terça-feira, 17 de junho de 2014

Bélgica: na fronteira entre as Europas latina e germânica

O Reino da Bélgica é um pequeno país da Europa Ocidental, com apenas 30,5 milhões de quilômetros quadrados, 10% maior do que o estado de Alagoas,  uma alta densidade populacional e elevado grau de desenvolvimento, cercado pelo Mar do Norte e a Holanda a norte, a Alemanha a leste, Luxemburgo a sudeste e a França a oeste.

Ao longa da História, a Bélgica foi palco de grandes batalhas como a derrota final de Napoleão em Waterloo, em 1815, e durante as duas guerras mundiais, quando foi ocupada pela Alemanha.

Como fica numa fronteira cultural entre a Europa latina e a germânica, tem uma profunda divisão entre os flamengos da região de Flandres, no Norte, que falam uma língua germânica, e os valões, francófonos, da região da  Valônia, no Sul. De 2007 a 2011, o país não teve governo nacional por causa dessa divisão.

A Bélgica é pioneira da integração europeia, fundadora, em 1957, da Comunidade Econômica Europeia, hoje União Europeia.

Bruxelas, a capital da Bélgica, é sede de importantes organizações internacionais, entre elas a Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia; o Conselho de Ministros, órgão deliberativo da UE; o Parlamento Europeu, cuja sede principal fica em Estrasburgo, na França; e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar dos EUA e Canadá com a Europa. É assim a capital da Europa.

CLIMA
A Bélgica tem um clima temperado úmido fortemente influenciado pelas massas de ar do Oceano Atlântico. As chuvas chegam a 750 a 1000 mm por ano. Os invernos são frios e úmidos, com muita névoa.

A temperatura média anual fica em torno de 10ºC, com a média das mínimas em torno de zero em janeiro e das máximas em 22ºC em julho.

POLÍTICA
Desde a independência da Holanda, em 1830, a Bélgica é uma monarquia constitucional, uma democracia parlamentarista com parlamento bicameral.

Em 1993, a Bélgica foi transformada numa federação com três regiões: Flandres, a Valônia e a região metropolitana de Bruxelas.

O voto é obrigatório a partir dos 18 anos. Em 1899, a Bélgica se tornou o primeiro país europeu a adotar um sistema eleitoral baseado no voto proporcional.

O sufrágio universal existe desde 1893 para os homens. As mulheres só começaram a votar em 1948, depois da Segunda Guerra Mundial.

A Câmara tem 150 deputados eleitos por um sistema proporcional em 11 distritos. O Senado tem 40 membros eleitos diretamente, 21 senadores indicados por parlamentos regionais, 10 eleitos por seus pares, num total de 71.

O chefe de Estado é o rei Philippe ou Filip, coroado em 21 de julho de 2013. O chefe de governo é o primeiro-ministro, cargo ocupado desde 2011 pelo socialista Elio di Rupo, ex-ministro-presidente da Valônia.

Nos pós-guerra, a política belga é dominada por três correntes de pensamento: democrata-cristã, liberal e socialista. As três têm partidos flamengos e valões.

ECONOMIA
Com produto interno bruto de US$ 485 bilhões em 2012, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Bélgica é o 21º país mais rico do mundo, o 16º em renda média anual por habitante, de US$ 43.686, e o 15º em comércio exterior.

É uma economia moderna e aberta, baseada na empresa privada, que se beneficia de sua localização geográfica, de uma rede de transportes e telecomunicações altamente desenvolvida, e de uma base comercial e industrial diversificada.

INDÚSTRIA
A indústria se concentra na região de Flandres, no Norte. Por causa de escassez de recursos naturais, a Bélgica importa matérias-primas, o que a torna vulnerável. Exporta produtos manufaturados, principalmente motores, máquinas industriais, instrumentos de precisão, produtos químicos, têxteis e agroindustriais.

Com a Revolução Industrial iniciada na Inglaterra meio século antes, a Bélgica se tornou no começo do século 19 uma grande produtora de aço, com a maior parte das fábricas situada na Valônia, rica em carvão, em cidades como Liège e Charleroi.

Depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma rápida expansão dos setores químico e petrolífero. O corredor industrial mudou para o eixo Bruxelas-Antuérpia, o maior porto da Bélgica.

