sábado, 14 de novembro de 2015

França declara guerra ao Estado Islâmico

Ao lado do ex-presidente conservador Nicolas Sarkozy para mostrar unidade nacional, o presidente socialista François Hollande acusou hoje o "exército jihadista do Estado Islâmico" de realizar "ações de guerra" contra a França e prometeu uma resposta implacável. A onda de terror deixou 129 mortos e 352 feridos, 99 em estado grave.

"O que aconteceu ontem em Paris e Saint-Denis foi um ato de guerra e, diante da guerra, o país deve tomar as decisões apropriadas", afirmou Hollande. Ele estava no Estádio da França assistindo a uma partida amistosa entre as seleções de futebol da França e da Alemanha, quando houve a primeira explosão do lado de fora.

Na visão do presidente francês, foi "um ataque aos valores que defendemos em todo o mundo" como "um país livre que fala pelo conjunto do planeta". Hollande descreveu os acontecimentos como "uma barbárie absoluta".

Hollande acrescentou: "É um ato de guerra que foi preparado, organizado e planejado do exterior com cumplicidade interna. A investigação vai esclarecer os fatos. (...) A França é forte e, embora possa ser ferida, se levanta sempre e nada vai conseguir derrubá-la."

Para os terroristas do Estado Islâmico, foram ações contra "a capital do adultério e do vício".

Essa é uma ideia antiga nas mentes dos muçulmanos. Está em O Paraíso dos Infiéis, livro escrito por Mehmed Efendi, embaixador do Império Otomano na França em 1720-21, escandalizado com as orgias e a licenciosidade da sociedade francesa na época.

A polícia francesa identificou hoje um dos terroristas mortos no teatro Bataclan como cidadão francês. Dos três terroristas suicidas que atacaram o Estádio da França, um era francês, outro tinha passaporte egípcio e um terceiro passaporte sírio, mas os passaportes podem ser falsos para complicar a investigação.

O procurador da República em Paris, François Molins, declarou que os ataques foram realizados por três grupos coordenados: um atacou o estádio; outro, o teatro; e um terceiro, bares e restaurantes no 10º e 11º distritos da capital francesa.

Pelo menos um homem-bomba tentou entrar no estádio, provavelmente para se detonar no meio da torcida. O terrorista com passaporte sírio entrou na Europa vindo da Turquia através da ilha de Leros, na Grécia. Isso vai alimentar o discurso neofascista da Frente Nacional, que tenta associar todo imigrante muçulmano ao risco de terrorismo, e de outros partidos europeus de extrema direita.

Os muçulmanos, descendentes de imigrantes principalmente das antigas colônias francesas na África e no Oriente Médio, são hoje quase 10% da população da França e dois terços dos presos. As cadeias são um lugar de radicalização.

Até hoje, grupos terroristas evitaram ataques em estádios, talvez por causa da inevitável reação contrária da opinião pública. O EI não está interessado nas opiniões de torcedores que vão a jogo de dois países cristãos. Abre um precedente perigoso, inclusive para a Olimpíada do Rio.

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