terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Violência no futebol só acaba com inteligência policial

Quando era correspondente do Jornal do Brasil em Londres, nos anos 90, depois da morte de um corintiano ou palmeirense em briga de torcida, o jornal me pediu para entrevistar Brian Drew, chefe da Unidade do Futebol do Departamento Nacional de Investigações Criminais, o serviço secreto da Scotland Yard, a polícia da Grã-Bretanha.

Depois de uma recusa inicial da assessoria, que alegou não querer expor o policial, ele próprio, como fã do futebol brasileiro, sabendo do pedido, concordou em falar comigo. Drew tinha assessorado a polícia dos EUA na Copa de 1994. Uma das coisas que fizera questão de dizer é que as festas da torcida brasileira, mesmo regadas a muito álcool, não costumam degenerar em pancadaria, ao contrario do que acontece na Europa e nos EUA.

Minha primeira pergunta foi "como vocês controlam as torcidas organizadas?" Ele ficou furioso. Tive medo que a entrevista acabasse ali. Com o rosto transfigurado, ele disse: "Nossos torcedores não são bandidos. Não confundimos estas gangues que ficam armando brigas em jogos de futebol com torcedores". É uma distinção cada vez mais confusa por aqui, no Brasil.

Como funcionam, então, as torcidas organizadas inglesas? Para receber qualquer subsídio ou ajuda do clube, os torcedores das organizadas têm carteirinhas de sócio das torcidas emitidas pelo clube. Um policial da delegacia do bairro frequenta o clube, vai aos treinos, aos jogos, viaja com a delegação em jogos fora. Assim, conhece os líderes de torcidas e junto com eles elabora uma lista de maus elementos que devam ser vigiados.

É um trabalho de inteligência policial. Suspeitos perigosos são monitorados para serem presos ao menor delito. A polícia avisa as polícias das cidades de destino em que trem, ônibus ou avião eles viajam.

No ano anterior a entrevista, mais de 4,4 mil ingleses haviam sido processados por delitos ligados ao futebol. Eles incluem brigar em estádios, ao redor deles e em qualquer lugar de concentração de torcedores como praças do centro das cidades, aeroportos, rodoviárias e estações de trem, beber de qualquer lugar de onde se possa ver o jogo (lei pode variar de acordo com a competição), estar bêbado no estádio (se dormir na cadeira, não há problema; se criar confusão, é enquadrado nos dois delitos), gritar palavrões e ofender autoridades.

As penas vão desde a proibição de se aproximar de estádios e locais de concentração de torcida até a prisão, passando pela obrigação de se apresentar numa delegacia na hora dos jogos para ficar recebendo lições de boas maneiras.

Sem polícia e inteligência criminal, o problema não será resolvido. A fórmula está dada pelos ingleses. Quando o Brasil vai começar a agir? Quantos kevins beltráns a mais serão mortos antes disso?

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