CRISE
Com as crise do petróleo de 1973 e 1979, a economia entrou em recessão, que foi mais longa na Valônia, aprofundando a divisão étnico-linguística do país, com o Norte mais dinâmico e a economia do Sul estagnada.

No fim do século 20, o carvão se esgotou, levando o setor industrial a uma depressão que o governo tentou conter e acabou aumentando o endividamento público, que chegou a 120% do PIB nos anos 1980s.

SERVIÇOS
Os serviços representam 77% do PIB e empregam 73% da força de trabalho, enquanto a indústria contribui com 22,3% da produção e 25% do emprego.

O turismo é importante no Oeste de Flandres e na região de Ardennes.

AGRICULTURA
Apenas 2% trabalham na agricultura, responsável por 0,7% do PIB, sendo dois terços do setor de leite e derivados. As principais colheitas são de batatas, beterraba e cereais.

DÍVIDA
A carga fiscal equivale a 50,7% do PIB. O déficit orçamentário de 2012 ficou em 4%, acima do limite de 3% imposto pelo pacto de estabilidade para sustentar o euro. A dívida pública está em quase 100% do PIB, muito acima do limite de 60% exigido pelo mesmo acordo.

CRESCIMENTO
O crescimento foi de 1,8% em 2011. Em 2012, sob o impacto da crise das dívidas públicas dos países da periferia da Zona do Euro, houve queda de 0,2%.

CRISE
O setor bancário sofreu com a crise financeira internacional de 2008. Três grandes bancos precisaram de ajuda do governo e a filial belga de um banco franco-belga foi estatizada.

DESENVOLVIMENTO
A Bélgica é o 17º país do mundo e o 8º da Europa no ranking de desenvolvimento humano da ONU. A expectativa de vida é de 79,65 anos.

Toda a população tem acesso a água potável e tratamento de esgotos. Há 3 médicos e 6,5 leitos hospitalares para cada mil habitantes. Os gastos com saúde somam 10,7% do produto interno bruto, e os investimentos em educação, 6,6% do PIB.

O país tem 154 mil km de estradas de rodagem, 3,2 mil km de ferrovias e 2 mil km de hidrovias.

POPULAÇÃO
Cerca de 92% dos 11 milhões de habitantes na Bélgica são belgas e 8% estrangeiros, sendo 6% europeus de outros países; 97% vivem em cidades.

Dos belgas, mais de 60% são flamengos (57% do total), enquanto um terço são valões. Há uma minoria belga de origem alemã na província de Liège, junto à fronteira com a Alemanha. Cerca de 1,350 milhão tem origem não europeia. Mais de 450 mil têm origem marroquina.

IDIOMAS
A Bélgica tem três línguas oficiais: o francês, o flamengo, uma variação do holandês, e o alemão.

Cerca de 6,23 milhões ou 60% falam flamengo, dominante na região de Flandres, e 40% falam francês como primeira língua, inclusive 85% dos 1,139 milhão de moradores da bilíngue Bruxelas, na verdade, um enclave francófono na região flamenga.

EDUCAÇÃO
Nas últimas décadas, a divisão política e linguística estendeu-se a toda a todos os setores. Desde 1970, não há mais universidades e faculdades bilíngues, à exceção da Real Academia Militar e da Academia Marítima de Antuérpia.

O analfabetismo é praticamente zero. A educação é obrigatória dos 6 aos 16 anos; 89% cursaram o ensino médio e cerca de 42% chegam à universidade. Cada belga fica, em média, 16 anos na escola. O investimento em educação é de 6,6% do produto interno bruto.

RELIGIÃO
A exemplo da vizinha Holanda, a Bélgica é um dos países menos religiosos do mundo. Cerca de 45% dizem não ter religião e 27% não acreditam nem em deuses nem em qualquer força ou espírito superior. Uma pesquisa de 2009 indicava que apenas 5% iam à igreja todos os domingos.

A maioria das pessoas religiosas é cristã, com predomínio dos católicos (75%). Cerca de 6% são muçulmanos e 42 mil, judeus.

ARQUITETURA
A Bélgica tem grandes exemplos de arquitetura românica, gótica, renascentista e barroca. A cidade de Bruges é uma joia da arquitetura medieval.

