terça-feira, 30 de junho de 2015

Governador Chris Christie é o 14º aspirante republicano à Casa Branca

Mais um aspirante entra na disputa pela candidatura do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos em 2016. Desta vez, é o governador de Nova Jérsei, Chris Christie, um "estrela decadante" do partido, noticiou o jornal The Washington Post.

Christie entra na campanha como um dos aspirantes menos cotados e considerado um dos menos confiáveis pela ala mais à direita do partido. Vai usar suas habilidades de bom negociador para tentar se tornar um real concorrente.

Sua imagem foi abalada por um escândalo conhecido como Bridgegate, quando assessores do governo estadual bloquearam uma ponte para Nova York para boicotar um adversário político.

Na Prefeitura de Livingston, sua cidade natal, Christie afirmou que "ambos os partidos faliram nosso país" e se apresentou como um negociador moderado capaz de erguer pontes entre os radicais de ambos os lados. "Ambos os partidos nos levaram a acreditar que os EUA, um país construído sobre acordos, que de alguma forma acordo é uma palavra suja."

O favorito nas pesquisas do partido é o ex-governador da Flórida Jeb Bush, filho do ex-presidente George H. W. Bush e irmão do ex-presidente George W. Bush. Ele divulgou hoje suas declarações de renda dos últimos 33 anos, revelando ter uma fortuna pessoal de US$ 19 milhões a US$ 22 milhões.

É um dos candidatos mais ricos do partido, mas não tanto quanto a favorita do Partido Democrata e do eleitorado em geral, a ex-secretária de Estado e ex-primeira-dama Hillary Clinton. Junto com o marido, o ex-presidente Bill Clinton, ela ganhou US$ 25 milhões por participação em palestras e conferências.

EUA e Cuba reabrem embaixadas

Os Estados Unidos e Cuba fecharam um acordo a ser anunciado em 1º de julho de 2015 para autorizar a reabertura de suas embaixadas, pondo fim formalmente à ruptura de relações diplomáticas, ocorrida em 1961, noticiou a agência Associated Press (AP). 

A reabertura reflete o desejo dos EUA de normalizar as relações com a América Latina e o de Cuba de ampliar suas oportunidades no momento em que sua maior aliada, a Venezuela, enfrenta uma série crise econômica.

Em 17 de dezembro de 2014, depois de um ano e meio de negociações secretas, os presidentes Barack Obama e Raúl Castro anunciaram o reatamento.

O embargo econômico imposto a partir de 1960 em resposta à estatização de propriedades de americanos na ilha é desde 1992 lei aprovada pelo Congresso dos EUA. Só o Congresso pode revogá-lo e a oposição conservadora tem maioria na Câmara e no Senado.

Estado Islâmico degola duas mulheres na Síria por feitiçaria

Pela primeira vez, a milícia Estado Islâmico do Iraque e do Levante degolou mulheres na Síria sob a acusação de feitiçaria. As duas mulheres foram executadas em 28 e 29 de junho de 2015 junto com seus maridos, informou hoje a Agência France Presse (AFP), citando como fonte o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, uma organização não governamental de oposição com sede em Londres que monitora a guerra civil no país.

Com sua ideologia salafista ultrarradical, o Estado Islâmico é hoje a maior organização terrorista do mundo. Já havia notícias sobre mulheres apedrejadas até a morte sob a acusação de adultério. Mas até agora não se tinha ouvido falar em decapitação, usada com frequência para executar homens.

Ontem fez um ano que o Estado Islâmico proclamou um Califado de jurisdição universal, num momento em que proliferam os atentados terroristas cometidos em seu nome. Já existem pesquisas científicas sobre a violência do grupo terrorista contra as mulheres, com estupros, escravidão sexual, apedrejamento e agora degolas, traumas profundos que serão carregados pela vida inteira.

Grécia é primeiro país desenvolvido a calotear o FMI

Ao não pagar uma dívida de 1,55 bilhão de euros com vencimento hoje, a Grécia se tornou o primeiro país desenvolvido a dar calote no Fundo Monetário Internacional (FMI), criado depois da Segunda Guerra Mundial para socorrer países com problemas financeiros, evitando que deixassem de pagar suas dívidas e reduzissem o comércio internacional. 

Horas antes, os ministros das Finanças da Zona do Euro rejeitaram um último apelo da Grécia por uma prorrogação do atual programa de ajuda financeira ao país.

Com seu blefe, o governo da Coligação de Esquerda Radical (Syriza) rebaixa a Grécia ao nível da Somália, do Sudão e do Zimbábue, países que não honraram suas dívidas com o FMI. 

Depois de várias tentativas frustradas de chegar a um acordo com o Grupo do Euro, o FMI e o Banco Central Europeu, o primeiro-ministro Alexis Tsipras alegou não ter mandato para impor mais cortes de gastos públicos e sacrifícios ao povo grego. Preferiu convocar um referendo sobre o acordo com os credores para 5 de julho de 2015.

Enquanto a Syriza defende o não no referendo, os partidos tradicionais, Socialista e Nova Democracia, pedem ao eleitorado que diga sim para continuar usando o euro como moeda. O governo alega que o não lhe dará mais forças para voltar à mesa de negociações.

Mas as autoridades europeias já deixaram claro que não pretendem renegociar os termos do acordo e Tsipras afirma que não vai aplicar um plano de austeridade. Depois do referendo, a Grécia terá pela frente o colapso financeiro ou a perspectiva de eleições num cenário de terra arrasada.

Tunísia estima prejuízo de 450 milhões de euros com terrorismo

O prejuízo com o atentado terrorista que matou 39 pessoas na praia de Sousse, no Mar Mediterrâneo, pode custar 450 milhões de euros (R$ 1,56 bilhão) à Tunísia, estimou ontem a ministra do Turismo do país, Selma Elloumi Rekik.

O turismo foi responsável por 14,5% do produto interno bruto tunisiano em 2015. Gera mais de 400 mil empregos diretos e indiretos.

A maioria dos mortos era de turistas britânicos: 22 foram identificados. O governo do Reino Unido espera que o total chegue a 30. O atirador, um estudante de 23 anos, tinha ligações com a milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante.

Agência de classificação de risco rebaixa crédito da Grécia

Diante do calote iminente de uma dívida de 1,55 bilhão de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) com vencimento hoje, a agência de classificação de risco Standard & Poor's rebaixou ontem a nota de crédito da dívida pública da Grécia em mais um nível para CCC-.

"A decisão da Grécia de organizar um referendo sobre a proposta dos credores é um sinal suplementar de que o governo Tsipras privilegiará a política interna em detrimento da estabilidade econômica e financeira, e do pagamento da dívida", declarou em nota a S&P.

Para a agência, há "50% de risco de que a Grécia deixe a Zona do Euro" e dê um calote ainda maior nos credores públicos e privados. Desde os dois acordos de 2010 e 2012, a maioria da dívida pública da Grécia está em poder de governos e instituições intergovernamentais.

Depois do comício de ontem a favor do voto contrário à proposta dos credores no referendo de 5 de julho de 2015, posição defendida pelo governo radical de esquerda da Grécia, hoje há uma manifestação ainda maior em Atenas em defesa da permanência do país na união monetária europeia.

Obama: "Brasil é uma potência global"

Em entrevista na Casa Branca agora ao lado da presidente Dilma Rousseff, o presidente Barack Obama declarou que os Estados Unidos veem o Brasil como uma "potência global" e não apenas regional.

"O Brasil faz parte do Grupo dos Vinte" [maiores economias do mundo], lembrou Obama, "e é fundamental para as negociações de um acordo sobre o clima. Não é possível resolver problemas globais como a mudança do clima e o terrorismo, sem a colaboração de outros países. Dois países sempre terão diferenças", mas isso deve ser considerado normal.

Dilma considerou superado o escândalo de espionagem que a fez cancelar uma visita de Estado prevista para 2013 e declarou que o reatamento EUA-Cuba coloca as relações com a superpotência em novo patamar.

A presidente também destacou a importância econômica dos EUA e fez um paralelo entre os dois países, citando que ambos possuem grandes populações negras e um multiculturalismo em comum.

Diante dos recentes atentados atribuídos ao Estado Islâmico do Iraque e do Levante fora do Oriente Médio, Dilma afirmou que a Olimpíada de 2016 no Rio de Janeiro será realizada com amplas garantias de segurança para atletas, dirigentes, convidados e torcedores.

Negociação nuclear com Irã é prorrogada por uma semana

As negociações entre as cinco grandes potências do Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha com o Irã para desarmar o programa nuclear iraniano foram estendidas por uma semana além da data prevista, 30 de junho de 2015, anunciou hoje o Departamento de Estado americano.

O Irã concordou com uma das exigências centrais das grandes potências, a redução dos estoques de urânio enriquecido. Mas ainda há problemas.

Na semana passada, o Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, o aiatolá Ali Khamenei, quem manda de fato no Irã, afirmou que não vai permitir inspeções nas instalações nucleares iranianas sob a alegação de que o programa nuclear não tem fins militares. O Irã também exige a retirada imediata de todas as sanções econômicas, enquanto o outro lado prevê uma redução gradual.

Talvez tenha sido um empurrão final para endurecer as posições dos negociadores iranianos, um blefe. Mas também pode ser um sinal de inflexibilidade de Khamenei.

Em entrevista na Casa Branca ao lado da presidente Dilma Rousseff, o presidente Barack Obama admitiu que há grandes diferenças entre os Estados Unidos e o Irã. Reafirmou que não vai fazer um acordo que não garanta a paralisação das atividades com mecanismos de verificação.

"O acordo depende de garantias do Irã", declarou Obama. "No fim, a decisão será dos iranianos aceitar ou não as condições da comunidade internacional. Dado o comportamento passado do Irã, não basta uma declaração. Será necessário um mecanismo de verificação sério e rigoroso."

Diretor de companhia de petróleo é morto no Iraque

O diretor de operações da empresa estatal iraquiana Companhia de Petróleo do Norte, Saad Hassan Mohammed Ali, foi morto ontem quando saía de casa por pistoleiros não identificados, informou a revista Iraq Oil Report.

Desde o ano passado, ele era indicado para ser o futuro diretor-geral da empresa. O crime foi cometido no bairro de Arafa, tido como uma área segura da cidade de Kirkuk, no Norte do Iraque.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Itamaraty recomenda levar dinheiro em espécie para a Grécia

Diante do feriado bancário de uma semana decretado ontem pelo governo da Grécia para evitar o colapso do sistema financeiro do país, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil recomendou aos brasileiros que levem dinheiro em espécie. 

Os saques em caixas eletrônicos estão limitados a 60 euros por dia para os gregos. Estrangeiros podem sacar além deste limite, mas os caixas podem ficar sem dinheiro.

Os cartões de crédito e débito são aceitos normalmente. A Grécia não pode parar, assim os comerciantes estão aceitando diferentes formas de pagamento.

Em discurso na Câmara dos Comuns do Parlamento Britânico, o ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, recomendou aos turistas que forem à Grécia neste verão que levem em mãos todo o dinheiro necessário para as férias.

Atentado terrorista mata procurador-geral do Egito

O procurador-geral do Egito, Hisham Barakat, morreu hoje no Cairo quando uma bomba atingiu o comboio de veículos oficiais em que ele estava, noticiou a Agência France Presse citando como fontes autoridades do país.

Mais uma vez, a milícia extremista muçulmana Estado Islâmico do Iraque e do Levante é suspeita. Um grupo leal ao Estado Islâmico convocou os militantes a atacar o Poder Judiciário depois do enforcamento de seis ativistas.

Desde o golpe que derrubou o único presidente eleito democraticamente da história do Egito, Mohamed Mursi, em 3 de julho de 2013, seu movimento, a Irmandade Muçulmana, foi declarada terrorista e ilegal - e seus militantes perseguidos.

Mais de mil ativistas da Irmandade, o mais antigo grupo fundamentalista muçulmana, morreram em confrontos com as forças de segurança e seus líderes, inclusive Mursi, foram sentenciados à pena de morte.

