segunda-feira, 11 de março de 2013

Moradores das Malvinas votam para ficar no Reino Unido

Dos 1.513 eleitores que foram às urnas ontem e hoje nas Ilhas Malvinas ou Falklands, 98,8% votaram a favor de permanecer ligados ao Reino Unido, rejeitando a reivindicação da Argentina de soberania sobre o arquipélago.

A Argentina nega legitimidade ao referendo alegando que a população britânica foi introduzida na ilha. Cerca de 75% dos argentinos apoiam a reivindicação de soberania, que vem de 1820.

O holandês Sebald de Weerdt foi o primeiro navegador a comprovadamente avistar as ilhas, em 1600. Os índios araucanos podem ter estado lá, mas não havia seres humanos nas ilhas naquela época. Quem primeiro desembarcou lá foi o inglês John Strong, que batizou o estreito entre as duas ilhas em homenagem ao Visconde Falkland. Essa foi a origem do nome britânico.

Malvinas vêm de Malouines, nome dado pelo francês Louis-Antoine de Bouganville, que fundou a primeira povoação nas ilhas, em 1764, na Malvina Leste. Os ingleses se instalaram na Malvina Oeste em 1765, de onde foram expulsos em 1770 pela Espanha, que haviam comprado as ilhas da França em 1767. Isso reforça o argumento da Argentina, herdeira do Império Espanhol.

Sob ameaça de guerra, o Império Britânico restabeleceu sua presença em 1771, mas abandonou o arquipélago em 1774 por razões econômicas. Só voltou em 1833, definitivamente, expulsando os argentinos das ilhas.

A Espanha manteve a colônia na Malvina Leste, que chamava de Ilha de Solidão até 1811, quando estava sob a ocupação da França de Napoleão, o que deflagrou a independência de suas colônias na América Latina, a começar pelo México em 1810.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a Argentina aproveitou a onda de descolonização da Ásia e da África para levar sua reivindicação de soberania sobre as Malvinas às Nações Unidas, em 1964. As alegações argentinas citam o Tratado de Tordesilhas, de 1494, a herança como ex-colônia espanhola, a proximidade das ilhas da América do Sul e a necessidade de acabar com o colonialismo.

Em 1965, a Assembleia Geral da ONU aprovou resolução aconselhando as duas partes a negociar. Havia uma negociação em andamento nos moldes da que levou à devolução de Hong Kong à China, em 1997, mas os crimes contra a humanidade cometidos pela ditadura militar argentina implantada em 1976 tornaram um acordo inviável.

Durante a guerra suja argentina, que teve 30 mil mortos ou desaparecidos, as juntas militares delinquentes que aterrorizaram o país resolveram invadir as ilhas, talvez para aplacar a oposição interna com um inimigo externo. O general Leopoldo Galtieri teria oferecido as Malvinas para obter o apoio da Marinha para derrubar o general Roberto Eduardo Viola e se tornar presidente da Argentina.

Em 2 de abril de 1982, sob as ordens de Galtieri, convencidos de que "os ingleses não iam brigar por umas ilhotas", a Argentina tomou de assalto as Ilhas Malvinas. O Reino Unido, na época governado por Margaret Thatcher, enviou uma força-tarefa liderada por dois porta-aviões a uma distância de 13 mil quilômetros do país.

Na época, o embaixador brasileiro Roberto Campos, que representava os interesses da Argentina, rompida com o Reino Unido, disse a Thatcher que sairia muito mais barato reassentar os menos de 2 mil kelpers, como são conhecidos os habitantes das Malvinas, no Norte da Escócia, onde o clima é semelhante. Mas uma grande potência não aceita ser humilhada. Thatcher foi à guerra.

Em 25 de abril, uma força que estava na Ilha da Ascensão, outra possessão britânica no Atlântico Sul, retomou as Ilhas Geórgias do Sul, onde o capitão Alfredo Astiz, o Anjo da Morte, acusado de atirar pelas costas numa menina sueco-argentina de 17 durante a guerra suja, se rendeu sem disparar um tiro. Thatcher se negou a entregá-lo para julgamento na França ou na Suécia, onde era acusado pelos crimes da ditadura.

A fraqueza argentina ficou evidente quando o obsoleto cruzador General Belgrano foi afundado fora da zona de exclusão, em 2 de maio. Mais de 300 argentinos morreram. A reação argentina mais forte partiu de aviões de guerra franceses Super Etendard da Marinha, que faziam voos rasantes para escapar dos radares e disparavam mísseis Exocet. Em 4 de maio, eles botaram a pique o destróiter Sheffield. A esta altura da guerra, a Argentina tinha perdido 20% de sua frota áerea.

Os britânicos desembarcaram nas Malvinas em 21 de maio, mas só conseguiram tomar a capital, Porto Stanley, em 14 de junho, quando os argentinos se renderam. Pelo menos 649 argentinos e 258 britânicos foram mortos na Guerra das Malvinas.

Desde então, o Reino Unido se nega a negociar e alega que qualquer decisão terá de ser aprovada pelos atuais moradores das ilhas, que não têm a menor intenção de viver sob a soberania da Argentina. A Grã-Bretanha usa o mesmo argumento para rejeitar a reivindicação da Espanha sobre Gibraltar. Mas quando Thatcher fez um acordo com Deng Xiaoping, em 1984, para devolver Hong Kong à China em 1997, não submeteu a decisão aos moradores da então colônia britânica.

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