A praça central de Bruxelas também é admirável, com seus prédios históricos e bares tradicionais como Lei Roi d’Espagne, um bom lugar para degustar alguns dos 1,1 mil diferentes tipos de cerveja do país.

Também é destaque o arquiteto e designer Victor Horta, mais conhecido como Baron Horta, um dos nomes mais importante do estilo art nouveau.  Quatro prédios projetos por Baron Horta são considerados patrimônio mundial da humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura).

PINTURA
Na pintura, destacam-se os pintores da escola flamenga como Hans Memling, Jan van Eick e Rogier van der Weyden, no século 15, Pieter Brueghel, no século 16, e Anton van Dick, Jacob Jordaens e Pieter Paul Rubens, considerado um dos maiores pintores de todos os tempos, no século 17. No século 20, o grande nome das artes plásticas foi o surrealista René Magritte.

MÚSICA
Em 1846, o belga Antoine-Joseph Sax inventou o saxofone, ajudando o país a criar sua própria escola de jazz. No século 20, dois jazzistas belgas, Jean Toots Thielemans e Jacques Brel, alcançaram sucesso internacional.

O lendário guitarrista cigano Jean-Baptiste Reinhardt despertou a atenção do grande jazzista americano Duke Ellington para o flamenco (um estilo de música cigana da Andaluzia, no Sul da Espanha, que nada tem a ver com os flamengos, um povo de origem germânica que habita o Norte da Bélgica e fala uma língua quase igual ao holandês).

Algumas bandas de música pop belgas são conhecidas internacionalmente, como Telex, Front 242, K’s Choice, Zap Mama, Soulwax e dEUS. No metal pesado, os maiores sucessos são Machiavel, Channel Zero e Enthroned.

LITERATURA
O poeta e dramaturgo Maurice Maeterlinck ganhou o Prêmio Nobel de Literatura de 1911. Outros escritores belgas importantes foram Émile Verhaeren, Georges Simenon, Hendrik Conscience, Hugo Claus e Marguerite Yourcenar.

QUADRINHOS
As Aventuras de Tintim, do belga Georges Prosper Remi, mais conhecido como Hergé, é uma das mais famosas histórias em quadrinhos do mundo, recentemente transformada em filme.

Os Smurfs, criados em 1958 por Pierre Culliford, viraram um desenho animado de sucesso na televisão.

CINEMA
André Delvaux, Stijn Coninx, Jean-Pierre e Luc Dardenne destacam-se entre os diretores. O ator mais conhecido é Jean-Claude van Damme.

CULINÁRIA
A cozinha belga apresenta uma ampla variedade e grandes influências das vizinhas França, Holanda e Alemanha.

A Bélgica se gaba de ter produzir as melhores cervejas do mundo. Faz mais 1,1 mil diferentes tipos de cervejas, A cerveja dos monges trapistas da Abadia de Westvleteren foi escolhida várias vezes como a melhor cerveja do mundo.

Os chocolates belgas também disputam a posição de melhores do mundo, É um importante produto de exportação. Com eles, faz-se uma grande variedade de bolos, tortas e doces.

Outras iguarias são os waffles, vendidos com chocolate quente em cafés ou pequenas lojas, através de janelas abertas para as ruas, o galeto na mostarda, e as caçarolas de mariscos acompanhadas de batatas fritas.

Para os belgas, a verdadeira batata frita é a deles, não é da França.

HISTÓRIA
Os belgas eram o povo descendente de celtas e germânicos que habitava a região onde hoje fica a Bélgica quando ela foi conquistada por Júlio César, por volta de 50 antes de Cristo.

A Gália Bélgica, que deu nome ao país, era uma província romana no extremo norte da Gália. Com a queda do Império Romano, no século 5 da era cristã, os francos ocuparam a região, que foi incorporada aos impérios merovíngio e carolíngio.

Os francos se tornaram cristãos com a conversão do rei Clovis I, em 496. Assim o cristianismo chegou ao que hoje é a Bélgica.

Em 843, com a partilha do Império Carolíngio (de Carlos Magno), o Tratado de Verdun dividiu a região em vários feudos vassalos da França ou do Sacro Império Romano-Germânico. Os condados de Flandres, Hainaut e Artois eram vassalos da França. Os ducados de Brabante e da Holanda, a Frísia, Gueldre e o bispado de Liège, do Sacro Império.

