segunda-feira, 30 de junho de 2014

BNP Paribas paga multa recorde de US$ 8,8 bi aos EUA

Depois de admitir a culpa por violar sanções contra o Sudão, o banco francês BNP Paribas chegou a um acordo hoje com a Justiça dos Estados Unidos e vai pagar multa de US$ 8,834 bilhões, recorde para um banco estrangeiro no país.

Além da multa, o banco francês fica proibido de liquidar transações em dólar por um ano e terá de demitir funcionários responsáveis pela atividade ilegal, exigências feitas pelas autoridades reguladoras do estado de Nova York.

Netanyahu ameaça Hamas por morte de meninos

Ao sair de uma reunião de emergência do governo de Israel para discutir qual a reação ao assassinato de três garotos israelenses sequestrados por palestinos, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) "vai pagar" por isso.

À noite, a Força Aérea de Israel bombardeou pelo menos 40 alvos do Hamas na Faixa de Gaza. O grupo nega envolvimento no sequestro e morte dos meninos. Acusa Netanyahu de aproveitar a oportunidade para atacá-lo.

Os corpos dos meninos, sequestrados há três semanas quando viajavam de carona na Cisjordânia, foram encontrados perto da cidade de Hebron.

Futebol fez parte da luta pela libertação da Argélia

Com 2.381.741 km2, a República Democrática e Popular da Argélia é o maior país da África depois da divisão do Sudão, em julho de 2011, e o 10º maior do mundo. O futebol desempenhou um papel revolucionário na luta pela independência.

A Argélia fica na região do Magreb, no Norte da África, e é banhado pelo Mar Mediterrâneo, ao norte. Faz fronteira com a Tunísia a nordeste; a Líbia a leste; o Níger a sudeste; o Mali, a Mauritânia e o Saara Ocidental a sudoeste; e o Marrocos a Leste.

A maioria dos seus 38,7 milhões de habitantes (estimativa para 2014) vive perto da costa. O país se estende ao sul pelo inóspito Deserto do Saara, onde foram registradas as temperaturas mais quentes da Terra. Cerca de 80% da Argélia ficam no Saara.

ECONOMIA
Com produto interno bruto nominal estimado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) em 2014 em US$ 219 bilhões, a Argélia é o 50º país mais rico do mundo. A renda média é de US$ 5,672 mil por habitante por ano.

O petróleo e o gás são a base da economia, responsáveis por 30% do PIB, 60% da arrecadação de impostos e 95% das exportações. A Argélia tem a 10º maior reserva de gás natural. É o sexto maior país exportador mundial de gás.

HISTÓRIA
Desde o século 12 antes de Cristo, o território atual da Argélia foi dominado por fenícios, romanos, vândalos germânicos, árabes, espanhóis, turcos e finalmente os franceses, em 1830. Com a exceção da França, nenhum invasor dominou as tribos bérberes do interior.

Sua história, língua, costumes e religião são heranças da expansão árabe a partir da criação do islamismo na Arábia, no século 7 depois de Cristo. Dos séculos 8 a 16, a atual Argélia foi governada pelos árabes. Depois, foi conquistada pelo Império Otomano.

Com o declínio otomano, o país teve um breve período de independência até 1830, quando a França iniciou uma guerra de conquista.

DOMÍNIO FRANCÊS
A ocupação francesa foi brutal. Durante 15 anos, os argelianos resistiram com uma “guerra santa islâmica”, sob a liderança de Abdel Kadir.

Os franceses tomaram as terras férteis próximas ao Mediterrâneo e as entregaram primeiro a colonos e depois a grandes empresas agrícolas da França. O êxodo rural inchou as grandes cidades, como Argel e Orã, com populações miseráveis.

Em 1881, a Argélia foi transformada numa província da França. O ensino do francês passou a ser obrigatório em todas as escolas.

O nacionalismo nasce na Primeira Guerra Mundial e adota várias formas de luta, da resistência pacífica a greves e a luta armada.

Quando a França saiu enfraquecida, a rebelião estourou. Na festa da vitória sobre o nazismo, em maio de 1945, os colonos franceses foram atacados. A Argélia entrava na onda de descolonização do pós-guerra. Numa repressão violenta, o Império Francês matou 17 mil argelianos.

GUERRA DA INDEPENDÊNCIA
 Em 1º de novembro de 1954, a Frente de Libertação iniciou a guerra pela independência. Foi o primeiro movimento de libertação nacional africano a usar técnicas de guerrilha, atacando num primeiro momento mais de 70 alvos militares e econômicos do do governo colonial francês.

Começava uma das guerras de libertação mais sangrentas do continente, que matou 300 a 500 mil argelianos, e 27 mil militares e 5 a 6 mil civis franceses. A Batalha de Argel, um filme magnífico de Gillo Pontecorvo de 1966, conta parte dessa história. Denuncia a brutalidade e o terrorismo de Estado da contrainsurgência francesa.

Até na França, houve revolta. Em 1957, os pieds noirs, os colonos franceses, tentaram derrubar o governo francês. Eles exigiram a volta ao poder do general Charles de Gaulle.

O líder da resistência ao nazismo na Segunda Guerra Mundial foi a Argel, deu plena cidadania aos muçulmanos da Argélia, prometeu saúde, educação e empregos no serviço público. Mas percebeu que a vitória da FLN era inevitável.

Em discurso diante da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 1959, De Gaulle reconheceu que os argelianos tinham direito à autodeterminação. Os colonos lançaram nova rebelião, em janeiro de 1960, frustrada em nove dias.

Nos acordos de Evian, em março de 1962, De Gaulle deu independência à Argélia. Depois da aprovação em referendo, o país nasceu em 5 de julho de 1962.

TRAGÉDIAS
A história da Argélia moderna é trágica. Depois de uma Guerra da Independência brutal contra a França, o país adotou um regime socialista linha-dura de partido único, Quando os preços do petróleo caíram, no fim dos anos 1980s, o país ficou altamente endividado.

Uma breve tentativa de liberalização do regime terminou com um golpe militar em janeiro de 1992, quando a Frente Islâmica de Salvação se encaminhava para obter maioria absoluta no Parlamento. A frustração explodiu numa violenta guerra civil em que 100 mil pessoas foram mortas.

FUTEBOL
O futebol foi um instrumento do nacionalismo argeliano muito antes da Guerra da Independência da Argélia (1954-62). Em 1921, foi fundado o Moloudia Club. Com seu nome árabe, as camisetas verdes em homenagem ao Islã e sua sede na Casbá (Cidadela) de Argel, foi uma expressão da revolta latente contra o colonialismo europeu.

Já nos anos 1920s, as autoridades franceses decidiram vigiar de perto os clubes, que se tornaram focos de dissidência. A partir de 1928, todo clube argeliano tinha por lei a obrigação de ter ao menos três jogadores europeus. Em 1935, esse número foi elevado para cinco.

Os clubes franceses aproveitam os jogadores argelianos talentosos. O primeiro presidente da Argélia Ahmed ben Bella, jogou pelo Olympique de Marselha em 1939, quando prestava serviço militar na cidade. O goleiro Abder Ibrir jogou seis vezes pela seleção da França em 1949 e 1950.

Quando estourou a Guerra da Independência, as eliminatórias para a Copa de 1958 deram uma oportunidade para os argelianos reafirmarem o sentimento nacionalista. Nove jogadores argelianos abandonaram seus clubes franceses para dar uma mensagem clara: a Argélia não era parte da França. Eles fugiram para a Tunísia e formaram a base da primeira seleção da Argélia.

Dois jogadores, Rachid Mekhloufi e Mustapha Zitouni, estavam convocados para a seleção da França que seria derrotada pelo Brasil por 5-2 na semifinal da Copa da Suécia.

Depois da independência, em 1962, os clubes do colonizador foram extintos. A Argélia entrou para a FIFA e organizou seu próprio campeonato nacional. A seleção nacional chegou à primeira Copa do Mundo em 1982.

SEGUNDA GERAÇÃO
As relações futebolísticas com a França se inverteram nos anos 1980s e 1990s, quando uma nova geração de filhos de imigrantes argelianos começou a se destacar no futebol francês.

O mais famoso foi Zinedine Zidane, nascido em 1972 em Marselha, líder do time que venceu o Brasil por 3-0 na final da Copa de 1998 e autor dos dois primeiros gols da partida. Uma seleção multiétnica deu o primeiro e único título mundial à França. Foi uma resposta eloquente ao crescente neofascismo da Frente Nacional, partido de extrema direita que venceu em 2014 as eleições para oParlamento Europeu.

Quando Zidane perdeu o controle e deu uma cabeçada no italiano Marco Materazzi, na final da Copa de 2006, mais uma vez vozes anti-imigrantes responsabilizaram o machismo árabe por sua atitude. O italiano o provocara falando mal da irmã de Zidane.


Em 2013, o craque da atual seleção da França na Copa, Karim Benzema, declarou que jamais cantou a Marselhesa, o hino nacional francês, para indignação da ultradireita. Logo, ficou-se sabendo que Zidane também nunca cantou a Marselhesa.

Outros, como Sofiane Feghouli, nascido em Levallois-Perret; Yacine Brahimi, de Paris; Faouzi Ghoulam, de Saint-Priest-en-Jarez; e Saphir Taïder, de Castro, na França; optaram por defender a Argélia.

COPAS DO MUNDO
A Argélia se classificou para as Copas do Mundo de 1982, 1986, 2010 e 2014. Chega pela primeira vez à segunda fase.

Na estreia, em 1982, foi zebra. Venceu a poderosa Alemanha Ocidental, então campeã da Europa, por 2-1, com gols de Madjer, talvez o melhor jogador argeliano de todos os tempos, que foi campeão mundial de clubes pelo Porto, de Portugal, e Belloumi.

Depois, a Argélia perdeu por 2-0 para a Áustria e ganhou do Chile por 3-2, com dois gols de Assad e um de Bansoula. Para tirar a Argélia da segunda etapa do torneio, a Alemanha Ocidental e a Áustria fizeram um dos acordos mais vexaminosos da história das Copas.

Como 1-0 para a Alemanha classificava os dois países, a Alemanha atacou até fazer 1-0 aos 11 min. A partir daí, os times se arrastaram em campo. Saíram vaiados. A Argélia foi eliminada.

Em 1986, enfrentou o Brasil na fase de grupos. Perdeu por 1-0, gol de Careca. Desde 1982, não vencia uma partida em Copas do Mundo.


Nesta Copa, a Argélia perdeu por 2-1 para a Bélgica, ganhou da Coreia do Sul por 4-2 e empatou em 1-1 com a Rússia, classificando-se para enfrentar a Alemanha nas oitavas de final.

Adolescentes israelenses sequestrados estão mortos

Os três adolescentes israelenses sequestrados na Cisjordânia foram encontrados mortos, informa o jornal francês Le Monde.

Israel acusa militantes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) pelo sequestro. Vários palestinos foram mortos nas operações do Exército para libertá-los.

Em reunião de emergência, o governo israelense discute neste momento como reagir à morte dos meninos.

Suprema Corte dos EUA autoriza firmas a não pagar contraceptivos

Por 5-4, a maioria conservadora da Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu hoje que empresas privadas podem optar por não pagar anticoncepcionais a seus empregados por motivos religiosos. Ao relatar o caso, o ministro Samuel Alito sustentou que uma companhia privada não pode ser forçada a pagar se seus proprietários tiverem objeções de consciência por causa de suas crenças religiosas

A ação judicial iniciada pela empresa Hobby Lobby Stores foi o primeiro desafio apresentado ao supremo tribunal americano à Lei do Tratamento de Saúde a Preço Acessível, base da reforma do governo Barack Obama para universalizar a cobertura de saúde nos EUA, desde 2012.

Naquele ano, a Suprema Corte decidiu que o governo federal pode criar um imposto para financiar a saúde pública, no caso, a obrigatoriedade de que os americanos tenham um seguro-saúde. Esse seguro é privado porque não haveria votos suficientes no Congresso dos EUA para uma estatização ainda que mínima do tratamento de saúde.

domingo, 29 de junho de 2014

EIIL anuncia fundação da califado na Síria e no Iraque

A milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante anunciou a formação de um califado que se estende da cidade síria de Alepo até a província iraquiana de Diala, abarcando a região de maioria sunita no país, informou hoje a televisão árabe Al Jazira, especializada em notícias.

Um porta-voz declarou que o líder do grupo, Abu Baker al-Baghdadi, será o califa e líder dos muçulmanos no mundo inteiro. O califado, que não será reconhecido, já é chamado de Jihadistão, de jihad, guerra santa em árabe. Seria um base de treinamento de terroristas alinhados ideologicamente com a rede Al Caeda no coração do Oriente Médio.