Grécia vai dar calote no FMI amanhã

A Grécia não vai pagar uma dívida de 1,55 bilhão de euros (US$ 1,73 bilhão) junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) com vencimento amanhã, 30 de junho de 2015, confirmou hoje o governo grego, enquanto líderes da União Europeia apelaram ao eleitorado do país que vote a favor do acordo com os credores no referendo de 5 de julho.

Hoje a chanceler (primeira-ministra) primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, descartou a possibilidade de uma medida de última hora para prorrogar o programa de ajuda econômica à Grécia sem que o país se comprometa a fazer mais cortes de despesas para equilibrar os gastos públicos.

A mensagem da UE aos gregos é clara: eles vão decidir se querem ou não continuar usando o euro como moeda. "Se votarem não, será desastroso", declarou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. "O voto não significa que estão dizendo não à Europa."

Para evitar um colapso do sistema financeiro, o governo decretou ontem feriado bancário até 6 de julho depois que o Banco Central Europeu (BCE) limitou a oferta de euros para os bancos gregos suportarem a corrida bancária dos depositantes com medo de perder seus depósitos e suas poupanças. Cada cliente pode sacar no máximo 60 euros por dia.

Diante do Parlamento, em Atenas, dezenas de milhares de pessoas se concentram para dar apoio ao governo radical de esquerda, eleito em janeiro com a promessa de acabar com o rigoroso programa de ajuste fiscal imposto pela União Europeia, o FMI e o BCE. A alternativa pode ser muito pior.

O governo da Grécia vai apoiar o não no referendo. Se o acordo não for aprovado, é provável que o país deixe de usar o euro como moeda, num colapso econômico pior do que o da Argentina em 2001-2, que jogou 58% dos argentinos abaixo da linha de pobreza. A Argentina tinha sua própria moeda na ressaca da dolarização, o desvalorizado peso argentino. A Grécia terá de recriar o dracma.

domingo, 28 de junho de 2015

Israel intercepta flotilha que ia para a Faixa de Gaza

A Marinha de Israel interceptou hoje à noite o navio Marianne, que seguia para a Faixa de Gaza com 200 ativistas para denunciar o bloqueio naval do território palestino. Entre as pessoas a bordo, estavam o deputado árabe-israelense Basel Ghattas e o ex-presidente da Tunísia Moncef Marzouki.

A operação foi realizada domingo à noite. Ninguém saiu ferido, ao contrário do que acontecera em 31 de maio de 2010, quando comandos israelenses atacaram o navio turco Mavi Marmara, matando nove cidadãos da Turquia. O ataque provocou revolta e azedou as relações entre os dois países, que só agora começam a se recuperar.

Bancos da Grécia não abrem durante uma semana

A Grécia decretou feriado bancário nesta segunda-feira para prevenir o colapso do sistema financeiro do país depois que o Banco Central Europeu (BCE) limitou a quantidade de dinheiro que vai liberar para os bancos gregos suportarem a crise.

Os bancos ficam fechados até 6 de julho. Durante este período, os saques estarão limitados a 60 euros por dia por correntista. A Bolsa de Valores de Atenas também não vai funcionar.

Ao anunciar a imposição de controle de capitais, o primeiro-ministro Alexis Tsipras culpou a União Europeia e afirmou que "querem dobrar a vontade do povo grego. Não vão conseguir."

Como não houve acordo entre o governo radical de esquerda da Grécia e os demais países da Zona do Euro, o BCE parou de garantir a liquidez dos bancos, que enfrentam uma corrida de depositantes interessados em sacar seus euros com medo de que o país deixe a união monetária europeia.

Na sexta-feira, 500 dos 7 mil caixas automáticos da Grécia estavam sem dinheiro depois de retiradas de bilhões de euros. À noite, o primeiro-ministro anunciou a convocação de um referendo para aprovar o acordo com os credores internacionais. O governo vai defender o voto não.

A Grécia precisa da libertação de uma parcela de 7,2 bilhões de euros de um total de 240 bilhões de euros que tomou emprestado desde 2009 para conseguir pagar no dia 30, terça-feira, uma dívida de 1,6 bilhão de euros com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas o governo radical de esquerda eleito em janeiro prometendo acabar com rigoroso o programa de ajuste fiscal imposto pela UE, o FMI e o BCE rejeitou a proposta dos credores alegando não poder impor mais sacrifícios ao povo grego.

Em telefonema à chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu medidas para garantir que a Grécia não vai abandonar o euro.

sábado, 27 de junho de 2015

Parlamento da Grécia aprova referendo sobre negociação da dívida

Por 178 a 120 com duas abstenções, o Parlamento da Grécia aprovou hoje a convocação de uma consulta popular em 5 de julho de 2015 para decidir se o país deve aceitar as imposições dos credores internacionais e manter o rigoroso programa de ajuste fiscal que levou a uma queda de 25% no produto interno bruto nos últimos seis anos. O governo radical de esquerda vai defender o voto não.

Durante 14 horas de um debate inflamado, os deputados da Coligação de Esquerda Radical (Syriza) argumentaram que a rejeição do acordo não significa que a Grécia terá de sair da Zona do Euro e da União Europeia. O primeiro-ministro Alexis Tsipras disse esperar o fortalecimento de sua posição negociadora com o referendo.

A Syriza foi eleita nas eleições de 25 de janeiro de 2015 prometendo acabar com o programa de austeridade fiscal imposto pela chamada troika formada pela Eurozona, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE), em troca de empréstimos de 240 bilhões de euros.

Horas antes, em Bruxelas, os ministros das Finanças do Grupo do Euro rejeitaram um pedido da Grécia para estender o atual programa de resgate por mais um mês e excluíram a Grécia da segunda parte da reunião, em que discutiram a possibilidade de saída do país da união monetária europeia.

O ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, alegou hoje não ter um mandato para assinar um acordo com novos cortes de gastos públicos. Daí a necessidade de convocar um referendo.

A Grécia depende da liberação de uma parcela de 7,2 bilhões de euros para pagar 1,6 bilhão de euros ao FMI em 30 de junho, além dos salários, aposentadorias e pensões de seus cidadãos. Como o referendo foi marcado para depois desta data, a Grécia já estará em calote.

No fim da reunião ministerial em Bruxelas, o ministro das Finanças da França, Michel Sapin, criticou o referendo, mas insistiu em que seu país quer manter a Grécia na Eurozona, mantendo a esperança de um acordo de última hora.

China corta taxas de juros após forte queda na bolsa

Depois de mais de uma semana de forte desvalorização no mercado de ações, o Banco Popular da China anunciou hoje um corte nas taxas básicas de juros para reduzir o custo do dinheiro e "estabilizar o crescimento", noticiou o jornal americano The Wall Street Journal

A taxa que o banco central chinês cobra para emprestar dinheiro aos bancos caiu 0,25 ponto percentual para 4,85% ao ano e a taxa que paga pelo dinheiro dos bancos depositado no banco central baixou 0,25 ponto percentual para 2%. O percentual de depósitos a vista que os bancos são obrigados a manter no banco central como reserva também foi diminuído em meio ponto.

Foi o quarto corte de juros desde novembro de 2014, desta vez numa reação da autoridade monetária à queda de 7,4% na Bolsa de Valores de Xangai na sexta-feira, a maior em anos. As ações perderam desde 12 de junho de 2015, o pico dos últimos 12 meses, 19% do valor ou US$ 1,25 trilhão, o equivalente ao produto interno bruto do México.

O banco central tenta desviar recursos do mercado financeiro para o setor produtivo da segunda maior economia do mundo, mas os bancos relutam em emprestar num momento de consumo interno e comércio exterior mais fracos.

Eurozona rejeita extensão do programa de ajuda à Grécia

Os ministros das Finanças do Grupo do Euro rejeitaram hoje um pedido para prorrogar por um mês o programa de ajuda econômica à Grécia. O governo esquerdista grego não aceitou as propostas de seus sócios na Zona do Euro, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE), preferindo convocar um referendo em que vai recomendar o voto contrário a um acordo.

A Grécia foi excluída da segunda parte da reunião de hoje, em que os ministros dos outros países da Eurozona estão examinando um plano B para a hipótese de um calote cada vez mais provável no pagamento de uma dívida de 1,6 bilhão de euros com vencimento em 30 de junho de 2015.

O presidente do Grupo do Euro, Jeroen Dijsselbloem, justificou a exclusão alegando que "a Grécia fechou todas as portas para um acordo".

Em pronunciamento na televisão ontem à noite, o primeiro-ministro Alexis Tsipras convocou um referendo para o eleitorado decidir em 5 de julho se aceita se submeter às imposições das instituições internacionais. A alternativa é uma provável saída da Eurozona e talvez até da União Europeia, como advertiu o Banco Central da Grécia na semana passada, com consequências catastróficas como o colapso da economia do país.

Sem condições de refinanciar sua dívida pública no mercado desde 2009, a Grécia recebeu desde então empréstimos de 240 bilhões de euros. Em troca, foi obrigada a aceitar um programa de cortes de gastos públicos e aumentos de impostos que agravou a crise, provocando uma depressão.

Nos últimos seis anos, o produto interno bruto grego caiu 25%, o desemprego está em 27% para a população em geral e em 58% entre os jovens. Milhares de empresas fecham a cada mês. E os gregos correm para os caixas eletrônicos para sacar bilhões de euros com medo de que a moeda se esgote.

Nesse ambiente econômico de terra arrasada, a Coligação de Esquerda Radical (Syriza) venceu as eleições de 25 de janeiro de 2015 com a promessa de acabar com o programa de austeridade fiscal. Quer negociar uma redução da dívida e um plano de ajuste fiscal baseado no crescimento econômico. Mas não tem dinheiro para isso.

"Não temos um mandato para aceitar esta proposta", alegou hoje o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis. "Se o povo grego disser que sim, assinamos a linha pontilhada."

Ao defender o voto não, o governo grego praticamente inviabiliza o ajuste fiscal, argumentou o presidente do Grupo do Euro: "É um programa que exige sacrifícios. Se o próprio governo que tem de aplicar o plano é contra, a possibilidade de sucesso é menor."

O governo radical de esquerda da Grécia apostou claramente numa solução política, pressionando sem ceder até o último minuto. Varoufakis manteve o desafio hoje, alertando que o euro e a própria UE serão abalados ao não acatar a decisão democrática do eleitorado grego contra o ajuste fiscal.

Em seu blefe, Varoufakis alegou que os tratados constitucionais da UE não preveem a saída de nenhum país da Eurozona: "É preciso reescrever os tratados antes de expulsar a Grécia." O problema é que os eleitores dos outros países não querem pagar a conta.

Depois da reunião ministerial, o ministro das Finanças da França, Michel Sapin, declarou que quer manter a Grécia na Eurozona, mas no momento as duas partes parecem inflexíveis.

Fome é nova ameaça no Iraque

Desde que a milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante invadiu as províncias iraquianas de Ambar, Kirkuk, Nínive e Saladino, consideradas o celeiro do país, e proclamou seu Califado, há um ano, o Iraque perdeu um terço da produção de cereais e a maior parte de suas lavouras de trigo e cevada. Com um milhão de toneladas de trigo a menos, a população corre risco de passar fome, adverte o boletim Sada, da Fundação Carnegie para a Paz Mundial.

Além disso, o Estado Islâmico roubou os grãos armazenados pelo governo nas áreas conquistadas e transferiu a maior parte para a Síria. O que restou em poder dos agricultores foi confiscado, comprado a preços baixos ou apodreceu.

Como a guerra civil afetou a produção e a colheita, obrigou 3 milhões de iraquianos a fugir de casa e o país abriga 250 mil refugiados do conflito na vizinha Síria, a distribuição de ajuda alimentar de emergência pressionou ainda mais os estoques de comida do Iraque.

Grécia convoca referendo sobre o acordo da dívida

Em pronunciamento ontem à noite na televisão, o primeiro-ministro Alexis Tsipras convocou um referendo para 5 de julho de 2015, quando os gregos terão de decidir se querem se submeter a sacrifícios ainda maiores para a Grécia continuar recebendo ajuda financeira dos outros países da Zona do Euro e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Sob pressão da ala mais à esquerda da Coligação de Esquerda Radical (Syriza), que o levou ao poder em 25 de janeiro com a promessa de combater as políticas de austeridade fiscal impostas pelos sócios da União Europeia, Tsipras chegou ao limite. Seu mandato é para se opor a novos cortes de gastos, inclusive redução de aposentadorias, pensões e outros benefícios da Previdência Social.

Nas pesquisas, 69% manifestam a intenção de permanecer na Eurozona e na UE. Deixar a união monetária europeia levaria ao colapso da economia e a mais anos e anos de sofrimento para um país onde o produto interno bruto caiu 25% nos últimos seis anos.

A Grécia deve pagar 1,6 milhão de euros em 30 de junho ao FMI. Para isso, precisaria receber uma parcela de 7,2 bilhões de euros de um total de 240 bilhões de euros em empréstimos que recebeu desde 2009. Sem acordo com os credores, não vai levar. Cabe aos gregos decidir nas urnas.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Obama canta e emociona no funeral de vítima do racismo nos EUA

Em um discurso emocionante no funeral do reverendo Clementa Pinckney, assassinado em sua igreja junto com oito pessoas negras por um supremacista branco há nove dias, o presidente Barack Obama cantou a música Amazing Grace e foi acompanhado pela congregação, noticiou o jornal digital The Huffington Post.

"Se pudermos encontrar esta graça, tudo é possível. Se pudermos beber desta graça, tudo pode mudar. Amazing grace... graça maravilhosa...", repetiu o presidente dos Estados Unidos. Depois de uma pausa, puxou o coro.

No fim da música, Obama homenageou cada um dos mortos: "Clementa Pinckney encontrou essa graça. Cynthia Hurd encontrou essa graça. Ethel Lance encontrou essa graça", e assim citou uma por uma das vítimas.

O terrorista branco Dylann Roof, de 21 anos, queria deflagrar uma guerra racial entre negros e brancos. Por isso, escolheu a Igreja Episcopal Metodista Africana Emanuel, de Charleston, na Carolina do Sul, uma das mais antigas dos EUA, destruída durante a Guerra Civil ou Guerra da Secessão (1861-65). Matou seu pastor, mas foi perdoado pela congregação.

Ao se enrolar na bandeira da Confederação dos Estados do Sul, que lutou para se separar da união e manter a escravidão, o supremacista branco provocou um debate para retirá-la de circulação e mandá-la para museus. A bandeira exalta a escravidão, na opinião do presidene Obama, o pecado original da união americana.

Colômbia prende comandante guerrilheiro do ELN

A polícia da Colômbia prende Alonso Rodríguez Rojas, mais conhecido como O Agrônomo, comandante da frente José Marica Becerra do Exército de Libertação Nacional (ELN), segundo maior grupo guerrilheiro do país, noticiou o jornal colombiano El Espectador.

Rodríguez é acusado de rebelião, terrorismo e por um ataque em que 29 pessoas foram feridas na cidade de Popayán, no departamento de Cauca, em 2011.

Há quatro meses, o ELN, um grupo de orientação castrista fundado em 1964, havia concordado em negociar a paz com o governo colombiano. Há pouco mais de um mês, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que negociam desde 2012, pediram ao governo a inclusão do ELN no processo de paz.

A prisão é mais uma indicação do governo de que as atividades guerrilheiras não serão mais toleradas, só restando aos grupos armados negociar o fim da guerra.

Atentados terroristas matam 67 na Tunísia, no Kuwait e na França

Três atentados terroristas abalaram hoje o Norte da África, o Oriente Médio e a Europa, deixando pelo menos 65 mortos. As principais suspeitas recaem sobre a milícia extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que insuflou à realização de uma onda de ataques durante o mês do Ramadã, sagrado para os muçulmanos, que em 2015 vai até 17 de julho.

O ataque mais mortífero foi registrado diante de um hotel numa praia particular da cidade de Sousse, na Tunísia, no Mar Mediterrâneo. Numa clara intenção de destruir a indústria de turismo, uma das principais fontes de renda do país, os alvos foram turistas estrangeiros fuzilados por um atirador com um fuzil Kalachnikov. Pelo menos 39 pessoas foram mortas. A maioria era de turistas europeus, entre eles alemães, britânicos, belgas e irlandeses.

A Tunísia foi o berço da chamada Primavera Árabe. O ditador tunisiano Zine ben Ali foi o primeiro a cair, em 14 de janeiro de 2011, e seu país o único a evoluir rumo à democracia. Ao mesmo tempo, é de onde saíram mais jovens para aderir ao Estado Islâmico no Iraque e na Síria, mais de 3 mil voluntários do martírio.

Em 18 de março de 2015, dois pistoleiros atacaram outra atração turística, o Museu do Bardo, na capital, Túnis, matando 22 pessoas. Os jihadistas tentam impedir que se torne uma democracia liberal.

Na Cidade do Kuwait, um homem-bomba detonou os explosivos amarrados junto ao corpo dentro de uma mesquita xiita no momento em que os fiéis estava ajoelhados rezando. Pelo menos 27 pessoas foram mortas e outras 232 saíram feridas.

O Estado Islâmico, que reivindicou a autoria do atentado, segue a ideologia salafista, que é sunita. Já atacou duas mesquitas xiitas na Arábia Saudita. Seu objetivo aqui é provocar uma guerra sectária entre muçulmanos sunitas e xiitas.

A terceira ação terrorista aconteceu em Saint-Quentin-Fallavier, a 30 quilômetros da cidade de Lyon, no Sul da França, onde um homem invadiu uma usina de gás de uma empresa americana e jogou seu carro contra grandes depósitos de gás para explodir todo o complexo. Um corpo decapitado foi encontrado nas proximidades.

Um homem que estava no carro, Yassin Salhi, foi preso e declarou pertencer ao Estado Islâmico. A polícia francesa investiga se havia outro terrorista com ele. Quatro suspeitos foram presos.

O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, revelou que Salhi tem origem no Norte da África, é ligado a um movimento salafista e foi identificado como um inimigo em potencial em 2006, mas até agora não havia sido implicado em qualquer atividade terrorista.

A cabeça degolada perto de uma Bandeira da Águia (Rayat al-Ukab), usada por vários grupos jihadistas, inclusive Al Caeda e o Estado Islâmico. O morto era o patrão de Salhi.

O presidente François Hollande, que participava de uma reunião de cúpula da União Europeia em Bruxelas, na Bélgica, confirmou se tratar de terrorismo e voltou à França para coordenar a resposta do governo, baseada em "ação, prevenção e dissuasão, sem ceder jamais ao medo".

A França está em estado de alerta contra o terrorismo desde o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, em 7 de janeiro de 2015, seguido de outras ações que deixaram um total de 17 mortos. O ataque ao jornal foi feito pelos dois irmãos Kouachi, um deles treinado no Iêmen pela rede Al Caeda na Península Arábica.

Nos dias seguintes, Amédy Coulibaly matou uma policial negra na rua e quatro pessoas num supermercado de comida judaica. Antes de morrer, ele declarou lealdade ao Estado Islâmico.

Suprema Corte legaliza o casamento gay em todos os EUA

Em uma decisão sem precedentes, por 5 a 4, a Suprema Corte dos Estados Unidos reconheceu hoje o direito de pessoas do mesmo sexo de se casar em todo o país. 

Trinta e sete estados e o Distrito de Colúmbia, onde fica a capital, já autorizavam o casamento gay. Os 13 estados que ainda não aprovaram o casamento gay terão de mudar sua legislação.

Os ministros do supremo tribunal americano reinterpretaram a 14ª emenda à Constituição dos EUA, que estabelece que toda pessoa tem direito à "proteção igual perante a lei" e que os estados não podem "dar privilégios e imunidades" a seus cidadãos. Assim, os estados são obrigados a autorizar o casamento de pessoas do mesmo sexo e a reconhecer os casamentos gays celebrados em outros estados.

Como relator da posição majoritária, o ministro Anthony Kennedy declarou que "decisões sobre casamento estão entre as decisões mais íntimas que um indivíduo pode tomar". Ele acrescentou que os gays têm direito à "associação íntima" além da simples liberdade concedida pela revogação das leis que criminalizavam a homossexualidade.

Vice-presidente acusa presidente e foge do Burúndi

Um dos vice-presidentes do Burúndi, Gervais Rufyikiri, fugiu do país depois de acusar o presidente Pierre Nkurunziza de tentar concorrer a um terceiro mandato, violando a Constituição, noticiou a agência Reuters.

Rufyikiri é mais um alto funcionário a fugir em meio a uma crescente onda de protestos contra Nkurunziza, que estaria violando o acordo de paz de 2005, que pôs fim a uma longa guerra civil entre a minoria tútsi e a maioria hutu.

No mês passado, Nkurunziza foi alvo de uma tentativa de golpe de Estado quando participava na Tanzânia de uma reunião da Comunidade da África Oriental para discutir a crise, mas conseguiu voltar ao país. Adiou então as eleições presidencial e parlamentares.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Grécia e credores prorrogam negociações até sábado

Mais uma vez, não houve acordo entre os ministros das Finanças da Zona do Euro, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE) e o governo radical de esquerda da Grécia para que o país receba uma parcela de 7,2 bilhões de euros e possa pagar 1,6 bilhão de euros ao FMI no dia 30 de junho de 2015. A última chance de evitar o calote será uma nova reunião de emergência dos ministros das Finanças da Eurozona marcada para sábado, 27 de junho de 2015.

As negociações entraram em colapso pela quarta vez em uma semana no fim da manhã de hoje, quando a nova proposta apresentada pelo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, foi considerada insuficiente pela troika. O plano foi considerado praticamente igual ao anterior, sem cortar mais gastos.

Diante do fracasso, a União Europeia já prepara um plano alternativo para evitar o contágio de um calote e de uma saída da Grécia da Eurozona. Como está, a proposta grega é considerava inaceitável. O Plano B prevê controle de capitais e até mesmo ajuda humanitária.

Na análise mais pessimista, um calote da Grécia seguido de uma saída da união monetária e talvez até mesmo da UE seria muito pior do que o colapso da economia da Argentina com o fim da dolarização da era Carlos Menem (1989-99), em 2001 e 2002, quando 58% dos argentinos caíram abaixo da linha de pobreza.

A Grécia entrou em crise em 2009. Sob o impacto da crise internacional iniciada em 2008 nos Estados Unidos, com o recuo dos investidores, que refizeram seus cálculos, o país não conseguiu mais rolar sua dívida pública. Desde então, a Grécia recebeu empréstimos de 240 bilhões de euros e teve parte da dívida perdoada, mas o total está hoje em 320 bilhões de euros.

Ao mesmo tempo, o país foi submetido a um rigoroso programa de ajuste das contas públicas imposto pela UE, o FMI e o BCE que resultou numa queda de 25% no produto interno bruto e desemprego de 27% para a população em geral e de 58% entre os jovens.

Essa situação social insuportável acabou com o apoio aos partidos tradicionais e levou a Coligação de Esquerda Radical (Syriza) ao poder nas eleições de 25 de janeiro de 2015. O primeiro-ministro Alexis Tsipras insiste em que a Grécia não vai sair da Eurozona, mas está esticando a corda perigosamente até o último minuto.

Os credores exigem, por exemplo, um corte ainda maior nas pensões e aposentadorias, o que é extremamente impopular. Nas ruas de Atenas, manifestantes mobilizados pela esquerda pressionam o governo para que não ceda. Os deputados mais à esquerda da Syriza acusam Tsipras de já ter feito concessões demais.

Mas a alternativa é muito pior para todos, especialmente para os gregos. Eles enfrentariam uma crise sem precedentes numa economia moderna. O euro e o projeto de integração da Europa, o sonho de um continente pacífico, unido e próspero alimentado desde o fim da Segunda Guerra Mundial, também seriam abalados.

Estado Islâmico lança nova ofensiva no Norte da Síria

A milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante atacou ontem o Exército da Síria e milícias aliadas para tentar reconquistar as cidades de Hassakê e Kobane, que ficam junto à fronteira com a Turquia, noticiou hoje o jornal libanês The Daily Star. Pelo menos 35 pessoas morreram na ofensiva.