CIDADES DE FEIRAS
Na Baixa Idade Média, quando há o desenvolvimento das cidades de feiras, cidades como Antuérpia, Bruges e Gante se tornam importantes centros comerciais.

A Bolsa de Valores de Bruges, aberta em 1309, é considerada a mais antiga do mundo. Os comerciantes e financistas se encontravam na casa da família Van der Burse. Logo apareceram outras bolsas em Antuérpia, Gante, Amsterdã e Roterdã.

PAÍSES BAIXOS
A região que hoje inclui a Bélgica, a Holanda e Luxemburgo foi reunificada em 1433, quando Felipe o Bom, Duque da Borgonha, hoje parte da França, a rebatizou como Terras Baixas da Borgonha.

Em 1477, o casamento de Maria da Borgonha com Maximiliano da Áustria uniu o país à Dinastia dos Habsburgo. Quando casamentos dinásticos deixaram o país sob o controle da Espanha, os reis Carlos V e Felipe II reprimiram o protestantismo, levando à Revolta Holandesa e à guerra.

GUERRA DOS 80 ANOS
A Guerra dos 80 Anos (1568-1648) dividiu os Países Baixos em Províncias Unidas e Países Baixos do Sul. Em 1579, várias províncias do Sul formaram a União de Arras e declararam lealdade ao catolicismo e ao Império Espanhol. Em 1581, as sete províncias do Norte declararam independência da Espanha e formaram a República Unida da Holanda, protestante.

Holanda é o nome latino. Em holandês, o país se chama Países Baixos.

Os Países Baixos do Sul, mais ou menos a atual Bélgica, foram governados pelo Império Espanhol até a Guerra da Sucessão Espanhola (1701-14). Em 1713, o Tratado de Utrecht deu a Bélgica ao Império Austríaco. Lá, foi travada a maioria das guerras franco-espanholas e franco-austríacas dos séculos 17 e 18.

REVOLUÇÃO FRANCESA
A Revolução Francesa de 1789 provocou a revolta dos conservadores liderados por Henri van der Noot e os progressistas de Jean-François Vonck. Eles se uniram e venceram o Exército da Áustria, mas logo entraram em conflito entre si.

Os conservadores ganharam a chamada Revolução de Brabante (ducado onde fica Bruxelas, de onde vinha a maioria dos líderes). Tinham o apoio da classe média urbana, mas não dos camponeses, que não se opuseram quando o rei Leopoldo II, da Áustria, reinstaurou a autoridade real em 1790. Os revolucionários belgas pediram apoio à Revolução Francesa e foram anexados.

Com as guerras pós-Revolução Francesa, em 1794, os Países Baixos foram anexados à Primeira República Francesa, acabando com o domínio do Império Austríaco sobre a Bélgica.

RESSURGIMENTO
O país renasceria como Reino Unido dos Países Baixos em 1815, com a dissolução do Primeiro Imperio Francês depois da derrota final de Napoleão Bonaparte pelo Império Britânico e a Prússia, em 18 de junho de 1815, na Batalha de Waterloo, na Bélgica, a 13 km ao sul de Bruxelas.

REVOLUÇÃO BELGA
Na Revolução Belga, em 4 de outubro de 1830, as províncias do Sul declaram independência da Holanda e a intenção de criar um país independente, católico, neutro e francófono. A coroação do príncipe alemão Leopoldo de Saxe-Coburg-Ghota como Leopoldo I, em 21 de julho de 1831, é festejada como data nacional.

Dias depois, a Holanda invadiu a Bélgica. Sem Exército regular, os belgas foram derrotados, mas uma intervenção da França forçou os holandeses a recuarem e a reconhecerem oficialmente a independência da Bélgica em 1839.

Desde então, a Bélgica é uma monarquia constitucional e uma democracia parlamentarista, com uma Constituição secularista baseada no Direito Romano e no Código Civil de Napoleão.

Depois de décadas de agitação nacionalista em Flandres, em 1898, o flamengo foi declarado língua oficial, ao lado do francês.

