segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Comandante das FARC ordena cessar-fogo definitivo a partir de hoje

Daqui a uma hora e meia, à meia-noite deste domingo pelo horário colombiano, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) iniciam um cessar-fogo definitivo ordenado por seu comandante supremo, Rodrigo Londoño Echeverri, mais conhecido pelos nomes de guerra Timoleón Jiménez ou Timochenko. 

"Ordeno a todos os nossos comandos, a todas as unidades, a todos e a cada um de nossos e nossas combatentes a cessar fogo e as hostilidades de maneira definitiva contra o Estado colombiano a partir das 24 horas da noite de hoje", declarou Timochenko a jornalistas em Havana.

Depois de quatro anos de negociações em Cuba, um acordo foi anunciado na semana passada para pôr fim a 52 anos de luta armada para tentar impor um regime comunista. O acordo de paz deve ser assinado dentro de um mês na Colômbia por Timochenko e o presidente Juan Manuel Santos.

Em 2 de outubro, o acordo com as FARC será submetido a um referendo para obter a aprovação popular. Cerca de 60% dos colombianos são a favor do acordo, mas o resultado pode ser apertado porque o ex-presidente Álvaro Uribe, de quem Santos era ministro da Defesa, é contra a anistia parcial aos guerrilheiros.

O pai de Uribe foi sequestrado e morto. Durante o governo Uribe, as Forças Armadas da Colômbia obtiveram grandes vitórias na guerra contra as FARC, levando o grupo a negociar com Santos numa posição de clara inferioridade no campo de batalha depois de tentativas fracassadas nos governos Ernesto Samper e Andrés Pastrana.

Com as centenas de milhões de dólares que ganhavam com o tráfico de drogas, os guerrilheiros não viam razão para abandonar as armas e se integrar à sociedade. Ainda havia o precedente da União Patriótica, fundada em 1985 por ex-guerrilheiros, que teve mais de mil candidatos assassinados, inclusive à Presidência da Colômbia.

A paz com as FARC praticamente encerra uma guerra civil iniciada com o assassinato, em 9 de abril de 1948, do candidato liberal à Presidência da Colômbia, Jorge Eliécer Gaitán, que deflagrou uma explosão de violência, o Bogotaço. Mais de 2 mil pessoas foram mortas em 24 horas.

Era o início de um período de uma década na história da Colômbia conhecido como La Violencia, em que 200 a 300 mil. Naquela época, as oposições liberal e de esquerda foram para a clandestinidade. Nesta clima de violência política histórica, sem espaço para uma oposição de esquerda, as FARC nasceram em 1964 como braço armado do Partido Comunista Colombiano, de orientação soviética.

Com o declínio do comunismo como ideologia do financiamento da União Soviética, extinta em 1991, as FARC se reinventaram como um grupo narcoguerrilheiro, passando a traficar drogas para se financiar como historicamente faziam os grupos paramilitares de direita que combatiam os guerrilheiros de esquerda nas zonas rurais.

Mais 220 mil pessoas foram mortas e outras 90 mil desapareceram na guerra civil deflagrada pelas FARC. Cerca de 6,9 milhões fugiram de casa. Ao todo, desde 1948, o total de mortos na guerra civil colombiana é estimado entre 500 e 600 mil pessoas.

Resta ainda o Exército de Libertação Nacional (ELN), um grupo guerrilheiro marxista cristão, que resiste, mas não tem alternativa. Ao anunciar seu acordo de paz, as FARC aconselharam o ELN a fazer o mesmo. O governo teme que o grupo tente recrutar guerrilheiros e ocupar áreas que estavam em poder das FARC.

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