terça-feira, 9 de maio de 2017

Trump demite diretor do FBI que o investiga

Em plena investigação sobre as relações de sua campanha com o governo da Rússia, o presidente Donald Trump demitiu o diretor-geral do FBI (Federal Bureau of Investigation), a polícia federal dos Estados Unidos, James Comey.

A Casa Branca declarou que Comey agiu a pedido do ministro da Justiça e procurador-geral, Jeff Sessions, e do subprocurador-geral, Rod Rosentein. Mas parece uma retaliação. Na semana passada, o agora ex-diretor-geral confirmou em depoimento na Comissão de Justiça do Senado o que havia revelado em março: há meses, o FBI investiga a intervenção da Rússia na eleição presidencial dos EUA e um possível conluio com a campanha de Trump.

"Embora eu aprecie muito por você ter me informado, em três ocasiões diferentes, que eu não estou sob investigação, eu concordo com o julgamento deles de que você não é capaz de liderar o birô com eficiência", disse o presidente na carta de demissão.

A alegação é que o diretor do FBI conduziu mal a investigação sobre o uso de correio eletrônico privado quando secretária de Estado pela candidata democrata Hillary Clinton, algo muito explorado por Trump, que prometia prendê-la durante a campanha.

Comey estava no terceiro ano de um mandato de dez anos. Se o motivo fosse realmente incompetência, por que a mudança não foi feita no início do governo? Se não revelou que a campanha de Trump estava sob investigação, deve ter sido para proteger a independência do inquérito.

Só há um precedente de um presidente dos EUA demitir um alto funcionário que o investigava: Richard Nixon tentou afastar o procurador independente Archibald Cox em 20 de outubro de 1973, durante o escândalo de Watergate, no que ficou conhecido como o Massacre de Sábado à Noite. Nixon renunciou em 1974 para escapar de um processo de impeachment.

Hoje o líder da minoria democrata no Senado, Chuck Schumer, pediu imediatamente a nomeação de um procurador especial independente para investigar o possível conluio com a Rússia. Na bancada republicana, o senador John McCain, candidato derrotado por Barack Obama em 2008 e o maior porta-voz do governo em questões de defesa, propôs a formação de uma comissão especial do Congresso.

"Embora o presidente tenha autoridade legal para demitir o diretor do FBI, estou desapontado com a decisão do presidente de remover James Comey", comentou McCain. "Comey é um homem íntegro e honrado que dirigiu bem o FBI em circunstâncias extraordinárias."

Dias antes da eleição, em 28 de outubro de 2016, Comey revelou que o FBI havia ampliado o inquérito sobre o uso de uma conta privada de correio eletrônico por Hillary Clinton quando secretária de Estado, no primeiro governo Obama, colocando em risco a segurança nacional.

Naquela época, Trump elogiou a coragem do diretor do FBI, dizendo que ele havia "recuperado sua credibilidade". No fim, o FBI decidiu não indiciar Hillary.

Na semana passada, em entrevista a Christiane Amanpour na televisão americana CNN, Hillary atribuiu sua derrota à declaração de Comey, visto então como um republicano, como a maior parte do aparato de segurança e defesa, e à pirataria cibernética da Rússia. Os russos revelaram, com a ajuda do WikiLeaks, e-mails comprometedores da campanha de Hillary.

Essa guerra cibernética do Kremlin contra a democracia ocidental entrou no radar do FBI meses antes da eleição. Se Comey nunca revelou nada a Trump, foi sua decisão profissional.

É a segunda grande baixa no governo Trump causada pelas relações suspeitas com a Rússia. O assessor de Segurança Nacional, Michael Flynn, foi demitido por mentir ao vice-presidente Mike Pence sobre contato com o embaixador russo em Washington durante o período de transição.

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