CORAÇÃO DAS TREVAS
Ao dividir a África entre as potências europeias, a Conferência de Berlim (1884-85) deu o Estado Livre do Congo ao rei Leopoldo II, da Bélgica, em caráter privado.

A exploração, concentrada na extração de borracha e marfim, foi tão brutal que, sob pressão internacional, o Estado belga assumiu em 1908 o controle da colônia, que passou a se chamar Congo Belga.

O romance No Coração das Trevas, do polonês naturalizado britânico Josef Conrad, ambientado no Congo de Leopoldo II e publicado em 1902, inspirou o filme Apolipse Now, o épico do cineasta americano Francis Ford Coppola sobre a Guerra do Vietnã.

PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Apesar de neutra, a Bélgica foi invadida em 4 de agosto de 1914, depois de negar passagem às forças da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-18) dentro do Plano Schlieffen para atacar a França em sua ofensiva na frente ocidental. Nos primeiros meses da guerra, houve o chamado Estupro da Bélgica, tantos foram os crimes cometidos pelas tropas alemãs.

As trincheiras da frente ocidental passavam pela Bélgica e o Norte da França. Lá, foram travadas algumas das batalhas mais sangrentas da Primeira Guerra Mundial.

ARMAS QUÍMICAS
Em 1915, a Alemanha usou armas químicas pela primeira vez em grande escala, contra a Rússia na Batalha de Bolimov, na Polônia, na frente oriental, quando a nuvem tóxica congelou e não produziu o efeito desejado; e na Segunda Batalha de Ypres, na Bélgica, na frente ocidental, onde 2 mil canadenses foram mortos.

Um belo monumento em Saint-Julien homenageia os canadenses mortos.

ENTREGUERRAS
No fim da guerra, a Bélgica tomou as colônias alemãs de Ruanda-Urúndi, na África, hoje os países de Ruanda e Burúndi, e em 1924 recebeu mandatos da Liga das Nações para administrá-los. Em 1925, anexou os distritos de Eupen e Malmedy, onde hoje existe uma minoria alemã.

Pioneira na integração europeia, em 1922, a Bélgica formou uma união monetária e aduaneira com Luxemburgo.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), o país foi invadido mais uma vez dentro dos planos da Alemanha para tomar a França. A Batalha da Bélgica durou 18 dias.

Em 10 de maio de 1940, o Exército nazista invadiu a Bélgica, a Holanda e Luxemburgo. Dias depois, os alemães lançaram a segunda parte de sua ofensiva, atacando a região de Ardennes, no Sul da Bélgica para chegar ao Canal da Mancha e cercar as tropas inimigas, pressionando-as a fugir pelo mar.

Na manhã de 15 de maio, tendo vencido as defesas em Sedan, o Exército da Alemanha pôde avançar livremente rumo à Mancha.

A Bélgica se rendeu em 28 de maio, enquanto as forças aliadas da França e do Reino Unido fugiam para a Inglaterra na dramatica retirada de Dunquerque, na França, de 27 de maio a 4 de junho, tentando preservar alguma capacidade de combate.

A ocupação nazista enfrentou uma resistência crescente. Quando os aliados chegaram à Bélgica em 3 de setembro de 1944, depois de invadirem a Normandia em 6 de junho de 1944, a resistência impediu a destruição do porto de Antuérpia. Foi o porto mais importante para desembarque de provisões para os aliados na frente ocidental até o fim da guerra, em 8 de maio de 1945.

No fim da guerra, a destruição foi estimada em 8% da riqueza nacional, muito menos do que outros países europeus.

INTEGRAÇÃO
Em 1948, a Bélgica se juntou à Holanda e Luxemburgo para formar a união econômica Benelux. No ano seguinte, 1949, tornou-se um dos países fundadores da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos para se opor à União Soviética durante a Guerra Fria, com sede em Bruxelas.

No processo de integração da Europa lançado em 1950 pela Declaração de Schuman, do ministro do Exterior francês Robert Schuman, a Bélgica participou da criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, em 1951, e da Comunidade Econômica Europeia, em 1957, hoje reunidas sob a União das Comunidades Europeias ou União Europeia.

A Bélgica foi um dos seis países fundadores da CEE, instalada em 1958, ao lado de Alemanha Ocidental, França, Holanda, Itália e Luxemburgo.

