sexta-feira, 20 de março de 2015

Gen. Petraeus: Irã é ameaça maior do que Estado Islâmico

O Estado Islâmico já está "a caminho da derrota", pelo menos no Iraque, e a maior ameaça à instabilidade do Oriente Médio hoje é o Irã e as milícias xiitas, adverte o general da reserva David Petraeus, comandante militar dos Estados Unidos no Iraque durante o reforço de tropas ordenado pelo então presidente George W. Bush.

Ao participar do Fórum de Suleimânia, um encontro de acadêmicos, intelectuais e líderes políticos realizado na Universidade Americana do Iraque em Suleimânia, na região do Curdistão iraquiano, o general fez sua mais ampla análise das guerras no Iraque e na Síria, observa o jornal The Washington Post, que submeteu uma série de questões respondidas por escrito por Petraeus.

"O  Estado Islâmico está a caminho da derrota, pelo menos no Iraque, graças aos esforços iraquianos, regionais e internacionais", argumentou. "A maior ameaça agora é que milícias xiitas tomem o território em poder do Estado Islâmico com o apoio do Irã. A maior ameaça à estabilidade do Iraque a longo prazo e ao equilíbrio regional como um todo não é o Estado Islâmico, são as milícias xiitas, muitas apoiadas - e algumas guiadas - pelo Irã."

Numa posição claramente contrária às negociações nucleares entre o Irã e as grandes potências do Conselho de Segurança das Nações lideradas pelo governo Barack Obama, o general Petraeus alegou que "o atual regime iraniano não é nosso aliado no Oriente Médio. É no fim das contas parte do problema e não da solução. Quanto mais os iranianos forem dominantes na região, mais inflamado será o radicalismo sunita que alimenta a ascensão de grupos como o Estado Islâmico."

Suas posições estão muito mais próximas do Partido Republicano dos EUA e do primeiro-ministro reeleito de Israel, Benjamin Netanyahu.

Quando era comandante militar dos EUA no Iraque, o general enfrentou milícias xiitas supervisionadas pelo general iraniano Kassem Suleimani, comandante da força Al Quods (o nome árabe de Jerusalém), o braço da Guarda Revolucionária Iraniana para ações no exterior. O mesmo general comanda as milícias xiitas hoje no Iraque. Isso incomoda o general David Petraeus.

A solução política para a expansão do Estado Islâmico no Iraque, alerta Petraeus, está em dar poder à comunidade sunita para que ela tenha interesse no sucesso do governo de Bagdá e não o contrário. Os dois subcomandantes militares do EI no Iraque e na Síria eram oficiais do Exército do falecido ditador Saddam Hussein, dissolvido depois da invasão americana de 2003.

Não basta que o Exército do Iraque e milícias xiitas derrotem o EI no Iraque, entende o general. É preciso que milícias tribais sunitas participem da guerra para serem vistas como "libertadoras e não conquistadoras": "A derrota do Daech [acrônimo árabe para o EI] exige não apenas atacá-lo no campo de batalha. Exige simultaneamente a reconciliação com os sunitas."

Pela mesma razão, as atrocidades cometidas por milícias xiitas favorecem o Estado Islâmico, que se apresenta como defensor do sunismo.

Na visão de Petraeus, lembrando o trágico acidente nuclear de 1986 na Ucrânia, a Síria é "um Chernobil geopolítico. Até ser tampado, vai continuar expelindo uma radioatividade desestabilizadora e o extremismo ideológico por toda a região".

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