O grupo jihadista perdeu terreno nos últimos na província de Rakka, onde fica a capital do Califado proclamado um ano atrás, para guerrilheiros curdos apoiados pela coalizão de forças aéreas liderada pelos Estados Unidos.

Numa feroz batalha de quatro meses, os guerrilheiros curdos tomaram Kobane em janeiro de 2015. Os curdos acusam a Turquia de permitir que milicianos do Estado Islâmico usassem território turco para invadir Kobane. Esta alegação não foi confirmada por fontes independentes.

Suprema Corte salva programa de saúde de Obama mais uma vez

Pela segunda vez em três anos, a maioria da Suprema Corte dos Estados Unidos confirmou a legalidade da Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível, base do programa do governo Barack Obama para universalizar a cobertura de saúde. Por 6 a 3, o tribunal rejeitou mais uma alegação de inconstitucionalidade da direita conservadora.

Em seu voto, o presidente do supremo tribunal americano, John Roberts Jr., relator do caso, observou que "o Congresso aprovou a Lei de Atendimento Acessível para melhorar os mercados de seguro-saúde, não para destruí-los".

No seu desafio, os conservadores alegavam que os subsídios federais necessários para que o programa de saúde de Obama funcione só estão disponíveis nos 13 estados que criaram seus próprios mecanismos para que os interessados comprem seguros de saúde. Em 34 estados governados por conservadores, é o governo federal que controla o mercado.

Só os três ministros mais conservadores da Suprema Corte, Antonin Scalia, Samuel Alito Jr. e Clarence Thomas, discordaram da maioria.

A universalização da cobertura de saúde é um dos principais legados de Obama em política interna. Desde que foi aprovada, em seu primeiro governo, a direita conservadora luta obstinadamente para revogá-la. Todos os aspirantes à candidatura do Partido Republicano à Casa Branca em 2016 e a imensa maioria dos candidatos do partido são contra.

Mas o programa é um sucesso, comentou em editorial o jornal The New York Times: "Hoje uma proporção maior de americanos em idade de trabalhar tem seguro-saúde do que em qualquer outro momento desde que começaram as estatísticas a respeito, em 1997."

Ao lamentar a decisão, o presidente da Câmara dos Representantes, deputado John Boehner, que tem o cargo mais poderoso da oposição republicana, insistiu em que o maior problema do programa de saúde é que "é uma lei falida, que aumenta o custo para famílias e para pequenas empresas". Os números não confirmam.

Os EUA eram o único país rico que não oferecia cobertura universal de saúde a seus cidadãos, o que não evitava que os americanos tenham proporcionalmente os maiores gastos com saúde do mundo, de cerca de 16% do produto interno bruto, estimado em US$ 17,7 trilhões no primeiro trimestre de 2015.

Foi a segunda vitória importante do presidente Obama em dois dias. Ontem o Congresso lhe a autoridade para promoção comercial, que permite negociar a criação da Parceria Transpacífica (TPP, do inglês) com outros 11 países da América, Ásia e Oceania, e a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimentos em discussão com a União Europeia.

Com a autorização, o Congresso não poderá emendar acordos de comércio internacional, o que obrigaria a reabrir as negociações várias vezes. O comércio exterior é outro elemento fundamental do legado de Obama.

Governador indiano-americano entra na corrida à Casa Branca

Dias depois de aparecer num dos últimos lugares nas pesquisas sobre os aspirantes à candidatura do Partido Republicano à Presidência dos Estados Unidos em 2016, o governador da Louisiana, Bobby Jindal, de origem indiana, 44 anos, anunciou ontem a intenção de concorrer à Casa Branca.

Primeiro governador de origem indiana, uma comunidade que cresce nos EUA, eleito em 2007, com 36 anos, na segunda tentativa Jindal conquistou a reputação de burocrata eficiente e se tornou um dos políticos mais queridos pela direita religiosa, uma reencarnação do sonho americano.

Seus pais eram hinduístas. Ele se converteu ao catolicismo. Educado numa das melhores universidades dos EUA, Jindal se dedicou a tornar o governo estadual mais ágil e mais honesto.

Nos últimos anos, sua popularidade caiu. Jindal é acusado de esquecer Louisiana para se concentrar na corrida à Casa Branca. "Não acredito que ninguém no estado acredite que ele possa ganhar", resumiu Roy Fletcher, um consultor político ligado ao Partido Republicano em Baton Rouge.

Sua impopularidade é fruto do déficit orçamentário de US$ 1,6 bilhão na Lousiana, agravado pela queda nos preços internacionais do petróleo. Sua base eleitoral é formada por católicos e cristãos evangélicos conservadores. Sua maior proposta: "liberdade religiosa". Jindal já manifestou preocupação de proteger quem não apoia o casamento de pessoas do mesmo sexo. Com vários estados declarando ilegal a recusa de prestar serviços a homossexuais, por aí não vai longe.

Dos mais de dez aspirantes em luta pela candidatura republicana, os favoritos são o ex-governador da Flórida Jeb Bush, o senador pela Flórida de origem cubana Marco Rubio e o magnata imobiliário Donald Trump, a surpresa da última pesquisa. Por enquanto, Jindal é candidato de si mesmo. Mas sua determinação não deve ser desprezada.

Entre os pré-candidatos da oposição, Jindal é o único que fez um plano detalhado para substituir o programa do governo Barack Obama para garantir cobertura universal de saúde aos americanos.

A proposta transfere aos estados o controle total sobre Medicaid, o programa de saúde pública para pobres e ofereceria subsídios apenas àqueles que sob risco de doenças graves para garantir que possam pagar o seguro-saúde. Jindal também é contra os subsídios a empresas que ofereçam planos de saúde aos empregados.

Para os críticos à direita, a proposta para pacientes de alto risco seria cara demais. À esquerda, a reclamação é que basear a cobertura de saúde nas empresas desorganizaria o atual sistema.

Credores pedem mais cortes de gastos à Grécia

O Grupo do Euro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) exigiram ontem novos cortes de gastos da Grécia, especialmente em aposentadorias e pensões, para evitar que o país quebre outra vez no futuro e não consiga honrar suas dívidas.

Sob pressão ala mais à esquerda de sua Coligação de Esquerda Radical (Syriza), o primeiro-ministro esquerdista Alexis Tsipras acusou a chamada troika de não querer chegar a um acordo. Mas a expectativa é de que haja acordo.

"Ainda existem diferenças, mas não são insolúveis", declarou o ministro das Finanças da Espanha, Luis de Guindos.

Quando o acordo político sobre a dívida grega foi anunciado, na segunda-feira, a chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, deu seu aval: "A proposta da Grécia é uma boa base para a negociação". Mas a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, observou que ainda havia "muito trabalho a fazer".

A crise da Grécia acabou sequestrando a reunião de cúpula de fim de semestre da União Europeia, que em 2015 tem na pauta uma série de problemas: a agressividade da Rússia na crise da Ucrânia, a migração em massa de refugiados e miseráveis no Mar Mediterrâneo e a ameaça de saída do Reino Unido.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Boko Haram mata mais 52 pessoas na Nigéria

Pistoleiros suspeitos de pertencer à milícia extremista muçulmana Boko Haram mataram pelo menos 42 pessoas em ataques separados contra duas vilas do estado de Borno, no Nordeste da Nigéria, ontem e anteontem. Outras dez pessoas morreram num atentado suicida no vizinho estado de Yobe, noticiou hoje a Agência France Presse (AFP).

Cerca de 30 milicianos invadiram Debiro Biu na segunda-feira e Debiro Hawul na terça-feira, duas vilas remotas desprotegidas da atual ofensiva do Exército contra os jihadistas, acusados por uma operação conjunta da Nigéria, do Níger, do Chade, do Benin e de Camarões.

Ao todo, pelo menos 250 pessoas foram mortas na Nigéria desde a posse em 29 de maio de 2015 do presidente Muhammadu Buhari, um general da reserva que prometeu linha dura no combate aos rebeldes jihadistas. Desde que aderiu à luta armada para impor a lei islâmica na África Ocidental, em 2009, o Boko Haram deflagrou uma guerra civil em que cerca de 15 mil pessoas morreram.

Obama jura a Hollande que EUA não espionam presidente francês

Em conversa por telefone hoje com o presidente da França, François Hollande, o presidente Barack Obama afirmou que os Estados Unidos não o espionam, ao contrário do que revelaram ontem documentos vazados pelo sítio WikiLeaks e divulgados pelo jornal Libération

Obama reafirmou o que prometeu pessoalmente à chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, que está "firmemente engajado contra a espionagem de aliados".

Hollande convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional ao saber, no escândalo batizados de FranceLeaks que a Agência de Segurança Nacional dos EUA escutou telefonemas dos três últimos presidentes da França: Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e o próprio Hollande. O Ministério do Exterior francês pediu explicações à embaixadora americana em Paris, Jane Hartley.

A presidente Dilma Rousseff cancelou uma visita de Estado aos EUA quando os documentos vazados pelo ex-agente Edward Snowden revelaram, em 1º de setembro de 2013, que seu telefone era grampeado pelos serviços secretos americanos. A viagem está remarcada para 27 a 30 de junho de 2015 como uma visita de governo.

A espionagem de países amigos e inimigos é prática comum e regular da diplomacia há séculos. Os EUA e Israel são aliados incondicionais, mas mantêm agentes presos por passar segredos de Estado ao amigo. É uma tradição das Nações Unidas que as grandes potências com poder de veto espionem o gabinete do secretário-geral. Mas as denúncias do WikiLeaks e de Snowden abalaram a imagem dos EUA no mundo com prejuízos para o país.

Terrorista da Maratona de Boston pede desculpas pelas mortes

Durante a audiência em que o juiz deveria anunciar oficialmente sua sentença de morte pela condenação em 30 acusações pelo atentado contra a Maratona de Boston, o jovem americano de origem chechena Djokhar Tsarnaev pediu desculpas hoje às vítimas e manifestou "pesar pelas vidas que eu tirei", noticiou o jornal The Washington Post.

"Gostaria de pedir desculpas às vítimas e aos sobreviventes", declarou Djokhar, manifestando pela primeira vez remorso pelos crimes cometidos. "Tenho pesar pelas vidas que tirei, o sofrimento que causei e os danos que provoquei. Que Alá tenha misericórdia de mim!"

Djokhar foi condenado em abril, dois anos depois do ataque articulado pelo irmão mais velho, Tamerlan Tsarnaev, que morreu dias em confronto com a polícia durante a fuga. Três pessoas foram mortas e 264 saíram feridas do atentados. Um policial foi morto dois dias depois, quando a identidade dos terroristas foi revelada pela polícia.

No julgamento, os advogados atribuíram a conspiração a Tamerlan, apresentando Djokhar como um adolescente manipulado pelo irmão mais velho. Ele foi condenado por todas as 30 acusações, 17 das quais podem ser punidas com a morte. A defesa vai recorrer.

Hesbolá e governo tomam cruzamento estratégico no Norte da Síria

No fim de uma batalha iniciada em 4 de maio de 2015, o Exército da Síria e a milícia jihadista libanesa Hesbolá (Partido de Deus), sua aliada, tomaram as colinas de Carná, Dalil Samaã e Chubat Auade e um cruzamento estratégico junto à cidade de Calamun, no Norte do país, noticiou hoje o jornal libanês The Daily Star.

De acordo com o Hesbolá, vários postos de controle dos rebeldes foram tomados perto da vila de Jarajir, dominada pelo regime sírio. A Frente al-Nusra, braço da rede terrorista Al Caeda na guerra civil da Síria, anunciou ontem ter destruído um tanque do Hesbolá perto de Flita.

Ao tomar Carná, as forças leais à ditadura de Bachar Assad assumiram o controle total do cruzamento estratégico de Wadi al-Maghara, que liga Calamun ao território libanês.

Neste mês, o Hesbolá avançou rumo a Arsal pelo sul e pelo oeste, cercando posições da Frente al-Nusra na região. Ao norte de Arsal, a milícia libanesa enfrenta o Estado Islâmico do Iraque e do Levante na luta pela cidade libanesa de Ras Baalbek.

