terça-feira, 17 de junho de 2014

Irã: de império persa a república islâmica

A República Islâmica do Irã é resultado da Revolução Islâmica de 1979, que levou ao poder um regime autoritário dominado pelo clero muçulmano. O país, que até 1935 se chamava Pérsia, tem mais de 2 mil anos de História, desde o primeiro império multinacional. Os iranianos se consideram herdeiros do Império Persa. Suas ambições a potência regional e mundial se inspiram nessa tradição.

O Irã é uma potência regional no Oriente Médio, um dos maiores produtores e exportadores mundiais de petróleo. Depois de anos de sanções econômicas e militares por causa da suspeita dos Estados Unidos, de Israel e da União Europeia de que esteja desenvolvendo armas atômicas, o país abriu negociações com as cinco grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas (EUA, China, França, Reino Unido e Rússia) e a Alemanha.

O presidente Hassan Rouhani deu entrevista em 18 de setembro de 2013 e publicou artigo no jornal The New York Times em 20 de setembro de 2013 prometendo jamais fazer armas atômicas, poucos dias antes de discursar na Assembleia Geral da ONU, abrindo caminho para negociar a questão nuclear.

Agora, as negociações entram na etapa final, a mais difícil. As grandes potências exigem que o a república islâmica pare de enriquecer urânio e abra todas as instalações nucleares a inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

Neste momento, a ofensiva da milícia terrorista sunita Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), uma dissidência da rede terrorista Al Caeda, é outro fator de reaproximação entre os EUA e o Irã. Tropas de elite da Guarda Revolucionária Iraniana entraram no Iraque para apoiar o governo do primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki.

Ao mesmo tempo, o Irã apoia e a ditadura de Bachar Assad na guerra civil da Síria, posição contrária à dos EUA. Mas ambos se unem diante de um inimigo maior: o jihadismo sunita.

GEOGRAFIA
Com 1,648 milhão de quilômetros quadrados, o Irã fica no Sudoeste da Asia. É o país mais a leste do Oriente Médio, cercado por Armênia, Azerbaijão, Mar Cáspio (com Rússia e Casaquistão do outro lado) e Turcomenistão, a norte; Afeganistão e Paquistão, a leste; o Golfo Pérsico ao Sul e Sudoeste; e o Iraque e a Turquia, a oeste.

A maior parte do país é formada por platôs desérticos que ocupam o Centro e o Sudeste. As terras mais férteis ficam na região das montanhas de Elburz, no Norte, onde se cultivam produtos típicos como tâmaras, pistache e açafrão.

A capital, Teerã, fica ao sul da base dessas montanhas. Como as duas outras grandes cidades, Isfahã e Chiraz, combina a arquitetura moderna com prédios históricos.

POPULAÇÃO
Cerca de dois terços dos 77 milhões de iranianos vivem no Norte e no Oeste do país. É um país jovem. A idade média é de 27 anos.

De acordo o CIA World Factbook, 61% dos iranianos são persas, 16% azéris, 10% curdos, 6% lures, 2% árabes, 2% baluques e 2% turcomenos.

IDIOMA
A língua oficial é o persa ou farsi, falado por mais da metade da população. Por causa das minorias étnicas, também são falados o armênio, azerbaijano, curdo, turco, árabe e baluque.

RELIGIÃO
O xiismo é a religião oficial da República Islâmica. De 90% a 95% dos iranianos são muçulmanos xiitas, 4% a 8% muçulmanos sunitas e os outros 2% bahais, hindus, cristãos, judeus e zoroastristas.

POLÍTICA
Desde a Revolução Islâmica, o Irã, uma república unitária com um parlamento unicameral, a Assembleia Consultiva Islâmica (Majlis), com 290 deputados. O presidente é eleito diretamente para um mandato de quatro anos podendo ser reeleito uma vez.

Mas o poder de fato está com o Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica, na Guarda Revolucionária, no Conselho dos Guardiães da Revolução e no Conselho dos Sábios.

O primeiro líder supremo foi o aiatolá Ruhollah Khomeini, da vitória da revolução, em 1979, até sua morte, em 1989, quando foi substituído por Ali Khamenei, que está no poder até hoje.

Tanto nas eleições presidenciais quanto nas parlamentares de centenas a milhares de candidatos são vetados pelo Conselho dos Guardiães da Revolução. Só concorre quem é considerado aceitável pelo regime teocrático iraniano.

ECONOMIA
Com produto interno bruto de US$ 550 bilhões de dólares (estimativa de 2012, FMI) e uma renda per capita de US$ 13.127, o Irã tem uma economia baseada na propriedade estatal das jazidas de petróleo e gás, planejamento central e grandes empresas estatais em outros setores.

O Irã tem as maiores jazidas comprovadas de gás natural do mundo, 33,6 trilhões de metros cúbicos, e as terceiras maiores de petróleo, cerca de 150 bilhões de barris, 10% do total mundial. A produção nunca mais atingiu os 6 milhões de barris diários do período anterior à revolução de 1978-9.

A agricultura está organizada em aldeias e representa 10% do PIB. O setor privado explora os setores de comércio e serviços, que representam 51% da economia e também têm participação de estatais.

As sanções econômicas derrubaram o valor do rial, a moeda irania de 16 mil,  janeiro de 2012, para 36 mil, em junho de 2013, causaram inflação e desabastecimento. O salário mínimo em junho de 2013 era de US$ 134.

Cerca de 45% da arrecadação vêm dos setores de petróleo e gás; outros 31%, de impostos.

PRÉ-HISTÓRIA
O Irã se considera berço de uma das grandes civilizações da Humanidade. Os primeiros homens chegaram ao planalto iraniano há 100 mil anos.

O Oriente Médio foi um dos primeiros lugares onde aconteceu a Revolução Neolítica, quando o homem domesticou plantas e animais, e criou as primeiras aldeias agrícolas 6 mil antes de Cristo.

HISTÓRIA
A primeira dinastia foi constituída no reino elamita em 2700 AC. Em 1764 AC, o rei Hamurabi, da Babilônia, autor do Código de Hamurabi, uma das mais antigas leis escritas, tomou o reino de Elam.

Com o declínio da Babilônia depois da morte de Hamurabi, os elamitas recriaram seu reino. A Babilônia também acabou com o segundo reino elamita, quando Nabucodonossor I o invadiu. O reino do Elam foi restaurado e durou até 539 AC.

Os persas são um povo indo-europeu que migrou para a região por volta do ano 1000 AC. A primeira referência à palavra Pérsia, de 844 AC, está nos anais de Chalmanessar II, rei da Assíria.

IMPÉRIO PERSA
Em 625 AC, os medas ou persas unificaram o Irã, fundando o que seria o primeiro império multinacional da História. O período de maior glória do Império Persa começa com a ascensão de Ciro II, o Grande (559-530 AC), o primeiro rei da dinastia aquemênida, em 559 AC.

Assim que consolidou o poder no Irã, Ciro conquistou a Lídia e territórios a leste da Pérsia até o Turquestão, na Ásia Central, que inclui a região onde hoje ficam o Usbequistão, o Turcomenistão, o Tajiquistão, o Quirguistão e parte do Casaquistão. Seu sucessor, Cambisses II (530-522 AC), tomou o Egito em 525 AC.

O Império Persa atingiu o apogeu sob Dario I (522-486 AC), quando ia dos Bálcãs, na Europa, até o Vale do Rio Indo, incluindo o Egito, o Norte da Grécia, a Trácia, a Macedônia, a Ásia Menor, o Cáucaso e a Ásia Central. Dario impôs uma moeda única e dividiu o Império Pérsia em províncias, as satrapias, governadas pelo sátrapa.

