terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Míssil testado pela Coreia do Norte pode atingir os EUA

O foguete lançado há dois dias pelo regime comunista da Coreia do Norte parece mais pesado e mais poderoso que o testado em 2012, com um alcance de até 12 mil quilômetros. Seria capaz de atingir a maior parte dos Estados Unidos, afirmou hoje o Ministério da Defesa da Coreia do Sul, citado pela agência de notícias sul-coreana Yonhap.

O satélite de observação Kwangmyongsong-4 lançado pelo foguete entrou em órbita. Ainda não se sabe se está operando normalmente. Analistas militares entendem que o lançamento do satélite foi apenas uma desculpa para testar um míssil balístico intercontinental.

O míssil é semelhante ao Unha-3 testado em dezembro de 2012, declarou um analista sul-coreano, mas o alcance seria 2 mil quilômetros maior. Como o governo de Pionguiangue acaba de fazer mais um teste nuclear, o objetivo evidente é desenvolver um míssil balístico intercontinental capaz de atingir os EUA com uma bomba atômica.

No momento, a Coreia do Norte tem um míssil de longo alcance capaz de carregar uma bomba de até 250 quilos. Para a empresa de consultoria e estudos estratégicos Stratfor, a ditadura stalinista norte-coreano está avançando, mas seus mísseis de longo alcance ainda não têm capacidade militar.

A Coreia do Norte ainda não teria conseguido miniaturizar a bomba atômica para colocá-la numa ogiva nuclear. Desde o fim da União Soviética, em 1991, quando perdeu sua patrocinadora, o regime de Pionguiangue faz uma chantagem nuclear contra os EUA e seus principais aliados no Leste da Ásia, a Coreia do Sul e o Japão.

É uma maneira de tentar manter a legitimidade do regime comunista e de estimular a indústria pesada, a ciência e a tecnologia para se apresentar como um país independente e autossuficiente, de acordo com a linha ideológica traçada pelo Grande Líder Kim Il Sung, fundador do país e avô do atual ditador, que morreu em 1994.

Juche (Autossuficiência) é a base ideológica do marxismo-leninismo-kimilsunismo. O isolamento do país mais fechado do mundo reduz as possibilidades de impor sanções à Coreia do Norte.

Do ponto de vista político, a exemplo do pai e antecessor Kim Jong Il, o atual ditador, Kim Jong Un usa o programa espacial norte-coreano para aumentar sua legitimidade e se apresentar como moderno e visionário.

Em maio, a Coreia do Norte realiza o 7º Congresso do Partido dos Trabalhadores da Coreia, o nome oficial do partido comunista norte-coreano. As duas Coreias reivindicam a soberania sobre toda a Península Coreana. Será o primeiro encontro do gênero desde 1980. A expectativa é de uma consolidação do poder do jovem Kim.

Sob o aspecto militar, os mísseis balísticos intercontinentais norte-coreanos ainda têm problemas de lançamento para serem armas efetivas. Os lançadores abertos e a necessidade de um a dois dias de preparação tornam o sistema vulnerável a ataques preventivos. Como a Coreia do Norte só tem duas bases de lançamento de mísseis, a vigilância fica mais fácil.

A capacidade de atingir diretamente os EUA muda os cálculos estratégicos em Washington sobre uma invasão americana. Em 2002, o então presidente George W. Bush denunciou no Discurso sobre o Estado da União a existência de um "eixo do mal" formado pelo Irã, o Iraque e a Coreia do Norte - invadiu o Iraque e derrubou o ditador Saddam Hussein. Os dois outros países entenderam que para evitar uma intervenção militar americana precisariam de armas nucleares.

Com a intervenção em 2011 na guerra civil da Líbia, onde o ditador Muamar Kadafi havia renunciado às armas atômicas, essa impressão se fortaleceu. A última garantia seria a capacidade de atacar diretamente o território americano.

Para Pionguiangue, o que era uma carta na manga para chantagear seus inimigos se tornou a base da estratégia de segurança nacional. Isto exige um desenvolvimento tecnológico real em vez do simples teatro de testes fracassados, complicando as tentativas de conter a Coreia do Norte.

Os últimos desafios aceleraram as negociações entre os EUA e a Coreia do Sul para implantar um sistema de defesa antimísseis, o que inquieta a China. O regime comunista chinês, maior aliado da Coreia do Norte, teme que isso dê uma grande superioridade tecnológica aos EUA num confronto direto com a China.

A questão norte-coreana é mais um ponto de discórdia entre os EUA e a China. Apesar dos testes nucleares e de mísseis, de vários relatos de problemas nas relações entre a China e a Coreia do Norte, e da parceria econômica cada vez maior entre Beijim e Seul, a China dá sinais de mudar de orientação e aumentar a pressão sobre a ditadura de Pionguiangue.

Essa dualidade de Beijim mantém a China na posição de único país supostamente capaz de influenciar positivamente a Coreia do Norte. Ao mesmo tempo, quanto mais crises os EUA forem obrigados a enfrentar no mundo menos tempo resta para se preocuparem com o desafio da ascensão da China a superpotência.

Ninguém quer o colapso do regime comunista norte-coreano. Para a Coreia do Sul, tendo em vista os problemas da unificação da Alemanha, onde o lado oriental era relativamente menor e muito menos problemático, o custo da reunificação da Coreia seria enorme.

Na visão da ditadura comunista chinesa, "a Coreia do Norte é a nossa Alemanha Oriental". A queda do regime poderia ter um efeito dominó sobre a China, o que parece altamente improvável dada a diferença de tamanho, população e poderio dos dois países.

Uma nova guerra da Coreia envolveria os principais aliados dos EUA na região, com os quais Washington têm pactos de defesa. Dentro da Guerra da Coreia (1950-53), houve uma guerra particular entre os EUA e a China. A China conseguiu empurrar os americanos de volta para baixo do paralelo 38º Norte, restabelecendo o status quo anterior à guerra. Nunca mais os dois países entraram em conflito direto - e é melhor que não entrem.

Nenhum comentário: