domingo, 3 de novembro de 2013

Kerry tenta reassegurar aliados árabes dos EUA

O secretário de Estado americano, John Kerry, fez hoje uma visita de surpresa ao Egito, na véspera do início do julgamento do ex-presidente Mohamed Mursi, deposto em 3 de julho de 2013, para pedir moderação ao governo militar egípcio. De lá, seguiu para a Arábia Saudita, que está irritada com a política dos Estados Unidos no Oriente Médio.

A Arábia Saudita e o Egito são os maiores aliados árabes dos EUA, mas, no momento, suas relações com Washington são as piores possíveis.

Pela lei americana, os EUA não podem ajudar governos resultantes de golpes de Estado, o que fez o governo Barack Obama suspender a ajuda que Washington dá ao Egito desde a assinatura do acordo de paz egípcio-israelense, em 1979. Isso irritou os grupos secularistas que apoiaram o golpe militar contra o governo dominado pela Irmandade Muçulmana. Nas ruas do Cairo, há cartazes onde Obama usa uma barba típica de extremistas muçulmanos.

Por outro lado, os grupos islamitas radicais que a promessa de chegar ao poder pelo voto atraía para o jogo político chegaram à conclusão de que a única saída é a luta armada. A violenta repressão à Primavera Árabe na Síria tornou ainda mais distante o sonho de democracia.

Kerry insistiu na convocação rápida de eleições e na transferência do poder para um governo eleito democraticamente. Será difícil. A Irmandade Muçulmana foi colocada na ilegalidade.

Na Arábia Saudita, o problema é o Irã. A aliança com os EUA foi selada num encontro do então presidente Franklin Delano Roosevelt com o primeiro sultão saudita, Abdulaziz al-Saud, a bordo de um navio de guerra americano estacionado no Canal de Suez. Os EUA forneceriam capital e tecnologia para a exploração de petróleo.

Essa aliança foi parcialmente rompida quando o rei Faiçal, filho de Abdulaziz, decretou o embargo à venda do petróleo árabe aos países amigos de Israel depois da Guerra do Yom Kippur, em 1973. Se ajudou a expulsar a União Soviética do Afeganistão, também lançou as primeiras sementes da rede terrorista Al Caeda.

No mês passado, eleita para uma vaga temporária por um período de dois anos no Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Arábia Saudita declarou que não assumiria a posição em protesto contra a incapacidade da ONU de resolver os problemas do Oriente Médio, especialmente a ocupação dos territórios palestinos por Israel, a guerra civil na Síria e a ameaça de que o Irã faça bombas atômicas.

Talvez a revelação mais impressionante das centenas de milhares de documentos da diplomacia americana vazados pelo sítio WikiLeakis fosse a pressão do rei da Arábia Saudita para que os EUA ataquem o Irã para impedir a república dos aiatolás de desenvolver armas nucleares.

O Irã, xiita, é um rival da Arábia Saudita, sunita, na luta pela liderança do Oriente Médio. A guerra civil na Síria acirrou o conflito entre sunitas e xiitas num arco que vai do Líbano, passando pela Síria, até para lá de Bagdá, e a postura dos EUA, tirando as armas químicas, é de indiferença.

Quando a ditadura de Bachar Assad foi acusada de atacar com armas químicas, em 21 de agosto de 2013, e os EUA ameaçaram lançar um bombardeio punitivo, receberam o apoio da Arábia Saudita. Mas, com intermediação da Rússia, o regime sírio prometeu se desfazer das armas químicas.

Na questão palestina, a visão árabe é que os EUA não pressionam suficientemente seu aliado incondicional, Israel, para que faça as concessões necessárias a um acordo de paz.

Kerry tem muitos incêndios para apagar. Vai encontrar pouca água no deserto.

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