segunda-feira, 8 de maio de 2017

Coreia do Sul elege presidente dois meses após impeachment

A Coreia do Sul vota nesta terça-feira para escolher um novo presidente dois meses depois do impeachment de Park Geun Hye, a primeira mulher a ocupar o cargo no país. 

O favorito é o liberal Moon Jae In, um advogado defensor dos direitos humanos derrotado por Park na eleição presidencial de 19 de dezembro de 2012 por 52% a 48%. Ele é a favor do diálogo com a Coreia do Norte.

Park é filha do general Park Chung Hee, o ditador que governou a Coreia do Sul de 1961 a 1979, quando foi assassinado. Foi o período em que o país se reergueu depois da devastadora Guerra da Coreia (1950-53) e educou sua população para se tornar uma das poucas nações a vencer o subdesenvolvimento no século 20.

Desde 1960, a renda média por habitante aumentou 20 vezes para cerca de US$ 40 mil por ano pelo critério de paridade do poder de compra, o que deixa a Coreia do Sul em 30º lugar no mundo. O Brasil é o 80º na lista do FMI, com US$ 15.242 por pessoa.

Um novo golpe de Estado, em dezembro de 1979, levou ao poder outro general Chun Doo Hwan, que caiu com a democratização da Coreia do Sul, depois de uma grande onda de protestos liderados por estudantes, em 1987. Na época, as forças de segurança sul-coreanas usavam trajes inspirados pelo sinistro personagem Darth Vader, da série Guerra nas Estrelas.

Com a divisão das oposições, a primeira eleição presidencial democrática da história da Coreia do Sul, em 1987, foi vencida pelo general Roh Tae Woo, aliado de Chun no golpe de dezembro de 1979.

Trinta anos depois da democratização, um milhão de sul-coreanos voltaram a sair às ruas em massa para exigir a destituição da presidente Park Geun Hye, denunciada por corrupção e abuso de poder. Ela teria passado segredos de Estado a uma amiga a confidente, Choi Soon Sil, que subornou e extorquiu os grandes conglomerados industriais do país. Vai acompanhar a eleição do sucessor na cadeia.

Por 234 a 56, a Assembleia Nacional aprovou o impeachment da primeira mulher a presidir a Coreia do Sul, num caso comparado ao da presidente Dilma Roussef no Brasil. O vice-presidente, herdeiro e diretor executivo da Samsung, hoje a maior empresa de eletroeletrônicos do mundo, Lee Jae Yong, está preso. É o equivalente a Marcelo Odebrecht na Coreia do Sul, mas relativamente muito mais poderoso.

Há uma diferença importante. A Constituição da Coreia do Sul exige a ratificação do processo de impeachment pelo Supremo Tribunal. Os oito juízes foram unânimes em referendar o julgamento político da Assembleia Nacional.

O escândalo revelou os problemas da democracia do país, a corrupção endêmica, a sensação de que as elites se beneficiam da máquina do Estado. A Coreia do Sul tem um dos melhores níveis educacionais do mundo, 99% completaram o segundo grau, mas há 3,5 milhões de graduados em cursos superiores desempregados.

Enquanto o índice de desemprego geral da economia estava em 3,1% em março, entre os jovens subia para 11,3%.

Em uma pesquisa realizada em 44 países do Centro de Pesquisas Pew, dos Estados Unidos, a Coreia do Sul foi o único onde a maioria respondeu que subir na vida depende de conhecer as pessoas certas, em vez dos próprios méritos.

A ansiedade é maior entre os jovens. Só 20% estão satisfeitos com os rumos do país, em contraste com 40% entre quem tem mais de 50 anos, sem falar na ameaça existencial da Coreia do Norte na era de Donald Trump na Casa Branca.

Por causa da instalação do Terminal de Defesa Aérea de Alta Altitude, um sistema antimísseis desenvolvido pelos EUA para controlar a Coreia do Norte que pode ser usado contra a China, a China está hostilizando a Coreia do Sul em várias frentes, especialmente econômicas.

Os EUA, que mantêm uma presença militar no país desde a Guerra da Coreia, hoje de 28 mil soldados, ainda são a garantia de segurança para os sul-coreanos. Trump quer cobrar por isso.

Moon, do Partido Democrático, tem 40% das preferências nas pesquisas numa eleição em turno único, seguido por Ahn Cheol Soo, do Partido Popular, que fez fortuna como empresário de software, e Hong Jun Pyo, do Partido Liberal (conservador), ambos em torno de 20%.

O novo presidente chegará à Casa Azul em meio à estagnação econômica da Coreia do Sul, à aceleração do programa nuclear da Coreia do Norte na era Trump, que promete agir, e à crescente hostilidade da China.

Se as urnas confirmarem a previsão das pesquisas, Moon promete criar 810 mil empregos no setor públicos e em serviços sociais e 500 mil no setor privado com um "ecossistema econômico inovador". Vai aumentar o salário mínimo para 10 mil wons por hora, cerca de R$ 28. É a favor do diálogo com a Coreia do Norte, o que pode entrar em choque com a política de confrontação do governo Trump.

Ahn também quer reformar as megaempresas familias conhecidas como chaebóis. Promete investir 19 bilhões de wons (R$ 52 bilhões) para formar 100 mil jovens empresários no setor de alta tecnologia.

Hong falou em crescimento de 3% ao ano (no primeiro trimestre, ficou em 2,7% ao ano) e em 1,1 milhão de empregos, dos quais 50 mil em pequenas e médias empresas de alta tecnologia. Não mexeria na estrutura empresarial do país.

Depois de uma década de governos conservadores, Moon promete uma "mudança de regime", a começar pelo combate à corrupção das elites, a reforma dos chaebóis e o fim da "presidência imperial". Mas foi vago sobre a redução dos poderes do próximo imperador, que deve ser ele mesmo.

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