Boko Haram mata dez em aldeia do Nordeste da Nigéria

A milícia terrorista Boko Haram é a principal suspeita de um ataque contra a aldeia de Kautikiri, no Nordeste da Nigéria, perto da cidade de Chibok, onde mais de 270 meninas de uma escola do ensino médio foram raptadas há dois meses e meio. Desta vez, pelo menos dez pessoas foram mortas.

Cerca de 20 milicianos invadiram a cidade em motocicletas e uma picape, atiraram contra os moradores e incendiaram casas. O grupo Boko Haram luta para impor a lei islâmica à Nigéria, hoje o país mais rico da África. Desde 2009, essa insurgência causou cerca de 15 mil mortes.

Itália: do Império Romano a país moderno mas em crise

A Itália é uma península de 301 mil quilômetros quadrados em forma de uma bota que entra pelo Mar Mediterrâneo. Na parte de cima, fica a Cordilheira dos Alpes, a mais alta da Europa,

Ao sul dos Alpes, há uma região de lagos e montanhas que se estende pelo vale do Rio Pó e pela região do Piemonte.

Dos Alpes centrais, descendo ao longo da peninsula, há os Montes Apeninos, que se alargam perto de Roma. Ao sul da capital, os Apeninos encolhem e são ladeados por duas planícies costeiras, uma voltada para o Mar Adriático e outra para o Mar Tirreno.

Parte dos Apeninos abriga floresta e uma grande variedade de espécies silvestres como lobos, javalis e ursos. O sul da cadeia de montanhas é geologicamente instável. Está sujeito a terremotos e vulcões como o Vesúvio.

No Mar Mediterrâneo, ficam as ilhas da Sicília ao sul e da Sardenha a oeste, que também fazem parte da Itália.

NOME
Inicialmente o nome Itália designava apenas o Sul. Durante o reinado de Otávio César Augusto (30 AC-14 DC), o primeiro imperador romano, o nome Itália passou a ser usado para designar toda a península, até os Alpes.

Na Idade Antiga ou Antiguidade, foi berço do Império Romano, que difundiu a cultura e a língua latinas pelo mundo. Desde o início da era cristã, é a sede da Igreja Católica Apostólica Romana, que desde 1929 tem seu próprio país, o Vaticano, um enclave de 45 quilômetros quadrados na capital italiana.

Depois da Idade Média, as poderosas cidades-estado italianas foram berço do Renascimento artístico e cultural, do resgate dos valores da antiguidade clássica grego-romana.

A Itália é reunificada em 1861, depois da luta do republicano Giuseppe Garibaldi, que participou da Revolução Farroupilha, no Brasil.

Derrotada na Segunda Guerra Mundial, a Itália renasceu, foi fundadora da Comunidade Econômica Europeia, criada pelo Tratado de Roma em 1957, e se tornou uma das maiores economias do mundo, conhecida entre outras coisas pela excelência de seu design.

No momento, depois de uma década de estagnação desde a adoção do euro como moeda, a Itália foi um dos países atingidos pela crise das dívidas públicas da Zona do Euro e só em 2014 saiu da recessão.

POPULAÇÃO
Com pouco mais de 60 milhões de habitantes, sendo 67% em cidades e 33% no campo, a Itália tem a 23ª maior população do mundo e a quinta maior da Europa. Cerca de 98% são italianos e 80% católicos.

PRÉ-HISTÓRIA
As pesquisas arqueológicas registram a presença do Homem de Neandertal na península italiana no período paleolítico, há 200 mil anos. O homem moderno chegou 40 mil anos atrás.

Os primitivos habitantes de origem indo-europeia incluem úmbrios, latinos, os celtas e ligúrios. Entre os não indo-europeus, etruscos, elimianos e sicanos.

HISTÓRIA
Do século 17 ao século 11 antes de Cristo, os gregos da cidade de Micenas entraram em contato. Nos séculos 8 e 7 AC, os gregos instalaram colônias na Sardenha e na Sicília.

A primeira civilização a florescer na Itália foi a etrusca. Quando Roma foi fundada, em 753 AC, a Etrúria tinha várias cidades bem estabelecidas na região entre os rios Arno e Tibre a oeste e a sul dos Apeninos.

A lenda conta que Roma foi fundada por dois irmãos gêmeos, Rômulo e Remo, numa região dominada por sete colinas: Aventino, Palatino, Esquilino, Quirinal, Vimial, Capitólio e Célio. Eles seriam filhos abandonados de uma mulher com o deus Marte.

LOBA
Em sua irrreverente História de Roma, o jornalista Indro Montanelli afirmou que eles teriam sido criados por uma prostituta chamada Acca Larentia e conhecida como Loba. Daí teria surgido a história da loba romana.

Na lenda, cada um traçou as fronteiras da futura cidade de seu lado. Os irmãos se desentenderam e Rômulo matou Remo. Roma nasceu com sangue.

No período da Realeza, Roma teve sete reis: Rômulo, Numa Pompílio, Túlio Hostílio, Anco Márcio, Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo. A dinastia real dos Tarquínios, a última a governar Roma antes da proclamação da República, em 509 AC, era etrusca.

REVOLTAS DA PLEBE
No início do período republicano, Roma foi abalada pelas Revoltas da Plebe (494-287 AC). Os plebeus eram trabalhadores livres. Não estavam atrelados ao Estado nem aos grandes proprietários de terras, os nobres ou patrícios.

Em 494 AC, os plebeus aproveitaram uma ameaça de invasão estrangeira para sair da cidade e se refugiar no Monte Sagrado. O Senado cedeu e criou os “tribunos da plebe”, com poder para vetar qualquer lei que afetasse os plebeus.

Como na época o Direito Romano tinha uma tradição de leis orais manipuladas de acordo com os interesses dos patrícios, uma nova revolta popular exigiu a introdução de leis escritas. Em 450 AC, surgem as Leis das Doze Tábuas.

Cinco anos depois, outra revolta exige o fim da proibição de casamentos entre patrícios e plebeus. Com a Lei da Caluneia, os plebeus ascenderam socialmente e ampliaram sua participação política.

A concorrência de latifúndios levava à falência inúmeros pequenos agricultores, que se endividavam e acabavam escravizados. Em 367 AC, a Lei Licínia Sextia proibia a escravidão por dívida, restabelecia o consulado e garantia o acesso dos plebeus a outras magistraturas e cargos públicos.

O cônsul era o mais alto funcionário eleito da República Romana. Pela nova lei, um dos dois cônsules eleitos a cada ano deveria ser plebeu.

Na última grande revolta da plebe, em 287 AC, os plebeus conseguiram que as leis aprovadas pelos tribunos da plebe fossem aplicadas em todos os domínios romanos.

No século 3 AC, os romanos suplantaram os etruscos e dominaram a maior parte do que hoje é a Itália, numa preparação para construir seu grande império.

VITÓRIA DE PIRRO
Uma guerra contra a cidade grega de Tarento levou os gregos a pedir ajuda a Pirro, rei de Épiro, um dos mais brilhantes generais da época. Piro desembarcou no sul da Península Italiana em 280 AC com 25 mil homens e 20 elefantes.

Pirro derrotou os romanos em Herácleia e Ásculo, mas perdeu 7,5 mil homens nessas duas batalhas e comentou: “Mais uma vitória dessas e estaremos arrasados”.

Dessa visão profética nasceu a expressão “vitória de Pirro”, a vitória que mais parece uma derrota. Em 275 AC, Pirro foi vencido em Malevento, que os romanos rebatizaram como Benevento.

A conquista da Itália fortaleceu o militarismo dos romanos e os obrigou a desenvolver instituições legais, militares e políticas para conquistar e integrar outros povos. As colônias tinham uma série de obrigações, inclusive lutar ao lado de Roma nas guerras imperiais.

GUERRAS PÚNICAS
Nas Guerras Púnicas, de 264 a 146 AC, Roma derrotou Cartago e seu grande general, Aníbal Barca, para se tornar a potência dominante no Mar Mediterrâneo. Aníbal atravessou os Alpes e usou elefantes para tentar surpreender os romanos na Segunda Guerra Púnica (218-201 AC).

De acordo com o censo de 225 AC, Roma tinha 700 mil soldados de infantaria e 70 mil de cavalaria.

REFORMA AGRÁRIA
Depois das Guerras Púnicas e de uma revolta de escravos na Sicília, os irmãos Tibério e Caio Graco tentaram promover uma reforma agrária em Roma para redistribuir as terras dos patrícios entre a plebe, a partir de 133 AC.

Os irmãos Graco eram netos de Públio Cornélio Cipião, o Africano, um dos herói da luta contra Cartago. Diante dos apelos de Tibério Graco à mobilização popular, os senadores bloquearam sua reeleição e organizaram uma força que marchou até o Fórum Romano e espancou Tibério e 300 seguidores até a morte. Foi o incidente político mais violento em Roma em 400 anos.

Dez anos depois, em 123 AC, Caio Graco retomou os esforços do irmão, mas perdeu apoio popular ao propor a extensão dos direitos a quem não fosse cidadão romano. O consul Lúcio Opímio decidiu então esmagar à força o movimento pela reforma agrária. Caio Graco e cerca de 3 mil seguidores morreram na luta, em 121 AC ou foram executados sumariamente.

GUERRAS E CONFLITOS SOCIAIS
Depois de uma série de guerras civis, da chamada Guerra Social (91-89 AC) contra outros povos italianos que exigiam a cidadania romana e perderam, e da revolta dos escravos liderados por Espártaco (73-71 AC), Cneo Pompeu conquistou a Síria, Públio Clódio anexou o Chipre, levando seu rei ao suicídio, e Caio Júlio César tomou a Gália (parte do que hoje é a França) numa série de guerras descritas pela Enciclopédia Britânica como genocidas (58-50 AC).

REVOLTA DOS ESCRAVOS
A revolta dos escravos está em Spartacus, um dos primeiros filmes de Stanley Kubrik, com Kirk Douglas no papel principal como o gladiador da Trácia que liderou a única ameaça direta a Roma antes das invasões bárbaras.

GUERRA DA GÁLIA
O próprio Júlio César escreveu um livro sobre a Guerra da Gália considerado hoje uma das grandes reportagens da História, incluída na coletânea The Faber Book of Reporting. Durante a campanha da Gália, César invadiu a Britânia, em 55 e 54 AC, mas não a conquistou, o que só aconteceria 97 anos depois, no reino do imperador Cláudio. Os romanos invadiram a ilha e fundaram Londres em 43 DC, e dominaram a cidade até 410.

A Guerra da Gália inspirou a história em quadrinhos Asterix, o Gaulês, que se insere, como alegoria, no contexto do conflito cultural da França contra o imperalismo econômico dos EUA.

PRIMEIRO TRIUNVIRATO
Em 59 AC, o poder é entregue ao primeiro triunvirato, formado por César, Pompeu e Marco Licínio Crasso, considerado um dos homens mais ricos do mundo na época. Com a morte de Crasso pelos partas na Batalha de Carras, em 53 AC, Pompeu e César se tornam inimigos.

No fim da Guerra da Gália, o Senado ordenou que César depusesse as armas e voltasse para Roma. O general, considerado um dos melhores da História, rejeitou a ordem.

Ao cruzar o Rubicão e invadir o território romano, César disse uma de suas frases mais famosas: “A sorte está lançada”. Começou uma guerra civil vencida por César depois de quatro anos, com batalhas na Itália, Albânia, Egito, África e Espanha.

MORTE DE CÉSAR
Em 45 AC, César se torna “ditador perpétuo”. Mas não dura muito. É esfaqueado e morto na entrada do Senado em 15 de março de 44 AC. O assassinato está contado numa peça de William Shakespeare transformada em filme em 1953 com brilhante atuação de Marlon Brando no papel de Marco Antônio, que fez um discurso em homenagem a César.

Depois da morte de César, Marco Antônio expulsou seus assassinos Caio Cássio Longino e Marco Bruto, que fugiram para a Grécia, e tomou o poder, ignorando que César tinha nomeado seu sobrinho Otávio como sucessor. Otávio volta a Roma e reivindica o cargo.

SEGUNDO TRIUNVIRATO
Para resolver o impasse, em 43 AC, é criado o segundo triunvirato, formado por Marco Antônio, Otávio César e Marco Lépido, que dura 10 anos. Com a disputa de poder entre os três, Lépido foge para o exílio e Otávio e Marco Antônio entram em guerra.

CLEÓPATRA
Em 2 de setembro de 31 AC, na Batalha de Ácio, Otávio derrota as forças conjuntas de Marco Antônio e Cléopatra, a rainha do Egito, e os persegue. Depois de nova derrota na Batalha de Alexandria, os dois se suicidam. Cleópatra foi a última rainha do Egito Antigo, que passou a ser uma província romana.