GUERRAS GRECO-PÉRSICAS
Desde a queda da Lídia, em 546 AC, as colônias gregas na Jônia foram tomadas pelos persas. Em 499, começa a Revolta Jônica, apoiada por Atenas e Erétria, esmagada pelos persas entre 497 e 494 AC.

Em retaliação, em 490, Dario I resolveu mandar uma expedição punitiva às cidades-estado gregas gregas, iniciando as Guerras Médicas ou Guerras Greco-Pérsicas (490-479 AC), narradas pelo primeiro grande historiador, o grego Heródoto, no livro História.

Erétria foi destruída e saqueada, mas os atenienses e platenses, chefiados por Milcíades, conseguiram rechaçar a invasão na Batalha de Maratona, em setembro de 490 AC.

BATALHA DE MARATONA
Alertado para a iminência do ataque persa, Milcíades organizou a defesa e mandou, na versão de Heródoto, o soldado Feidípides pedir reforços a Esparta. Ele correu 200 quilômetros num dia para levar a mensagem.  Por razões religiosas, era o nono dia do mês no calendário lunar, os atenienses responderam que não ajudariam antes de seis dias.

Eram 10 a 15 mil gregos contra 25 mil persas em 600 barcos. Quando os gregos cercaram os invasores, receberam uma chuva de flechas. Foram obrigados a se jogar contra o inimigo, pressionando os persas que assim não puderam mais usar arqueiros, cavalaria e lanceiros. Estavam limitados a um combate corpo a corpo em que seus punhais e espadas não atravessam as couraças dos gregos.

Os gregos perderam 192 homens. Venceram, mas só capturaram sete barcos, o que permitiu a fuga do inimigo. Derrotados, com 6,4 mil mortos, segundo Heródoto, os persas voltaram para a Ásia.

SEGUNDA INVASÃO
Dez anos depois, em 480 AC, Xerxes I, filho de Dario, comandou uma invasão em grande escala. Atenas e Esparta resistiram, mas Tebas e outras cidades-estado mais fracas se submeteram ao Império Persa na Segunda Guerra Greco-Pérsica.

As persas venceram os gregos no desfiladeiro das Termópilas, invadiram e saquearam Atenas. Quando a esquadra ateniense comandanda por Temístocles destruiu a frota persa na Batalha de Salamina, em setembro de 480 AC, a guerra começou a mudar.

TREZENTOS DE ESPARTA
Na Batalha das Termópilas, durante três dias, em agosto ou setembro de 480 AC, houve a resistência liderada por Leônidas I e os 300 de Esparta, o episódio retratado no filme 300, com Rodrigo Santoro como um imperador Xerxes muito caricato.

O filme pode ser enquadrado numa demonização do inimigo durante a guerra de George W. Bush contra o terrorismo. Ajudaria a justificar um ataque ao programa nuclear iraniano.

Ansioso por uma batalha decisiva, Xerxes mandou seus navios tomarem o Estreito de Salamina. Eles se desorganizaram por falta de espaço e foram atacados. A armada grega liderada por Atenas destruiu a frota persa.

Xerxes voltou para a Pérsia, deixando Mardônio para conquistar a Grécia. Novas derrotas persas, na batalha terrestre de Plateias e na naval de  Mícalas (479 AC), deram a vitória final aos gregos .

GUERRA DO PELOPONESO
A vitória aconteceu durante o Período de Ouro da Grécia Antiga, mas levou a um imperialismo. Atenas formou a Confederação de Delos oferecendo proteção a cidades mais fracas. Esparta criou a Liga do Peloponeso para fazer o mesmo.

As duas principais cidades-estado da Grécia se enfrentaram na Guerra do Peloponeso (431-404 AC), contada por outro grande historiador grego Tucídides na História da Guerra do Peloponeso. Foi um conflito muito estudado durante a Guerra Fria.

Esparta venceu, mas foi derrotada por Tebas na Batalha de Leutra em 371 AC. Debilitadas, as cidades-estado gregas foram conquistadas por Felipe II, da Macedônia, em 338 AC, na Batalha de Queroneia.

ALEXANDRE
Alexandre III, o Grande, filho de Felipe, da Macedônia, é considerado um dos maiores generais de todos os tempos. Nunca perdeu uma batalha. Construiu um império conquistando a Síria, a Fenícia, a Palestina, o Egito, a Pérsia e parte da Índia. Foi o último ocidental a vencer no Afeganistão. E fundou Alexandria, que passaria a ser o maior centro cultural da Antiguidade por mais de 300 anos até ser substituída por Roma.

Na juventude, Alexandre Magno teve Aristóteles como preceptor. Aos 20 anos, com o assassinato do pai, tornou-se rei. Em 13 anos, comandou uma das maiores expansões territoriais da História, acumulando os títulos de xá da Pérsia, faraó do Egito e senhor da Ásia até morrer 40 dias antes de completar 33 anos, em 10 de junho de 323 AC, em Babilônia.

GRANDES BATALHAS
Em 334 AC, Alexandre atravessou o estreito de Dardanelos e empreendeu sua primeira campanha contra os persas na Batalha de Grânico que deu-lhe o controle da Ásia Menor (atual Turquia).

No ano seguinte, derrotou o rei Dario III na Batalha de Isso. Mais um ano depois, conquistou o Egito e Tiro, em 331 a.C. Completou a conquista da Pérsia na Batalha de Gaugamela (331 AC), onde derrotou definitivamente Dario III, o que lhe conferiu o estatuto de Imperador Persa.

Gaugamela é uma das grandes batalhas da História, estudada até hoje nas escolas militares. Eram 250 mil persas liderados por Dario contra 45 mil macedônios comandados por Alexandre. As forças persas se estendiam por uma faixa de 4 km de largura pronta a se fechar sobre os macedônias. Alexandre usou uma formação nunca vista antes num campo de batalha.

FIM DO IMPÉRIO PERSA
Ao queimar o palácio imperial em Persépolis, em 330 AC, Alexandre marcou simbolicamente o fim do primeiro grande império multinacional da História.

Os persas conseguiram formar um império tão vasto porque era descentralizado e tolerante com outras culturas e religiões. No tempo de Ciro, tinha quatro capitais, Passárgada, Babilônia, Susa e Ecbátana. Chegou a ter 30 satrapias (unidades administrativas). Sob Dario, a capital do império foi de Pasárgada para Persépolis.

ZOROASTRISMO
Durante o Império Persa, o zoroastrismo se tornou a principal religião do país. O zoroastrismo é uma religião monoteísta fundada pelo profeta Zaratustra, que os gregos chamavam de Zoroastro.

Para os historiadores, Zoroastro teria vivido entre 1750 a 1000 AC, embora seus seguidores digam que ele viveu no século 6 AC.

Seus conceitos religiosos sobre paraíso, ressurreição, juízo final e a vinda de um messias para salvar o mundo influenciaram o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, três das cinco grandes religiões da humanidade, todas as três nascidas no Oriente Médio.

O zoroastrismo defende um comportamento ético, recompensando com prosperidade nesta vida e imortalidade na próxima. Ainda é a religião dos parsis, um grupo perseguido pelos muçulmanos nos século 8 a 10 depois de Cristo que se refugiou na Índia.

