terça-feira, 6 de junho de 2017

Resgate de US$ 1 bilhão levou vizinhos árabes a isolar o Catar

O pagamento de um resgate de US$ 1 bilhão pela libertação de 26 membros da família real catarina e de 50 milicianos tomados como reféns levou ao rompimento de relações diplomáticas da Arábia Saudita, do Bahrein, dos Emirados Árabes Unidos (EAU), do Egito e do Iêmen com o Catar, informou hoje o jornal britânico Financial Times. A fortuna foi paga a um braço da rede terrorista Al Caeda na guerra civil da Síria, a altos funcionários iranianos e a milícias xiitas ligadas ao Irã.

Para seus vizinhos árabes, ao pagar tamanha fortuna como resgate, a monarquia catarina está financiando o extremismo muçulmano e o terrorismo. Os reféns eram membros da família real sequestrados durante uma expedição de caça no Iraque em dezembro de 2015 e 50 milicianos de grupos financiados pelo Catar na guerra civil síria. O pagamento foi acertado em abril.

"O resgate foi a palha que quebrou a espinha do camelo", comentou um analista político da região do Golfo Pérsico usando a frase dos árabes do deserto equivalente à gota d'água que transbordou o copo.

Maior exportador de gás natural liquefeito do mundo, o Catar é um pequeno país de 11,6 mil quilômetros quadrados, uma península do Golfo Pérsico com 2,7 milhões de habitantes. Tem a maior base militar dos EUA no Oriente Médio.

A principal televisão árabe especializada em notícias, Al Jazira, é do Catar e incomoda as ditaduras do mundo árabe. A Arábia Saudita, o Bahrein e os EAU fecharam os escritórios d'al Jazira.

Rica e independente, a monarquia catarina financia grupos como a Irmandade Muçulmana, o mais antigo movimento fundamentalista islâmico, fundado em 1928 pelo egípcio Hassan al-Bana, considerado terrorista pela ditadura militar do Egito e pela Arábia Saudita, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), maior grupo fundamentalista palestino, e grupos extremistas na guerra civil síria. Já financiou a milícia dos Talebã, no Afeganistão, e agora ajudou o Irã e milícias iranianas.

"Se quiser saber como o Catar financia grupos jihadistas, basta olhar o acordo sobre os reféns", declarou um oposicionista sírio que participou de negociações de sequestro, libertação e troca de reféns com Al Caeda. "Essa não foi a primeira vez. É mais uma de uma série que vem desde o início da guerra", há 6 anos e 3 meses.

Cerca de US$ 700 milhões foram pagos a altos funcionários iranianos e a milícias xiitas apoiadas pelo Irã, os maiores inimigos do grupo de monarquias petroleiras de maioria sunita liderado pela Arábia Saudita (o Bahrein tem maioria xiita e elite dominante sunita, fonte de conflito permanente). Os reféns da família real teriam sido levados para o Irã.

A libertação de reféns, na visão de um diplomata ocidental, criou "a cobertura que o Irã e o Catar vinham procurando há muito tempo para realizar esta transação".

"Os iranianos levaram a maior parte", reclamou um miliciano xiita iraquiano. "Ficamos frustrados. Não era esse o acerto."

O resto do dinheiro, cerca de US$ 300 milhões, foi para grupos extremistas muçulmanos sunitas na Síria, especialmente Tahrir al-Sham (Liberdade no Levante), ligado à rede terrorista Al Caeda, e Ahrar al-Sham (Movimento dos Homens Livres do Levante), parte do Exército da Conquista, uma aliança de grupos salafistas jihadistas que lutam contra a ditadura de Bachar Assad, apoiada pelo Irã.

"Isso significa que o Catar gastou US$ 1 bilhão neste negócio maluco", desabafou um comandante rebelde no conflito sírio. Ao financiar os dois lados, o Catar alimenta a guerra civil num país arrasado.

Em abril, o primeiro-ministro iraquiano Haider al-Abadi anunciou a apreensão de centenas de milhões de dólares que entraram ilegalmente no país dentro de malas em aviões vindos do Catar. Não se sabe se faziam parte da mesma negociata.

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