CONGO
Em 30 de junho de 1960, a Bélgica deu independência ao Congo, depois da vitória do socialista Patrice Lumumba nas eleições de 22 de maio.

Lumumba não deveria falar, mas discursou, falando de uma luta com “lágrimas, fogo e sangue” contra o que chamou de “regime de injustiça, opressão e exploração” da colonização belga. De acordo com algumas fontes, ainda virou-se para o rei Balduíno, que elogiara o avô genocida Leopoldo II, e afirmou: “Não somos mais seus macacos”.

Cinco dias depois, o comandante da Força Pública, se rebelou, dando início a uma guerra civil que a rigor não terminou até hoje.

KATANGA
Com o apoio de 6 mil soldados belgas, empresas belgas e mercenários brancos sul-africanos e rodesianos, em 11 de julho de 1960, a rica província mineral de Katanga declarou independência.

Três dias depois, Lumumba apelou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, que enviou uma missão, mas entrou em conflito com o primeiro-ministro, que queria usá-la para subjugar os rebeldes de Katanga. O secretário-geral Dag Hammarskjöld rejeitou o pedido.

A Resolução 143 pediu a retirada das forças belgas e ajuda militar da ONU ao Exército do Congo para “cumprir totalmente suas tarefas”.

Em 22 de julho, a Resolução 145 reafirmava que o Congo era um Estado unitário e insistia na retirada das tropas da Bélgica.

Em 9 de agosto, a Resolução 146 mencionava Katanga pela primeira vez, autorizando a missão da ONU a entrar na província mas proibindo-a de “intervir ou influenciar o resultado de qualquer conflito interno”.

KASAI DO SUL
A província de Kasai do Sul, que tinha declarado independência em 14 de junho de 1960, 16 dias antes do fim do domínio colonial belga, resolveu se tornar um país, com capital em Bakwanga.

Lumumba estava decidido a retomar Katanga e Kasai do Sul. Sem poder contar com a ONU, pediu ajuda à URSS, que fez uma ponte aérea para levar reforços e ajudar o governo a retomar Kasai do Sul. Uma campanha violenta matou centenas de congoleses da tribo baluba e provocou a fuga de cerca de 250 mil pessoas.

O pedido de ajuda à URSS irritou o presidente americano, Dwight Eisenhower, que autorizou a CIA (Agência Central de Inteligência), o serviço de espionagem da Presidência dos EUA a articular uma conspiração para matar Lumumba.

Em 5 de setembro, o presidente Joseph Kasa-Vubu demitiu Lumumba, que não aceitou e tentou derrubar o presidente. Lumumbra chegou a ser preso em 12 de setembro pelo comandante do Exército, Joseph Mobutu, mas foi solto por tropas leais a ele.

GOLPE
Num golpe articulado pela CIA, Mobutu tomou em 14 de setembro de 1960 o poder que só deixaria em 1997, tornando-se o protótipo do ditador africano pró-ocidental durante a Guerra Fria, o que o levou a acumular uma fortuna bilionária num país riquíssimo em recursos naturais, mas pobre e subdesenvolvido até hoje.

Em 27 de novembro, Lumumba deixou a prisão domiciliar. Preso por soldados de Mobutu em 1º de dezembro, ele foi enviado a Katanga, onde foi espancado diante de câmeras. Três semanas depois, uma rádio de Katanga anunciou que ele havia escapado e tinha sido morto por camponeses.

Na brutal política congolesa, um inquérito concluído em 2001 na Bélgica estabeleceu que Lumumba foi torturado, fuzilado, esquertejado, enterrado, desenterrado e seus restos foram dissolvidos em ácido.

ONU VAI À GUERRA
Em 21 de fevereiro de 1961, o Conselho de Segurança autorizava a missão da ONU “para prevenir uma guerra civil no Congo, inclusive… a usar a força, se necessáro, como último recurso”. Pela primeira vez a ONU entrava numa guerra civil.

Ao visitar o país, em 18 de setembro de 1961, Dag Hammarskjöld morreu num acidente de avião nunca esclarecido. Foi o único secretário-geral da ONU a morrer no exercício do cargo.