INVASÃO MUÇULMANA
Depois da morte de Alexandre, seu império foi dividido pelos seus generais. A Pérsia ficou sob controle do Império Selêucida, sucedido pelo Império Parta, que dominou a Pérsia de 247 AC a 224 DC. O Império Sassânida (224-651) foi o último império persa antes da invasão muçulmana.

De 92 AC a 629 DC, as Guerras Romano-Pérsicas enfranqueceram o Império Parta e o Império Sassânida. Um exército muçulmano invadiu a região e derrotou os sassânidas em 633, 635 e 642, levando o islamismo à Pérsia.

HÉGIRA
A fuga do profeta Maomé (570-632) de Meca para Medina, em 622, conhecida como Hégira, é o marco de fundação do Islamismo, uma religião monoteísta seguida hoje por 1,3 bilhão de pessoas no mundo inteiro.

Como a Arábia vivia em estado de anarquia, desde o início o islamismo teve um projeto político para organizar a sociedade, em contraste com o cristianismo, nascido numa pequena província do vasto Império Romano.

Por isso, Jesus Cristo disse a quem tentou envolvê-lo numa campanha contra os impostos de Roma: “Dai a César o que é de César, e a Deus e o que é de Deus”. Maomé precisava organizar seu próprio Estado.

ISLAMISMO
A religião muçulmana tem cinco pilares, cinco obrigações que todo muçulmano deve cumprir:
1.     Aceitar Alá como único e verdadeiro Deus, e Maomé como seu profeta.
2.     Rezar cinco vezes por dia voltado na direção da cidade sagrada de Meca.
3.     Jejuar e manter o autocontrole do amanhecer ao escurecer no sagrado mês do Ramadã.
4.     Dar 2,5% de sua poupança aos pobres e necessitados.
5.     Peregrinar a Meca pelo menos uma vez na vida, se for capaz.

A solidariedade é a base do poder. A união é a única maneira de resistir ao assalto do imperialismo europeu. Foi a solidariedade produzida pelo Islã que transformou tribos distantes e desunidas numa força capaz de construir um império, tomando primeiro a Arábia e o Oriente Médio, depois o Norte da África e, de 711 a 1492, a Península Ibérica.

XIISMO
A grande divisão do islamismo entre sunitas e xiitas começa na luta pela sucessão do profeta Maomé. Em 28 anos após a morte do profeta, em 632, a divisão estava consolidada, ensina o jornalista Ali Kamel, no livro Sobre o Islã.

Abu Bacre, próximo de Maomé, mas sem parentesco, foi escolhido o primeiro califa. Algumas versões dizem que ele morreu de causas naturais; outras, que teria sido envenenado. Foi sucedido por Omar, esfaqueado e morto por um escravo.

Em 644, o trono foi oferecido a Ali ibn Abi Taleb, genro e sobrinho do profeta. Como exigiram que ele mantivesse as decisões dos antecessores, Ali rejeitou. Aceitaria o cargo 12 anos depois, quando foi assassinado Osman, o terceiro califa.

IMÃ ALI
Ali, considerado o primeiro imã do xiismo e o primeiro depois de Maomé, governou o Califado de 656 a 661, mas o sofreu a oposição do governador da Síria, Muauia, que o acusou de não ter resistido à revolta que matou Osman. Ele mudou a capital de Medina para Kufa, no atual Iraque.

Logo no início do califado, Ali enfrentou uma revolta em Bássora liderada por Aicha, a viúva de Maomé e três antigos companheiros do profeta que se sentiram preteridos com sua ascensão.

Em 661, Ali foi atacado quando fazia sua oração da manhã numa mesquita. Morreu dois dias depois.

Com a morte de Ali, a divisão se consolidou. Os sunitas, maioria desde aquela época, acreditam que a revelação acabou com a morte do profeta. Resta fazer o que manda o Corão, seguir a Suna (tudo o que o profeta fez e disse) e esperar o fim dos tempos.

Os xiitas também aceitam que a revelação acabou, mas entendem que o Islã tem segredos a que só um imã tem acesso. Literalmente, imã é “aquele que vai na frente”, um líder e um visionário. O primeiro imã foi Adão. Noé, Abraão, Moisés, Jesus e Maomé também foram imãs.

IMÃ HUSSEIN
Hassan, filho de Ali, seria o segundo imã xiita, mas abdicou em favor de Muauia, o primeiro chefe da dinastia omíada, que governaria até 750. Pelo acordo, o clã de Ali deveria voltar ao poder, mas Muauia nomeou seu filho Yazid I como sucessor, contrariando as pretensões de Hussein, filho de Ali e de Fátima, filha de Maomé.

Hussein saiu de Medina. Foi a Meca em busca de apoio. De lá, seguiu para Kufa para reivindicar o trono do califado. No caminho, sua caravana foi atacada, em 10 de outubro de 680. Hussein morreu e foi degolado na Batalha de Carbalá, que hoje fica no Iraque e é um dos principais lugares de peregrinação dos xiitas. Seu martírio é celebrado no Festival da Achura.

MEHDI
Como sempre deve haver um imã vivo na Terra, o 12º e último imã Mohamed al-Mehdi deve estar vivo e escondido à espera do momento de voltar para impor a justiça no mundo.

Esse milenarismo, a crença de um futuro redentor, aproxima de certa forma o xiismo do cristianismo, especialmente dos que acreditam numa segunda vinda de Jesus Cristo à Terra.

O imã Mehdi (Orientador) deve reinar por 7, 9 ou 19 anos até o Dia do Juízo Final, livrando o mundo de todos os males. O aiatolá rebelde iraquiano Muktada al-Sader batizou sua milícia de Exército Mehdi.

CALIFADO
Em 651, o assassinato do imperador Yazdgerd III marca o fim da era sassânida. Com o islamismo, o zoroastrismo passou a ser perseguido e seus seguidores fugiram para a Índia.

Desde o início do Califado Abácida em 750, houve um renascimento da cultura persa. A aristocracia árabe foi substituída por uma aristocracia persa.

A arte, a literatura, a filosofia e a medicina persas deram importantes contribuições para a civilização muçulmana que floresceu durante a Idade Média e a chamada Idade de Ouro Islâmica dos séculos 10 e 11, quando a Pérsia era o centro do desenvolvimento científico. Por causa da cultura nativa forte, a arabização nunca pegou.

INVASÕES
A Pérsia foi invadida pelos turcos no século 11 e pelos mongóis no século 13. A invasão mongol de Gengis Khan, de 1219-21, arrasou a Pérsia, matando de 10 a 15 milhões de pessoas, três quartos da população do país. Alguns historiadores alegam que a população iraniana só atingiu os níveis pré-invasão mongólica no século 20.

Em 1370, outro grande conquistador, Tamerlão, fundou uma dinastia que reinou por 156 anos.

RESTAURAÇÃO
A Pérsia moderna foi criada em 1500 pelo xá Abbas, fundador da dinastia safávida, seguida pelas dinastias Afjar e Kajar.

GRANDE JOGO
No século 19, a Pérsia foi envolvida no Grande Jogo, a disputa pela Ásia Central entre os impérios russo e britânico, que vai da queda de Napoleão, em 1815, ao acordo anglo-russo de 1907. A região foi dividida em áreas de influência dos dois impérios.

A Pérsia foi atacada pela Rússia em 1813 e 1828 e pelo Império Britânico em 1857. Vulnerável, fez concessões às potências imperiais que geraram conflitos internos.

BOICOTE AO TABACO
Em 1872, o xá Nasser al-Din Chah deu ao barão britânico Julius de Reuter o controle sobre estradas, telégrafo, indústrias e a exploração de recursos naturais. Sob pressão interna e dos russos, recuou.

Em 20 de março de 1890, o xá deu ao major britânico G. F. Talbot o monopólio total da produção, venda e exportação de tabaco por 50 anos, em troca do pagamento de 15 mil libras esterlinas por ano mais impostos.

A resposta foi o Boicote ao Tabaco, o primeiro movimento nacionalista de amplitude nacional, liderado pelo clero xiita em protesto contra concessões comerciais ao Império Britânico, em prejuízo dos comerciantes locais do bazar.

Em dezembro de 1891, o grão-aiatolá Mirza Hassan Chirazi baixou um decreto religioso proibindo o consumo de tabaco, alegando que violava a liberdade de comércio garantida na lei islâmica. Os comerciantes de toda a Pérsia fecharam  os bazares em sinal de protesto.

A concessão à Imperial Tobacco Company foi cassada em janeiro de 1892.

REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA
De 1905-8, aconteceu a Revolução Constitucionalista, inspirada pela derrota da Rússa para o Japão na Guerra do Pacífico, que levou à criação na Rússia da Duma do Estado (Câmara). Pela primeira vez, o Irã tem uma Constituição.

Em 1907, houve um amplo acordo para a formação de uma aliança entre os Impérios Britânico e Russo. Incluía a divisão do Afeganistão, do Irã e do Tibete em áreas de influência dessas potências europeias.

O petróleo foi descoberto em 1908. Em 1909, a monarquia Kajar foi restabelecida.

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Na Primeira Guerra Mundial, o país foi invadido por britânicos, otomanos e russos. Em 1917, surgiu uma guerrilha na província de Gilã que durou até 1921 e contribuiu para a fracassada tentativa britânica de impor um protetorado ao Irã.

Em março de 1921, Rez Khan tomou o poder num golpe de Estado apoiado pelo Império Britânico. Em 1925, ele afastou definitivamente a dinastia Kajar e se coroou o xá da nova dinastia Pahlevi. Um decreto de 1933 mudou o nome do país de Pérsia para Irã.

FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO
No período entre guerras, em 1928, o egípcio Hassan al-Bana fundou a Irmandade Muçulmana com o objetivo de reislamizar a umma, o conjunto de todos os muçulmanos, para livrá-los da influência do colonialismo ocidental.

Mais tarde, um de seus ideólogos, nos anos 1950s, Said Kutub, lançaria a ideia de que o mundo só tem salvação se todos os infiéis forem convertidos ao Islã. Kutub queria converter todo o mundo numa guerra santa permanente. Foi o pai espiritual do jihadismo, da revolução islâmica e da rede terrorista Al Caeda.

O fundamentalismo é um conflito interno dentro do islamismo para discutir qual a verdadeira interpretação do Alcorão, o livro sagrado.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, o Reino Unido e a União Soviética invadiram o Irã a pretexto de criar um corredor para fornecer suprimentos ao Exército Vermelho, derrubaram Reza Khan e colocaram seu filho Mohamed Reza Pahlevi no trono.

Com a ocupação soviética, que vai até 1946, nasceu o Partido Tudeh (Massas), o partido comunista iraniano.

NACIONALISMO E GOLPE
Em1951, foi eleito democraticamente o primeiro-ministro nacionalista Mohamed Mossadegh. A plataforma da Frente Nacional era retomar a exploração dos recursos do país. Ele nacionalizou o petróleo.

Uma conspiração britânica para defender os interesses da Anglo Iranian Oil teve o apoio de Dwight Eisenhower. Um golpe articulado pela CIA (Agência Central de Inteligência), o serviço de espionagem dos EUA, com o apoio do Reino Unido, derrubou Mossadegh e restaurou o poder de Pahlevi, em 1953.

ANTIAMERICANISMO
O antiamericanismo da revolução de 1979 tem origem na revolta contra o golpe que derrubou o governo nacionalista de Mossadegh.

A articulação golpista no Irã foi um bom treino para a CIA, que faria o mesmo na Guatemala em 1954, no primeiro golpe de Estado da Guerra Fria na América Latina.

Com o fracasso da nacionalização, em 1954, um consórcio de empresas transnacionais ocidentais liderado pela British Petroleum expandiu consideravelmente a capacidade produtiva do Irã.

SAVAK
Em 1957, com a ajuda dos serviços secretos dos EUA e de Israel, o xá criou sua temida polícia, a Savak, acusada pelas oposições por até 100 mil mortes. Era uma sombra permanente na vida do cidadão iraniano durante a ditadura. Foi outro motivo importante para a revolução de 1979.

Para o jornalista polonês Ryszard Kapuscinski, que cobriu 27 revoluções, inclusive a iraniana, e escreveu Xá dos Xás,  havia uma “simbiose patológica” entre Reza Pahlevi e seu povo que se manifestava no terror que a Savak provocava nos iranianos.

REVOLUÇÃO BRANCA
Em 1961, o xá lança a Revolução Branca, um programa modernização conservadora, com aumento da produção industrial, reforma agrária e uma campanha de alfabetização.

Ao mesmo tempo, os partidos de oposição que resistiram foram silenciados e marginalizados pela ditadura de Reza Pahlevi, que fechou o Majlis (Parlamento).

As reformas da Revolução Branca foram colocadas em plebiscito e aprovadas em 1963. A reforma agrária distribuiu terras a 2,5 milhões de famílias, reduzindo a influência do clero conservador nas zonas rurais.

O xá fez campanha de saúde e alfabatização no interior, diminuiu a autonomia dos grupos tribais e promoveu reformas sociais e legais para ocidentalizar o país e diminuir a influência religiosa. Deu, por exemplo, mais poder às mulheres, que ganharam o direito de voto.

Um Poder Judiciário secularista tirou a força dos ulemás sobre a Justiça e a jurisprudência. A secularização do ensino também diminuiu a força do clero muçulmano. Mas só restavam partidos submissos a Pahlevi. A Frente Nacional fora marginalizada e o Partido Tudeh (comunista), declarado ilegal.

AIATOLÁ
Em 1963, um então obscuro professor de filosofia na cidade sagrada de Kom que tinha o título honorífico de aiatolá chamado Ruhollah Khomeini criticou duramente a Revolução Branca. O governo atacou a madrassa, matou vários alunos e prendeu Khomeini, que fugiu em 1964 para o exílio na Turquia, no Iraque e finalmente na França.

Durante seus anos no exílio, Khomeini manteve contato com seus colegas iranianos. Sob a inspiração do egípcio Said Kutub, o pai espiritual da rede terrorista Al Caeda, enforcado no Egito em 1966, durante a ditadura de Gamal Abdel Nasser, Khomeini desenvolveu sua teoria sobre um Estado islâmico governado pelo clero.

Khomeini traduziu os livros de Kutub para o farsi (persa) e foi o primeiro a aplicar suas ideias na prática.

LEI ISLÂMICA
Said Kutub defendia uma purificação das sociedades islâmicas para afastar qualquer influência ocidental. Ao aplicar leis laicas e seculares em vez da Charia, a lei islâmica, derivada diretamente do Corão, todos os países muçulmanos seriam apóstatas.

Para Kutub, “a religião é realmente a declaração universal da liberdade dos homens diante da servidão imposta por outros homens e por seus próprios desejos, que é outra forma de servidão humana. (…) A soberania pertence a Alá. Só Ele é o Senhor de todos os mundos.”

