quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Brasil deve aproveitar reatamento EUA-Cuba para crise na Venezuela

Com a morte de um adolescente que não participava de protestos ontem pela Guarda Nacional Bolivarista, a Venezuela dá mais um passo rumo à guerra civil sem que o presidente Nicolás Maduro e a cúpula do regime chavista façam qualquer sinal de ceder às demandas políticas e econômicas da oposição. Mas há uma oportunidade: os Estados Unidos entraram hoje nas negociações entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), realizadas em Cuba.

Se o ex-secretário de Estado adjunto para a América Latina no governo George H. W. Bush (1989-93), Bernard Aronson, pode contribuir para a paz entre a Colômbia e as FARC negociada em Havana, por que não colaborar com o diálogo entre o regime chavista e a oposição venezuelana?

O grupo de amigos da Venezuela formado dentro da União das Nações da América do Sul (Unasul) por Brasil, Colômbia e Equador para mediar a crise deve convidar Cuba, pela sua proximidade com o regime chavista, e os EUA, sempre apontado como fonte de todos os males por Maduro, para participarem de uma mediação efetiva em Caracas.

Desde que chegou ao poder, Maduro já denunciou 16 tentativas de golpe de Estado contra ele. A mais recente levou à prisão do prefeito da região metropolitana de Caracas, Antonio Ledezma, acusado de conspiração por assinar um documento defendendo a organização de um governo de transição de união nacional.

Em troca do fim da repressão, da libertação dos presos políticos e de uma ampla reforma econômica que adote políticas compatíveis com uma economia capitalista, a oposição daria um fôlego para Maduro até a próxima eleição presidencial ou ao menos até o prazo legal para convocar um referendo revogatório do mandato presidencial, introduzido pelo presidente Hugo Chávez (1999-2013).

É uma chance. Para avisar aos chavistas que a revolução acabou, é preciso antes que Brasília se convença disso. Uma análise feita pelo então ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, no primeiro governo Dilma Rousseff, citada hoje na coluna de Eliane Cantanhece nO Estado de S. Paulo, mostra que o Itamaraty já se deu conta disso: recessão, inflação galopante, grave desabastecimento e crise até mesmo nos programas sociais, as missões de Chávez.

Falta convencer a presidente e seu assessor especial para política internacional, Marco Aurélio Garcia. A alternativa é aceitar o risco de uma guerra civil junto à fronteira norte num país-sócio do Mercosul.

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