CHE NA ÁFRICA
Em 1964, o governo do Congo pediu ajuda militar aos EUA e à Bélgica. No início de 1965, o guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara resolveu ir para o Congo, depois de dizer ao presidene da Argélia, Ahmed Ben Bella, que a África era o “elo mais fraco do imperalismo” (uma teoria leninista), com grande potencial revolucionário.

Durante um ano, Guevara colaborou com líderes como Laurent Kabila, que descreveu como “bêbado e mulherengo, incapaz de liderar uma revolução”. O Che voltaria à América Latina para morrer lutando na Bolívia em 1967, enquanto Kabila se refugiou durante 30 anos nas Montanhas da Lua para liderar a queda de Mobutu.

GENOCÍCIO EM RUANDA
Antes disso, outra catástrofe noutra ex-colônia belga iria desestabilizar toda a região: o genocídio de Ruanda. Em 6 de abril de 1994, a Frente Patriótica de Ruanda, liderada pelo atual presidente, Paul Kagame, derrubou o avião do presidente Juvenal Habyarimana na chegada à capital.

Com a queda iminente do regime, o Exército da maioria hutu iniciou uma campanha de extermínio da minoria tútsi. Em pouco 100 dias, pelo menos 500 pessoas, talvez um milhão, foram mortas.

FRACASSO MUNDIAL
A Missão da Nações Unidas de Ajuda a Ruanda foi paralisada desde o início pela relutância das grandes potências do Conselho de Segurança em se envolver, especialmente os EUA, traumatizados pela Batalha de Mogadíscio, quando os fuzileiros navais foram humilhadas na Somália, em 1993.

O comandante belga da força de paz da ONU, general Roméo Dallaire recebeu ordens de proteger os estrangeiros. A força de paz abandonou uma escola onde 2 mil refugiados foram massacrados e acabou se retirando do país.

Cinco anos depois, o presidente Bill Clinton admitiria que o genocídio em Ruanda foi o maior fracasso de seu governo em política externa. Foi também a maior vergonha para a política externa da Bélgica no pós-guerra.

GUERRA MUNDIAL AFRICANA
A fuga em massa de refugiados desestabilizou o vizinho Congo, que o ditador Mobutu tinha mudado de nome para Zaire, deflagrando uma guerra civil que acabou com o reinado de Mobutu, envolveu nove exércitos, centenas de grupos e ficou conhecida como a Primeira Guerra Mundial Africana. O total de mortos em combate, de doenças e de fome é estimado em 5,4 milhões.

O legado colonial belga na África é trágico.

COMÉRCIO EXTERIOR
A Bélgica é o 18º maior importador mundial, com US$ 311,2 bilhões em 2012, e o 19º maior exportador mundial, com US$ 302,4 bilhões.

As principais exportações belgas são máquinas e equipamentos, produtos químicos, diamantes lapidados , metais e produtos metálicos, e alimentos. Seus maiores compradores são Alemanha (18%), França (16,1%), Holanda (13%), Reino Unidos (7,3%), EUA, (5,3%) e Itália (4,4%).

As maiores importações são de matérias-primas, máquinas e equipamentos, produtos químicos e farmacêuticos, diamantes brutos, alimentos, equipamento de transportes e derivados de petróleo. A Bélgica importa mais da Holanda (20,9%), Alemanha (14,2%), França (10,6%), dos EUA (6,1%), do Reino Unido (5,5%) e da Irlanda (4,4%).

RELAÇÕES COM O BRASIL
Em 2012, foi a 20º maior parceiro comercial do Brasil, com 1,25% do total, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores.

Os produtos manufaturados representam 52,7% das vendas brasileiras, com destaque para o suco de laranja, preparações hortículas e frutas 26,2%, e café em grão (11,6%), seguidos de produtos primários (36,7%) e semimanufaturados (10,5%).

Nas importações brasileiras, predominam os produtos manufaturados (96,9%), com destaque para medicamentos, combustíveis e lubrificantes, seguidos pelos semimanufaturados com 2,6%.

ESPORTE
Além do futebol, são muito populares o ciclismo, o tênis, a natação e o judô. A Bélgica organizou a Olimpíada de 1920, em Antuérpia.