Assim, “todo sistema no qual as decisões finais são de seres humanos, nos quais as fontes da autoridade são humanas, deificam os seres humanos por designarem outros que não Deus como soberanos sobre os homens. A autoridade usurpada de Deus deve ser devolvida a Ele e os usurpadores devem ser expulsos – aqueles que por si próprios tramam leis para os outros, elevando-se ao status de senhores e reduzindo os outros a escravos. Em suma, proclamar a autoridade e a soberania de Alá significa eliminar todo o domínio humano e anunciar a lei Daquele que sustenta o universo sobre o mundo inteiro, nos termos do Corão”, escreveu Kutub no livro Os Marcos (1964).

Os conceitos de república e revolução não existem no Corão. Por isso, o professor Fred Halliday, especialista em Oriente Médio do Departamento de Relações Internacionais da London School of Economics, argumentava que “o fundamentalismo islâmico é uma espécie de populismo político que pesca no mar do Corão elementos para justificar sua filosofia autoritária”.

PRIMEIRA CRISE DO PETRÓLEO
A derrota humilhante dos árabes diante de Israel na Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973, levou o rei Faissal, da Arábia Saudita, a propor um boicote à venda do petróleo árabe aos países ocidentais aliados de Israel.

O boicote causou a primeira crise do petróleo. O preço internacional do barril quadruplicou rapidamente, passando de U$ 3 para US$ 12. Isso gerou um grande aumento de renda nos países exportadores de petróleo.

Pahlevi lançou o projeto Grande Civilização, prometendo recriar o passado de glórias do Império Persa. Mas, em 1975, aboliu o sistema multipartidário, impondo uma ditadura de partido único.

CORRUPÇÃO
O Xá dos Xás, um dos títulos de Pahlevi, gastou US$ 100 milhões, reportou o jornal The New York Times, em 1971, para celebrar os supostos 2500 anos da monarquia iraniana.

Em 1976, o xá irritou os religiosos ao mudar do calendário islâmico para o imperial. O primeiro dia do calendário iraniano seria a data da conquista da Babilônia por Ciro e não e da fuga de Maomé de Meca para Medina.

PROTESTOS
Em outubro de 1977, diante da crise econômica e da corrupção de ditadura de Reza Pahlevi, começa uma onda de manifestações de massa da oposição ao xá que se fortalece a partir de janeiro de 1978.

Esquerdistas, liberais e tradicionalistas muçulmanos se uniram. De agosto a dezembro de 1978, uma onda de manifestações e greves no setor de petróleo parou o país.

SEXTA-FEIRA NEGRA
A Sexta-Feira Negra, 8 de setembro de 1978, foi decisiva. Naquele dia, o Exército do Irã, totalmente despreparado para conter manifestações populares, atirou contra a multidão. Pelo menos 88 pessoas foram mortas.

REVOLUÇÃO
Diante do massacre, acabou qualquer possibilidade de acordo com a oposição. No dia seguinte, começou a greve no setor de petróleo que selou a sorte da monarquia. Kapucinski observou que “os iranianos perderam o medo”.

O xá fugiu em 16 de janeiro de 1979. Khomeini se recusava a voltar ao Irã enquanto Pahlevi estivesse no trono. Chegou em triunfo em 1º de fevereiro de 1979 e foi aclamado líder espiritual da revolução. Em 1º de abril, proclamou a fundação de uma república islâmica.

REVOLUÇÃO TRAÍDA
Logo, o clero muçulmano xiita começou a afastar liberais, esquerdistas e intelectuais que lutavam contra o xá de cargos no novo regime, e a promover a volta dos costumes tradicionais conservadores.

A Lei de Proteção à Família, que dava direitos à mulher, foi revogada. Comitês revolucionários patrulhavam as ruas impondo seus códigos morais e de vestuário islamitas radicais na base da justiça sumária.

Em dezembro de 1979, um referendo sobre a nova Constituição transformou o Irã numa república islâmica. Khomeini foi nomeado Supremo Líder Espiritual da Revolução Islâmica.

EMBAIXADA
No caos pós-revolucionário, em 4 de novembro de 1979, guardas revolucionários invadiram a Embaixada dos EUA em Teerã, sequestraram os 66 funcionários e diplomatas. O governo Jimmy Carter autorizou uma operação para libertar os americanos, que fracassou e ajudou a eleger Ronald Reagan.

Carter foi o único presidente que não mandou tropas realizarem intervenções militares na História dos EUA. Sua única tentativa foi essa operação de comandos da Força Delta no Irã.

ÁGUIA SEM GARRAS
A Operação Garra de Águia tentou resgatar os reféns em 24 de abril de 1980. Só cinco dos oito helicópteros enviados chegaram à base de apoio, no meio do deserto, em condições técnicas. Um teve problemas hidráulicos. Outro foi danificado por uma tempestade de areia fina.

Durante o planejamento, ficara decidido que a missão seria abortada se menos de seis helicópteros estivessem em condições, embora fossem necessários apenas quatro. Numa decisão discutida até hoje, os comandantes pediram autorização para abandonar a missão. Carter concordou.

Quando a força estava se retirando, um helicóptero bateu num avião de transporte com soldados e combustível, que explodiu em chamas e matou oito soldados. Uma fracasso total.

A ocupação da embaixada durou 444 dias, até a posse de Ronald Reagan, em 20 de janeiro de 1979. Só aí foram soltos os últimos 52 reféns.

SEGUNDA CRISE DO PETRÓLEO
Em 1978, a produção de petróleo do Irã caiu de 6 milhões de barris diários para 1,5 milhão para derrubar o xá. A partir de 9 de setembro, uma greve total selou o destino da monarquia iraniana.

O caos pós-revolucionário impediu a recuperação do setor. Em um ano a partir da vitória da revolução, o barril de petróleo chegou a US$ 39,50, o maior preço real até 7 de março de 2008.

Com o início da Guerra Irã-Iraque, a produção dos dois países e o comércio marítimo caíram ainda mais, reduzindo a oferta de petróleo no mercado internacional.

Em 1980 os preços do petróleo entraram num ciclo de 20 anos de queda, que atingiu o mínimo, menos de US$ 10 o barril, em 1998, depois da crise financeira no Sudeste Asiático, uma grande perda de receita para economias dependentes do petróleo.

LUTA INTERNA
A Revolução Islâmica degenerou num conflito entre os aiatolás, defensores de um governo teocrático, e os civis a favor de separação entre a religião e o Estado.

Em 1981, houve combates entre a Guarda Revolucionária e os Mujahedin do Povo, braço armado do partido comunista (Tudeh). Pelo menos 13 mil pessoas foram mortas nesse conflito sobre o destino da revolução iraniana.

O presidente Abdul Hassan Bani Sader, tentou resistir aos aiatolás. Foi afastado num processo de impeachment em 21 de junho de 1981.

GUERRA IRÃ-IRAQUE
Em 22 de setembro de 1980, o ditador do Iraque, Saddam Hussein, invadiu o Irã com o apoio dos EUA, da URSS, da Europa e do mundo árabe – todos interessados no fim da república dos mulás e aiatolás.

Saddam temia que a revolução islâmica chegasse aos xiitas do Iraque. Usando como pretexto um antigo litígio sobre o Rio dos Árabes (Chat al-Arab), que se forma na confluência dos rios Tigre e Eufrates e deságua no Golfo Pérsico, invadiu o Irã.