Essa história está no filme Cleópatra (1963), com Elizabeth Taylor como Cleópatra, Richard Burton como Marco Antônio e Rex Harrison como Júlio César.

Quando César chegou ao Egito, no inverno de 49-48 AC, Cleópatra marcou um encontro e prometeu lhe mandar um presente, conta o historiador romano Plutarco em As Vidas dos Doze Césares. Dentro de um tapete enrolado, estava a própria rainha do Egito.

IMPÉRIO
Em 16 de janeiro de 27 AC, Otávio recebe do Senado o título de Augusto e se torna o primeiro imperador romano, que governa até a morte, em 14 DC. Jesus Cristo nasceu em seu reinado.

CRISTIANISMO
Talvez por ter surgido numa pequena província de um vasto império, inicialmente o cristianismo não tinha um projeto de poder, em contraste com o islamismo, que apareceu numa Arábia em anarquia no século 7 DC.

A perseguição aos cristãos no Império Romano está contada em filmes como Barrabás, com Anthony Quinn e Ben-Hur, com Charlton Heston.

INCÊNDIO
Em 18 de julho de 64 DC, o imperador Nero mandou incendiar Roma, acusou os cristãos e iniciou a perseguição religiosa. Do alto de seu palácio no Monte Palatino, uma das sete colinas de Roma, ele ficou apreciando o incêndio e tangendo a lira, seu instrumento musical favorito.

APOGEU
O Império Romano atingiu sua expansão máxima sob o imperador Marco Trajano (98-117), que foi declarado pelo Senado como o melhor imperador. Suas possessões iam da Península Ibérica e da fronteira entre Inglaterra e Escócia, onde seu sucessor construiu a Muralha de Adriano, até a Índia.

DECADÊNCIA
A decadência começa com a ascensão do imperador Cômodo, em 180, afirmou o historiador britânico Edward Gibbon, autor do clássico Ascensão e Queda do Império Romano.

Em 235, o assassinato do imperador Alexandre Severo por seus próprios soldados inicia a chamada Crise do Terceiro Século (235-284), quando o Império Romano esteve sob ameaça de invasão, guerra civil, peste e depressão econômica.

Em 284, sobe ao trono do imperador Diocleciano, que fica no poder até 305 e nomeia um coimperador. Em 303, ele iniciou uma grande perseguição contra os cristãos. Não adiantou.

TOLERÂNCIA RELIGIOSA
Em 13 de junho de 313, pelo Édito de Milão, o imperador Constantino garantiu a tolerância religiosa e a liberdade de culto. Os direitos dos cristãos foram reconhecidos e suas propriedades devolvidas.

Em 376, os godos, fugindo dos hunos, cruzam o Rio Danúbio e invadem o Império Romano do Ocidente.

DIVISÃO
A divisão iniciada por Diocleciano foi confirmada oficialmente por Teodósio. Ao morrer, em 395, ele dividiu o Império Romano em Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano do Oriente, com sede em Contanstinopla, cidade reconstruída por Constantino.

Sob pressão das invasões bárbaras (era bárbaro quem não sabia ler e escrever) dos hunos, ostrogodos, vândalos, visigodos e de outros povos, o Império Romano do Ocidente chega ao fim.

QUEDA
Em 410, Alarico, rei dos visigodos, saqueia Roma. Em 455, os vândalos invadem a cidade. Em 4 de setembro de 476, Odoacro depôs o último imperador, Rômulo Augústulo, na cidade de Ravena. Era o fim. Em 480, o imperador Zeno, do Império Romano do Oriente, extingiu o Império Romano do Ocidente.

Por mais 10 séculos, durante a Idade Média, o Império Bizantino preservaria a herança cultural romana e Constantinopla seria a cidade mais linda da Europa.

Odoacro durou pouco. Em 493, Teodorico, rei dos Ostrogodos, tomou Roma e povoou a Itália com 100 a 200 mil homens de sua tribo germânica.

Em 568, outra tribo germânica, os lombardos, invade a Itália e domina a região por dois séculos, até 774, quando o franco Carlos Magno a conquista.

PAPADO
Com o fim do império, os papas tiveram de se defender por si mesmos. Isso aumentou o poder secular da Igreja. Um exemplo foi o papa Gregório I (590-604). Em 653, Martin I foi preso por discordar do imperador bizantino.

SACRO IMPÉRIO
Carlos Magno, neto de Carlos Martel, que parara a invasão árabe à Europa em Poitiers, na França, em 711, foi coroado em 800 pelo papa Leão III como imperador do Sacro Império Romano-Germânico, criado sob pressão da Igreja para reduzir o poder do Império Bizantino. Leão III veria Carlos Magno intervir muito mais nos negócios da Igreja.

CISMA
Em 1054, com o Cisma da Igreja, a Cristandade se divide entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Cristã Ortodoxa, com sede em Bizâncio.

Nos séculos 12 e 13, antes da consolidação dos estados nacionais, a Europa se organiza em cidades-estados poderosas. Na Península Italiana, Milão, Pisa, Gênova e Florença são polos importantes, assim como os Estados Pontifícios.

RENASCIMENTO
Nos séculos 13 a 17, as cidades italianas são o centro do Renascimento artístico e cultural, um dos marcos do início da Idade Moderna, que começa com a tomada de Constantinopla pelo Império Otomano (turco) e a queda do Império Romano do Oriente, em 29 de maio de 1453.

No século 13, em Florença, os escritores Dante Alighieri, autor de A Divina Comédia, considerada a obra-prima da literatura italiana, e Francesco Petrarca, e o pintor Giotto, são pioneiros do Renascimento. O termo foi usado pela primeira vez pelo historiador francês Jules Michelet no século 18 para dar o sentido de uma ruptura com o mundo medieval e o início de uma reflexão humanista sobre o lugar do homem no mundo.

Nas artes, destacaram-se Leonardo da Vinci, um gênio de múltiplos que também era cientista; Michelangelo Buonarroti, considerado o maior escultor de todos os tempos; e os pintores Sandro Boticelli, Donatello, Tintoretto e Ticiano, entre outros.

INVASÕES
Em 1494, o rei Carlos VIII, da França, conquista parte da Itália, deflagrando uma onda de invasões. Partes da península são dominadas por austríacos, espanhóis e franceses até a unificação da Itália no século 19.

Na Sicília, a ocupação estrangeira levou ao surgimento da máfia, uma organização criminosa baseada em laços familiares que domina a zona rural.

REFORMA
Em 1517, o monge alemão Martinho Lutero prega suas 95 teses na porta da Igreja de Todos os Santos em Wittenberg, então parte do Sacro Império Romano-Germânico, hoje na Alemanha, denunciando a corrupção no sejo da Igreja de Roma.

Lutero reagiu à visita de um enviado do papa Leão X para vender relíquias e indulgências. Numa época em que os papas tinham amantes e filhos, como Alexandre VI e Lucrécia Bórgia, a Reforma da Igreja cria as religiões protestantes, diminuindo o poder dos papas e tomando terras da Igreja Católica.

CIÊNCIA
Quando o polonês Nicolau Copérnico descobriu as leis da mecânica celeste e que a Terra não era o centro do universo, mas girava em torno do Sol, o italiano Galileu Galilei foi condenado em 1633 à prisão perpétua, comutada depois para prisão domiciliary por dizer que aTerra orbitava ao redor do Sol.

Em 1815, com a derrota final de Napoleão Bonaparte, o Congresso de Viena divide a Itália. Os Habsburgo austríacos ficam com a Lombardia e Veneza, a dinastia de Savoia com a Ligúria, os Bourbon com Nápoles, Parma e a Sicília, e o papado com os Estados Pontifícios.

INDEPENDÊNCIA
No início do século 19, começa o Risorgimento, um movimento nacionalista liberal para libertar e unificar a Itália.

A primeira fase da luta é marcada por revoltas a atos terroristas organizados por sociedades secretas como os Carbonários. Termina com a derrota dos republicanos em 1848.

Na segunda fase, com o apoio da França, os monarquistas de Piemonte sob o comando de Camilo di Cavour derrotaram os austríacos no Norte da Itália. No Sul, Giuseppe Garibaldi, que lutara no Brasil na Revolução Farroupilha (1835-45), conseguiu expulsar os Bourbon de Nápoles e da Sicília.

UNIFICAÇÃO
A Itália moderna nasceu em 1861 tendo Vitório Emanuel II como rei. O filme O Leopardo, de Luchino Visconti, com Burt Lancaster e Alain Delon, conta a história de luta pela reconstrução da Itália.

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
No início do século 20, o país se associou aos impérios alemão e austro-húngaro na Tríplice Aliança. Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915, a Itália muda de lado e passa a apoiar a França e a Grã-Bretanha.

Com o fim da Grande Guerra e a revolução comunista de 1917 na Rússia, houve uma onda de revoltas populares na Europa. Na Itália, a esquerda revolucionária ocupou fábricas no Norte do país, até hoje a região mais rica a industrializada do país.

FASCISMO
A crise econômica fortaleceu o fascismo, um movimento de massas nacionalista e autoritário. Em 27 de outubro de 1922, seu líder, Benito Mussolini, liderou a Marcha sobre Roma. Pressionado, o rei Vitório Emanuel III convocou Mussolini para formar o governo.

O Partido Nacional Fascista organizou empresários e trabalhadores em corporações controladas pelo Estado. As greves são proibidas. Várias indústrias foram estatizadas. A imprensa foi censurada.

Em 1924, o deputado socialista Giácomo Matteotti denunciou fraude eleitoral e foi morto pelos fascistas, caso contado no filme O Delito Matteotti (1973).

EIXO
No plano internacional, a Itália fascista se aliou à Alemanha nazista de Adolf Hitler para formar o Eixo e invadiu a Etiópia em 1935-36. Por iniciativa da França e do Reino Unido, a Liga das Nações aprovou sanções contra o governo de Mussolini.

O imperador deposto, Hailé Salassié, percorreu o mundo na luta para libertar o país, o que o tornou um líder africano cultuado, por exemplo, nas músicas de Bob Marley e no reggae.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Em junho de 1940, quando a França estava prestes a se render, Mussolini declarou guerra à França e ao Reino Unido. A Itália entrava na Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1º de setembro de 1939 com a invasão da Polônia pela Alemanha.

A Itália sempre foi aos olhos de Hitler um aliado menor. Com as derrotas na Grécia e na África, a Itália ficou em posição vulnerável na guerra. Vencida na segunda e decisiva Batalha de el-Alamein, em outubro de 1942, a Itália se rendeu no Norte da África em maio de 1943.

Em 1943, a península foi invadida pelas forças aliadas dos EUA, do Reino Unido e da França com o apoio da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que participou da reconquista da Itália.

BRASIL NA GUERRA
A participação brasileira na Segunda Guerra Mundial está nas Crônicas da Guerra na Itália, de Rubem Braga, que foi correspondente de guerra, e em As Duas Faces da Glória: a FEB vista pelos seus aliados e inimigos, do jornalista William Waack.

Mussolini foi deposto em 1943. O governo foi entregue ao marechal Badoglio, que fez a paz com os aliados e declara guerra à Alemanha. Hitler invadiu o Norte da Itália e criou a República de Saló, derrotada por forças aliadas com a ajuda de guerrilheiros italianos. Mussolini foi preso e executado.

REPÚBLICA
Em maio de 1946, um plebiscito transforma a Itália numa república parlamentarista. Com ajuda do Plano Marshall dos EUA para a reconstrução da Europa, a Itália cresceu nos anos 50 e 60, tornando-se uma das grandes economias do mundo.

INTEGRAÇÃO EUROPEIA
Em 1957, a Itália foi um dos seis países fundadores da Comunidade Econômica Europeia, hoje União Europeia, com 27 países (28 com a entrada da Croácia em 1º de julho.

CRISE POLÍTICA
Para evitar que o Partido Comunista Italiano, o maior do Ocidente, chegasse ao poder num país-membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos EUA, a Itália adotou um sistema eleitoral com voto proporcional. Isso criou parlamentos fragmentados e governos de coalizão de vários partidos liderados pela Democracia Cristã, o grande partido de centro-direita.

CORRUPÇÃO
Durante a Guerra Fria, cada governo italiano durou em média um ano. Essa crise permanente, aliada à presença constante dos democratas-cristãos no governo e ao poder das máfias, levou a uma série de escândalos de corrupção combatidos pela Operação Mãos Limpas (1992-94).

Ex-primeiros-ministros como Giulio Andreotti e Bettino Craxi foram condenados, entre muitos outros.

