sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Imprevisibilidade de Trump gera incógnita sobre futuro dos EUA

Nem mesmo o Partido Republicano esperava a vitória do magnata imobiliário e bufão Donald Trump na eleição presidencial nos Estados Unidos com seu festival de mentiras e agressões a adversários, tratados como inimigos dentro do próprio partido.

Quais serão suas reais prioridades e como ele vai governar, agora que se cercou de bilionários e militares?, perguntam Matthew Goodman e Daniel Remler, Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).

Mentiroso contumaz e patológico, Trump parece ter recuado de promessas radicais da campanha como a construção de um muro na fronteira com o México, acabar com o programa de saúde pública do governo Barack Obama e abandonar o Acordo de Paris para tentar conter o aquecimento global.

Com sua convicção de que o déficit comercial dos EUA é resultado de negociações mal feitas, Trump deve abandonar a Parceria Transpacífica, diminuindo a influência americana na Ásia no momento de ascensão da China, exatamente a preocupação de Obama, e renegociar o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta).

Ao acusar a China de manipular o câmbio, Trump sugere que preferiria um dólar fraco para equilibrar a balança comercial dos EUA, deficitária em mais de US$ 500 bilhões em 2015 (e não US$ 800 bilhões, como diz o presidente eleito). Mas o dólar atingiu nesta semana a maior cotação em 14 anos, com a expectativa de que Trump lance um grande programa de obras de infraestrutura, cortes de impostos e desregulamentação.

Diante da expectativa de aumento nos gastos públicos e na inflação, a Reserva Federal (Fed), o banco central americano, acenou com a probabilidade de elevar os juros três vezes em 2017. Isso fortaleceria ainda mais o dólar.

Se Trump quiser fazer um microgerenciamento como no caso da fábrica de ar condicionado que pressionou a não se transferir para o México e governar pelo Twitter, sua imprevisibilidade e seu estilo agressivo de negociar minando o oponente trarão incerteza e não apenas nos EUA.

Apesar das promessas de ser a voz do trabalhador branco sem curso superior, maior vítima do processo de globalização econômica, a equipe econômica será dominada por três executivos da Wall Street, o centro financeiro de Nova York, Steve Mnuchin no Departamento do Tesouro, Wilbur Ross no Departamento do Comércio e Gary Cohn no Conselho Econômico Nacional. O megainvestigor Carl Icahn será o assessor especial para regulamentação. Nada indica que vão priorizar os interesses dos trabalhadores.

No setor de segurança e defesa, a dúvida é se James Cachorro Louco Mattis no Departamento de Defesa, o ex-presidente da Exxon Rex Tillerson no Departamento de Estado, o assessor de Segurança Nacional Michael Flynn, que não considera o Islã uma religião mas uma ideologia assassina, e o senador Mike Pompeo, futuro diretor da Agência Central de Inteligência, conseguirão se entender.

Tillerson foi condecorado pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, com quem Trump promete superar os problemas bilaterais. Mattis considera a Rússia a maior ameaça aos EUA.

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