A Guerra Irã-Iraque durou até 20 de agosto de 1988. Foi a mais longa guerra convencional do século 20 e o pior conflito da história recente do Oriente Médio, com total de mortos estimado em mais de 1 milhão.

Com equipamento militar inferior, os iranianos das milícias Bassij movidos pela fé revolucionária atacavam em ondas humanas prontas para o martírio, glorificado no xiismo.

Em julho de 1982, o Irã havia recuperado seus territórios, principalmente a Península de Fao, e partia para a ofensiva. Saddam propôs um cessar-fogo, rejeitado por Khomeini.

GUERRA DAS CIDADES
Sem sucesso no campo de batalha, o Iraque lançou uma guerra das cidades, bombardeando o Irã com mísseis e a Força Aérea. Saddam tinha perdido a maioria de seus aviões no início da guerra, em 1980-81, mas refez a Força Aérea com caças MiG e bombardeiros Sukhoi, da URSS.

Em 7 de fevereiro de 1984, Saddam mandou bombardear 11 cidades iranianas, atingindo alvos civis e comerciais. Os ataques foram até 22 de fevereiro e mataram cerca de 1,2 mil civis.

GUERRA DOS PETROLEIROS.
Em 1984, começou a Guerra dos Petroleiros. Saddam decidiu bombardear os navios-tanque iranianos para pressionar o Irã a fechar o Estreito de Ormuz e provocar assim uma intervenção dos EUA.

O presidente americano Reagan prometeu garantir a liberdade de navegação na rota onde passava grande parte do petróleo exportado. O Irã contra-atacou petroleiros da Arábia Saudita e do Kuwait, que apoiavam o Iraque.

Uma frota de guerra dos EUA entrou no Golfo Pérsico ao lado dos árabes. Um terço da marinha do Irã foi a pique.

Em 17 de maio de 1987, um avião Mirage F-1 iraquiano disparou um mísseil Exocet contra a fragata americana Stark, matando 37 militares dos EUA, que na época não fizeram um ataque punitive contra Saddam.

O pensador radical americano Noam Chomsky comentou que os únicos países que atingiram navios de guerra dos EUA sem receberem resposta foram Israel, em 1967, e o Iraque de Saddam Hussein, em 1987.

A seguradora Lloyd’s, de Londres, registrou 430 mortes de marinheiros civis em ataques contra 546 navios comerciais na Guerra dos Petroleiros.

ARMAS QUÍMICAS
A partir de 1987, o Iraque usou armas químicas, a começar pela cidade curda de Sardasht, matando dez pessoas, ferindo 650 e causando doenças em 25% dos 200 mil habitantes.

Um tribunal iraniano condenou os EUA, acusando-os de vender as armas a Saddam e fixou uma indenização em US$ 600 milhões.

No fim de guerra, em março de 1988, Saddam lançaria um ataque químico contra Halabja, no Curdistão iraquiano, matando 6 mil pesssoas. Foi um ataque cinco vezes pior em número de mortos do que o bombardeio à periferia de Damasco em 21 de agosto de 2013, na guerra civil da Síria, sem que na época a sociedade internacional tomasse qualquer atitude contra Saddam.

De abril de 1987 até o fim da guerra, em 20 de agosto de 1988, as forças de Saddam destruíram 4 mil das 4.655 aldeias curdas, matando entre 50 e 100 mil civis na Operação Anfal.

GUERRA NO LÍBANO
Como todo regime revolucionário, logo a república islâmica passou a exportar sua ideologia. O Líbano, em guerra civil desde 1975 entre cristãos e muçulmanos, com grande população de refugiados palestinos, era um terreno fértil para a luta ideológica.

Em 6 de junho de 1982, Israel invadiu o Líbano sob o comando do ministro da Defesa, Ariel Sharon, três dias depois que o embaixador israelense em Londres foi baleado pelo grupo terrorista liderado pelo palestino Abu Nidal.

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP), chefiada por Yasser Arafat, negou responsabilidade, mas Israel invadiu o Líbano para expulsar a OLP e permitiu o Massacre de Sabra e Chatila, dois campos de refugiados palestinos em Beirute atacados por falangistas cristãos com cobertura israelense, em 18 de setembro de 1982.

PARTIDO DE DEUS
A milícia fundamentalista xiita Hesbolá (Partido de Deus) nasceu na Embaixada do Irã em Damasco, na Síria, para resistir à intervenção de Israel e de outras potências no Líbano.

Em 23 de outubro de 1983, um atentado com caminhão-bomba contra o quartel-general do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA no Líbano matou 241 militares americanos, sendo 220 fuzileiros navais.

Foi o maior número de fuzileiros navais mortos num dia desde a Batalha de Iwo Jima, uma das mais ferozes da Segunda Guerra Mundial, em fevereiro e março de 1945. Foi o maior número de soldados dos EUA mortos num dia desde o primeiro dia da Ofensiva de Tet, no Vietnã, 30 de janeiro de 1968.

No mesmo dia, outro caminhão-bomba explodiu no QG da Legião Estrangeira da França, matando 58 militares franceses. Depois de uma série de atentados suicidas, os EUA e a França, em 1984, e Israel, em 1985, retiraram suas forças do Líbano.

Com o Hesbolá e sua doutrina que glorifica o martírio, o terrorismo suicida entrava definitivamente nas guerras do Oriente Médio.

CRISE DOS REFÉNS
Dentro da Guerra Civil Libanesa (1975-90), houve uma onda de sequestros. De 1982 a 1992, 96 estrangeiros de 21 países, na maioria americanos e europeus, foram mantidos reféns. Pelo menos oito morreram no cativeiro.

ESCÂNDALO IRÃ-CONTRAS
Como alguns reféns ficaram anos sequestrados, os EUA e outras potências ocidentais fizeram negociações secretas para tentar libertá-los.

Isso provocou o Escândalo Irã-Contras, que estourou em novembro de 1986, no segundo governo Ronald Reagan: a venda ilegal de armas ao Irã, especialmente peças de reposição de armas fabricadas nos EUA, em troca da libertação de sete reféns americanos no Líbano.

Parte do lucro da operação foi desviada para financiar os contras, os rebeldes que lutavam contra a Revolução Sandinista na Nicarágua.

FIM DA GUERRA
Em 21 de julho de 1988, finalmente, o aiatolá Khomeini aceitou as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas e anunciou o fim da guerra: “Tomar esta decisão foi mais mortal do que tomar veneno. Eu me submeti à vontade de Deus e tomei esta bebida para Sua satisfação.”

No início do conflito, Khomeini tinha declarado uma guerra santa até a vitória final, com a queda de Saddam Hussein. Aceitou um empate depois de oito anos de desgaste.

Os críticos da tese do choque de civilizações citam a Guerra Irã-Iraque como exemplo de um conflito entre países próximos em todos os sentidos.

JURADO DE MORTE
No seu quarto romance, Os Versículos Satânicos, lançado em 1988, o escritor indiano naturalizado americano Salman Rushdie foi acusado de ofender o profeta Maomé. Há um personagem, um fanático religioso exilado em Paris, claramente inspirado em Khomeini.

É um livro sobre identidade, alienação, desenraizamento, brutalidade e conformismo sob a ótica de imigrantes que vão para o Reino Unido.
Em 14 de fevereiro de 1989, o aiatolá Khomeini baixou um decreto religioso (fatwa) condenando Rushdie à morte por blasfêmia, ofensa ao profeta e ao Islã. Durante anos, ele foi obrigado a se esconder, com a ajuda do serviço secreto britânico e depois do americano.