IMPLOSÃO
O sistema político do pós-guerra implodiu. O resultado foi a ascensão do empresário Silvio Berlusconi, homem mais rico da Itália, que a partir de 1994 foi o principal líder da direita.

À esquerda, a parte reformista do Partido Comunista formou o Partido Democrático da Esquerda, que depois se aliou ao movimento de centro-direita Margarida para formar o Partido Democrático, do atual primeiro-ministro Enrico Letta.

Berlusconi foi o principal político italiano da última década, alternando-se no poder com esquerdista como Massimo d’Alema e Romano Prodi. Caiu em novembro de 2011, no auge da crise da dívida pública, quando parecia que a Itália seguiria o caminho da Grécia, o que teria sérias consequências para a economia internacional, já que é muito maior.

Uma condenação definitiva por fraude em negociações de direitos esportivos de suas televisões encerrou a carreira política do Cavalière. Ele ainda responde a processos por abuso de poder, corrupção e prostituição de menores

GRANDE ALIANÇA
Nas últimas eleições, em fevereiro de 2013, a esquerda ganhou na Câmara e a direita no Senado. A grande novidade foi o Movimento 5 Estrelas, do humorista Beppe Grillo. Com 25% dos votos, passou a ser o maior partido italiano isoladamente e se negou a fazer alianças com partidos tradicionais.

Com Enrico Letta, pela primeira vez no pós-guerra, a Itália teve um governo formado por uma grande aliança entre a esquerda e a direita, única alternativa à realização de novas eleições que poderiam ser mais uma vez inconclusivas e dar ainda mais poder a palhaços da política.

Sem nova eleição, ao vencer uma disputa interna pela liderança do Partido Democrata, Matteo Renzi tornou-se primeiro-ministro da Itália em 22 de fevereiro de 2014.

A maior preocupação do governo é estimular a economia e tirar o país da crise, evitando as políticas de austeridade impostas pela Alemanha e os países do Norte ao Sul endividado da Zona do Euro. Renzi se aliou ao presidente da França, François Hollande, para pressionar a primeira-ministra Angela Merkel a adotar uma estratégia de crescimento.

ECONOMIA
Com produto interno bruto estimado em 2012 estimado pelo Fundo Monetário Internacional em US$ 2,072 trilhões, a Itália tem a nona maior economia do mundo. A renda média por habitante, de US$ 33.115 por ano, é a 26ª do mundo.

A industrialização, impulsionada depois da Segunda Guerra Mundial, quando a Itália deixou de ser um país agrícola, a tornou no 7º maior exportador mundial.

A Itália tem algumas empresas transnacionais conhecidas internacionalmente, especialmente do setor automobilístico. A maior parte do setor manufatureiro é formada por pequenas e médias empresas.

Quase 60% do comércio são com a União Europeia.

O turismo é uma atividade em expansão. Com sua história riquíssima, a Itália tem 60% dos prédios tombados como patrimônio histórico, artístico e cultural da humanidade. Em 2010, recebeu 43,6 milhões de turistas, que gastaram US$ 38,8 bilhões.

ESTAGNAÇÃO
Nos anos 90, a Itália cresceu numa média de 1,23%, abaixo da média da UE. Desde a introdução do euro, em 1999, ficou praticamente estagnada. Com sua dívida equivalente a 120% do PIB, quando Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha tiveram problemas para financiar suas dívidas, os juros cobrados da Itália também subiram para níveis perigosos.

Berlusconi foi afastado e o ex-comissário europeu antimonopólio Mario Monti assumiu em novembro de 2011 para chegar um governo tecnocrático que se tornou impopular por aumentar impostos.

Com a determinação da Alemanha de impor um regime de controle rígido das contas públicas nos seus vizinhos que considera indisciplinados, a Itália ainda busca uma saída para a crise.

CRISE
Quem salvou o euro até agora foi o presidente do Banco Central Europeu, o italiano Mario Draghi, ex-presidente do Banco da Itália, que prometeu comprar o quanto fosse necessário das dívidas dos países em crise para estabilizar o mercado.

Os políticos estão devendo. A Europa é o último continente ainda em crise. Os protestos nas ruas, inclusive de extremistas à direita e à esquerda, são cada vez maiores. A ascensão da extrema direita nas últimas eleições para o Parlamento Europeu assustou.

LITERATURA
O italiano se originou de um dialeto da Toscana no século 14. Na literatura, os escritores Dante, Petrarca e Boccaccio são considerados os pais do idioma.

No século 20, entre os grandes escritores italianos, podem ser citados Luigi Pirandello, Alberto Moravia, Italo Calvino, Umberto Eco, Dario Fo, Cesare Pavese e Natalia Ginzburg. Primo Levi talvez seja o escritor que melhor traduziu a angústia e o extermínio do campo de concentração nazista de Auschwitz, na Segunda guerra Mundial.

MÚSICA
A música italiana sempre foi uma das supremas expressões da arte na Europa, diz a Enciclopédia Britânica, citando desde o canto gregoriano, passando pela criação da moderna notação musical no século 11, até compositores com Vivaldi, Allessandro e Domenico Scarlatti, Rossini, Donizetti, Verdi, Puccini e Bellini.

Os italianos são mestres da ópera. O Teatro Scala, de Milão, se orgulha de ter uma das melhores acústicas do mundo. Tenores como Luciano Pavarotti e Andrea Bocelli se tornaram popstars internacionais.

A música popular italiana fazia sucesso internacional no início dos anos 80 com os Festivais de San Remo e nomes como Rita Pavone e Peppino di Capri. Foi superada para pop e o rock da Inglaterra e dos EUA.

PINTURA
Além dos grandes nomes da Renascença – Giotto, Donatello, Michelangelo, Da Vinci, Ticiano, Bernini e Tiepolo, entre outros –, a Itália teve no século 20 grandes pintores como Umberto Boccioni, Giacomo Balla, Giorgio de Chirico.

A Bienal de Veneza, realizada desde 1895, é uma das mais importantes mostras de artes plásticas do mundo. O carioca Ernesto Neto foi premiado em 2001 com uma instalação.

CINEMA
A Cinecittà, um complexo de estúdios construído por Mussolini, era conhecido como a Hollywood da Europa. Gangues de Nova York, do ítalo-americano Martin Scorcese, foi filmado lá em 2002 e também A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, em 2003.

Alguns dos maiores diretores do século 20 foram italianos: Luchino Visconti, Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini, Bernardo Bertolucci, Roberto Rosselini, Vittorio de Sica, Etore Scola, Pablo e Vittorio Taviani.

O realismo italiano, que pretendia mostrar a realidade do país no pós-guerra e não mascará-la com a fantasia do cinema, se tornou uma importante escola.

ARQUITETURA
Na arquitetura, destacam-se Pier Luigi Nervi, Renzo Piano e Aldo Rossi. Piano fez o Centro Pompidou, em Paris, em parceria com o britânico Richard Rogers.

MODA E DESIGN
A Itália é um dos líderes mundiais em desenho industrial e alta costura. Milão é um dos grandes centros da moda.

Entre os grandes estilistas italianos, se destacam Giorgio Armani, Versace, Valentino, Gucci, Prada, Dolce & Gabbana, Missoni, Fendi, Moschino, Max Mara e Salvatore Ferragamo.

A seleção italiana veste Dolce & Gabbana. Fez fiasco mais uma vez, mas ganhou a Copa da elegância.

IMIGRAÇÃO
A imigração italiana para o Brasil começa em 1875, no Rio Grande do Sul. Até 1930, mais de 1,5 milhão de italianos vieram para o Brasil.

A estimativa da Embaixada da Itália é que vivam no Brasil 25 milhões de descendentes de italianos, mas nem o Censo do IBGE nem a embaixada fizeram pesquisa a respeito. É a maior população de origem italiana fora da Itália, maior do que nos EUA.

Do fim das guerras napoleônicas, em 1815, até 1930, 60 milhões de europeus emigraram. Destes, 71% foram para a América do Norte, principalmente para os EUA, 21% para a América Latina e 7% para a Austrália.

Dos 11 milhões que vieram para a América Latina, 38% eram italianos, 28% espanhóis e 11% portugueses.

A imigração italiana no Brasil já rendeu novelas e o filme O Quatrilho.

CULINÁRIA
Embora se diga que Marco Polo importou a massa durante sua viagem à China pelo Caminho da Seda no século 13, a massa já fazia parte da culinária da península desde o tempo dos etruscos e dos romanos.

A variada cozinha italiana, tendo as massas como pratos básicos, ampla variedade de verduras e legumes, e todos os tipos de carnes, é hoje uma das mais populares do mundo globalizado. Assim como as massas italianas, o café espresso e o tiramisu são hoje universais.

A civilização etrusca, que estava estabelecida no século 8 AC, deu a base da culinária da região da Toscana.

Talvez o mais antigo livro de culinária, escrito por Apicius no primeiro século da era cristã, descreve com detalhes a cozinha do Império Romano, com faisões, pavões, carnes curadas, salsichão de porco, queijos e frutos do mar, misturados com vegetais como aspargos, cogumelos, brocólis, cenoura e alface.

Também houve influência grega com grão-de-bico, figos, azeitonas, porco e peixe salgados e fritos. As invasões bárbaras levaram as tortas de carne e os assados. As frutas incluíam cerejas e damasco.

Com a Descoberta da América, chegaram a cebola e o tomate, ingredientes fundamentais da chamada cozinha mediterrânea, considerada das mais saudáveis do mundo.

Os risotos, as polentas e o nhoque são de Milão, no Norte. A pizza nasceu em Nápoles no fim do século 19. O sorvete é uma iguaria apreciada desde o tempo dos romanos.

RELAÇÕES COMO BRASIL
Essa enorme massa de imigrantes e descendentes aproximou culturalmente os dois países. Sob certo ponto de vista, a Itália é um dos países que mais se parecem com o Brasil, com seu respeito relativo às leis, corrupção, malandragem, motoristas que buzinam e furam sinais sem culpa, quem pode cuidadosamente bem vestido num estilo radical chic.

O Brasil urbano das grandes metrópoles caóticas se parece com a Itália.

A contribuição cultural italiana ao Brasil é enorme. Os imigrantes trouxeram novas técnicas agrícolas, suas festas religiosas, seus santos de devoção. Seu sotaque marca até hoje o sotaque paulistano, da serra gaúcha e do sul de Santa Catarina. Diversos pratos foram incorporados à culinária brasileira, do espaguete e da pizza ao panetone.

Os italianos também trouxeram para o Brasil e para a América Latina o anarquismo, o sindicalismo e as greves operárias. No 4º centenário de São Paulo, em 1954, o homem mais rico do Brasil era Francisco Matarazzo Sobrinho, descendente de italianos.

No futebol, tanto o Palmeiras quanto o Cruzeiro de Belo Horizonte se chamavam Palestra Itália. Tiveram de mudar de nome quando o governo Getúlio Vargas declarou guerra à Itália e proibiu manifestações da cultura italiana no Brasil.

O técnico Luiz Felipe Scolari é de origem italiana.

ESPORTE
Os italianos se destacam em vários esportes, do ciclismo e esqui ao basquete, polo aquático, rúgbi, volei e especialmente futebol e automobilismo.

O Giro d’Italia é uma das principais provas de ciclismo de estrada, ao lado do Tour de France e da Vuelta de Espanha.

A Ferrari começou a fabricar carros de corrida em 1946. Já ganhou mais de 5 mil provas.

A Itália participou de todas as olimpíadas da era moderna, ganhando um total de 522 medalhas nos jogos de verão e 106 nos de inverno. É o quinto país mais bem-sucedido da história olímpica. Organizou os Jogos de Verão em Roma em 1960 e os Jogos de Inverno em 1956 em Cortina d’Ampezzo e em 2006 em Turim.

FUTEBOL
Os italianos alegam que eles inventaram o futebol com o nome de calcio no século 16, muito antes portanto dos ingleses teriam criado as regras do futebol moderno na segunda metade do século 19.

A Squadra Azzurra é azul porque era a cor da dinastia de Savoia, que ocupou o trono quando o país foi unificado, em 1861. Ganhou quatro Copas do Mundo, em 1934, 1938, 1982 e 2006, as duas primeiras sob Mussolini, que declarou em 1934: “É vencer ou morrer!” Nas duas últimas copas, os italianos morreram na primeira fase.

Os clubes italianos ganharam 27 títulos de copas europeias. São os mais vitoriosos do continente.

Os brasileiros vão jogar na Itália há muito tempo. Anfilogino Guarisi, o Filó, foi campeão do mundo em 1934.

Nos anos 50 e 60, foram para lá Dino da Costa, Angelo Sormani, Chinesinho e Mazzola, que se naturalizou italiano e passou a usar o sobrenome, Altafini. Com 216 gols, João José Altafini é o terceiro maior artilheiro da história do Campeonato Italiano, ao lado de Giuseppe Meazza, considerado o melhor jogador da História da Itália.

Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Cerezo, Careca, Renato Gaúcho, Casagrande, Ronaldo, Robinho, Ronaldinho, Kaká e muitos outros craques brasileiros disputaram o Campeonato Italiano.

Argentinos de origem italiana como Raimundo Orsi, Omar Sivori e Humberto Maschio jogaram na seleção da Itália.


Os carrascos uruguaios do Brasil na Copa de 1950, Juan Schiaffino e Alcides Ghiggia, eram de origem italiana. Chegaram a jogar na Azzurra no fim dos anos 50.

sábado, 28 de junho de 2014

Rebeldes controlam lado sírio das Colinas do Golã

Os rebeldes que lutam contra a ditadura de Bachar Assad, entre eles milícias extremistas muçulmanas ligadas à rede terrorista Al Caeda, dominam 95% do lado sírio das Colinas do Golã, declarou ontem o subcomandante militar de Israel na região. Só a área ao redor da passagem de fronteira de Cuneitra continua em poder do governo.

Em entrevista ao canal 10 da televisão israelense, citada pelo jornal The Times of Israel, o coronel Anan Abbas afirmou que uma das duas brigadas que defendiam o Golá foram totalmente eliminadas.

Ao mesmo tempo, a Jordânia pediu ajuda militar a Israel, caso seja atacada pela milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Oficiais israelenses acreditam que o Exército jordaniano seja capaz de defender o país e não gostariam de entrar numa guerra contra extremistas muçulmanos ao lado de um exército árabe, mas estão de sobreaviso.

Primeira Guerra Mundial começou há cem anos

Um atentado em Sarajevo, em 28 de junho de 1914, deflagrou o conflito que moldou a história do século 20.

No Tratado de Berlim, de 1878, que acabou com a Guerra Russo-Turca de 1877-78, a Bulgária, Montenegro, a Romênia e a Sérvia se tornaram países independentes. A Bósnia-Herzegóvina ficou sob o controle do Império Austro-Húngaro.

Em 1881, a Alemanha e a Rússia aceitaram a dominação austríaca sobre o Bósnia. Mas a ascensão ao trono de um novo czar Nicolau II, em 1894, levou a Rússia, aliada da Sérvia, a questionar três anos depois a anexação da Bósnia-Herzegóvina ao Império Austro-Húngaro.

ANEXAÇÃO
Um golpe de Estado em 10 de junho de 1903 levou ao poder na Sérvia um grupo radical antiaustríaco em Belgrado. A anexação oficial da Bósnia-Herzegóvina ao Império Austro-Húngaro, em 6 de outubro de 1908, causou protestos.

Sem o apoio da França e do Reino Unido, a Rússia e a Sérvia tiveram de aceitar a realidade.

GUERRAS BALCÂNICAS
A tensão aumentou com a Primeira Guerra dos Bálcãs (1912-13), em que a Liga Balcânica (Bulgária, Grécia, Montenegro e Sérvia) expulsou as forças turcas do Kossovo, Novi Pazar e da Macedônia.

A insatisfação da Bulgária com o tratado de paz levou à Segunda Guerra dos Bálcãs, travada contra suas ex-aliadas na Liga Balcânica de 29 de junho a 10 de agosto de 1913.

Diante da agitação nacionalista sérvia, em maio de 1913, o governador militar da Bósnia-Herzegóvina declarou estado de emergência, dissolveu o Parlamento, fechou as associações culturais sérvias e os tribunais civis.

ASSASSINATO EM SARAJEVO
A tensão entre a Tríplice Aliança (Alemanha, Áustria-Hungria e Itália) e a Tríplice Entente (França, Gra-Bretanha e Rússia) explodiu em Sarajevo, em 28 de junho de 1914. O estudante nacionalista radical sérvio-bósnio Gavrilo Princip, do grupo extremista Mão Negra, matou a tiros o príncipe Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco.

Com o apoio da Alemanha, a Áustria-Hungria deu em 23 de julho um ultimato de 48 horas à Sérvia, que reivindicava soberania sobre a Bósnia-Herzegóvina, acusando-a pela conspiração que matara o herdeiro do trono.

ULTIMATO INACEITÁVEL
Os termos do ultimato eram inaceitáveis. Para o Primeiro Lorde do Almirantado do Império Britânico, Winston Churchill, foi “o documento deste tipo mais insolente já visto”.

A Sérvia deveria censurar toda publicação crítica ao Império Austro-Húngaro, banir associações nacionalistas sérvias e permitir a presença no país de autoridades austro-húngaras para “suprimir movimentos subversivos”.

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Em 28 de julho de 1914, a Áustria-Hungria iniciou as hostilidades contra a Sérvia. A Alemanha invadiu a Bélgica e Luxemburgo, preparando um ataque à França. Isso levou o Reino Unido e a França a entrarem em guerra com a Alemanha, enquanto a Rússia enfrentava a Áustria-Hungria na frente oriental, em defesa da Sérvia.

A guerra que deveria acabar em meses durou mais de quatro anos, até 11 de novembro de 1918, e redesenhou o mapa geopolítico. Os impérios austro-húngaro, alemão, russo e otomano desapareceram. Em 1917, a Revolução Russa levou o Partido Comunista ao poder.

No mesmo ano, para os Estados Unidos entrarem no conflito, o presidente Woodrow Wilson vendeu ao povo americano a ideia de que era a "guerra para acabar com todas as guerras". Era o início da ascensão das duas superpotências que dominariam o mundo na segunda metade do século 20.

Sérvios homenageiam assassino do arquiduque da Áustria

Na véspera do centenário do atentado que deflagrou a Primeira Guerra Mundial, os sérvios da Bósnia-Herzegóvina inauguraram ontem uma estátua em homenagem ao estudante radical Gavrilo Princip, assassino do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro.

Do outro lado da cidade, a Orquestra Filarmônica de Viena ensaiava para um grande concerto marcado para este sábado, uma promoção da União Europeia para marcar o início simbólico de um novo século de paz.

Os dois eventos mostram a divisão profunda da Bósnia, dividida entre uma República Sérvia e uma Federação Bósnio-Croata. Enquanto uma parte festeja a integração europeia com músicas de compositores alemães, austríacos e franceses, outra celebra o assassino.

O concerto vai começar com o Hino da Bósnia e terminar com a Ode à Alegria, a última parte de 9º Sinfonia de Beethoven, hino oficial da UE. Ao chegar, o maestro Franz Welser-Most declarou que a Orquestra Filarmônica de Viena volta a Sarajevo "com um ônus histórico" para "enviar uma mensagem: Nunca mais!"

Já os sérvios gostariam de dividir a Bósnia para anexar sua parte à Sérvia.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Cameron: "Reino Unido está perto de sair da UE"

Ao reagir à derrota na indicação do ex-primeiro-ministro luxemburguês Jean-Claude Juncker para futuro presidente da Comissão Europeia, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, advertiu hoje que "a Grã-Bretanha está mais perto de sair da União Europeia".

Sob pressão dos eurocéticos de seu próprio Partido Conservador e do Partido da Independência do Reino Unido, Cameron descreveu a reunião de cúpula como "um mau dia para a Europa" e a indicação de Juncker, que descreveu como símbolo da burocracia de Bruxelas, como um "acordo no quarto dos fundos" que "atropela as objeções fundamentais de dois países-membros". O outro é a Hungria.

Antes mesmo da vitória do Partido da Independência nas eleições para o Parlamento Europeu no Reino Unido, Cameron prometeu convocar um referendo sobre a associação do país à UE até 2017, se o Partido Conservador vencer as próximas eleições, em 2015, e a UE não repatriar até lá algumas competência para o Parlamento Britânico em áreas como inimigração e seguridade social.

Para os eurocéticos britânicos, Juncker é um federalista que vai levar o bloco europeu a uma união ainda maior. Assim, os conservadores querem renegociar a adesão à UE nos seus próprios termos. Isso é inaceitável para os outros grandes países europeus, especialmente a Alemanha e a França, que rejeitam a ideia de uma "Europa à la carte", onde cada país poderia escolher os aspectos da união que lhe interessam e não aderir aos outros.

Ucrânia prorroga cessar-fogo por mais 72 horas

O novo presidente da Ucrânia, Petro Porochenko, estendeu hoje por 72 horas um cessar-fogo no conflito com os rebeldes separatistas do Leste do país, que gostariam de anexar a região à Rússia.

A trégua está sendo observada há uma semana pelas forças ucranianas e desde segunda-feira pelos separatistas. À tarde, os rebeldes aceitaram prorrogar o cessar-fogo até o dia 30 de junho de 2014.

UE assina acordo com Ucrânia e indica novo presidente

Numa reunião de cúpula hoje em Bruxelas, a União Europeia deve assinar um acordo de associação com a Ucrânia e indicar o ex-primeiro-ministro de Luxemburgo, Jean-Claude Juncker, como novo presidente da Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco, a ser eleito pelo Parlamento Europeu.

A rejeição do acordo a ser assinado hoje pelo então presidente Viktor Yanukovich, em novembro de 2013, sob pressão da Rússia, levou a uma revolta popular e à sua queda em fevereiro. O presidente russo, Vladimir Putin, negou-se a reconhecer o governo revolucionário e iniciou uma intervenção na Ucrânia, anexando a Crimeia à Rússia em 17 de março de 2014.

Em abril, a revolta se alastrou para o Leste da Ucrânia, onde mais de 350 pessoas foram mortas. Ao pedir ao Conselho Federal, a câmara alta do Parlamento da Rússia, a revogação da autorização para enviar tropas à Ucrânia, Putin indicou a intenção de negociar. Ao mesmo tempo, usa as exportações de gás para tentar dividir a UE.

Além do acordo com a Ucrânia, o bloco europeu deve eleger Juncker para presidente da CE em substituição ao ex-primeiro-ministro português José Manuel Durão Barroso, a partir de 31 de outubro de 2014. A Suécia e a Holanda, que pareciam apoiar a posição do primeiro-ministro britânico, David Cameron, confirmaram ontem seu voto em Juncker, fechando com a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel.

Isolado, é improvável que Cameron tente vetar a eleição de Juncker, no momento em que está sendo pressionado tanto pelos eurocéticos do próprio Partido Conservador quanto pelo Partido da Independência do Reino Unido, que ganhou as eleições para o Parlamento Europeu no Reino Unido, a exemplo do que aconteceu com a Frente Nacional na França.

O primeiro-ministro da Irlanda, Enda Kenny anunciou uma nova reunião de cúpula para 17 de julho. Com a oposição do Reino Unido a Juncker, foi impossível definir os futuros ocupantes dos dois outros altos cargos da UE, o presidente do Conselho Europeu e o supercomissário de política externa.

A reunião de cúpula começou com um juntar em Ypres, na Bélgica, para relembrar os cem anos do início da Primeira Guerra Mundial. Em 28 de junho de 1914, o estudante radical sérvio Gavrilo Princip matou o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro. O atentado deflagrou o conflito.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Justiça dos EUA rejeita pedido de tempo da Argentina

Treze anos depois do colapso da dolarização, a Argentina está mais uma vez à beira de um calote de sua dívida pública. A Justiça dos Estados Unidos rejeitou hoje um pedido do governo argentino de mais tempo para renegociar com um pequeno grupo de credores que não aceitaram as reestruturações da dívida em 2005 e 2010.

Outro pedido da Argentina, para pagar primeiro os juros devidos aos credores que aceitaram a renegociação, também foi negado. Os pagamentos terão de ser feitos ao mesmo tempo, determinou o juiz Thomas Griesa, na próxima segunda-feira.

O governo argentino depositou hoje US$ 832 milhões para pagar os novos credores. Esse dinheiro pode ser bloqueado pelo juiz para as dívidas mais antigas.

A dívida com os fundos que rejeitaram as propostas anteriores da Argentina soma apenas US$ 1,3 bilhão, mas a decisão judicial abre a possibilidade para que os outros credores peçam o mesmo tratamento, o pagamento integral da dívida sem os descontos da reestruturação.

"Não há dúvida da parcialidade do juiz em favor dos fundos-abutres e sua verdadeira intenção, de levar a Argentina à moratória e desfazer as reestruturações negociadas em 2005 e 2010", protestou o ministro da Economia do país, Axel Kicillof.

A Argentina precisa pagar pelo menos US$ 500 milhões em juros em 30 de junho de 2014. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e até mesmo comentaristas conservadores como Martin Wolf, do jornal inglês Financial Times, criticaram a decisão. Observam que será difícil a partir de agora renegociar dívidas porque os credores irão à Justiça para receber o valor integral dos títulos caloteados.