Os belgas têm o maior número de vitórias na Volta da França depois dos franceses. O belga Eddy Merckx é considerado um dos maiores ciclistas de todos os tempos.

As tenistas Kim Clijsters e Justine Henan estiveram no topo do ranking feminino da Associação dos Tenistas Profissionais.

No automobilismo, o piloto belga Jack Ickx ganhou oito grandes prêmios de Fórmula 1 e seis 24 Horas de Le Mans. Foi duas vezes vice-campeão de F-1.

Em Olimpíadas, Hubert van Innis ganhou seis medalhas no arco e flecha em 1920. Robert van der Valle e Ulla Werbrouck destacaram-se no judô no fim do século passado. Com recorde mundial, Frederik Deburghgraeve ganhou a medalha de ouro nos 100 metros nado de peito nos Jogos de 1996, em Atlanta, nos EUA.

FUTEBOL
A Associação Real de Futebol da Bélgica, fundada em 1895, foi a primeira federação nacional de futebol da Europa continental.

A seleção belga, conhecida como os Diabos Vermelhos, volta à Copa do Mundo depois de seis participações consecutivas de 1982 a 2002. Sua melhor classificação foi o quarto lugar em 1986, no México, quando  derrotou a Espanha, uma das sensações (tinha ganho da Dinamáquina) nos pênaltis e perdeu para a campeã Argentina na semifinal com dois gols de Diego Maradona.

CAMPEÃ OLÍMPICA
A seleção belga ganhou o torneio de futebol da Olimpíada de Antuérpia, na Bélgica, em 1920, e foi vice-campeã da Europa em 1980.

BRASIL X BÉLGICA
Sem grandes títulos a festejar, a torcida belga comemora vitórias de sua seleção em amistosos contra campeões do mundo: 2-0 sobre a Alemanha Ocidental, em 1954; 5-1 contra o Brasil ,em 1963; 1-0 sobre a Argentina, em 1982; e 2-1 contra a França, em 2002.

Em 24 de abril de 1963, uma seleção brasileira que excursionava pela Europa iniciando uma renovação para a Copa de 1966 foi surpreendida pela Bélgica. Aos 21 minutos, os belgas venciam por 4-0. Quarentinha descontou, mas eles fizeram 5-1.

A vingança viria em 2 de junho de 1965, no Maracanã, quando o Brasil ganhou por 5-0, com três gols de Pelé.

COPA DE 2002
O Brasil voltaria a vencer a Bélgica por 2-1 em 1988 e por 2-0, com gols de Rivaldo e Ronaldo, nas oitavas de final da Copa de 2002, depois da anulação de um gol legítimo de Marc Wilmots no primeiro tempo, quando o jogo estava 0-0.

Wilmot é agora o treinador da seleção, que se classificou invicta para a Copa no Brasil e será cabeça-chave. Esta é considerada a geração de ouro do futebol belga.

GERAÇÃO DE OURO
Os destaques da seleção são o goleiro Thibaut Cortois os meio-campistas Eden Hazard e Kevin de Bruyne, do Chelsea; o zagueiro Jan Vertonghen e os meio-campistas Mousa Dembele and Nacir Chadli, do Tottenham Hotspurs; o zagueiro Vincent Kompany, do Manchester City; o meio-campista Marouane Fellaini, do Manchester United, talvez o maior craque do time; e o atacante Romelu Lukaku, autor dos dois gols da vitória sobre a Croácia em Zagreb que garantiu a classificação para vir ao Brasil.

TRAGÉDIA
O momento mais triste da História do Futebol na Bélgica foi a tragédia no Estádio de Heysel, em Bruxelas. Em 29 de maio de 1985, antes da final da Liga dos Campeões da Europa entre Liverpool, da Inglaterra, e Juventus, da Itália, quando os hooligans (arruaceiros ou vândalos) da torcida inglesa atacaram os adversários usando inclusive barras de ferras, causando correria, tumulto e 39 mortes. Outros 600 torcedores saíram feridos.

A UEFA (União Europeia de Futebol Associativo) decidiu realizar a partida assim mesmo. A Juventus ganhou por 1-0, gol de pênalti de Michel Platini, mas não havia nada a festejar.

Para conter o hooliganismo, a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, proibiu as equipes inglesas de disputar as copas europeias por cinco anos.

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