segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Arábia Saudita mantém princesas reais em prisão domiciliar

Quando o sultão Abdala morreu, na semana passada, foi descrito como um "homem de sabedoria e visão" e "um reformista moderado", que tentou modernizar sua monarquia absolutista da Arábia Saudita.

A diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, chamou-o de "um grande defensor das mulheres. Mas um blogue do jornal The Washington Post revela que o reino mantém quatro princesas reais filhas de Abdala em prisão domiciliar.

Em respeito aos direitos da mulher, a Arábia Saudita é um dos países mais atrasados do mundo. As mulheres não podem dirigir nem sair de casa desacompanhadas. O rei morto prometeu a elas o direito de voto. Desde 2011, elas podem votar e ser votadas, mas só em eleições municipais.

Abdala tinha pelo menos sete mulheres, talvez 30. Tinha pelo menos 15 filhas. Quatro vivem em prisão domiciliar por terem ideias muito avançadas para a ultraconservadora sociedade saudita, fruto de um acordo da dinastia Saud com o clero muçulmano wahabita que trava qualquer avanço.

O triste destino das princesas Jawaher, Sahar, Hada e Maha foi revelado no início do ano passado, quando surgiram detalhes de seu confinamento no palácio real de Jedá. Sua mãe, Alanoud al-Fayez, conseguiu se divorciar do sultão. Há 15 anos, vive nos Estados Unidos.

As princesas reais são prisioneiras do palácio há 13 anos, denuncia a mãe citando o caso como exemplo da intolerância e do espírito vingativo do rei morto contra a educação moderna que ela deu às filhas do casal. Alanoud lançou uma campanha na Interner #FreeThe4 (Libertem as Quatro).

No ano passado, algumas emissoras de rádio conseguiram falar com Sahar, de 42 anos, e Jawaher, de 38 anos, que vivem separadas de Maha, de 41 anos, e Hala, de 39 anos. Em maio passado, elas reclamaram de falta d'água e comida.

Em entrevista a uma televisão árabe, elas disseram estar sendo punidas por defender os direitos das mulheres. Sua mãe acusou a família real saudita de "guerra psicológica" contra as princesas rebeldes. As autoridades do país alegam que é uma "questão privada". Elas não foram acusadas oficialmente de nenhum crime.

"Nós, assim como nossa mãe, sempre falamos claramente durante todas as nossas vidas sobre pobreza, direitos da mulher e outras causas que são importantes para nossos corações. Discutíamos frequentemente esses assuntos com nosso pai. Não caiu bem para seus filhos Mitab e Abdelaziz. Desde então, viramos alvos", desabafou a princesa Sahar em mensagem eletrônica a um sítio de notícias sobre o Oriente Médio.

"Temos sido maltratadas durante todas as nossas vidas, mas ficou pior nos últimos 15 anos. Quando Hala começou a trabalhar como estagiária num hospital de Riade, ela descobriu prisioneiros políticos jogados em alas psiquiátricas, drogas e humilhados. Ela reclamou a seus superiores e foi repreendida. Começou a receber ameaças", acrescentou a princesa Sahar.

"A situação se deteriou. Descobrimos que ela também estava sendo drogada. Ela foi sequestrada em casa, abandonada no meio do deserto e depois jogada na prisão feminina de Olaicha, em Riade", contou a princesa aprisionada.

"Logo se tornou uma nova vítima do sistema de enquadrar presos políticos como pacientes psiquiátricos que tentara denunciar. Haha, Jawaher e eu também fomos drogadas em algum momento... Fomos avisadas a perder qualquer esperança de levar uma vida normal."

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