Síria volta a bombardear jihadistas no Iraque

A Força Aérea da Síria fez hoje novos bombardeios em território iraquiano contra a milícia terrorista Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), desta vez na região de fronteira perto de Rabia, a 138 quilômetros a oeste da cidade de Mossul, a segunda maior do país, tomada pelos jihadistas. Seis pessoas morreram e onze saíram feridas.

O ataque alinha os interesses do governo majoritariamente xiita do Iraque, da República Islâmica do Irã, da ditadura de Bachar Assad, na Síria, e dos Estados Unidos, que são contra o regime sírio, mas temem a criação de um califado islamita já chamado de Jihadistão no Oriente Médio.

O EIIL luta na Síria e no Iraque para destruir a ordem internacional imposta ao Oriente Médio pelos império britânico e francês depois do fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918.

Suárez pega nove jogos e está fora da Copa

O comitê disciplinar da FIFA (Federação Internacional de Futebol Associativo) puniu hoje o jogador uruguaio Luis Suárez com nove jogos internacionais de suspensão pela mordida no zagueiro italiano Giorgio Chielini. Ele está fora da Copa.

Suárez fica suspenso de todas as atividades futebolísticas por quatro meses e ainda terá de pagar multa de 100 mil francos suíços, cerca de US$ 112 mil ou R$ 248 mil.

Foi a maior pena disciplinar imposta pela FIFA durante uma Copa do Mundo. Enfraquecido, sem seu melhor jogador, o Uruguai enfrenta a Colômbia no sábado às 17h no Maracanã pelas oitavas de final.

A FIFA levou em consideração os antecedentes de Suárez, que tinha cometido o mesmo tipo de agressão duas vezes, uma no campeonato da Holanda, quando jogava pelo Ajax, quando pegou sete jogos de suspensão, e outra no Liverpool, da Inglaterra, onde foi punido com dez jogos. De nada adiantaram as alegações da defesa do Uruguai de que houve outros atos de violência não punidos na Copa.

Com a suspensão, Suárez fica fora da próxima Copa América e dos primeiros jogos das eliminatórias da Copa de 2018. Também vai perder nove rodadas do Campeonato da Inglaterra e os primeiros jogos da Liga dos Campeões. Isto coloca em dúvida sua permanência no Liverpool, onde foi goleador na última temporada.

Coreia do Sul venceu subdesenvolvimento no século 20

A República da Coreia ocupa a metade sul, 45% do total, mas reivindica todo o território da Península Coreana e de suas 3,5 mil ilhas, dividido desde o fim da Segunda Guerra Mundial, depois de uma longa história de intervenções de seus poderosos vizinhos, a China, a Rússia e o Japão.

A Coreia do Norte, talvez a última ditadura stalinista, parou no tempo e no espaço. Vive em crise permanente desde o fim de sua aliada e patrocinadora União Soviética, em 1991.

Já a Coreia do Sul talvez tenha sido o único país do mundo a vencer o subdesenvolvimento no século 20. Entrou pobre. Era pobre até os anos 1960s. É hoje o 15º país mais rico do mundo. Suas indústrias de aço, naval, eletroeletrônica, automobilística estão entre as melhores do mundo.

Uma zona desmilitarizada de 4 quilômetros divide as duas Coreias mais ou menos ao longo do Paralelo 38º Norte.

GEOGRAFIA
Geologicamente, a Coreia do Sul é formada por rochas do período pré-cambriano, com 540 milhões de anos. Com 100 mil km2, é o 109º país do mundo em área.

É país montanhoso, sulcado por pequenos vales, com estreitas planícies costeiras. O pico mais alto é um vulcão extinto, o Monte Halla (1.950m), situado na ilha de Cheju.

A Coreia do Sul fica no Leste da Ásia. É cercada pela Coreia do Norte ao norte, pelo Mar do Japão a leste, pelo Mar da China Meridional ao sul e pelo Mar Amarelo a oeste.  O país se considera uma ponte entre a Ásia continental e o Japão, que na menor distância fica a 206 km da Coreia.

A pouca profundidade do Mar Amarelo e a costa recortada fazem com que Incheon, o porto de Seul, tenha uma das mares mais altas do mundo, com uma variação de 9 metros.

POPULAÇÃO
A população sul-coreana é estimada em 50 milhões de habitantes (o dobro da norte-coreana), sendo 97,1% coreanos, 2% japoneses, 0,1% chineses da etnia han e 0,1% americanos. A capital, Seul, tem 10 milhões de habitantes.

No início do século 20, a população era estimada em 5 milhões, com Seul como  maior cidade com 250 mil habitantes. Depois da ocupação japonesa, em 1910, era de 13.313.017. Em 1920, a população da Coreia era de 17 milhões, inclusive 400 mil japoneses. O último censo sob o domínio do Japão, em 1942, registrou 26,36 milhões, dizem James Hoare e Susan Pares no livro Korea: the classic introduction.

Com a divisão do país no fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, dois terços dos coreanos ficaram no Sul. O Censo de 1949 contou mais de 20 milhões de sul-coreanos.

ECONOMIA
PIB: US$ 1,222 trilhão (15º do mundo, membro do G-20)
Renda per capita: US$ 25 mil
IDH: 12º do mundo
Desemprego: 3,8% (2012)

Com o país arrasado pela Guerra da Coreia, os EUA deram uma ajuda de US$ 2,1 bilhões de 1953 a 1960. A Coreia do Sul era um dos países mais pobres do mundo, mas o presidente Syngman Rhee estava mais preocupado com segurança do que desenvolvimento. O milagre começaria em seguida.

A Coreia do Sul cresceu em média 9,1% ao ano de 1961 a 1993, tornando-se um dos tigres asiáticos. Quando o milagre econômico sul-coreano ou “milagre econômico do Rio Han” começou, em 1961, a renda per capita do país, de US$ 87, era inferior à de Gana, na África; hoje, está em US$ 25 mil.

DESENVOLVIMENTO
Em 1962, o produto interno bruto foi de US$ 2,3 bilhões; hoje, é 500 vezes maior. Uma série de planos de desenvolvimento estimulou primeiro o setor têxtil e as manufaturas leves.

Nos anos 1970s, a ênfase passou para a indústrias pesada, ferro e aço, e química. Numa terceira etapa, o foco mudou para automóveis, eletroeletrônicos e informática. A indústria responde por 40% do PIB.

Desde 1986, a Coreia do Sul gera saldos comerciais expressivos. Em 2010, era o sexto maior exportador e o décimo maior importador mundial.

MARCAS
Hoje, importantes marcas coreanas, como Samsung, LG, Daewoo e Hyundai conquistaram o mundo e são sinônimos de excelência.  A Samsung, líder mundial em telefones celulares inteligentes, é hoje a maior empresa eletroeletr

AGRICULTURA
Menos de um quarto do solo é arável. A cultura mais importante é o arroz. Também é importante a produção de frutas e legumes, especialmente couves e repolhos.

O ginseng é um importante produto de exportação, apesar da pequena escala. Também são importantes a criação de gado bovino e de porcos, e a produção de laticínios, além da pesca, fontes de proteínas sobretudo para consumo interno.

SERVIÇOS
Cerca de 20% da mão de obra trabalham no setor de serviços, que responde por 57% do PIB. O turismo é uma atividade importante por causa das belezas naturais, dos templos budistas e atrações históricas.

A Coreia do Sul foi um dos poucos países ricos que conseguiram evitar a contração do PIB anual durante a Grande Recessão de 2008-9. Mas chegou a ter três trimestres consecutivos de recuo do PIB, o que caracteriza recessão.

DESACELERAÇÃO
Sob o impacto da crise internacional, o crescimento, elevado desde 1961, caiu para 2,3% em 2008 e 0,2% em 2009, no auge da crise.

Com um programa de estímulo com 75% dos recursos focados na transição para uma economia mais verde e mais sustentável, a expansão subiu para 6,2% em 2010, mas caiu para 3,6% em 2011, 2,1% em 2012 e 2,8% em 2013.

EDUCAÇÃO
A educação é o segredo do sucesso financeiro e social na Coreia do Sul. A competição é feroz. Os sul-coreanos disputam os primeiros lugares nas olimpíadas de ciências e de matemática.

O país praticamente universalizou o ensino médio: 99% dados sul-coreanos completaram o ensino médio. É uma educação abrangente, de altíssima qualidade. Cerca de 25% dos sul-coreanos tocam um instrumento musical.

A Coreia do Sul é pioneira na edição de livros-texto digitais, que começaram a ser distribuídos gratuitamente em todas as escolas primárias e secundárias do país em 2013.

HISTÓRIA
A ocupação da Península Coreana começou há 700 mil anos.

O mito fundador da sociedade coreana é a criação do reino de Chosun Antigo, no Norte da península, em 3 de outubro de 2333 antes de Cristo, por Tangun, que seria filho de Hwanung, príncipe de um reino celestial, com uma ursa transformada em mulher.

A ursa e uma tigresa, querendo virar mulheres, pediram ajuda aos deuses. Só a ursa seguiu rigorosamente as instruções: comer um ramo de artemísia e 20 dentes de alho.

As modernas interpretações do mito sugerem que Tangun foi herói local ou um estranho vindo do exterior que dominou os povos do Norte da Península Coreana. O culto aos ursos indica uma influência cultural da Sibéria, onde havia ritos semelhantes.

As mais antigas evidências arqueológicas indicam a presença de agricultores seminômades em toda a península por volta de 1500 AC.

É provável que a maioria dos coreanos descenda de migrantes vindos da Ásia Central que chegaram à Manchúria entre 1000-800 AC e de lá teriam descido para a Península Coreana.

A capital de Chosun era Liaoning. Por volta de 400 AC, foi transferida para Pyongyang, a atual capital da Coreia do Norte. No Sul da península, o reino de Jin surgiu por volta de 300 AC.

TRÊS REINOS
Uma invasão chinesa durante a dinastia Han em 108 AC destruiu o reino de Chosun Antigo, dando início ao período dos Três Reinos, unificados em 676 DC, depois que Sila subjugou Paekje em 660 e Koguryo em 668.

Durante o período dos três reinos, o budismo, o confucionismo, a escrita ideogrâmica e vários outros elementos da cultura chinesa chegaram à Coreia, onde foram adotados com adaptações.

O reino de Sila usou a estrutura de governo confucionista sem desmantelar totalmente o sistema antigo. O confucionismo coexistiu com a aristocracia tribal e uma classe guerreira. O budismo coreano incorporou as divindades locais.

Por volta de 890, o reino de Sila estava à beira do colapso. Com a ascensão de Koguryo e Paekche, esses Três Reinos Tardios brigam entre si e são palco de revoltas domésticas. Surgem cidades amuralhadas controladas por nobres locais relutantes em ceder o poder.

PERÍODO KORYO
Numa dessas rebeliões, um militar chamado Wang Kon foi proclamado rei Taejo, do Novo Koguryo, que ele rebatizou como Koryo, com capital em Songak, hoje Kaesong, na Coreia do Norte. Em 934, Wang Kon tomou Paekche Tardio e, no ano seguinte, Sila, dando ao rei o mais alto cargo e casando com uma mulher do clã real local para legitimar seu governo.

O Período Koryo (918-1392) foi o primeiro em que a península foi unificada sob o mesmo governo. Alguns autores comparam seu esplendor com o da Dinastia Sung, que dominava a China na época.

A fabricação de papel e a imprensa de tipos móveis, que os coreanos alegam ter inventado em 1234, foram desenvolvidas na Coreia no período Koryo muito antes da Europa, onde a imprensa seria inventada por Gutenberg em 1455.

Mas a corte vivia em luta permanente com nobres poderosos, sob ameaça de ataques de piratas do Japão e do Império Chinês. Com a chegada da horda mongol liderada por Gêngis Khan à China, no início do século 13, a Coreia foi ocupada e envolvida numa fracassada tentativa mongol de invadir o Japão.

DINASTIA YI
O reino de Koryo acabou na transição do domínio mongol para a Dinastia Ming, na China, quando um dos generais, Yi Song Eye, enviado pelos mongóis para combater os chineses, abandonou a campanha, recuou suas forças para o Sul do Rio Yalu, derrubou o rei e instalou a Dinastia Yi (1392-1910), a mais longa da História da Coreia.

A Dinastia Yi ou Dinastia Chosun (nome pelo qual a Coreia era conhecida até 1897) é vista como uma era de continuidade, uma era de esplêndido isolamento em que o “reino eremita” era feliz, até que a intervenção estrangeira acabou com sua tranquilidade.

