sábado, 26 de julho de 2014

Chanceler Figueiredo explica posição do Brasil

Esta foi a carta de resposta do ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, às críticas do embaixador Israel Klabin à posição do Itamaraty em relação à atual guerra entre o Estado de Israel e o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas):

Meu querido Israel,

Muito agradeço sua mensagem, pois me permite dar explicações ao amigo de tantos anos, a quem sempre respeitei e respeitarei. Sinto muito ter causado ofensa, pois isto jamais foi minha intenção. Peço sua paciência para arrolar algumas considerações:

- Em nota do dia 17 deste mes o Itamaraty condenou tanto os ataques de foguetes pelo Hamas contra Israel, quanto o ataque desproporcional israelense a Gaza, mantendo nossa postura de equilíbrio e reclamando o cessar fogo imediato e a solução de dois Estados, Israel e Palestina, vivendo em paz e segurança;

- a nova nota, datada de ontem, se prende à tragédia humanitária da morte de crianças, mulheres e idosos, em grande número, como consequência da luta;

- hoje dei várias declarações à imprensa, em que ressalto e reitero nossa condenação aos ataques do Hamas e defendi o direito de auto-defesa de Israel. Esclareci que nossa nota se prende à proporcionalidade da resposta israelense, diante da elevada perda de vidas na população civil. Morreram cerca de 200 crianças palestinas. Sejam palestinas, sejam israelenses, são 200 crianças.

- apesar de declarações destemperadas de um porta-voz israelense, optei por não polemizar, dizendo que povos e países amigos podem discordar eventualmente, e que isso deve ser feito sempre de maneira respeitosa;

- ressaltei que a amizade e as relações com Israel devem ser preservadas.

Você me conhece e sabe que não sou dado a radicalismos. Nem teria por que fazê-lo com relação a Israel. O Brasil é um belo exemplo de como as comunidades de origem judaica e árabe convivem em paz e harmonia. Acho apenas que criticar as ações de um governo não quer dizer criticar um país ou um povo. Não aceito que essas coisas se confundam. Tenho muitos amigos de origem judaica que são críticos do atual governo israelense, e em termos muito duros. Nem por isso suas críticas são consideradas ofensas.

Eu agradeço muito sua franqueza e respeito suas colocações. Peço ao amigo que também aceite as explicações que dou. Muito longe de mim ofender amigos tão queridos como meus amigos judeus. Muito menos, ofender uma pessoa como você. Mas quero ter o direito de discordar respeitosamente do governo israelense, quando for o caso, sem que isso seja lido como uma ofensa a todo um povo. A morte de um número elevado de mulheres, crianças e idosos é uma perda para todos, pouco importa sua origem.

Um abraço muito afetuoso,

Luiz Figueiredo

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