade com sua "economia de mercado socialista".

O congresso do partido é realizado a cada cinco anos para escolher os novos dirigentes chineses. De início, os 2.287 delegados vão eleger os 370 membros plenos e substitutos do Comitê Central do PC. Em sua primeira reunião, o novo Comitê Central vai eleger os 25 membros do Politburo, o birô político do partido.

Por fim, o Politburo deve eleger seu Comitê Permanente, os sete imperadores que governam a China, o núcleo central do poder, que vai confirmar Xi Jinping como dirigente supremo do partido e do país.

Como Xi está no fim do primeiro mandato, a seguir a praxe adotada depois do Massacre na Praça da Paz Celestial pelo líder Deng Xiaoping de que cada líder do partido e presidente da República cumpre dois mandatos de cinco anos, seu sucessor deveria ser indicado.

Quem sobe e desce no Comitê Permanente é o maior indicador da luta interna pelo poder no regime comunista. Uma questão importante é se o primeiro-ministro Li Keqiang será mantido no cargo e no Comitê Permanente. Chefe de governo, ele é encarregado principalmente da administração econômica. É considerado mais liberal do que Xi.

Outro nome a observar é o czar anticorrupção Wang Qishan. Aos 69 anos, já passou de idade de 68 anos, estabelecida por Deng Xiaoping como limite de idades para dirigentes do partido e do governo, de modo a passar a poder às novas gerações.

Se Wang for mantido no Comitê Permanente, será um sinal de que esta regra informal está quebrada. Xi, hoje com 64, poderia ir além do fim dos atuais mandatos como líder do partido, em outubro de 2022, e presidente da República, em março de 2023.

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