sábado, 8 de março de 2014

Russos atiram para afastar missão de paz

Pelo terceiro dia seguido, uma missão observadora da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) foi impedida hoje de entrar na região ucraniana da Crimeia por soldados da Rússia, que intervém militarmente na ex-república soviética da Ucrânia. Os russos chegaram a disparar tiros de advertência para intimidar os observadores internacionais. Ninguém saiu ferido.

O presidente russo, Vladimir Putin, nega legitimidade ao governo revolucionário da Ucrânia, que derrubou seu aliado Viktor Yanukovich depois de uma onda de protestos e conflitos de rua em que quase cem pessoas foram mortas. Usa isso para violar todos os acordos assinados com o país vizinho.

Nos últimos dias, ficou evidente a intenção da Rússia de anexar a Crimeia. A assembleia regional convocou um referendo sobre a questão para 16 de março de 2014. Seus líderes foram recebidos em Moscou nas duas câmaras do Parlamento da Rússia, com a promessa de aprovar rapidamente a reintegração da Crimeia, onde 58% são russófonos.

O governo provisório da Ucrânia, a União Europeia e os Estados Unidos denunciaram o referendo como uma violação do direito internacional ao servir de pretexto para mudar fronteiras. Em casos como este, a Constituição da Ucrânia exige votação no país inteiro.

Como nenhum outro país vai entrar em guerra com a Rússia por causa da Ucrânia, Putin pode levar a Crimeia, assim como fez em 2008 com as regiões da Abcásia e da Ossétia do Norte, legalmente partes da ex-república soviética da Geórgia.

De certa forma, a sensação de impotência do Ocidente é a mesma das invasões soviéticas à Hungria, em 1956, e Tcheco-Eslováquia, em 1968, do golpe contra o sindicato Solidariedade na Polônia, em 1981, e da guerra russa contra a Geórgia, em 2008.

Putin descreve o fim da União Soviética como "a maior catástrofe geopolítica do século 20". Gostaria de restaurar um pouco do poder imperial da Rússia e da URSS. Sem a Ucrânia, esse sonho acaba. Sua ambição é criar a União Eurasiana, se outras ex-repúblicas soviéticas concordarem.

A questão é onde o putinismo vai parar. Todas as ex-repúblicas soviéticas têm populações russas, o pretexto alegado por Putin, aliás o mesmo invocado por Hitler antes da Segunda Guerra Mundial: onde tinha alemão, era Alemanha. Assim, ele viria parar em São Leopoldo e Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.

A ex-república soviética da Moldova, que fica a oeste da Ucrânia, é das mais preocupadas, ao lado das repúblicas do Mar Báltico, Estônia, Letônia e Lituânia, e da Polônia, um dos países mais ativos na tentativa de responsabilizar a Rússia pela intervenção na Ucrânia. Estes quatro últimos países se tornaram membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, que teriam a obrigação de defendê-los.

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