O Exército do Líbano bombardeou acampamentos de rebeldes sírios nos arredores de Arsal e Ras Baalbek para impedir que invadam o território libanês. Mas o ex-primeiro-ministro libanês Saad Hariri, um muçulmano sunita aliado dos EUA que apoia os rebeldes sírios, afirmou que a operação protege a ditadura de Bachar Assad e não o Líbano.

Grupo de Visegrado rejeita cotas de imigração na UE

Em comunicado conjunto, a Polônia, a Hungria, a República Tcheca e a Eslováquia, países do Grupo de Visegrado, ameaçaram hoje vetar a imposição de cotas de imigração para que os países da União Europeia dividam o ônus de acolher candidatos a asilo político.

O primeiro-ministro eslovaco, Robert Rico, anunciou que vai convocar um plebiscito se a proposta for levada adiante. A Hungria suspendeu a aplicação da regra de que candidatos a asilo devem ter seus pedidos analisados no primeiro país do bloco a que chegaram.

É justamente esta regra que colocou a maior parte do ônus em países como a Grécia, a Itália e Malta, para onde se dirigem refugiados e imigrantes econômicos que se arriscam em barcos precários no Mar Mediterrâneo para fugir da miséria e da guerra.

Sob pressão de partidos de extrema direita anti-imigrantes, a França e o Reino Unido também manifestaram contrariedade diante da proposta de dividir os migrantes proporcionalmente à população dos países da UE.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Curdos tomam base perto da capital do Estado Islâmico

As Unidades de Proteção do Povo Curdo e seus aliados tomaram a base da Brigada 93 da milícia extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante e parte da cidade vizinha de Ain Issa, ao norte de Rakka, na Síria, considerada a capital do Califado proclamado há um ano pelo grupo jihadista, informou hoje o jornal libanês The Daily Star.

Há três dias, milicianos do Estado Islâmico que ocupam a cidade de Palmira destruíram dois antigos túmulos muçulmanos vistos como hereges por sua versão radical do islamismo. Eram os mausoléus de Mohammad ben Ali e Nizar Abu Bahaedine.

O Estado Islâmico conclamou os seguidores a intensificar os ataques durante o sagrado mês do Ramadã, que em 2015 vai de 18 de junho a 17 de julho.

EUA espionaram os três últimos presidentes da França

A Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos espionou regularmente de 2006 a maio de 2012 três presidentes da França, Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e o atual, François Hollande, revelaram hoje documentos vazados pelo WikiLeaks publicados pelo grupo Mediapart e o jornal francês Libération.

"No mundo da espionagem, não aliados nem amigos", resume o Libé, citando a chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel. Indignada ao saber que era vigiada pelo serviço secreto americano, ela reagiu: "Espionagem entre amigos? Isso não se faz." E convidou o presidente Barack Obama a telefonar quando quisesse saber das novidades.

Os documentos vazados foram agrupados como Espionagem Elisée, com cinco relatórios da NSA. Dois foram mostrados pelos EUA aos serviços secretos aliados da Austrália, do Canadá, da Nova Zelândia e do Reino Unido. Três ficaram restritos à comunidade de informações dos EUA.

Durante o governo Jacques Chirac, a inteligência americana concluiu que o ministro do Exterior, Philppe Douste-Blazy era "propenso a fazer declarações inexatas ou inoportunas". Em 2008, depois do colapso do banco Lehman Brothers, o presidente Sarkozy estava convencido, ironizam os agentes dos EUA, de que era "o único homem capaz de resolver a crise".

O memorando mais recente é de uma conversa do presidente Hollande com o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault sobre a crise da Grécia e o risco de saída do país da união monetária europeia.

Se os documentos pirateados pelo WikiLeaks eram sigilosos, não revelam nenhum segredo de Estado.

Brasil é quarto maior destino de investimentos portugueses no exterior

Com 6% do total, de quase 50 bilhões de euros, o Brasil foi o quarto maior destino do investimento externo direto dos portugueses e o quinto maior investidor no país em 2014, revelou o Banco de Portugal. A lista é liderada pela Holanda (36%), a Espanha (17%) e a Alemanha (8%). O Brasil está ao lado de Angola.

No outro sentido, o investimento externo direto em Portugal ficou em torno de 90 bilhões de euros. Os maiores investidores foram a Espanha (26%), a Holanda (23%), Luxemburgo (13%), o Reino Unido (8%) e o Brasil (6%).

Os investimentos portugueses no exterior se concentram no setor de serviços. O investimento direto é aplicado diretamente na produção, com compra, instalação e modernização de empresas.

Obama usa palavra politicamente incorreta ao criticar o racismo

Dias depois do massacre de nove negros por um jovem supremacista branco numa igreja da Carolina do Sul, o presidente Barack Obama chocou os Estados Unidos ao usar a palavra nigger, que literalmente significa negro, mas seria melhor traduzida como crioulo no sentido pejorativo.

Depois de lembrar que o passado de escravidão ainda projeta "sua longa sombra" sobre a sociedade americana, Obama afirmou que "o fato de não se dizer mais crioulo em público não significa que o racismo acabou".

Em uma longa conversa sobre raça em entrevista de rádio, Obama citou seu próprio exemplo de filho de pai negro e mãe branca e insistiu que não há dúvida de que as relações raciais melhoraram durante sua vida. Mas deixou claro que o racismo está profundamente incrustado nos EUA.

Mesmo assim, em vários programas de debates de rádio e TV, a provocação do presidente foi rejeitada. Sem dúvida, Obama conseguiu ampliar a discussão.

Desde o massacre, cresceu o movimento para banir a antiga bandeira dos Estados Confederados do Sul, que lutaram para se separar do Norte durante a Guerra Civil (1861-65) por não aceitarem a abolição da escravatura proposta por Abraham Lincoln.

Maduro convoca eleições parlamentares para dezembro

Sob grande pressão interna e externa, o presidente Nicolás Maduro finalmente convocou ontem eleições parlamentares para 6 de dezembro de 2015 na Venezuela. A maioria absoluta do regime chavista no Parlamento está ameaçada e Maduro insinuou que pode rejeitar o resultado.

"Se a direita ganhar, serei o primeiro a me lançar às ruas", declarou o sucessor e herdeiro político de Hugo Chávez. "Se a direita tomar a Assembleia Nacional, sucederiam coisas muito graves neste país, haveria um processo de confrontação nas ruas."

A convocação das eleições parlamentares era uma das exigências do líder oposicionista Leopoldo López, preso há mais de um ano sem culpa formada, para encerrar uma greve de fome de 29 dias. Vários membros do seu partido, Vontade Popular, aderiram à greve, que está mantida. Outra reivindicação é a libertação de todos os presos políticos venezuelanos.

Hoje, o governo tem o apoio de 99 dos 165 deputados da Assembleia Nacional e uma popularidade em queda. Maduro foi eleito presidente em abril de 2013, 40 dias depois da morte de Chávez, com 50,6% dos votos.

Com a queda nos preços internacionais do petróleo, a inflação em 100% ao ano, desabastecimento de produtos básicos e dólar a 465 bolívares o mercado negro - até pouco tempo atrás a cotação oficial era 6,30 -, as chances de vitória da oposição são enormes.

Se a oposição conquistar maioria na Assembleia Nacional, o próximo passo será recolher assinatura para exigir a realização de um referendo revogatório para abreviar o mandato do atual presidente. É um instituto introduzido por Chávez na Constituição da República Bolivarista da Venezuela, o nome oficial do país, rebatizado pelo caudilho.

Como o regime chavista não parece disposto a entregar o poder, os próximos meses serão grande agitação política na Venezuela. A campanha começa oficialmente em 13 de novembro, mas este é um governo que nunca desceu do palanque em conflito com uma oposição que precisa desesperadamente de um.

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Grécia anuncia acordo e bolsas da Europa sobem

Horas antes de uma reunião de cúpula de emergência da União Europeia, o governo radical de esquerda da Grécia apresentou um novo plano para equilibrar as contas públicas criando um clima de otimismo quanto a um acordo para continuar recebendo ajuda internacional e evitar um calote de sua dívida pública no fim de junho de 2015.  As bolsas europeias fecharam em forte alta, com avanços de 9% em Atenas, de 3,8% em Frankfurt e de 2,5% na média.

Desde que entrou em crise por não conseguir rolar sua dívida pública, em 2009, a Grécia recebeu empréstimos de emergência no valor de 240 bilhões de euros (R$ 847 bilhões) e renegociou uma redução da dívida. Mas teve de se submeter a um rigoroso programa de austeridade imposto pela UE, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE). A dívida está hoje em 320 bilhões de euros (R$ 1,12 trilhão).

Em consequência da dureza do ajuste, a economia grega encolheu 25% nesse período e o desemprego superou os 25% entre a população adulta e chegou a 56% entre os jovens. Por esse motivo, em janeiro de 2015, a Coligação de Esquerda Radical (Syriza) venceu as eleições e Alexis Tsipras virou primeiro-ministro com a promessa de romper com o programa de austeridade.

O governo grego se recusa a promover um amplo programa de privatizações e a reduzir aposentadorias e pensões. Mas precisa fazer uma proposta realista baseada em números para convencer os credores e as instituições que fiscalizam o plano de resgate ao país.

A Grécia deve pagar 1,6 bilhão de euros (R$ 5,6 bilhões) no dia 30 ao FMI. Precisa de uma parcela de 7,2 bilhões de euros (R$ 25,4 bilhões) que só será liberada se houver acordo.

Às 11h de hoje em Bruxelas (6h em Brasília), Tsipras se reuniu com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker; a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde; o presidente do BCE, Mario Draghi; e o presidente do Grupo do Euro, Jeroen Dijsselbloem; para apresentar a nova proposta da Grécia.

Talebã atacam o Parlamento do Afeganistão

A  milícia extremista muçulmana dos Talebã (Estudantes) reivindicou a autoria de um ataque ao Parlamento do Afeganistão. Pelo menos nove pessoas morreram, entre eles sete terroristas, uma mulher e uma criança, e 31 saíram feridas, informou o Ministério do Interior afegão.

Num claro desafio ao governo, o ataque comecou às 10h30 pela hora local de Cabul com um atentado terrorista suicida que abalou o plenário, que discutia a indicação do novo ministro da Defesa. Em seguida, seis milicianos tentaram invadir a sede do Parlamento. A polícia resistiu. Depois de uma hora, conseguiu matar todos os talebã.

"Todos os deputados e senadores foram resgatados e estão bem", declarou o chefe de polícia de Cabul, Abdul Rahman Rahimi.

O presidente afegão, Achraf Ghani Ahmadzai, nomeou recentemente Mohammad Massoom Stanekzai para ministro da Defesa, um cargo que exige aprovação do Parlamento. Ghani condenou o ataque descrevendo-o como "um ato claro de hostilidade contra a religião do Islã", numa tentativa de minar a credibilidade dos Talebã, que se apresentam como os únicos representantes legítimos do verdadeiro islamismo.

Com esse ataque ao coração do poder em Cabul, os Talebã mostram a determinar de obter vitórias e realizar ações espetaculares em sua ofensiva anual de verão, que começou antes do início oficial da estação, quando o fim do rigoroso inverno e o degelo permitem aos rebeldes intensificar a luta.

Este é o primeiro ano depois da retirada do grosso das forças internacionais lideradas pelos Estados Unidos, que atacaram o Afeganistão a partir de 7 de outubro de 2001 para vingar os atentados terroristas de 11 de setembro em Nova York e no Pentágono. O governo dos talebã acolhia na época as principais bases da rede terrorista Al Caeda.

A Guerra do Afeganistão já é a mais longa da história dos EUA. Desde sua primeira eleição para a Casa Branca, em 2008, o presidente Barack Obama promete acabar com a participação americana.

Diante da ofensiva da milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante no Iraque um ano atrás, Obama decidiu manter 9,8 mil soldados americanos no Afeganistão em vez dos 5 mil anteriormente previstos. Além de treinar a polícia e o Exército locais, eles podem participar de operações especiais antiterrorismo.

domingo, 21 de junho de 2015

Alemanha e França intimam Grécia a apresentar plano de ajuste fiscal

Na véspera de uma reunião de cúpula decisiva para as negociações sobre a dívida pública da Grécia marcada para hoje, os líderes da União Europeia advertiram o primeiro-ministro Alexis Tsipras de que o país não vai receber uma parcela de 7,2 bilhões de euros (R$ 25,4 bilhões) se não fizer acordo com seus sócios do Grupo do Euro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE).

