quinta-feira, 14 de maio de 2015

FARC pedem inclusão do ELN nas negociações de paz

O maior grupo guerrilheiro colombiano, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), pediram ao governo a inclusão do Exército de Libertação Nacional (ELN) nas negociações de paz em andamento em Havana há dois anos e meio, informa a televisão pública britânica BBC. Para os críticos do processo de paz, é mais uma jogada para ganhar tempo.

Na segunda-feira, o presidente Juan Manuel Santos revelou ter facilitado o contato entre os dois maiores grupos guerrilheiros do continente. O governo negocia secretamente com o ELN há mais de um ano, sob pressão do ex-presidente Álvaro Uribe, que acusa o sucessor de "rendição".

"Acreditamos que não apenas para nós como movimento revolucionário é necessário e urgente que o ELN seja trazido para as negociações de paz. Também é necessário para o governo e o povo colombianos. É uma medida prática e correta a tomar", declarou em carta o comandante em chefe das FARC, Rodrigo Londoño Echeverri, que usa os nomes de guerra Timoleón Jiménez ou Timochenko.

Para o líder do ELN, Nicolás Rodríguez Bautista, de nome de guerra Gabino, "temos acordo em cerca de 80% da agenda, faltam uns 20% que ainda não foram colocados na mesa".

Uma questão central que emperra o processo de paz é se os guerrilheiros receberão uma anistia ampla ou terão de responder pelos crimes cometidos. "É um absurdo pensar que teremos de cumprir sentenças de prisão por buscar uma solução política para o conflito", argumentou Gabino em entrevista à agência de notícias Reuters.

Tanto as FARC como o ELN foram criados oficialmente em 1964, depois de um período da história da Colômbia conhecido como La Violencia, deflagrado pelo assassinato do candidato liberal à Presidência Jorge Eliécer Gaitán, em 9 de abril de 1948. Entre 200 a 300 mil pessoas foram mortas e a esquerda foi para a clandestinidade. As FARC eram o braço armado do proscrito Partido Comunista Colombiano, de orientação soviética, enquanto o ELN foi inspirado pela revolução cubana.

Depois do ataque das FARC que matou 11 soldados colombianos na província de Cauca, em 15 de abril de 2015, o ex-comandante da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), de El Salvador, Joaquín Villalobos publicou artigo no jornal espanhol El País deplorando a ação da guerrilha colombiana como um "autogolpe".

"O ataque a Cauca foi militarmente covarde e politicamente torpe. Foi na realidade um autogolpe. O rechaço da opinião pública colombiana às FARC é enorme, a ponto de tornar extremamente difícil para o governo negociar em Havana. Com esse tipo de ataques, a insurgência põe em risco o único caminho para sair da guerra e entrar na política", adverte Villalobos.

Outro erro grave, na sua opinião, foi o momento escolhido para o ataque: "Como ocorreu às FARC realizar esse ataque poucas horas depois de Obama anunciar a intenção de tirar Cuba da lista de países que apoiam o terrorismo? Como não pensaram nas implicações políticas, quando 40 de seus dirigentes vivem abertamente em Havana?"

O ex-comandante da FMLN insiste em que a guerrilha só perdeu com o ataque: "Matar 11 militares a esta altura do processo de paz, rompendo com a própria palavra empenhada [num cessar-fogo unilateral declarado em dezembro de 2014], não modifica a correlação de forças em seu favor, pelo contrário, os debilita, diminui sua credibilidade, aumenta a impopularidade, trai o apoio de Cuba à paz, os isola mais internacionalmente, complica os esforços do governo colombiano para inibir ações no Tribunal Penal Internacional (TPI) e dificulta o cenário político, que é agora infinitamente mais importante do que os tiros. O futuro é da política e na política contam credibilidade, apoio popular, alianças e capacidade de comunicação."

Não há alternativa, alerta o ex-comandante salvadorenho: "Por acaso, as FARC e o ELN acreditam que se continuarem a guerra haverá uma revolução na Colômbia? Creem que poderão formar um exército que derrotará as Forças Armadas? Milhões de latino-americanos votaram em governos e forças de esquerda em todos os países, enquanto os Estados Unidos e Cuba estão encerrando o conflito." A Guerra Fria na América Latina acabou.

"Neste contexto", conclui Villalobos, hoje estrategista político, "a persistência das guerrilhas colombianas em continuar a luta armada as converte em forças reacionárias que ajudam a encarnar o medo da esquerda e no principal obstáculo para que ela avance na Colômbia. Nenhuma barbaridade sofrida ou ocorrida no passado justifica ser politicamente tão torpe e continuar armado e matando. Barbaridades iguais ou piores aconteceram em países onde hoje governam as esquerdas. O processo de paz a esta altura é um caminho sem retorno, pretender voltar ao conflito é um suicídio, o sensato é acelerá-lo. Tanto as FARC como o ELN deveriam se dar conta de que agora matar ou morrer já não lhes serve para nada."

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