Khomeini morreu em 3 de junho de 1989. Cerca de 3,5 milhões de pessoas participaram de seus funerais. Se a revolução iraniana teve as maiores manifestações de massa da História, o enterro do aiatolá foi uma das maiores, talvez a maior.

NOVO LÍDER SUPREMO
Com a morte de Khomeini, em 4 de junho de 1989, o aiatolá Ali Khamenei, que havia sido presidente de 1981-89, torna-se o Supremo Líder Espiritual. Tem fama de linha dura, mas um perfil publicado na revista Foreign Affairs (SetOct 2013) revela um aiatolá mais flexível, talvez para alimentar a esperança de um acordo sobre o programa nuclear do Irã.

A visão de mundo de Khamenei foi forjada pelo golpe de 1953 contra o primeiro-ministro nacionalista Mossadegh. Ele acredita que os EUA sempre estiveram determinados a acabar com a revolução iraniana.

“Khamenei sempre foi um crítico da democracia liberal e pensa que o Ocidente e o capitalismo estão num inevitável declínio de longo prazo. Mais ainda, vê os EUA como intrinsecamente islamofóbicos”, escreve na revista o jornalista e dissidente iraniano Akbar Ganji.

“Mas ele não é automaticamente antiocidental e antiamericano. Não acredita que os EUA e o Ocidente sejam responsáveis por todos os problemas do mundo islâmico, que devam ser destruídos e que o Corão e a Charia sejam suficientes para resolver todos os problemas do mundo moderno. Considera a ciência e o progresso a ‘verdadeira civilização ocidental’, e gostaria que o povo iraniano aprendesse esta verdade”, diz o perfil.

Para penetrar na mente ocidental, o aiatolá usa a literatura. É fã de A Divina Comédia, A Cabana do Pai Tomás, As Vinhas da Ira e sobretudo de Os Miseráveis, de Vítor Hugo, que considera “um livro de sociologia, de história, crítica, um livro divino, um livro de amor e sentimento” e A Cabana do Pai Tomás, “uma das obras de arte mais trágicas. Ainda é uma história viva 200 anos depois”.

Khamenei, conclui o jornalista, “não é um maluco irracional esperando uma oportunidade para a agressão. Mas suas visões profundamente enraizadas e sua intransigência devem tornar qualquer negociação difícil e prolongada”.

MODERADOS NO PODER
Se o decreto de morte de Rushdie representava uma vitória da linha dura dentro da eterna luta interna do regime fundamentalista iraniano, em 1997, foi eleito presidente o aiatolá moderado Mohamed Khatami, com 69% dos votos.

Em 1998, Khatami retirou o apoio à morte de Rushdie e autorizou as mulheres a pleitearem bolsas de estudo no exterior.

Sem poder de fato diante do clero conservador, Khatami foi reeleito em 2001 pela mesma aliança de mulheres, esquerdistas, liberais e intelectuais descontentes com a ditadura dos aiatolás, confirmando a vontade popular por reformas, sem conseguir mudar o regime.

EIXO DO MAL
Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Walker declarou “guerra ao terror”, na verdade guerra contra o terrorismo dos extremistas muçulmanos.

Em 29 de janeiro de 2002, no Discurso sobre o Estado da União, a prestação de contas anual do presidente ao Congresso dos EUA, Bush denunciou a existência de um suposto “eixo do mal” de países que patrocinariam o terrorismo e estariam desenvolvendo armas de destruição em massa: Irã, Iraque e Coreia do Norte.

O Irã ainda foi acusado pelos EUA de desestabilizar o oeste do Afeganistão e de dar refúgio a militantes da rede terrorista Al Caeda. Como Bush invadiu o Iraque em 2003, o Irã e a Coreia do Norte ficaram de sobreaviso.

AHMADINEJAD
Em 2005, em meio a um endurecimento do regime por causa das ameaças de Bush, o ex-prefeito de Teerã Mahmoud Ahmadinejad, um linha-dura de fora do núcleo íntimo do poder, ganhou a eleição presidencial no segundo turno.

Com um discurso radical, Ahmadinejad negou o Holocausto e ameaçou “varrer Israel do mapa”, o que só poderia ser feito com armas nucleares, no momento em que o Irã era acusado de desenvolver armas nucleares. Também hostilizou mulheres e gays, chegando a dizer que não havia homossexuais no Irã.

REVOLUÇÃO VERDE
A reeleição de Ahmadinejad no primeiro turno, em 12 de junho de 2009, derrotando o candidato do Movimento Verde Mir Hussein Mussavi, ex-primeiro-ministro na presidência de Khamenei por 62% a 34%, deflagrou uma onda de protestos e denúncias de fraude corroboradas por estudo de Ali Ansari, do Royal Institute of International Affairs (RIIA), a Chatham House, de Londres.

Houve várias suspeitas de irregularidades. Toda a apuração, centralizada no Ministério do Interior, foi realizada em horas. Os percentuais de votação não se alteraram significativamente ao longo da apuração. O ex-candidato a presidente Mehdi Karroubi, terceiro colocado em 2005 com 17,3% no primeiro turno, quando Ahmadinejad recebeu 19,5%, teve 0,38% em 2009.

Tudo apontava fraude e manipulação eleitoral, mas não houve prova concreta, talvez por falta de uma investigação independente. Os tribunais aceitaram algumas alegações que não mudaram o resultado.

Em 16 de junho de 2009, o Conselho dos Guardiães da Revolução anunciou que uma recontagem de 10% dos votos confirmava o resultado inicial. Multidões saíram às ruas para contestar o resultado.

O regime reagiu ferozmente, colocando a milícia Bassij, o braço clandestino da Guarda Revolucionária, para atacar os manifestantes e o alojamento estudantil da Universidade de Teerã. Pelo menos 32 pessoas foram mortas. O caso mais famoso foi da estudante de medicina Neda Agha Soltan, baleada diante das cameras em 20 de junho de 2009.

O Movimento Verde foi reprimido e seus líderes, Moussavi e Karroubi, colocados em prisão domiciliar, mas o segundo governo Ahmadinejad foi um fracasso por causa do isolamento internacional e das sanções dos EUA, que causaram forte desvalorização do rial, inflação e desabastecimento.

PROGRAMA NUCLEAR
O programa nuclear iraniano começou em 1975, sob o xã Reza Pahlevi, com o objetivo de produzir energia atômica para fins pacíficos e dominar a tecnologia nuclear.

O governo do Irã nega, mas o jornalista e historiador Dilip Hiro afirma que o aiatolá Khomeini era contra a bomba atômica, que considerava uma arma anti-islâmica por matar indiscriminadamente culpados e inocentes. Em 1987, diante da Guerra das Cidades, dentro da Guerra Irã-Iraque, Khomeini teria autorizado o desenvolvimento da bomba atômica.

Os EUA, a União Europeia e Israel estão convencidos de que o Irã está fazendo a bomba. Já instalou milhares de centrífugas para enriquecer urânio, apesar de estar proibido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Já consegue enriquecer urânio a teores de 20%, usados em reatores de pesquisas médicas.

Para fazer uma bomba, é necessário enriquecer urânio-235 num teor acima de 90%. O Irã está a caminho. Os EUA e a UE pressionam para que o país aceite um regime de inspeções de surpresa da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Não há provas concretas de que o Irã esteja fazendo a bomba, mas o país não responde a todas as perguntas da AIEA, orgão da ONU, nem aceita inspeções irrestritas.

