sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Papa encontra em Cuba o patriarca da Igreja Ortodoxa

Quase mil anos depois do Cisma do Oriente, os líderes das duas principais igrejas cristãs, o papa Francisco, da Igreja Católica Apostólica Romana, e o patriarca Cirilo, da Igreja Ortodoxa da Rússia, se encontraram hoje no Aeroporto Internacional José Martí, em Havana.

Depois de uma reunião de duas horas, o papa e o patriarca divulgaram uma declaração de 30 pontos. Eles pediram a união de todos os cristãos e fizeram um apelo às potências internacionais para que acabem com a perseguição aos cristãos na África e no Oriente Médio por grupos extremistas muçulmanos como o Estado Islâmico do Iraque e do Levante.

A organização não governamental americana OpenDoorsUSA (PortasAbertasEUA) estima que 7,1 mil cristãos foram mortos por motivos religiosos em 2015, 3 mil a mais do que no ano anterior.

Cuba foi escolhida por ser neutra, ter uma longa tradição católica e fortes laços com a Rússia do tempo da Guerra Fria. O papa Francisco foi um mediador importante nas negociações secretas que levaram ao reatamento entre Cuba e os Estados Unidos.

Por causa da proximidade entre a Igreja Ortodoxa Russa e o governo ditatorial de Vladimir Putin, o papa está sendo criticado por legitimar a intervenção militar da Rússia na guerra civil da Síria sob o pretexto de combater o terrorismo. Na prática, Putin está sustentando o aliado Bachar Assad, que já fala em vitória militar e é o maior responsável pela guerra que em quase cinco matou mais de 260 mil pessoas.

"A luta contra o terrorismo é uma batalha sagrada e hoje nosso país talvez seja a força mais ativa combatendo-o hoje no mundo", declarou Vsevolod Chaplin, ex-porta-voz da Igreja Ortodoxa, enquanto o papa Francisco pediu uma solução pacífica para os conflitos no Iraque e na Síria: "A comunidade internacional parece incapaz de encontrar soluções adequadas enquanto os vendedores de armas continuam a atingir seus objetivos."

Para o diretor do Centro de Pesquisa Histórica da Ucrânia da Universidade de Alberta, no Canadá, Frank Synsyn, "entendo a preocupação do papa com o Oriente Médio, mas de resto o momento é muito ruim. Definitivamente, dá credibilidade às ações de Putin na Síria."

O Cisma do Oriente aconteceu em 1054, quando a Igreja Católica Apostólica Romana rompeu com a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, na época com sede em Constantinopla, hoje Istambul, na Turquia.

A origem das divergências está na divisão do Império Romano em 395 entre o Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, e Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla. Com a queda do Império do Ocidente para os bárbaros em 476, a Igreja de Roma passou a ser mais influenciada pelos povos germânicos, enquanto a Igreja de Constantinopla se considerava a legítima herdeira da tradição grego-romana.

As divergências eram em torno da natureza do Espírito Santo, se o pão na eucaristia deveria ser fermentado ou não, o celibato dos padres e a primazia jurídica e pastoral do papa. A Igreja Ortodoxa negou-se a se submeter ao papa. Em 1054, os líderes das duas igrejas se excomungaram mutuamente.

Com o Massacre dos Latinos em 1182 em Constantinopla, a capital do Império Bizantino, a vingança dos ocidentais em Tessalônica em 1185 e o cerco e saque de Constantinopla na Quarta Cruzada, em 1204, a reconciliação tornou-se impossível.

Até hoje, os gregos, seguidores da Igreja Ortodoxa culpam os cruzados pela decadência do Império  Bizantino e sua queda ante o Império Otomano, em 29 de maio de 1453, marco do fim da Idade Média.

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