REFORMAS
O rei Yi Taejo, como ficou conhecido pela História, construiu uma nova capital junto ao Rio Han, Seul, capital da Coreia unificada de 1394 a 1945. Até 1900, a cidade se parecia com a antiga Seul de Yii Taejo. Ainda hoje restam palácios, templos, santuários, muros e portões.

Houve uma reforma agrária para distribuir terras públicas a servidores do Estado, o que ajudou a minar o poder da antiga aristocracia. Uma reforma administrativa reforçou o confucionismo e o modelo do funcionalismo público chinês, baseado em exames e meritocracia.

ELITE
Como o neoconfucionismo era a base do sistema, o estudo de textos de Confúcio e seus intérpretes era a chave para passar. Logo, a elite começou a dominar o acesso ao serviço público. O poder dos mosteiros budistas foi reduzido. Assim como a Igreja Católica na Europa, tinham muita terra e muita riqueza.

A sociedade coreana tinha uma classe dominante, yangban. O povo era formado por agricultores, artesãos e mercado. Entre eles, havia uma classe média de médicos, intérpretes, militares e funcionários públicos.

Na metade do século 15, surgiu o alfabeto coreano, rangul, gerando com o uso uma reação à literatura chinesa para resgatar formas nativas da Coreia como a poesia sijo.

GUERRA DE IMJIN
Em 1592, o Japão invadiu a península para atacar a China e iniciou a Guerra de Imjin, que durou seis anos.  Os japoneses tomaram Seul e Pyongyang, mas sofreram várias derrotas no mar.

Após uma breve trégua em 1596, houve uma segunda invasão japonesa em 1597. Com um impasse no campo de batalha, os japoneses se retiraram em 1598. Nessa guerra, foram usados os chamados navios-tarturuga, com uma cobertura metálica no tombadilho, o que os tornou os primeiros navios do mundo com cobertura metálica.

A paz com o Japão foi restabelecida em 1606, quando o xogunato Tokugawa consolidava seu poder e iniciava uma era de isolamento internacional que servia os interesses da Coreia de se manter distante do vizinho guerreiro.

A guerra com o Japão enfraqueceu a Dinastia Ming na China, levando à conquista de Beijim pelos manchus da Dinastia Qing, que governaram o país de 1644 até o fim do Império Chinês, em 1911.

CATOLICISMO
O catolicismo chegou à Coreia no século 16, quando os jesuítas estavam ligados à corte chinesa em Beijim. No fim do século 18, começou a ser perseguido como uma influência indesejável que se opunha ao confucionismo.

No fim do século 19, a Coreia firmou acordos com o Império Britânico, a França e a Alemanha para tentar se proteger de seus vizinhos poderosos, sem sucesso.

Em 1882, a China invadiu Seul a pretexto de proteger cidadãos japoneses com base num tratado assinado com o Japão em 1871 e dominou a Coreia até 1894.

GUERRA SINO-JAPONESA
Na visão do nacionalismo japonês, “a Coreia é uma adaga apontada para o coração do Japão”. O domínio chinês sobre a Coreia era uma grande ameaça a seus interesses. Em julho de 1894, sem uma declaração formal de guerra, o Japão atacou a frota chinesa.

Era o início da Guerra Sino–Japonesa (1894-95), que marca o fim de séculos de hegemonia da China no Leste da Ásia. No fim da guerra, o Japão toma Taiwan, começando a construir um império e mantém o controle sobre a Coreia.

Uma série de reformas políticas sob o pretexto de modernizar a administração da Coreia serviu na prática para consolidar o domínio japonês. Em outubro de 1895, a rainha, que liderava a oposição aos japoneses, foi assassinada. Houve revoltas, duramente reprimidas pelo Japão. O rei se refugiou na Embaixada da Rússia, aumentando o sentimento antijaponês.

GUERRA DO PACÍFICO
A consolidação das possessões da Rússia na Sibéria e o Leste da Ásia aumentou a tensão com o Japão na região da Mandchúria, especialmente depois do fim da Guerra dos Boxers, na China, em 1900.

Como a Rússia se negou a ceder suas posições na Mandchúria depois de um acordo anglo-japonês de 1902, o Japão decidiu atacar antes da conclusão da Ferrovia Transiberiana. Em 8 de fevereiro de 1904, começa a Guerra do Pacífico.

A primeira grande guerra do sangrento século 20 vai até 5 de setembro de 1905. Era a primeira derrota de um exército branco europeu para não europeus desde que o Império Otomano cercara e fora repelido de Viena em 1684.

ANEXAÇÃO
Uma das consequência da guerra russo-japonesa foi o Tratado de Proteção Japão-Coreia, de 17 de novembro de 1905, que consolidava a dominação japonesa e foi causa de suicídio de vários altos funcionários coreanos.

Com a dissolução do Exército da Coreia, em 1907, vários ex-militares organizaram ataques contra as forças de ocupação. Em 1908, houve 1.451 incidentes envolvendo 70 mil pessoas.

O Tratado de Anexação acabou, em 29 de agosto de 1910, com a independência da Coreia. O governo e todas as organizações políticas foram dissolvidas. Em novembro de 1910, o Japão anunciou o fim da resistência.

OCUPAÇÃO
A ocupação japonesa não fez qualquer concessão à cultura ou à tradição de independência da Coreia. Estava imbuída de um direito divino devido ao mito de que a família imperial do Japão tem origem divina.

De 1910 a 1919, o Japão consolidou o controle criando uma poderosa máquina burocrática dirigida por um governador-geral, sempre militar. Ao todo, sete governadores-gerais japoneses mandaram na Coreia até 1945. Para se proteger, criaram uma grande força policial. Nos anos 1930s, havia um policial japonês para cada 400 coreanos.

Em janeiro de 1919, depois do fim da Primeira Guerra Mundial, os coreanos tentaram articular um movimento pela independência baseada no conceito de  autodeterminação dos povos defendido pelos Estados Unidos na Conferência de Paz de Versalhes. Foi rápida e duramente reprimido pelos japoneses.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Com a ocupação da Mandchúria em 1931 e da criação do Estado-fantoche japonês de Manchukuo, e do Leste da China pelo Japão em 1937, iniciando na prática a Segunda Guerra Mundial na Ásia, a situação coreana piorou ainda mais.

A economia do país foi voltada para o esforço de guerra japonês. Os estudantes foram pressionados a se alistar como voluntários e os coreanos em geral a participar de rituais xintoístas como prova de lealdade ao imperador do Japão. Todos os jornais em coreano foram fechados.

Quando a guerra acabou, os coreanos foram libertados do imperialismo japonês por exércitos estrangeiros. Stalin declarou guerra ao Japão em 9 de agosto de 1945, quando os americanos jogaram a segunda bomba atômica, em Nagasake, A União Soviética logo ocupou algumas ilhas disputadas com o Japão e o Norte da Península Coreana.

DIVISÃO
A divisão da Coreia foi mais fruto da tensão crescente entre os EUA e a URSS no início da Guerra Fria do que de qualquer preocupação das superpotências com a península. Foi decidida na Conferência de Potsdam, na Alemanha, em julho e agosto de 1945, anulando a promessa de independência da Coreia feita na Declaração do Cairo, em 1943.

Em 14 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU aprovou duas resoluções pedindo a independência da Coreia, a retirada das forças de ocupação e a realização de eleições livres. Mas as eleições de 10 de maio de 1948 foram realizadas somente no Sul.

Em 15 de agosto de 1948, três anos depois do fim da guerra, a República da Coreia se tornou independente sob a presidência de Syngman Rhee, reivindicando a soberania sobre toda a península. Em 9 de setembro de 1948, nasce a República Popular Democrática da Coreia, também com ambições de governar o país inteiro, sob a liderança do camarada Kim Il Sung, hoje presidente eterno.

Antes do fim da guerra, os conservadores eram maioria no Sul, predominantemente agrícola, enquanto a mineração e a indústria se concentravam no Norte. De 1945 a 1948, houve uma grande migração para o sul do paralelo 38º N. Até o início da Guerra da Coreia, em 25 de junho de 1950, cerca de 750 mil pessoas fugiram para a Coreia do Sul.

AUTORITARISMO
A Coreia do Sul nasceu com um Estado forte e autoritário, com grande poder da polícia e da burocracia. Diante da tensão crescente com o Norte comunista , a oposição era considerada traição.

Em 1949, o partido comunista e todas as outras organizações esquerdistas foram proibidas. No início de 1950, 30 mil supostos comunistas estavam presos e outros 300 mil esquerdistas inscritos em programas de reeducação.

A URSS retirou suas forças da Coreia em 1948 e os EUA em 1949, deixando a Coreia do Sul desprotegida.

GUERRA DA COREIA
Como os EUA não intervieram na China para evitar a vitória da revolução comunista liderada por Mao Tsé-tung em 1º de outubro de 1949, criou-se uma expectativa de que não se meteriam na Coreia.

Em abril de 1950, o ditador soviético Josef Stalin autorizou Kim Il Sung a invadir o Sul, se Mao concordasse em enviar reforços em caso de necessidade. Kim encontrou Mao em maio de 1950. O líder comunista chinês temia a intervenção americana, mas concordou. A China dependia da ajuda econômica e militar soviética e Mao precisava se mostrar um aliado confiável.

Em 25 de junho de 1950, uma invasão de forças do Norte, que acusou o Sul de atacar primeiro, marcou o início da Guerra da Coreia. Seul caiu três dias depois. As forças norte-coreanas tomaram quase toda a Coreia do Sul. OS EUA decidiram reagir para proteger o Japão e conter a expansão do comunismo na Ásia depois da vitória da revolução chinesa.

AVAL DA ONU
Como a URSS estava boicotando o Conselho de Segurança da ONU em protesto contra a não admissão da China comunista (Taiwan ocupava a cadeira da China na ONU), os EUA conseguiram aprovar uma resolução autorizando o uso da força para reunificar a Península Coreana. Até hoje, os cerca de 28,5 mil soldados americanos estacionados na Coreia do Sul têm esse mandato.

Os EUA contribuíram com 88% dos 341 mil soldados da força internacional, composta por 16 países (da América do Sul, só a Colômbia). Seul foi retomada em 25 de setembro de 1950.

Uma contra-ofensiva não só expulsou os invasores norte-coreanos. Em 30 de setembro, o general Douglas MacArthur, comandante militar americano, recebeu autorização do secretário da Defesa dos EUA, George Marshall, para ir além do paralelo 38º N. Suas forças chegaram perto do Rio Yalu, junto à fronteira com a China, que interveio na Guerra da Coreia.

INTERVENÇÃO CHINESA
Em 19 de outubro de 1950, o Exército da China cruzou o Rio Yalu para impedir a reunificação da Península Coreana e um possível alastramento da guerra para território chinês, já que um dos objetivos declarados pelo general MacArthur era combater o comunismo.

A intervenção chinesa forçou os americanos a recuarem para baixo do paralelo 38º N. Dentro da Guerra da Coreia, houve uma guerra entre a China os EUA, que a China venceu ao atingir seu objetivo político de empurrar americanos e aliados para o Sul do paralelo 38º N, restaurando o status quo anterior à guerra.

Em 11 de abril de 1951, o presidente Harry Truman demitiu o general MacArthur. Ele invadira o Norte na expectativa de que a China não interviria. Quis tomar para si a decisão de usar armas nucleares e ameaçou arrasar a China, se ela não se rendesse.

Depois de dois anos de um impasse no campo de batalha, um armistício foi assinado em 27 de julho de 1953 pondo fim às hostilidades. Até hoje não houve um acordo de paz na última fronteira quente da Guerra Fria, que a Coreia do Norte insiste em negociar com os EUA, alegando que o regime sul-coreano é um fantoche de Washington.

MORTES
De acordo com o Departamento da Defesa dos EUA, 44.692 americanos, 551.498 sul-coreanos, cerca de 400 mil chineses e 290 mil norte-coreanos morreram na Guerra da Coreia. O total de mortos ficaria em torno de 1,25 milhão, sem considerar massacres como o de 100 mil civis suspeitos de simpatizar com o comunismo na Coreia do Sul e de pelo menos 500 mil civis executados pela Coreia do Norte. Isso elevaria o total para cerca de 2,5 milhões.

Depois da guerra, cerca de 100 mil norte-coreanos foram executados pelo regime, afirma Stephane Courtois em O Livro Negro do Comunismo. O historiador americano Rudolph Rummel estima em mais de um milhão as mortes em campos de concentração e de trabalhos forçados entre 1945 e 1987. De 24,5 milhões de norte-coreanos, entre 240 mil e 3,5 milhões teriam morrido de fome desde o fim da URSS, em 1991.