As suspeitas aumentaram porque o Irã estaria fazendo simulações de explosões nucleares em computador, um primeiro passo rumo a um teste, e tentando desenvolver gatilhos para disparar armas atômicas.

Isso alarma especialmente Israel, que teria pedido autorização ao presidente George W. Bush para atacar as instalações nucleares do Irã. Bush negou. Israel precisaria de armas nucleares táticas americanas para furar a rocha e penetrar em abrigos subterrâneos onde os iranianos esconderiam seus segredos nucleares.

Para boicotar o programa nuclear iraniano, os serviços secretos dos EUA e Israel infectaram os computadores do Irã com vírus e vermes de computadores como o Stuxnet. A guerra cibernética já está em marcha.

DIÁLOGO
Sob o cerco das rigorosas sanções econômicas impostas pelos EUA e aliados, a economia do Irã enfrenta uma das piores crises de sua história. Isso ajudou a eleição do moderado Hassan Rouhani em 14 de junho de 2013 no primeiro turno com 51% dos votos válidos.

O novo presidente deu vários sinais de que deseja romper o isolamento do país e iniciou um diálogo com os EUA sobre o programa nuclear. Ele admitiu abrir a central de enriquecimento de Fordo, encravada numa montanha da província de Kom, num gesto de boa vontade.

Rouhani, ex-assessor de Khamenei, teria carta branca do Supremo Líder para negociar com os EUA. Anunciou essa mudança de posição na Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2013.

Mas alguns analistas acreditam que o controle do programa nuclear militar esteja com a Guarda Revolucionária, que vai relutar em abrir mão dele.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, vê com suspeita qualquer negociação, temendo que seja apenas uma manobra para ganhar tempo e logo fazer um teste nuclear, apresentando a bomba como fato consumado.

RELAÇÕES COM O BRASIL
Em parceria com o primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, o presidente Lula tentou negociar uma saída para o impasse em torno do programa nuclear do Irã, sugerindo que o Irã entregasse seu urânio para enriquecimento no exterior.

A proposta, anunciada em 17 de junho de 2010, poderia ser um início do diálgo que agora começa. Os EUA e as outras cinco grandes potências com direito de veto no Conselho de Segurança da ONU preferiram aprovar dias depois uma nova resolução endurecendo o embargo ao Irã.

Em julho de 2010, o presidente Lula ofereceu asilo a Sakineh Ashtiani, condenada à morte por lapidação (pedradas) por suposto adultério e morte do marido.

No governo Dilma Rousseff, a presidente reduziu o relacionamento com um regime que discrimina a mulher e não a trataria com a mesma deferência dada a um homem.

CULTURA
Poucos países tem uma tradição cultural de 2,5 mil anos como o Irã, herdeiro da Pérsia. A cultura persa domina, mas como o Irã é um país multiétnico há influência armênia, azerbaijana, turca e curda.

O Irã preserva joias arquitetônicas da Antiguidade como a cidade de Persépolis, capital do Império Persa, tombada pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) como patrimônio cultural da humanidade.

Isfahã, Teerã, Chiraz e Kom também tem prédios históricos de alto valor arquitetônico.

Durante o período áureo da arte e da ciência muçulmana na Idade Média, nos séculos 10 e 11, a influência cultural da Pérsia se estendia ao Império Bizantino, à Índia, à China, à Africa e à Europa Ocidental. Teve grande impacto sobre a arte medieval na Ásia e na Europa. O persa era considerado a língua culta da época.

A Pérsia era um centro da caligrafia, da literatura, da música, da escultura, da pintura e da cerâmica.

LITERATURA
A literatura persa influenciou clássicos como Ralph Waldo Emerson e Wolfgang Goethe. Houshang Moradi-Kermani é o mais traduzido escritor iraniano moderno. Também é importante o poeta Ahmad Shamlou.

Um livro recente que ficou famoso foi Lendo Lolita em Teerã, da escritora e professora Azar Nafisi, que conta sua experiência de voltar ao país depois da revolução islâmica e dar aulas em universidades até sair novamente do Irã em 1997.

O livro fala de sua experiência na Universidade de Teerã, de onde Nafisi foi expulsa em 1979 por se recusar a usar o véu islâmico, da vida durante a Guerra Irã-Iraque, das aulas em outras universidades, da formação de um clube do livro e da decisão de deixar o país.

No clube do livro, Azar Nafisi e sete estudantes do sexo feminino se encontravam semanalmente na casa da professora para discutir literatura ocidental, inclusive de Lolita, de Vladimir Nabokov, proibido no Irã, que trata da paixão de um homem adulto por uma menina de 12 anos.

CENSURA
Hoje os intelectuais estão sob pressão de censura do regime fundamentalista. Googoosh, o mais famoso cantor popular antes da revolução, foi silenciado durante 21 anos. Depois, foi autorizado a seguir carreira no exterior.

CINEMA
O cinema é a forma mais popular de entretenimento. Dois cineastas iranianos se destacam no cenário internacional: Abbas Kiarostami e Jafar Panahi.

Em 1990, Kiarostami ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza com O Vento nos Levará.

Panahi chegou a ser preso por fazer um documentário sobre o Movimento Verde, de oposição. Entre outros prêmios, Panahi ganhou o Leão de Ouro em Veneza no ano 2000 por O Círculo, que fala das dificuldades das mulheres na sociedade iraniana dominada pelos aiatolás.

Em dezembro de 2010, Panahi foi condenado a seis anos de prisão domiciliar e 20 anos de proibição de dirigir filmes, escrever roteiros e de sair do país, exceto para tratamento médico ou para peregrinar a Meca.

ESPORTE
O esporte é valorizado desde o Império Persa como forma de aumentar a força física e a coragem para defender a própria família e a pátria.

Várias esportes estão relacionados à arte da guerra, hipismo, polo, luta livre, boxe, levantamento de peso, arco e flecha, esgrima. O polo pode ter nascido na Pérsia.

As corridas de cavalos, a luta livre e o halterofilismo eram historicamente os esportes nacionais, hoje superados pelo futebol, o basquete e o vôlei.

Nas montanhas do Norte do Irã, é possível praticar esportes de inverno.

Entre os esportes modernos importados, o basquete é importante. O Irã foi campeão da Ásia em 2007 e participou da Olimpíada de Pequim, em 2008. Hamed Haddadi foi o primeiro iraniano a jogar na Associação Nacional de Basquete dos EUA (NBA). Deixou o Phoenix Sun em 29 de junho de 2013.

O vôlei também se tornou popular nos últimos anos. Em agosto de 2007, a seleção iraniana sub-19 foi campeã do mundo.

No futsal, a seleção iraniana é das primeiras do ranking mundial, depois de Brasil, Espanha e Itália.

Desde a revolução islâmica, as mulheres atletas sofrem restrições.

O Comitê Olímpico Iraniano adverte para o risco de “severas punições para quem não seguir as regras do Islã em competições esportivas”. Sua participação está proibida em esportes em que juízes homens possam ter qualquer contato físico com elas.

FUTEBOL
 O futebol é o esporte mais popular no Irã. A seleção nacional chegou à Copa do Mundo quatro vezes, em 1974, 1990, 1998 e 2002 e ganhou a Copa da Ásia três vezes (1968, 1972 e 1976). Foi medalha de ouro no futebol nos Jogos de Ásia quatro vezes (1974, 1990, 1998 e 2002).

O futebol iraniano evoluiu muito nos últimos onze anos, com a criação de uma divisão principal do campeonato nacional.

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