domingo, 20 de novembro de 2016

Merkel é candidata a um quarto mandato na Alemanha

Doze dias depois da eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos, a primeira-ministra conservadora Angela Merkel anunciou hoje em Berlim sua candidatura a um quarto mandado como chefe de governo da Alemanha, preparando-se para ser a principal líder a favor do internacionalismo liberal pós-1945.

Ao manter o compromisso histórico da Alemanha e da União Europeia de acolher refugiados de guerra, Merkel, no poder desde 2005, perdeu popularidade, mas não se rendeu ao discurso populista antiestrageiros alimentando pelo ressurgimento da extrema direita no continente.

Seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), sofreu uma derrota humilhante, ficando em terceiro lugar nas eleições de Meclemburgo-Pomerânia Ocidental, um dos estados mais pobres do país e da antiga Alemanha Oriental, base eleitoral da primeir,a-ministra.

A vitória, em 6 de setembro de 2016, foi do Partido Social-Democrata (SPD), com 30,5%, seguido pelo novo partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), com 20,9%, deixando a CDU em terceiro com 19% numa clara rejeição à política de refugiados de Merkel.

O detalhe é que o estado, por ser pobre, é um dos que menos atraem imigrantes na Alemanha. Numa concessão aos partidos de ultradireita, a chanceler declarou hoje ser contra os trajes muçulmanos que cobrem o rosto inteiro, como o nicabe e a burca.

A AfD está roubando votos dos partidos tradicionais. Sua fatia do eleitorado encolhe a cada eleição geral. Em 2013, a CDU e o SPD tiveram 67% dos votos. Nas pesquisas para as eleições gerais de setembro de 2017, têm em média 55% das preferências do eleitorado.

Merkel assumiu a responsabilidade pelas derrotas da CDU, mas não abriu mão dos princípios da democracia e da liberdade, base da ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial  liderada pelos EUA em aliança com a Europa Ocidental.

Esta visão de mundo é ameaçada pelo ressurgimento de um nacionalismo hostil nos EUA com Donald Trump,a crescente agressividade militar da China ao intimidar países vizinhos, as intervenções militares da Rússia de Vladimir Putin, no Reino Unido com o movimento para sair da UE e no resto da Europa com a ascensão de partidos neofascistas como a Frente Nacional, na França.

Os cinco países citados acima são as grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, responsáveis em última análise pela paz e segurança internacionais. Se não chegarem a acordos básicos e reavivarem o nacionalismo, o risco de guerras aumenta exponencialmente.

Por ironia do destino, cabe a uma mulher, líder da Alemanha, país que iniciou as duas guerras mundiais que acabaram com a ordem mundial eurocêntrica, a defesa da ordem internacional liberal construída para acabar com o mundo nefasto das guerras nacionalistas. Outros líderes, como Trump e Putin parecem não ter aprendido as lições da história.

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