segunda-feira, 13 de abril de 2015

Guerra Fria nos trópicos quase provocou um conflito nuclear

O mundo nunca esteve tão perto de uma guerra nuclear quanto de 14 a 27 de outubro de 1962. Na Crise dos Mísseis da União Soviética, os Estados Unidos fizeram um bloqueio naval a Cuba e ameaçaram interceptar qualquer navio soviético capaz de levar armas nucleares à ilha. Foi o momento mais tenso de uma relação tumultuada.

Cuba foi descoberta por Cristóvão Colombo, que desembarcou em Bariay, hoje parte da província de Holguín, em 28 de outubro de 1492, 16 dias depois da descoberta da América. A ilha virou uma colônia espanhola e foi palco de várias rebeliões de escravos.

Durante a Guerra dos Sete Anos (1756-63), em 1762, o Império Britânico tomou a ilha, mas seus soldados foram dizimados por doenças tropicais. No acordo de paz, Cuba foi trocada pela Flórida, que passou a ser possessão britânica.

A Primeira Guerra da Independência de Cuba durou dez anos, de 1868 a 1878. No ano seguinte, começou uma segunda revolta, derrotada em 1880. A independência viria na Guerra Hispano-Americana (1898), quando os EUA tomaram Cuba e as Filipinas, no início do imperialismo americano.

Os EUA invadiram Cuba e instalaram a base naval em Guantânamo, um enclave americano onde o presidente George W. Bush (2001-9) montou um centro de detenção ilegal em 2002 para negar aos presos na guerra contra o terrorismo os direitos garantidos na Convenção de Genebra sobre prisioneiros de guerra. Obama prometeu acabar com a prisão, mas não conseguiu por falta de apoio no Congresso.

Ao impor condições para a retirada, no início do século 20, os EUA garantiram o controle sobre a ilha. Durante o período que os cubanos chamam de República, o país deixou de ser a Colônia do domínio espanhol para ter uma relação neocolonial com os EUA, o que levou ao terceiro e atual período, da Revolução.

Em 1952, ex-presidente Fulgencio Batista deu um golpe militar e se tornou ditador com o apoio dos EUA. No ano seguinte, em 26 de julho, cerca de 160 revolucionários liderados por Fidel Castro atacaram o quartel de Moncada, em Santiago de Cuba. Foram derrotados e presos.

No tribunal, Fidel lançou seu desafio: "A história me absolverá." Fidel e o irmão Raúl foram anistiados por Batista em 1955. No fim de 1956, os revolucionários voltam a Cuba no navio Granma. Eles conquistam seus primeiras vitórias em janeiro de 1957. Em 1º de janeiro de 1959, a revolução vitoriosa toma Havana.

Aí está a origem da ruptura com os EUA. Com a estatização de empresas e propriedades de americanos, em 5 de julho de 1960, aumento dos impostos de importação e dos negócios com a União Soviética, o presidente Dwight Eisenhower começa a treinar exilados cubanos para atacar a ilha e, em 19 de outubro de 1960, proíbe a exportação de produtos americanos para a ilha, com a exceção de remédios e alimentos. Era o início do boicote econômico.

Em 3 de janeiro de 1961, os dois países romperam as relações diplomáticas.

A frustrada tentativa de invasão da Baía dos Porcos, em 15 de abril de 1961, no governo John Kennedy (1961-63), coloca os dois países em pé de guerra. Em 31 de janeiro de 1962, o governo cubano foi excluído da Organização dos Estados Americanos (OEA) e só agora, no Panamá, foi reintegrado à comunidade pan-americana. Uma semana depois, Kennedy decretou um embargo econômico total à ilha.

Sob permanente ameaça de invasão, Cuba pediu à URSS a instalação de mísseis nucleares em seu território. Em 14 de outubro de 1962, um avião-espião dos EUA fotografou os silos em construção para abrigar os mísseis nucleares. Começava a maior crise da era nuclear.

Nunca o mundo esteve tão perto de uma guerra nuclear como naquelas duas semanas de 14 a 27 de outubro. Kennedy decretou um bloqueio aeronaval de Cuba ameaçando abordar todo navio soviético para impedir a entrada de armas nucleares na ilha.

A invasão era iminente quando um jornalista-espião cubano soube da notícia, avisou o Kremlin e o primeiro-ministro Nikita Kruschev concordou em retirar os mísseis da ilha em troca de um acordo tácito para os EUA não atacarem Cuba e da retirada de mísseis americanos obsoletos da Turquia para dar uma desculpa a Kruschev.

Desde então, o embargo econômico é o maior contencioso entre os dois países, usado pelo regime comunista para justificar o fracasso de suas políticas econômicas.

Em 1980, durante uma crise econômica, Fidel Castro anunciou que quem quisesse poderia sair do país. Cerca de 125 mil cubanos fugiram através do Porto Mariel.

Com o fim da União Soviética, em 1991, e a resistência de Fidel em promover uma abertura democrática, o Congresso dos EUA aprovou a Lei da Democracia em Cuba, proposta do deputado democrata Robert Torricelli, também conhecida como Lei Torricelli.

O embargo passou a ser lei aprovada pelo Congresso. Só pode ser levantado quando houver eleições democráticas em Cuba, com a participação.

No primeiro governo Bill Clinton (1993-97), houve uma tentativa de abrir diálogo com o regime cubano. Acabou quando a Força Aérea de Cuba derrubou, em 24 de fevereiro de 1996, dois aviões civis dos Hermanos al Rescate (Irmãos ao Resgate). A organização de exilados cubanos criada para salvar balseiros que se arriscavam na travessia do Estreito da Flórida para vencer os 144 quilômetros que separam os dois países invadira o espaço aérea cubano para jogar panfletos..

A resposta americana veio com a Lei de Solaridade Democrática e da Liberdade em Cuba, mais conhecida como Lei Helms-Burton, de março de 1996, que agravou ainda mais o embargo, adotando cláusulas de extraterritorialidade contrárias ao direito internacional.

Desde então, as empresas estrangeiras que fizerem negócios com Cuba passam a ser penalizadas. Isso as obriga a escolher entre o gigantesco mercado dos EUA e a pequena ilha. Já foram proibidos de entrar nos EUA por fazer negócios com propriedades expropriadas de americanos, empresários e executivos do Canadá, Israel, Itália, México e Reino Unido

Pela mesma lei, os EUA devem se opor à participação de Cuba nas instituições financeiras internacionais. Uma televisão do governo americano passa a transmitir diretamente para a ilha.

Ficou proibido o reconhecimento de um governo de transição de que Fidel ou Raúl Castro participem e de qualquer governo que não reconheça dívidas em relação a governos a cidadãos americanos que superassem o equivalente a US$ 50 mil em 1959.

Foi a última tentativa de usar o boicote econômico para derrotar Fidel. A vitória de Hugo Chávez na Venezuela em 1998 deu uma boia de salvação para o regime comunista cubano ao fornecer petróleo subsidiado, como fazia a URSS.

Nenhum comentário: