quarta-feira, 11 de junho de 2014

Meio milhão de iraquianos foge de Mossul

Pelo menos 500 mil iraquianos fugiram de Mossul, segunda maior cidade do Iraque, tomada por terroristas muçulmanos do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que lutam para criar um emirado extremista unindo Iraque, Síria e Líbano, depois de quatro dias de combate. As forças de segurança iraquianas abandonaram a cidade.

Com armas leves montadas em picapes que dão alta mobilidade, os jihadistas avançam. Tomaram Tikrit, terra natal do ditador Saddam Hussein, derrubado e executado depois de uma intervenção militar dos Estados Unidos, há dez anos, e já controlam cerca de metade do território iraquiano, afirmou há pouco em entrevista à televisão pública britânica BBC o professor Fawaz Gerges, especialista em Oriente Médio da London School of Economics.

O caos e a guerra sem fim no Iraque são consequências da invasão americana de 2003 para depor o ditador Saddam Hussein. Ao assumir o controle do país, os Estados Unidos destruíram a máquina do Estado. Dissolveram o Exército e a polícia, jogando milhares de pessoas com treinamento militar, na maioria sunitas, que compunham o núcleo central do regime, na clandestinidade e na luta armada.

A discriminação às pessoas ligadas ao antigo regime e a ascensão ao poder da maioria xiita (60% da população) marginalizaram os sunitas, estimulando a dissidência armada. O colapso da ordem estabelecida gerou anarquia, facilitando a infiltração de extremistas muçulmanos inspirados pela rede terrorista Al Caeda.

Depois de um ataque contra uma mesquita e santuário xiita na cidade de Samarra, em 22 de fevereiro de 2006, o conflito sectário entre sunitas e xiitas quase virou uma guerra civil total. Isso levou o então presidente americano George W. Bush a reforçar as tropas dos EUA, que conseguiram controlar a situação com o apoio de líderes tribais sunitas que não queriam ser governados pelo islamismo fundamentalista pregado pela Caeda.

Em 2008, Barack Obama, que foi contra a invasão do Iraque desde o início, elegeu-se presidente dos EUA prometendo acabar com as guerras no Iraque e no Afeganistão. Sem um acordo com o governo Maliki para garantir a imunidade dos soldados americanos, Obama retirou no fim de 2011 todos os militares americanos do Iraque, com a exceção de um contingente de 160 encarregados que garantir a segurança da embaixada em Bagdá.

Assim, se alguém é culpado pela situação no Iraque, não é mais culpado do que os EUA, que destruíram um Estado nacional e não o reconstruíram, deixando para trás um país arrasado, caótico e anárquico, à beira da guerra civil e da autodestruição.

A guerra civil na vizinha Síria, onde mais de 160 mil pessoas foram mortas nos últimos três anos, fomentou ainda mais a atuação de jihadistas em busca de uma "guerra santa", atraindo muçulmanos radicais do mundo inteiro, inclusive da Europa e dos EUA, que ao voltar para casa vão criar problemas. Com a relutância das potências ocidentais de apoiar os rebeldes moderados, os terroristas ganharam preeminência e passaram a ser as forças mais efetivas na guerra contra a ditadura de Bachar Assad.

Uma das desculpas furadas de Bush para invadir o Iraque, além das armas de destruição em massa nunca encontradas, foi uma suposta ligação entre Saddam e a rede terrorista Al Caeda, que havia atacado Nova York e o Pentágono em 11 de setembro de 2001. Saddam pode ter ajudado grupos terroristas palestinos, mas sempre perseguiu o fundamentalismo muçulmano.

Al Caeda e os outros grupos jihadistas nascidos em seu rastro não tinham nenhuma atuação no Iraque. Hoje, controlam a metade do território nacional e se aproximam de Bagdá. No momento, os jihadistas são os defensores dos sunitas no Iraque. Uma guerra civil entre sunitas e xiitas se alastra do Líbano, no Mar Mediterrâneo, até as cercanias da capital iraquiana. A invasão de Bush acabou tendo o resultado oposto ao pretendido.

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