terça-feira, 4 de junho de 2013

Setor público faz greve de protesto na Turquia

A Confederação dos Sindicatos do Setor Público entrou em greve ao meio-dia de hoje pelo horário da Turquia. Amanhã, membros da Confederação dos Sindicatos Progressistas devem parar de trabalhar e ir para a Praça Taksim, centro das manifestações contra o governo, que tiveram ontem a segunda morte.

Um estudante havia morrido ao ser atropelado por um táxi em Istambul. Ontem à noite, outro jovem morreu ao ser baleado por um atirador não identificado na cidade de Antáquia.

Com a viagem ao Norte da África que o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan preferiu não adiar para dar uma falsa aparência de normalidade, o vice-primeiro-ministro Bulent Arinc pediu desculpas pela violência policial e acusou "elementos terroristas" pelos confrontos. Talvez seja tarde demais. Os manifestantes exigem a renúncia do governo.

Hoje é o oitavo dia de uma onda de protestos que começou em 28 de maio de 2013 com menos de cem pessoas contrárias a uma reforma para construir um centro comercial, privatizando um espaço público usado historicamente para manifestações. Cerca de 3,2 mil pessoas saíram feridas e 2 mil foram presas.

Depois do pedido de desculpas do governo, a polícia parou de usar gás lacrimogênio e disse aos manifestantes que não os atacaria se não for atacada. Pela primeira vez, este foi um dia de protestos pacíficos.

Erdogan foi eleito primeiro-ministro três vezes. Está no poder há mais de dez anos. Como não pode concorrer a um quarto mandato, está manobrando para aprovar uma reforma constitucional, trocar o parlamentarismo pelo presidencialismo, eleger-se presidente e governar a Turquia por mais dez anos.

A Bolsa de Valores sofreu uma forte queda, abalando a imagem de estabilidade política, poderio econômico crescente e liberdades públicas promovida pelo governo. Se a violência política afastar os turistas do país durante o verão no Hemisfério Norte, a crise vai se agravar ainda mais.

Como o governista Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, do turco), islamita moderado, tem apoio da "maioria silenciosa", especialmente na conservadora região da Anatólia, os analistas não esperam a queda do governo, mas temem uma repressão ainda mais violenta para acabar com os protestos.

Os manifestantes são na maioria estudantes e profissionais jovens. Várias universidades com direção crítica ao governo Erdogan adiaram os exames do fim do ano letivo para liberar os estudantes para participar dos protestos.

Assim, as atenções estão voltadas para a Praça Taksim, mas os manifestantes não representam a maioria da população turca e as oposições estão divididas. Eles vêm principalmente da classe média urbana secularista que teme a islamização da Turquia e do Partido Popular Republicano, o maior da oposição. Incluem jovens ambientalistas, esquerdistas veteranos, membros mais liberais do partido do governo preocupados com o autoritarismo de Erdogan, empresários revoltados com a corrupção, curdos do Partido da Paz e Democracia, militantes do movimento islamita moderado Gulen e ultradireitistas do Partido Movimento Nacionalista.

Com esta salada ideológica, é improvável a unidade das oposições.

As manifestações já afetam a economia turca, especialmente o setor turístico. Se os protestos se tornarem mais violentos, com ataques a prédios e incêndio de carros, a opinião pública pode se voltar contra os manifestantes e aprovar medidas mais duras do governo, que no momento aposta no esgotamento do protesto por fadiga.

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