quarta-feira, 3 de julho de 2013

Comandante militar suspende Constituição do Egito

O comandante supremo das Forças Armadas do Egito, general Abdel Fattah al-Sissi, anuncia neste momento o "roteiro de viagem" proposto pelos militares para romper o impasse político no país, suspendendo a Constituição, dissolvendo o Parlamento e entregando a Presidência da República ao presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Adli Mansour.

Sob a presidência do chefe do Poder Judiciário, serão realizadas eleições parlamentares e presidenciais abertas à participação de todos os partidos políticos, declarou o general.

Uma comissão de notáveis será encarregada de reescrever a Constituição, organizar as eleições e promover a reconciliação nacional. Também será criado um código de conduta para os meios de comunicação, nas palavras do general, para proteger os jornalistas, mas também coibir seus excessos.

"As Forças Armadas aconselham a todo o povo do Egito que mantenha suas manifestações pacíficas, de acordo com a lei", concluiu o comandante militar.

Logo após o anúncio da suspensão da Constituição, a multidão reunida na Praça da Libertação, no Centro do Cairo, explodiu em júbilo.

Em seguida, falou na televisão o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica Mohamed ElBaradei, ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2005, alegando que não houve golpe, mas, sim "um recomeço da revolução egípcia e da Primavera Árabe".

Sob todos os aspectos, é um golpe militar contra o presidente Mohamed Mursi, ainda que apoiado pela oposição secularista, que repudia o governo da Irmandade Muçulmana. Em entrevista à CNN, um porta-voz da Irmandade admitiu que "Mursi cometeu erros, mas não se afasta um presidente eleito cada vez que comete um erro".

O general da reserva Sameh Sei Eliazal argumentou na mesma CNN que não houve golpe porque "as Forças Armadas não têm intenção de governar o país" e só intervieram para "manter a ordem", mas, sim, "uma nova revolução no Egito, desta vez contra o fascismo islâmico".

Depois da queda de Mubarak, o Comando Supremo das Forças Armadas fez um acordo com a Irmandade Muçulmana, que tinha interesse numa transição rápida por ser o único grupo político organizado do Egito. Os islamitas ganharam as eleições parlamentares e presidenciais, sob protesto da dividida oposição secularista.

Como os revolucionários liberais e de esquerda não se uniram para lançar um candidato forte, o segundo turno da eleição presidencial de um ano atrás foi disputado entre um candidato islamita e outro militar. Mursi ganhou por 51,7% a 48%. Os revolucionários que mesmo envergonhados votaram no segundo turno no ex-primeiro-ministro Ahmed Chafik hoje apoiam o golpe, na expectativa que leve a uma democracia liberal e não a um regime islâmico.

O risco é de ditadura, guerra civil ou ambas.

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