Em uma série de telefonemas no domingo, líderes europeus, inclusive a chanceler (primeira-ministra) da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, deixaram claro que não haverá negociações de última hora durante a reunião de cúpula. A Grécia precisa chegar a um acordo com as instituições que fiscalizam o programa de ajuste fiscal adotado em troca de empréstimos de 240 bilhões de euros (R$ 847 bilhões).

Se o governo radical de esquerda grego apresentar um plano de privatizações, cortes de gastos e aumentos de impostos para equilibrar as contas públicas, a Europa já admite negociar uma redução do total da dívida, hoje em 320 bilhões de euros (R$ 1,12 trilhão). Mas as contas precisam fechar.

Tsipras embarcou ontem à noite para a reunião de cúpula em Bruxelas sem que as instituições fiscalizadoras tenham recebido uma nova proposta. O líder grego parece disposto a blefar até o último momento na expectativa de que os credores recuem para evitar um mal maior.

Sem um acordo nesta segunda-feira, a Grécia não terá condições de pagar uma parcela de 1,6 bilhão de euros devida ao FMI no fim deste mês. Vai se juntar a Cuba, Sudão e Zimbábue entre os caloteiros do Fundo.

O medo de que o país não pague a dívida e seja forçado a deixar a união monetária provocou uma corrida aos bancos na semana passada, com um total de saques de mais de 6 bilhões de euros (R$ 21,2 bilhões).

Na sexta-feira, o BCE abriu uma linha de financiamento de emergência de 3,3 bilhões (R$ 11,65 bilhões) para evitar o colapso do sistema financeiro grego. Durante a semana passada, o Banco Central da Grécia divulgou nota alertando para o risco de uma "crise incontrolável" em caso de calote e possível saída do país da Zona do Euro. O governo não se abalou.

A Coligação de Esquerda Radical (Syriza), liderada por Tsipras, venceu as eleições parlamentares de 25 de janeiro de 2015 depois de uma depressão econômica de seis que reduziu o produto interno bruto da Grécia em 25% e elevou o desemprego a mais de 25%, sendo 56% entre os jovens. Sua promessa central de campanha foi romper com as políticas de austeridade fiscal impostas pela troika, que agravaram a crise.

Parlamento do Irã limita seu poder de vetar acordo nuclear.

O Majlis (Parlamento) do Irã aprovou hoje uma lei que limita seu próprio poder de bloquear um acordo nuclear que está sendo negociado com as cinco grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas e a Alemanha, noticiou o sítio France 24.

Qualquer lei decorrente do acordo terá de passar pelo Supremo Conselho de Segurança Nacional, que será encarregado de fiscalizar seu cumprimento.

As negociações, que devem ser concluídas até 30 de junho de 2015, visam a congelar o programa nuclear iraniano durante dez anos para evitar que o país desenvolva armas atômicas. O Irã conserva o direito de enriquecer urânio a baixos teores para uso em reatores nucleares de produção de energia para fins pacíficos.

Em troca, as sanções internacionais impostas para punir o regime teocrático da República Islâmica serão suspensas gradualmente.

Al Chababe ataca capital da Somália

Com um atentado terrorista suicida contra o quartel-general do serviço secreto do país, a milícia extremista muçulmana Al Chababe (A Juventude) atacou hoje a capital da Somália, informou um porta-voz do Ministério do Interior, citado pela televisão pública britânica BBC.

Os rebeldes jihadistas alegam ter matado vários agentes que estariam trabalhando na hora. O governo provisório afirmou ter repelido o ataque e negou que seus agentes tenham sido mortos e anunciou a morte de quatro milicianos.

Al Chababe ameaça fazer uma onda de ataques durante o sagrado mês do Ramadã, quando os muçulmanos são obrigados a jejuar durante o dia e só comer e beber à noite.

