sábado, 1 de novembro de 2014

Rebeldes pró-Rússia fazem eleições no Leste da Ucrânia

As autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, no Leste da Ucrânia, realizam eleições neste domingo, 2 de novembro de 2014, uma semana depois das eleições parlamentares no país inteiro, organizadas pelo governo nacional ucraniano, que deram vitória aos partidos favoráveis à aproximação com o Ocidente. A Rússia - e só a Rússia - vai reconhecer o resultado das eleições dos rebeldes.

O objetivo é consolidar os movimentos separatistas insuflados pelo Kremlin, que lutam desde abril para anexar suas províncias à Federação Russa, a exemplo do que aconteceu com a Península da Crimeia em março, em flagrante desrespeito do governo Vladimir Putin ao direito internacional.

Putin não tem interesse em anexar as partes das províncias de Donetsk e Luhansk ocupadas pelos rebeldes. Quer manter a influência russa sobre toda a ex-república soviética da Ucrânia. Assim, a expectativa é de conflito de longo prazo parcialmente congelado entre a Ucrânia e a Rússia, e a Rússia e o Ocidente, em torno das relações entre as antigas repúblicas da União Soviética.

A crise ucraniana estourou em novembro de 2013, quando o então presidente Viktor Yanukovich suspendeu negociações de associação à União Europeia sob pressão de Putin, criou uma União Eurasiana para tentar resgatar um pouco do poder imperial soviético.

Um movimento de protesto saiu às ruas e tomou a Praça Maidan, no centro da capital, Kiev, gerando um impasse político que Yanukovich tentou resolver trazendo tropas de choque de reuniões de maioria étnica e linguisticamente russas para massacrar os rebeldes, que incluíam o grupo neonazista Setor de Direita.

Em meio ao caos, Yanukovich fugiu para a Rússia, que denunciou a segunda revolução ucraniana contra o jugo de Moscou desde o fim da URSS, em 1991, como um "golpe de Estado". A primeira foi a Revolução Laranja, em 2004, quando uma fraude tentou levar Yanukovich ao poder. Com a divisão entre os líderes da Revolução Laranja, os partidos pró-Rússia o elegeram primeiro-ministro em 2006 e presidente em 2010.

Desde a queda de Yanukovich, a Rússia nega legitimidade às novas autoridades da Ucrânia. Sob a alegação de que se trata de "um novo Estado", Putin ignorou o Memorando de Budapeste, assinado em 1994, para que a Rússia herdasse todo o arsenal nuclear soviético, comprometendo-se em troca a respeitar e defender a integridade territorial da Ucrânia.

Dias depois, no fim de fevereiro, paramilitares aliados à Rússia e soldados russos da base naval de Sebastopol, sede da Frota do Mar Negro da antiga URSS, dividida entre os dois países, tomaram o parlamento da supostamente autônoma região da Crimeia, região de maioria étnica russa.

Em 16 de março de 2014, um plebiscito não reconhecido internacional anexou a Crimeia à Federação Russia. Em cerimônia no Kremlin, no dia seguinte, Putin formalizou uma anexação proibida pela Carta da ONU, violando os princípios do direito internacional que proibem a guerra de conquista e a mudança de fronteiras pela força.

Como ninguém vai entrar numa guerra nuclear com a Rússia para resgatar a Crimeia, a sociedade internacional aceitou passivamente. No início de abril, foram as regiões de maioria russa do Vale do Rio Don que começaram a lutar pela independência com o apoio de Moscou. Em maio, houve plebiscitos não reconhecidos internacionalmente para criar as Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk. Os resultados oficiais deram 89% a favor da independência nas duas repúblicas.

Também em maio, o magnata Petro Porochenko, conhecido como o rei do chocolate, foi eleito presidente e decidiu lançar uma operação militar para retomar os territórios ocupados, sem sucesso. Mais de 3,6 mil pessoas morreram na guerra civil ucraniana desde então, sem que o governo de Kiev conseguisse restabelecer o controle sobre as áreas ocupadas pelo rebeldes apoiados pelo Kremlin.

Em 17 de julho, um míssil derrubou um voo Amsterdã-Kuala Lumpur da companhia aérea Malaysia Airlines, matando todas as 298 pessoas a bordo. A Rússia e a Ucrânia se acusaram pelo ataque ao avião de passageiros. Gravações pirateadas por serviços ocidentais supostamente revelam contatos entre rebeldes, que pensavam ter abatido um avião de transporte militar ucraniano, e militares russos.

O resultado preliminar do inquérito, realizado pela Holanda, concluiu que o avião foi abatido por um míssil, sem apontar responsáveis. A conclusão final deve ser apresentada em meados de 2015. Com esse prazo dilatado pululam teorias conspiratórias. O governo Putin insiste em que o Boeing foi abatido por aviões de caça da Ucrânia.

Quando o avião caiu, a televisão estatal Russia Today chegou a dizer que o alvo era o avião de Putin, que voltava de uma reunião de cúpula do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) no Brasil. Depois a mídia governista inventou toda a sorte de teorias conspiratórias, inclusive que se tratava do Boeing da Malásia que desaparecera meses antes no Oceano Índico quando fazia a rota Kuala Lumper-Beijim.

A expectativa para amanhã é de vitória dos atuais primeiros-ministros interinos de Donetsk, Alexander Zakharchenko, e de Luhansk, Igor Plotnitsky.

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