quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Morre Nelson Mandela, último grande estadista desta era

O líder negro Nelson Mandela, maior responsável pela transição pacífica da África do Sul do regime segragacionista do apartheid, um dos regimes mais odiosos do mundo contemporâneo, para a democracia, morreu hoje aos 95 anos em Pretória, a capital do país, anunciou agora há pouco o presidente sul-africano Jacob Zuma.

"A nação perdeu seu melhor filho; o povo perdeu seu pai", declarou Zuma.

Mandela passou 27 anos preso até ser libertado em 11 de fevereiro de 1990 para negociar com o regime que o encarcerou. Até sua imagem era proibida no país. A pneumonia que o matou hoje foi resultado das condições desumanas na prisão da ilha de Robben, onde ficou 16 anos.

Influenciado pelas ideias do líder pacifista da independência da Índia, o Mahatma Gandhi, baseadas na resistência pacífica e na desobediência civil do naturalista norte-americano Henry David Thoreau, nos anos 1940, Mandela entrou para a Liga Jovem do Congresso Nacional Africano (CNA). Depois da morte de 69 negros no Massacre de Sharpeville, em 1960, o CNA entrou para a luta armada.

Nelson Mandela era o líder do braço armado do CNA, Umkhonto we Sizwe, a Lança da Nação. Quando voltava de treinamento militar no exterior, foi preso, em 1962, e condenado à morte em 1964. A sentença depois foi reformada para prisão perpétua. Durante o julgamento, ele disse que estava lutando contra a ditadura da minoria branca e prometeu lutar contra uma ditadura da maioria negra.

Nos momentos mais violentos da guerra civil não declarada da África do Sul, o regime racista apelou a Mandela, que sempre insistiu que presos não podem negociar.

Diante da grande pressão internacional, do boicote internacional à economia sul-africana e do fim da Guerra Fria, ao tomar posse, em 1989, o presidente branco Frederik de Klerk anunciou a intenção de libertar Mandela e negociar o fim do apartheid. Ambos ganharam o Prêmio Nobel da Paz em 1993.

Depois de negociações tensas e difíceis, em 27 de abril de 1994, Mandela assumia como o primeiro presidente eleito democraticamente da África do Sul. Convidou para a posse um de seus carcereiros. Fiel à democracia, ao contrário da maioria dos líderes africanos, deixou o governo depois do primeiro mandato.

Não resta no mundo nenhum líder que tenha nem de longe o status de Mandela. Talvez só Mikhail Gorbachev tenha dado uma contribuição maior à história da humanidade, mas perdeu a autoridade moral pela maneira como foi expulso do Kremlin e do poder por Boris Yeltsin e pelo colapso da União Soviética. Mas a África do Sul pós-Mandela enfrenta sérios problemas de deterioração política como os escândalos envolvendo o presidente Zuma.

O legado de Mandela está sendo mal cuidado. Diante do silêncio face às arbitrariedades da ditadura de Robert Mugabe no vizinho Zimbábue, comenta-se em tom de blague na África do Sul: "Se ainda estivéssemos lutando contra o apartheid, esse governo aí não nos apoiaria."

A data de nascimento de Nelson Mandela, 18 de julho, foi transformada pela ONU em Dia Internacional Nelson Mandela pela liberdade, justiça e democracia.

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