sábado, 20 de junho de 2015

Unsex Me Here: Lady Macbeth's Sexuality On Screen

NINA BECKER JOBIM*
            Almost four hundred years after his death, why do we still love Shakespeare? Why is he still performed all over the world in so many languages, adapted to so many time periods, and relived through so many different mediums? The answer is deceptively simple: Shakespeare is universal. His lack of written stage direction makes his plays easy to re-interpret and adapt in each performance, while his themes and characters remain applicable across time. The external changes, while the internal does not; this keeps Shakespeare fresh and yet relatable. Macbeth, as one of Shakespeare's most famous plays, has undergone all kinds of adaptations and re-interpretations. Only through performance can a play be truly understood; reading it only shows a few dimensions of its story. Every performance of Macbeth, as with any other play, is different, uniquely exploring the play and shedding new light on the same text. As the female lead, Lady Macbeth undergoes major changes with each re-imagining, though her essence, as with that of all elements of Shakespeare, does not change. In Roman Polanski's 1971 film Macbeth, the 1979 TV film A Performance of Macbeth and Macbeth of the PBS “Great Performances” series, while each Lady Macbeth is distinct, every actress retains a perverted sexuality vital to her character. It is this simultaneous mutability and stability that makes her so frighteningly enticing and Macbeth an eternal favorite.
            Obviously Lady Macbeth's first appearance in the play is a vital moment of every production. In Polanski's Macbeth, perhaps the most famous screen adaptation; Francesca Annis makes her first appearance in strong contrast to the movie up until that point. Polanski's Macbeth is set in the cold rains and mists of medieval Scotland, and yet in Act I, Scene V, when Lady Macbeth first appears, the sun is shining and the sky is clear. Annis's hair is dyed blonde, a color typically associated with fairy tale princesses and angels, and she wears blue, not only a very expensive color but also one associated with the Virgin Mary, the epitome of purity. Annis's youth and beauty complete the picture of innocence. However, this outward appearance serves to make her words and intentions all the more powerful, her ruthless nature and peaceful-seeming exterior stark contrasts. While appearing thus, Annis delivers the famous line: “He thee hither/ That I may pour my spirits in thine ear,” (1.5.21-2), with the intention of persuading her husband to commit murder and treason. Lady Macbeth's cruelty and ambition are made all the more harsh in Polanski's Macbeth because it is unexpected, a contradiction of her innocent facade. Annis's young sexuality becomes perverted by the character she plays here.
            When Macbeth and Lady Macbeth are reunited, they are very physical, Jon Finch – Macbeth – carrying Annis to their bed upon arrival. As they discuss Duncan's murder, they lie in bed kissing each other, Lady Macbeth laughing and smiling at her husband in a twisted version of light conversation. She even giggles girlishly, in an almost childish way, when saying, “O, never/ Shall sun that morrow see!” (1.5.56-7) in reference to their plan to kill Duncan the very night that he arrives. She seems to have a child-like excitement for the horrors in store. Polanski and Annis use the uncanniness of a beautiful young woman plotting such evil deeds to their full advantage, making their Lady Macbeth all the more frightening.
            Philip Casson's A Performance of Macbeth presents a strikingly different Lady Macbeth. Judi Dench appears in Act I, Scene V dressed entirely in black, simple, Puritan-style clothing with her hair completely covered. Her clothing is not cut to make her seem more feminine or attractive, and indeed makes her look rather manly. It perverts her sexuality, connecting to her desire expressed later in the scene for evil spirits to “unsex” (1.5.37) her. Dench's clothing harks to the Puritan society's tendency to repress all sexuality, making it shameful and inspiring guilt in those who actually desire it, distorting her Lady Macbeth's sexuality in yet another way.
            Macbeth's letter worries Dench, and she moves rather nervously when at all, keeping still for most of her soliloquy, as though stillness will keep her safe. She initially has far less ease with the news she receives than Annis, but the tension in her delivery slowly transforms into a sort of anticipatory ecstasy, highlighting the contrast of Lady Macbeth's words with Dench's appearance. From there, her reunion with Macbeth, played by Ian McKellen, is even more sexual. The two kiss passionately, and while Dench speaks to him of his letter, McKellen kisses her neck and they hold each other tightly, shivering and panting as if having sex. As Dench continues to talk of Duncan's murder, she becomes more excited, their conversation seeming more like sex than talking with every line, until she peaks at “Which shall to all our nights and days to come/ Give solely scholarly sway and masterdom” (1.5.70-1), whereupon they kiss once more, then separate. The union of implied sex and the violence of the impending murder creates a sinister tension that underlies all of Performance and is the spirit in which the entire adaptation is performed.
            We first see Kate Fleetwood as Lady Macbeth in the 2010 Macbeth of the PBS “Great Performances” series through the grille of an elevator. Set in an unspecified but Stalinist setting in the 1940s, Macbeth's castle at Inverness in “Great Performances” is dark and angular, full of echoes and shadows. Until she delivers the line “And shalt be/ What thou art promised” (1.5.11-2), we cannot see Fleetwood's face properly, although it is clear from first appearance that she is pale, wears white and has black hair. Before delivering the line which shows her fully for the first time, she dramatically pushes back the elevator grille, which crashes into place with a strong echo, the only sound made while she pauses before her line. A review in The New Yorker described Fleetwood as being “all bony shoulders and barbarity” (Lair), and indeed, apart from being strikingly thin, also possesses a strongly angular bone structure that gives an impression of tightness. This is certainly reflected in her acting, which is strongly tense and constantly sexual, both in her delivery and physical movement. Her face is often not shown while speaking, the camera focusing on her chest instead, highlighting a feeling of lust, not only of the audience for her, but also of Lady Macbeth for the deeds she anticipates. With her pale skin, black hair and red lipstick, she is like Snow White gone terribly wrong, the whiteness of her dress reminiscent of purity, but her every word, movement and intonation tensed with violence. Fleetwood's Lady Macbeth has a simultaneous contempt and lust for the planned murder and Macbeth himself, every line delivered with a tensed malice.
            Where Dench and McKellen's reunion implies sex, Fleetwood and her Macbeth, Patrick Stewart, practically have actual sex on a counter in the kitchen where Lady Macbeth is cleaning a wall. One of the first things apparent in their interactions is the difference in age between the two of them, making her seem rather a trophy wife to the older, war-hardened Macbeth. Once again clad in white, she turns around slowly at the sound of Macbeth's entrance, her thin dressing gown open just enough to show she is wearing no shirt, but without exposing her breasts. Again, there is an emphasis on her chest and sexual appeal, Stewart picking her up and placing her, legs apart, on a kitchen counter. The two kiss while they speak, just as the two other couples do, but Stewart goes so far as to remove his belt. Like Dench, Fleetwood's Lady Macbeth seems to be sexually aroused by the anticipation of violence, while Annis flirts with it in the girlishness of her youth.
            As many a powerful woman does, Lady Macbeth seeks to always be in control, no moment demonstrating this better than her famous “unsex me” speech. Polanski rather uniquely places this scene after Macbeth and Lady Macbeth's reunion, with Annis watching from the battlements of their castle as Duncan arrives for the night. The original text has her making the speech between reading Macbeth's letter and their reunion. The entire speech is done as a voice over, making it Annis's thoughts rather than a soliloquy, while her blonde hair blows angelically around her face. The choice of a voice over is interesting because the speech is essentially the vocalization of all of Lady Macbeth's true desires, and so to make it part of her thoughts rather than her speech makes the character more of an actress, more careful than either Dench or Fleetwood with the revelation of her intentions. Of the three portrayals, Annis’s is definitely the sanest seeming, and the hardest to imagine losing her mind, even though we know she will. Her voice and delivery are soft and pretty, like her appearance, always calm as she calls “spirits/ That tend on mortal thoughts” to “unsex” (1.5.36-7) her and make her strong as she thinks a man should be. This is the fundamental element of Lady Macbeth's perversion of her own sexuality: she wishes to actually lose her sexuality. She yearns for “direst cruelty” (1.5.39) and for the “murdering ministers” (1.5.44), the evil spirits she calls upon, to “take [her] milk for gall” (1.5.44). Thus she would lose her sensitivity, associated with femininity, and the milk in her breasts, which makes her a mother, a good and righteous thing a woman can, and, by the standards of Shakespeare's time, should be. Making her milk into gall is especially violent, since gall is a poison, which, if fed to a baby through its mother's breasts rather than milk, would certainly kill it. Annis says all of this with a completely calm and clear face, again presenting the contrast between her appearance and intention.
            A Performance of Macbeth is filmed entirely on a black stage without a set, with little lighting, allowing the actors to move in and out of the shadows at their will. While Macbeth is figuratively a “dark” play, Performance is literally dark, bringing the metaphor into reality. Dench uses this to her advantage during the “unsex me” speech. After receiving news of Duncan's approach to her castle, she flicks her head almost uncannily to the camera to speak directly to the audience. The soliloquy becomes very personal, as though the audience is included in the planning of Duncan's murder, or else is taken right into Lady Macbeth's head for a few moments. After “under my battlements” (1.5.36), she moves to crouch on the floor, and reaches out for the “spirits/ That tend on mortal thoughts” (1.5.36-7) as if to touch and be “unsexed” by them directly. Being filled “from the crown to the toe top-full/ Of direst cruelty” (1.5.38-9) scares Dench, however, causing her to give a little scream and disappear momentarily into the shadows behind her. She fears what lies ahead, tense and shaking, her Lady Macbeth wishing for the control which Annis so easily demonstrates. Returning to the light, she reaches forward once more, whispering now, her nervousness turned to terror, and asks the spirits to “make thick [her] blood” (1.5.39) so that she may be less of a frightened woman and more like the ruthless man she wishes her husband was. For although Macbeth is certainly a violent soldier, Lady Macbeth gives the impression that, were she a man, she would be even more cruel and violent than him.
            If the audience is unsure of Lady Macbeth's sanity before Fleetwood's rendition of the “unsex me” speech, it can have no doubt after it. Her delivery and body language make it clear that something about her is already unhinged. Some of the lines are yelled, and everything she says is given a stress that makes it almost painful to watch. The audience feels as if it is intruding on a private and terrible madness, even before her true madness occurs. When Fleetwood calls the spirits to take away her womanhood and mother's milk, it is as if she sees them before her, staring always past the camera, as though the spirits are just beyond the audience's shoulder. After the lines “unsex me here” (1.5.37) and “fill me from the crown to the toe top-full/ Of direst cruelty” (1.5.38-9), she jerks and shudders, as if the spirits have entered her body and are changing her from the inside out just as she wants them to. It gives the impression of a séance, Fleetwood seeming simultaneously aroused and angered by what she asks for and anticipates. The hardness of her every word is complemented by her bony cheeks and pale skin, which form a strange kind of terrifying beauty which befits Lady Macbeth, a woman who both uses her femininity and sexuality to achieve her own ends, yet wishes it gone. She is all contradiction: that of interior and exterior, sexuality and lack thereof, and the way she treats other characters versus what she reveals to the audience. The most aggressively sexual of all three Lady Macbeths, Fleetwood ironically seems to have sex with every word she utters during the “unsex me” speech, though it is a violent sex that she does not seem to enjoy. At the end and climax, as it were, of the speech: “To cry 'Hold, hold!'” (1.5.50), she literally cries out each “hold,” one louder than the other, thrusting an arm forward to hold an imaginary dagger. A complete reversal of Annis's unexpected cruelty pitched against her sweet-seeming youth and with none of the fear of Dench's performance, Fleetwood’s performance is uniquely terrifying.
            Lady Macbeth's final scene, Act V, Scene I, is perhaps her most compelling. A woman constantly seeking power and control finally loses both completely, leaving her utterly vulnerable. In Polanski's Macbeth, this is made particularly clear by the costuming, or rather, lack thereof. Annis's Lady Macbeth, who always gives such attention to her clothing, appears completely naked in the darkness of her room, face pale and hair disheveled. She trembles and shakes constantly, fear physically wracking her body. She cries to herself as she quickly and frantically washes her hands, every movement agitated. The doctor who has been called by her gentlewoman waves a hand in front of her face before she speaks, and receives absolutely no reaction. Yet while she struggles within her own head, part of Lady Macbeth still tries to find control of the situation she imagines she is living. While reliving the night of Duncan's murder, Annis cries to herself like a confused and tired child on the lines “All the perfumes of/ Arabia will not sweeten this little hand. O,o,o!” (5.1.40-1), while twitching as though possessed. By showing her naked, Polanski takes away her “armor,” as it were; the physical appearance she presents to the outside world is stripped away, leaving only her confused and terrified mind. Her hair and the camera angles never reveal anything explicit, but she is clearly at her most vulnerable and exposed, with no hope of protection. At the end of the scene, as she cries “Come, come, come, come” (5.1.53-4), she is bundled into her bed by her gentlewoman and the doctor, still whispering “To bed, to bed, to bed” (5.1.55) as she is laid down and tucked in. Completely gone is the childish confidence she displays earlier in the film. The Lady Macbeth we see in Act V, Scene I has been violated by her own actions and left, figuratively and literally, for dead.
            Dench's Lady Macbeth is consistently rather frantic throughout A Performance of Macbeth, but in Act V, Scene I, it is on a completely different level. She enters slowly, holding a candle, one hand up to her mouth, making scared little moaning noises, and sits at a table, where she begins to shakily rub her hands. Her little moans continue until she brings up her hands in front of her face, whereupon she speaks her first line “Yet here's a spot” (5.1.25) in a trembling whisper. Dench remains only on the verge of tears until the line “Hell is murky” (5.1.29), when she begins actually to cry, then stops to say “Fie, my lord, fie” (5.1.29), creating a feeling of transitioning back and forth between the moments she is reliving in her head. Because Dench's Lady Macbeth spends so much time shaking and whimpering, her moments of stillness are all the more impressive and eerie: when she stops to chastise Macbeth for being afraid, for example. How still and controlled she is in that moment makes her madness more evident. She breaks down on the line “Yet who would have thought the old man to have had so much blood in him?” (5.1.31-2), crying in earnest. She pushes herself to say the word blood, clearly terrified of it and her related memories. From there on, she grows louder and more hysterical with every sentence, crying and screaming until “O,o,o!” (5.1.41) becomes a long, torturous screech lasting an entire twenty-six seconds. On the line “There's knocking at the gate” (5.1.53), she once again makes direct eye contact with the camera so that the audience feels as though it is being spoken to, which is more terrifying than any long scream. We become drawn into her head for a few seconds, until she drifts away on “To bed, to bed, to bed” (5.1.55). Dench's occasional fear and almost constant nervousness from the beginning of A Performance of Macbeth has turned into a terror confused and tensed to breaking point. She appears neither feminine nor masculine, her sexuality completely overtaken by fear and the distortion of her mind. Lady Macbeth in fact loses her sexuality in this scene, though not at all in the way she wishes to earlier in the play.
            Fleetwood’s descent into madness is easy to anticipate, since she seems so unhinged and overdramatic already. However, in no way does this expectation detract from the impact her madness in Act V, Scene I has on the audience. She comes out of the elevator, just as she does in Act I, Scene V, again in white, though it is little more than a nightgown, without makeup and holding a large lantern. She tiptoes, stumbling slightly across the floor, then stops to rub her hands, though Fleetwood scratches more than rubs. In strong contrast to her previous delivery, the first line of the scene, “Yet here's a spot” (5.1.25) is almost inaudible and said with little inflection. Her next lines are increasingly panicky, until “One – two” (5.1.28), when she stops and looks up as if she has seen a ghost, which may, in fact, be the case. “Hell is murky” (5.1.29) has some of her original anger, and the tight angles of Fleetwood's face are once again tensed, but the violence in her voice is now the violence of fear. She turns with each following line, as though speaking to various people, tensed and sweating. Fleetwood uses some ticks in her performance that actors often use when playing the mentally unstable, such as an occasional twitch, twist of her mouth and lick of her lips. One of the most horrible moments of the “Great Performances” version of the scene is when Lady Macbeth, determined to clean the imagined blood, retrieves a bottle of what appears to be bleach from under a sink, and after struggling with it in a frenzy, pours it over her own hands, to the horror of the doctor and gentlewoman that attend her. Fleetwood's “O,o,o!” (5.1.41) is part of the violent spasms of her crying, the last one becoming a strangled scream of confusion, fear and pain. In a plea for companionship and comfort, she reaches out her hand to the doctor on “Give me your hand” (5.1.54), then draws it back suddenly, turning to the sink in front of her, and opens the tap only to cry out in horror when blood flows from it instead of water. This is the only moment in any of the three films that the audience sees Lady Macbeth's madness through her own eyes, and it is the most striking moment of the scene. Soon after this she totters away into the elevator, shivering and whispering repeatedly to herself: “To bed, to bed, to bed” (5.1.55). Lady Macbeth has lost the thread of her former self here, including her weaponized sexuality. Fleetwood's jagged edges have become blurred and distorted, just as her sexuality has lost its fervor. It becomes a malformed and twisted thing, just like the lines she delivers, and the state of her mind itself. She gives the impression of a victim of sexual violence whose life and mind are completely shattered as a result of what they have experienced, although in the case of Lady Macbeth, the fault for this violation is entirely her own.
            The tragedy of The Tragedy of Macbeth lies not only in the central plot, but within the countless other smaller tragedies that take place within it, Lady Macbeth's being no small part of those. The destruction of the mind and life of a person is a tragedy no matter the circumstances, though especially when a result of their own means. In every portrayal, the elements of that tragedy change, making Lady Macbeth beautiful, terrible, cruel and frightening in a different way. Her corrupted and convoluted sexuality, however, remain a vital part of every performance. Just as with the basic nature of every one of Shakespeare's characters, whether set in Medieval Scotland or Stalinist Russia, there is an element of changelessness to her, something that must be present in every performance of Macbeth to make Lady Macbeth the attractive and ruthless woman she is. Annis, Dench and Fleetwood all give exceptional and bone-chilling performances in very different ways, according to direction, filming, makeup, clothing and a host of other things, but what unites them all as Lady Macbeths is their dangerous and perverted sexuality. Without that, they would not be the great performances they are, and Macbeth would not translate and travel so well across so many time periods. At the core of all great adaptations of Shakespeare is, after all, a deep respect for the original text, without which there would not be any great adaptations.

WORKS CITED:
BAMBER, Martin. "Macbeth." Senses of Cinema. Senses of Cinema, 17 Mar. 2008. Web. 1 May 2013.
CASSON, Philip, dir. A Performance of Macbeth. Perf. Judi Dench. Royal Shakespeare Company/Independent Television, 1979. Film.
EBERT, Roger. "Macbeth (1971) Movie Review." RogerEbert.com. Chicago Sunday Times, n.d. Web. 28 Apr. 2013.
GOOLD, Rupert, dir. Macbeth. Perf. Kate Fleetwood. Public Broadcasting Service, 2010. Film.
LAIR, John. "The Haunted: 'Macbeth.'" The New Yorker. New Yorker, 3 Mar. 2008. Web. 29 Apr. 2013.
McDONALD, Chris. "Modern Classic Film Review: The Tragedy of Macbeth." The Ooh Tray. Northern Comfort, 12 Oct. 2010. Web. 30 Apr. 2013.
POLANSKI, Roman, dir. Macbeth. Perf. Francesca Annis. Caliban Films, 1971. Film.
SHAKESPEARE, William. Macbeth: Texts and Contexts. Ed. William C. Carroll. Boston: Bedford/St. Martin's, 1999. Print.
WILKINSON, Amber. "Macbeth (1979) Film Review." Eye for Film. Eye for Film, 15 June 2004. Web. 28 Apr. 2013.
* (Minha filha, estudante de literatura na Boston University. Texto ganhador do Prêmio Alice M Brennan para ensaios acadêmicos)

Bolívia descobre grande jazida de petróleo

O presidente Evo Morales anunciou ontem a descoberta de jazidas de até 28 milhões de barris no campo de petróleo de Boquerón 4, na província de Santa Cruz, no Oeste da Bolívia, capazes de triplicar o total de reservas do país, noticiou a agência estatal russa Sputnik.

A descoberta foi feita da companhia de petróleo YPFB Andina, uma parceria de 51% da empresa estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YFPB) com 49% da espanhola Repsol.

