domingo, 25 de janeiro de 2015

Jornalista que revelou morte do promotor foge da Argentina

Primeiro a noticiar a morte do procurador Alberto Nisman, que denunciou a presidente Cristina Kirchner por acobertar o pior atentado terrorista da história argentina, sentindo-se ameaçado, o jornalista judeu Damian Pachter fugiu da Argentina para Israel, de onde revela os detalhes em coluna no jornal liberal israelense Haaretz.

Pachter soube da morte de Nisman quando estava escrevendo uma reportagem sobre a denúncia do promotor contra a presidente, o ministro do Exterior, Héctor Timerman, que é judeu, ativistas sociais favoráveis ao Irã e o deputado Andrés Larroque, líder do movimento La Cámpora, da juventude kirchnerista.

Todos são acusados de conspirar com a ditadura teocrática do Irã para retirar os mandados de prisão contra membros do regime fundamentalista iraniano acusados pelo atentado terrorista contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em que 85 pessoas morreram e outras 300 saíram feridas, em 18 de julho de 1994, em Buenos Aires.

Por confiar na fonte, o jornalista publicou a notícia imediatamente no Twitter, à 1h08 de 19 de janeiro de 2014: "Encontraram o promotor Nisman no banheiro de sua casa em Porto Madero sobre um charco de sangue. Não respirava. Os médicos estão lá."

O furo de reportagem logo foi retuitado. Pachter tinha 420 seguidores. Hoje, tem mais de 10 mil. Os elogios e as ameaças começaram.

Ao mesmo tempo, o governo argentino montava sua versão da morte do promotor. Primeiro, Cristina sugeriu a possibilidade de suicídio, que começou a cair quando não foram encontrados vestígios de pólvora na mão direita de Nisman.

Na sexta-feira, quando trabalhava na redação jornal Buenos Aires Herald, um colega da rádio e televisão estatal britânica BBC lhe chamou a atenção. A agência oficial de notícias argentina publicara nova reportagem sobre a morte de Nisman citando um Twitter de Damian Pachter. O detalhe é que ele nunca escreveu o texto que lhe foi atribuído.

Depois de ficar furioso e pensar em reagir e responder, ele se acalmou, examinou a questão racionalmente e tomou aquilo por uma ameaça. Falou com outro amigo e marcou um encontro no terminal central de ônibus de Buenos Aires, no Retiro. O amigo advertiu: "Você tem de sair da cidade".

O jornalista tomou  um ônibus e viajou horas para encontrar o amigo em lugar ignorado. O amigo prometeu chegar em 20 minutos. Levou duas horas. Nesse meio tempo, Pachter esperou sentado numa lanchonete de posto de gasolina, onde apareceu uma figura de calça jeans, óculos escuros e jaqueta de couro, uniforme informal dos temidos agentes secretos da polícia argentina.

Quando o amigo chegou, tirou uma foto de Damian Pachter com o homem sinistro ao fundo. Ele foi embora minutos depois. O jornalista guarda a foto como prova.

A pior coisa foi voltar até a estação do Retiro, um lugar muito perigoso à noite, na sensação do repórter, ambiente ideal para um assassinato e disfarçado de latrocínio. De volta a Buenos Aires, Pachter foi logo para o aeroporto, depois de pedir a amigos que comprassem passagens aéreas para Montevidéu e de lá para Madri e Telavive.

Mesmo depois de deixar o país, o governo Cristina Kirchner publicou informações falsas a seu respeito. O Twitter da Casa Rosada divulgou detalhes da passagem aérea comprada pelo jornalista para afirmar que ele não fugiu e pretende voltar à Argentina em 2 de fevereiro. A reserva está marcada para dezembro.

"Não tenha a menor ideia de quando vou voltar à Argentina; não sei se quero", desabafou Pachter. "O que sei é que o país onde nasci não é aquele lugar feliz sobre o qual meus avós judeus costumavam me contar histórias."

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