segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Campanha anticorrupção da China chega ao Diário do Povo

A campanha anticorrupção lançada pelo secretário-geral do Partido Comunista e presidente da China, Xi Jinping, para consolidar o poder chegou ao Diário do Povo, jornal oficial do PC, acusado de aceitar suborno para esconder notícias e usar informações para fazer chantagem, revelou hoje o jornal inglês Financial Times.

Nos últimos dois anos, além de expurgar adversários políticos do novo dirigente supremo da ditadura militar chinesa, a campanha anticorrupção prendeu jornalistas, advogados, intelectuais e ativistas dos direitos humanos.

"Alguns escritórios locais usavam os recursos do partido para lucrar através de acordos de cooperação. Algumas subsidiárias tinham esquemas para pagar por notícias, pela publicação ou não, e para fazer chantagem", denunciou o relatório da investigação no Diário do Povo.

As acusações oficiais contrastam com o tratamento dado na China a jornalistas independentes que criticam o regime. Um repórter do jornal Diário da Metrópole do Sul foi preso por acusar um guru com ligações perigosas com políticos, empresários e celebridades, embora suas alegações contra Wang Lin tenham sido provadas na Justiça.

Para o editor-chefe do Diário Povo,  Yang Zhengwu, "esta investigação será um momento da virada" para o jornal. Ele promete uma gestão mais moderna e eficiente, e maior consciência política de repórteres e editores. Mas os escândalos de corrupção na China só costumam virar notícia quando o governo quer.

Os casos denunciados por jornalistas independentes são censurados. "Eles não querem que a mídia se antecipe a eles. Não querem ser pegos com a guarda baixa", observa Ivy Zhang, professora de jornalismo na Universidade de Nottingham em Ningbo.

Raramente os grandes jornais, a rádio e a televisão estatais divulgam denúncias de corrupção contra altos funcionários que circulam em memorandos internos do partido. Isso abre a possibilidade de subornos e chantagem para que as más notícias não cheguem ao grande público.

"Eles fazem relatórios interno que vão para a maioria das autoridades importantes, mas não deixam a sociedade e o público saberem. Acreditamos que dar ciência ao público desses fatos é a melhor maneira", declarou ao FT Liu Hu, um jornalista investigativo que acaba de passar um ano na cadeia por denunciar a compra de minas a preços inflados pela empresa China Recursos.

O presidente da empresa, Song Lin, foi preso. Li foi solto em agosto do ano passado depois de pagar fiança.

As acusações do regime comunista contra jornalistas vão de extorsão a difamação e "publicação ilegal", se contrariarem interesses poderosos ou forem pegos no fogo cruzado da luta interna das diferentes facções do PC.

"O Comitê Central para Inspeções Disciplinares e a polícia podem investigar a corrupção. A população não tem esse direito", lamenta outro jornalista preso pelo mesmo motivo.

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