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Chile x Bolívia é um jogo marcado por uma rivalidade histórica

Quando Chile e Bolívia se enfrentarem hoje à noite no sinistro Estádio Nacional de Santiago pela Copa América, também entra em campo uma rivalidade histórica que vem da Guerra do Pacífico (1879-83), em que os bolivianos perderam a saída para o mar. No momento, a Bolívia recorre ao Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas para obrigar o Chile a negociar.

Ao proclamar a fundação da República de Bolívar, nome meses depois mudado para Bolívia, em 1825, o libertador Simón Bolívar exigiu que o país tivesse uma saída para o mar, conhecida como a província do Litoral. Na época, Chile e Peru protestaram, alegando que eles dividiam a fronteira.

Em 1837, quando Bolívia e Peru formaram a Confederação Peruano-Boliviana, o Chile, sentindo-se ameaçado, foi à guerra, conseguindo acabar com a confederação. Isso levou a décadas de instabilidade política e econômica nos derrotados, de novo divididos em dois países.

Dois tratados foram assinados, em 1866 e 1874, para tentar definir a fronteira no Deserto do Atacama, onde havia jazidas de cobre, guano e salitre, esses dois últimos grandes fontes de nitratos usados como fertilizantes na agricultura.
Antes da guerra


Pelo acordo, uma empresa chilena, a Companía de Salitres y Ferrocarriles de Antofagasta (CSFA), com 30% de capital britânico e participação acionária de políticos e militares chilenos, teria o direito de explorar essas reservas sem a cobrança de impostos durante 25 anos.

Em pesquisa nos arquivos do Ministério do Exterior do Reino Unido, o historiador marxista britânico Victor Kiernan não encontrou nenhum documento comprovando a interferência direta do governo de Londres na Guerra do Pacífico, mas houve a influência de capitais privados e de fabricantes de armas de vários países interessados em avaliar o impacto de novas armas, como metralhadoras e navios blindados.

DEZ CENTAVOS
Depois de um maremoto que arrasou Antofagasta em 1877, o governo boliviano decidiu em 1878 cobrar um imposto de dez centavos sobre cada quintal de 100 quilos de salitre extraído na região. O Chile protestou e pediu uma mediação internacional para resolver o conflito.

A Bolívia não só rejeitou a mediação como cassou a licença da companhia, encampou seus bens e marcou um leilão para vendê-los em 14 de fevereiro de 1879. Naquele dia, 200 soldados do Chile tomaram Antofagasta sob aplausos da população local, de maioria chilena, atraída para CSFA.

Em 1º de março de 1879, a Bolívia declarou guerra ao Chile e cobrou o apoio do Peru. Desde 1873, os dois países tinham um acordo secreto de defesa mútua. O Congresso peruano marcou uma sessão para decidir a posição do país, a princípio neutro, em 24 de abril. Antes disso, em 5 de abril de 1879, o Chile declarou guerra a ambos.

LUTA PELA HEGEMONIA
A Guerra do Pacífico também é conhecida como a Guerra do Salitre e a Guerra dos Dez Centavos, mas é claro que havia muito mais do que dez centavos por quintal de salitre em jogo, observou o historiador britânico Ronald Bruce St. John: "Por um lado, havia a força, o prestígio e a estabilidade do Chile, comparados com a deterioração econômica e a instabilidade política que caracterizaram a Bolívia e o Peru depois da independência.

"Por outro lado", acrescenta o historiador, "estava em curso uma luta pela hegemonia política e econômica da região, complicada ainda mais pela profunda antipatia entre o Chile e o Peru. Nesse ambiente, a incerteza sobre as fronteiras entre os três países se somou ao descobrimento de valiosos depósitos de nitrato e guano nos territórios disputados para produzir um conflito de dimensões insuperáveis."

MISSÃO BALMACEDA
A fim de garantir a neutralidade da Argentina, que tinha litígios territoriais com o Chile no Sul do continente, ambos reivindicavam a Patagônia, o governo chileno enviou a Buenos Aires o embaixador José Manuel Balmaceda. Ele foi mais tarde ministro das Relações Exteriores (1881-82), ministro do Interior (1882-85) e presidente do Chile (1886-91).

Na época, o Exército da Argentina estava empenhado em consolidar o domínio sobre as terras do Sul do país, habitadas por indígenas rebeldes. A Campanha do Deserto, liderada pelo general Julio Argentino Roca, também futuro presidente, exterminou os índios como se ninguém vivesse lá. O Chile temia que fosse uma preparação para atacá-lo.

A Bolívia e o Peru pediram ajuda à Argentina. Diante da Missão Balmaceda, o presidente Nicolás Avellaneda decidiu manter a neutralidade, contrariando a linha dura. O jovem Roque Sáenz Peña, que seria presidente da Argentina (1910-14) e virou nome de praça na Tijuca, no Rio de Janeiro, lutou como voluntário do Exército do Peru.

Um dos principais receios da Argentina era que o Chile pedisse ajuda ao Império do Brasil, ampliando o conflito para dimensões continentais. Como não têm fronteiras comuns, o Brasil e o Chile mantinham boas relações, a ponto de mais tarde o Barão do Rio Branco, o mais importante ministro das Relações Exteriores brasileiro, dizer que o Chile era o único país amigo do Brasil na América do Sul.

GUERRA NO MAR
Nos primeiros seis meses da Guerra do Pacífico, houve uma disputa pela supremacia naval, importante para a guerra no Deserto do Atacama, a região mais seca do mundo. Como a Bolívia não tinha forças navais, a guerra no mar foi travada pelas marinhas do Chile e do Peru.

Com duas fragatas blindadas, Cochrane e Blanco Escalada, o Chile tinha superioridade naval. A Marinha peruana ficou logo reduzida a um navio de combate, o Huáscar. Sob o comando do almirante Miguel Grau, que passou à história como o Cavaleiro dos Mares, um dos grandes heróis do Peru, durante cinco meses as Corridas do Huáscar desafiaram a armada chilena até o navio ser tomado, em 8 de outubro de 1879.

A Bolívia abandonou a guerra depois da derrota aliada na Batalha de Tacna, em 26 de maio de 1880. O Exército boliviano tem fama de ser o mais incompetente da América do Sul. Foi responsável por 194 golpes e tentativas de golpe, um triste recorde mundial. Massacrou seu próprio povo, mas perdeu todas as guerras, a saída para o mar para o Chile; o Acre para o Brasil; e parte da região do Chaco para o Paraguai.

O Exército do Peru sofreu nova derrota na Batalha de Arica, em 7 de junho de 1880. Naquele ano, os Estados Unidos tentaram mediar a paz em troca de concessões da Bolívia e do Peru para explorar a área. Mas o Chile se negou a devolver os territórios ocupados, a província boliviana do Litoral ou de Antofagasta e a província peruana de Tarapacá.

Fim da guerra
INVASÃO DE LIMA
Sem acordo, o Exército chileno entrou em Lima em 17 de janeiro de 1881, mas não conseguiu tomar o resto do Peru. Nos últimos dois anos, o Peru resistiu com uma guerra de guerrilhas na região da Cordilheira dos Andres liderada por Andrés Cáceres, que virou um herói nacional, foi ditador (1884-85) e presidente constitucional do país (1886-90 e 1894-95).

Em 23 de julho de 1881, como preço de sua neutralidade, a Argentina fez um acordo que lhe dava a Patagônia oriental, a leste dos Andes, e cedia ao Chile o controle total sobre o Estreito de Magalhães.

Se o estreito fosse bloqueado pela Argentina, as forças chilenas só poderiam receber suprimentos da Europa através do Panamá, onde na época as cargas passavam em lombo de burro, já que o canal interoceânico só foi aberto em 1914, ou dando a volta no Cabo dos Chifres, considerado o local mais perigoso da navegação mundial.

A Guerra do Pacífico terminou em 20 de outubro de 1883 com a assinatura em Lima do Tratado de Ancón entre Chile e Peru. O total de mortos foi estimado em 13 a 18 mil bolivianos e peruanos, e 2,4 mil a 2,8 mil chilenos.

NOVAS FRONTEIRAS
O acordo de paz deu ao Chile "perpétua e incondicionalmente" a soberania sobre o departamento de Tarapacá e o direito de ocupação durante dez anos das províncias peruanas de Arica e Tacna. Ao fim desse período, haveria um plebiscito para decidir o futuro desses territórios.

Mapa atual
O Tratado de Paz e Amizade de 1904 redefiniu as fronteiras do Chile e da Bolívia, que perdeu toda a província do Litoral, com 400 quilômetros de costa e 120 mil quilômetros quadrados de território, ficando sem saída para o mar, principal motivo para o ressentimento que amarga até hoje.


Em 1929, o Tratado de Lima redesenhou as fronteiras entre o Chile e o Peru. Em troca da devolução de Tacna, Arica foi cedida ao Chile.


Até hoje, a Bolívia luta para recuperar sua saída para o mar e mantém uma Marinha estacionada no Lago Titicaca, distante do litoral, a 3.812 metros acima do nível do mar.

PROPOSTA CHILENA
Durante o último ciclo de ditaduras militares, quando os generais Augusto Pinochet e Hugo Banzer eram aliados na luta contra a esquerda na América do Sul, em 1975, Pinochet ofereceu à Bolívia um corredor ao norte da cidade de Arica para lhe dar acesso ao mar.

Como era território peruano antes da Guerra do Pacífico, o Peru teria de concordar. O ditador peruano, Francisco Morales Bermúdez, rejeitou a proposta.

Depois da descoberta de grandes jazidas de gás natural na província boliviana de Tarija no fim do século passado, o presidente Jorge Quiroga anunciou em 2002 a construção de um gasoduto para exportar gás para os EUA através de um porto chileno. A venda de mais uma riqueza nacional a estrangeiros com que a Bolívia tem diferenças históricas causou uma revolta popular.

GUERRA DO GÁS
Na chamada Guerra do Gás, em setembro e outubro de 2003, os bolivianos se rebelaram contra o presidente Gonzalo Sánchez de Losada, que tem dupla nacionalidade, é americano e fala espanhol com sotaque forte. Pelo menos 64 pessoas morreram e 228 foram feridas em confrontos com as forças de segurança.

Sob a pressão das ruas, Sánchez de Losada renunciou em 17 de outubro de 2003, dando início a um período de instabilidade política. Isso só acabou com a eleição de Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), o primeiro índio a governar o país de maioria indígena desde a independência.

Morales ganhou a eleição de 18 de dezembro de 2005, com 54% dos votos. Foi o primeiro presidente eleito com maioria absoluta da história da Bolívia.

ESTATIZAÇÃO
Em 1º de maio de 2006, Dia do Trabalho, Morales estatizou as jazidas de petróleo e gás, e mandou o Exército ocupar as instalações da Petrobrás, ignorando os apelos do governo brasileiro por uma solução negociada.

Com o apoio do caudilho venezuelano Hugo Chávez, que prometia tomar banho de mar numa praia boliviana, o governo Morales tentou reabrir a negociação no âmbito da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). O Chile rejeitou, alegando não haver mais nada a negociar. A Bolívia tem o direito de usar portos chilenos, mas não tem soberania sobre nenhum território com saída para o mar.

TRIBUNAL DA ONU
Sem sucesso, a Bolívia apelou em 24 de abril de 2013 à Corte Internacional de Justiça da ONU, com sede em Haia, na Holanda. O governo boliviano se baseia no "direito de expectativa". Alega que, ao fazer sua proposta, o ditador Augusto Pinochet criou uma expectativa de que o Chile negociaria uma saída para o mar, acabando com a mediterraneidade boliviana.

Os dois países apresentaram seus argumentos no tribunal de 4 a 8 de maio de 2015. O Chile afirma que não há nada a negociar porque as fronteiras foram estabelecidas pelo tratado de 1904. Pede ao tribunal da ONU que não aceite o caso.

O governo chileno alega ainda que o Pacto de Bogotá ou Tratado Americano de Soluções Pacíficas, de 1948, estabeleceu o princípio de que os países da região não recorreriam ao tribunal da ONU para resolver questões anteriores à criação do tribunal, em 1945.

A Corte de Haia ainda não marcou a data para apresentar sua decisão.