DITADURA
Eleito indiretamente pela Assembleia Nacional em 1948 como primeiro presidente da Coreia do Sul, Syngman Rhee tinha presidido um governo coreano formado no exílio em Xangai, na China, em 1919. Era doutor pela Universidade de Princeton, nos EUA, algo muito valorizado na Coreia.

A guerra fortaleceu suas tendências autoritárias. Seu governo aprovou uma Lei de Segurança Nacional, perseguiu comunistas e foi acusado de vários massacres. Quando perdeu apoio da Assembleia Nacional, em 1952, ordenou prisões em massa de oposicionistas e conseguiu aprovar uma emenda pela eleição presidencial direta, que ganhou com 74% dos votos.

Em 1960, aos 84 anos, Rhee foi reeleito mais uma vez, agora com 90% dos votos. Uma onda de protestos estudantis contra a fraude eleitoral chamada de Revolução de Abril obrigou-o a renunciar em 26 de abril de 1960 depois de um massacre no porto de Masan. Rhee fugiu para o exílio no Havaí, onde morreu em 1965. O período democrático foi curto.

GOLPES
Em 16 de maio de 1961, um golpe militar levou ao poder o general Park Chung Hee e colocou o país sob lei marcial. Seus 18 anos de governo foram marcados por protestos e repressão.

Depois do expurgo do líder oposicionista Kim Young Sam da Assembleia Nacional, em 1979, houve nova onda de protestos violentos. Park foi assassinado pelo diretor da KCIA (Agência Central de Inteligência da Coreia), Kim Jae Kyu. Pela Constituição, assumiu a presidência o primeiro-ministro Choi Kyu Hah

O comandante do Exército, Chun Doo Hwan, assumiu o controle da investigação sobre o assassinato de Park. Ele deu um golpe em dezembro de 1979. Em abril de 1980, virou diretor-geral da KCIA e reprimiu duramente uma revolta na cidade de Kwangju. Pelo menos 140 pessoas foram mortas. Em 1º de setembro de 1980, virou ditador da Coreia do Sul.

Seu governo foi marcado por um escândalo financeiro que derrubou meio ministério e por uma tentativa de assassinato cometida pelo serviço secreto da Coreia do Norte em 1983 na Birmânia. Dezessete sul-coreanos da comitiva presidencial, inclusive vários ministros, e quatro birmaneses foram mortos.

DEMOCRATIZAÇÃO
Nova onda de protestos em que estudantes enfrentaram a polícia vestida com uma farda que lembrava o Império do Mal dos filmes da série Guerra nas Estrelas levou finalmente à democratização da Coreia do Sul.

Em dezembro de 1987, foi eleito o general Roh Tae Woo. Sua posse, em fevereiro de 1988, foi a primeira transição de governo democrática da História da Coreia do Sul.

Chun foi condenado à morte em 1996 pelo Massacre de Kwangju, mas sua pena foi comutada para prisão perpétua. Ele entregou todos os seus bens e viveu durante anos num mosteiro budista.

PRESIDENTE CIVIL
O primeiro presidente civil em mais de 30 anos foi Kim Young Sam, um dos principais adversários dos governos militares, tomou posse em fevereiro de 1993 com a determinação reduzir a influência das Forças Armadas.

Kim afastou milhares de militares, burocratas e empresários ligados ao antigo regime, libertou milhares de presos políticos e lançou uma grande campanha contra a corrupção.

No governo Kim Young Sam, seus dois antecessores, Chun Doo Hwan e Roh Tae Woo, foram presos e processados por corrupção, pelo golpe de 1979 e pelo Massacre de Kwangju.

Chun foi condenado à pena de morte, comutada em prisão perpétua, e Roh pegou 22 anos e meio, reduzidos para 17 anos. Nove altos executivos de grandes conglomeradores (chaebol) também foram condenados por pagar propinas. Roh chegou a acumular uma fortuna de US$ 650 milhões.

CRISE ASIÁTICA
Com a persistência da corrupção, até o filho de Kim foi preso por suborno e evasão fiscal. A crise asiática de 1997, quando a Coreia do Sul tinha apenas US$ 30 bilhões em reservas e suas empresas estavam altamente endividadas, derrubou por um momento o milagre econômico sul-coreano.

Com o país falido, em dezembro de 1997, foi eleito presidente o eterno candidato da oposição, Kim Dae Jung, que chegara a ser condenado à morte nos governos militares.

Kim Dae Jung se decidou primeiro a combater a crise financeira e sanear os bancos sul-coreanos, e depois à aproximação com a Coreia do Norte.

APROXIMAÇÃO
Sua política do “brilho do sol” permitiu reencontros de famílias separadas desde a Guerra da Coreia. De 13 a 15 de junho de 2000, ele se encontrou com o então líder norte-coreano,  Kim Jong Il, na primeira reunião de cúpula das duas Coreias.

Sem poder se candidatar à reeleição, Kim Dae Jung entregue o poder em 2003 a Roh Moo Hyun, um advogado defensor dos direitos humanos que logo foi envolvido num escândalo financeiro sobre o financiamento de campanhas eleitorais.

Roh chegou a ser afastado num processo de impeachment, em março de 2004. Voltou dois meses depois, quando o Supremo Tribunal anulou o impeachment.

Em 19 de dezembro de 2007, o prefeito conservador de Seul, Lee Myung Bak, do Grande Partido Nacional, bateu o candidato de Roh. O ex-presidente, investigado por corrupção, cometeu suicídio pulando em um abismo em maio de 2009.

Um dos homens mais ricos da Coreia, Lee nasceu no Japão durante a guerra. Sua família naufragou na volta, em 1946, e ficou na miséria. Ele trabalhou até como lixeiro para financiar seus estudos e foi preso em 1964 por protestar contra o reatamento de relações com o Japão, antes de entrar para a Hyundai, onde fez carreira até se tornar diretor-presidente.

TENSÃO
No poder, adotou uma política mais dura em relação à Coreia do Norte, que fez seus primeiros testes nucleares em 2006 e 2009 (e um terceiro em 2013).

Em março de 2010, um torpedo do Norte afundou um navio da Marinha da Coreia do Sul, matando 46 marinheiros.

Em novembro de 2010, a artilharia norte-coreana bombardeou a ilha de Yeongpyeong, matando pelo menos dois civis e dois militares. Lee pediu desculpas por não ter evitado o ataque e prometeu responder a novos ataques com a força.

MULHER NO PODER
Com um novo nome, Partido da Nova Fronteira, os conservadores derrotaram os liberais e mantiveram o poder em dezembro de 2012, com a eleição de Park Geun Hye, filha do ditador Park Chung Hee, pai do milagre econômico sul-coreano, assassinado em 1979.

É a primeira mulher a governar a Coreia do Sul. Enfrenta, do outro lado do paralelo 38º N Kim Jong Un, neto do fundador da Coreia do Norte, o Grande Líder Kim Il Sung.

AMEAÇAS
Para se firmar como líder da ditadura comunista da Coreia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, Kim Jong Un fez testes de mísseis e, em fevereiro de 2013, o terceiro teste nuclear do país, que teria hoje de duas a seis bombas atômicas.

Diante de manobras militares conjuntas realizadas anualmente pelos EUA e a Coreia do Sul, em março de 2013, o regime stalinista norte-coreano ameaçou atacar os EUA e seus aliados, inclusive a Coreia do Sul e o Japão.

CHANTAGEM NUCLEAR
Desde que perdeu o patrocinador com o fim da URSS em 1991, a Coreia do Norte enfrenta sérios problemas de falta de comida e de energia. Faz uma chantagem nuclear com os EUA, ameaçando fazer a bomba atômica se não receber grandes ajudas em energia e alimentos.

Em 1994, o ex-presidente americano Jimmy Carter foi a Pyongyang e negociou pessoalmente com o veterano líder Kim Il Sung, veterano da Segunda Guerra Mundial, pouco antes de sua morte. Um acordo foi fechado pelo então presidente Bill Clinton para que a Coreia do Norte desarmasse seu programa nuclear.

Até hoje, o regime comunista norte-coreano violou 34 acordos e fez três testes nucleares, enquanto acredita-se que milhões de pessoas tenham morrido de fome.

IMPASSE
Este impasse permanente se mantém na Península Coreana porque a ninguém interessa aparentemente o colapso da Coreia do Norte. Para o regime comunista chinês, maior aliado e fiador, “a Coreia do Norte é a nossa Alemanha Oriental”. Como depois da queda do Muro de Berlim, a Alemanha Oriental acabou e também a URSS, o regime chinês não quer ser o único comunista no Leste da Ásia.

A China também sabe que o colapso da Coreia do Norte criaria forte instabilidade na região, prejudicando a economia.

A Coreia do Sul, observando o que aconteceu na reunificação da Alemanha, quando a Alemanha Ocidental era a terceira maior economia do mundo e enfrentou sérias dificuldades para integrar o Leste, teme os elevados custos de reabsorver uma Coreia do Norte em colapso. Gostaria que o Norte realizasse reformas econômicas no estilo chinês para se recuperar antes de uma possível reunificação.

Os EUA lutam contra a proliferação nuclear e o medo de que o Japão, onde os americanos jogaram duas bombas atômicas, resolva fazer armas nucleares para se preparar para enfrentar a ameaça da Coreia do Norte e uma China cada vez mais poderosa e assertiva.

RELAÇÕES COM O BRASIL
Os primeiros registros de imigrantes coreanos no Brasil datam de 1918. Mais coreanos chegaram nos anos 1950s, fugindo da Guerra da Coreia. A onda migratória mais forte começa em 23 de fevereiro de 1963.

Atualmente, estima-se em 50 mil o total de coreanos e descendentes no Brasil. Cerca de 92% se concentram no estado de São Paulo; 90% moram e trabalham na capital paulista. Cerca de 80% trabalham em lojas e confecções de moda feminina, especialmente no bairro do Bom Retiro.

RELIGIÃO
No Censo de 2007, quase a metade da população não declarou professor nenhuma religião; 29,2% se apresentaram como católicos (18,3% protestantes e 10,9% católicos) e 22,8% como budistas. Mas há uma grande espiritualidade na cultura coreana.

A liberdade religiosa é garantida pela Constituição, que não estabelece religião oficial. Houve conflitos entre budistas e confucionistas no início da Dinastia Yi, no fim do século 14, por causa do declínio do budismo, e entre confucionistas e cristãos nos séculos 18 e 19.

CULTURA
A cultura da Coreia foi fortemente influenciada pela China a partir da introdução do budismo, em 372, do confucionismo e do alfabeto chinês. A cultura chinesa trouxe a pintura em aquarela e nanquim, a cerâmica, a porcelana, a caligrafia, a literatura e as artes cênicas, como a dança e o teatro.

Com a industrialização, a urbanização e a globalização, é forte agora a influência da cultura popular ocidental.

ARQUITETURA
A arquitetura tradicional, também de origem chinesa, busca a harmonia com a natureza. O país tem nove sítios declarados patrimônio histórico da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura).

A arquitetura ocidental chegou no fim do século 19. Com a ocupação japonesa de 1910-45, vários prédios foram erguidos pelo invasor e depois derrubados por causa da revolta contra o Japão.

CULINÁRIA
A cozinha tradicional coreana se baseia no arroz, nas massas, no tofu, nos peixes e nas carnes. Toda refeição é acompanhada de arroz pequenos pratos como os banchan e por uma conserva de repolho fermentado apimentada chamada kimche.

A carne de cachorro é muito popular na Coreia. Pode ser apreciada em vários restaurantes.

ESPORTE
A arte marcial Tae Kwondo foi transformada numa espécie de esporte nacional pela ditadura militar dos anos 1950s e 1960s como uma maneira de afirmar a identidade nacional da Coreia do Sul. Desde 2000, é um esporte olímpico.

A Coreia do Sul organizou a Olimpíada de Seul, em 1988, e dividiu a Copa do Mundo de 2002 com o Japão.

O ex-jogador de basquete americano Dennis Rodman é o mais novo amigo de infância do ditador norte-coreano Kim Jong Un. Foi duas vezes visitá-lo em Pyongyang em 2013.

FUTEBOL
O futebol é o esporte mais popular; 41% dos sul-coreanos se declaram fãs. O beisebol ocupa o segundo lugar, com 25% das preferências.

A seleção sul-coreana vai a todas as Copas do Mundo desde 1986. Em 2002, tornou-se a primeira equipe da Ásia a chegar a uma semifinal, quando foi eliminada pela Alemanha. Acabou em quarto lugar, com uma ajuda dos juízes que anularam gols legítimos dos adversários nos jogos contra a Espanha e a Itália.

Em 2010, a Coreia do Sul foi eliminada pelo Uruguai nas oitavas de final.


Na Olimpíada de Londres, em 2012, a Coreia do Sul ficou com a medalha de bronze no futebol.