sábado, 8 de dezembro de 2012

Dilma mostra provincianismo ao rejeitar Economist

A presidente Dilma Rousseff não gostou do conselho da revista inglesa The Economist. Diante da estagnação da economia brasileira, a mais importante revista semanal de notícias do mundo sugeriu a demissão do ministro Guido Mantega. Resposta da chefe: "Em hipótese alguma, o governo brasileiro, eleito pelo voto direto e secreto do povo brasileiro, vai ser influenciado pela opinião de uma revista que não seja brasileira".

Quanto provincianismo, presidenta! Dilma enrola-se na bandeira a pretexto de proteger a nação, mas, como dizia Samuel Johnson, "o nacionalismo é o último refúgio dos velhacos".

Que tal discutir o mérito da questão, a queda nos investimentos e na produção industrial, as taxas de crescimento abaixo do crescimento populacional, ou seja, negativas no mundo real, mesmo sem descontar a inflação superior a 5%?

Se o produto interno bruto cresce menos do que a população e a inflação, os brasileiros estão ficando mais pobres, presidenta! A queda nos juros é positiva, mas tem sido insuficiente para movimentar uma economia ineficiente, submetida a uma carga de impostos de país rico (em troca de serviços de Terceiro Mundo), que reprime o investimento, a produção e o consumo.

Neste ritmo, o Brasil continuará sendo um país de renda média, abaixo do seu potencial lá por 2050, prevê um estudo recente do banco HSBC. Corre o risco de envelhecer antes de enriquecer, desperdiçando o talento de sua juventude mal educada.

Já que Dilma lembrou a falência do banco Lehman Brothers, Mantega revelou-se um ministro incompetente naquela época, no fim de 2008.

Como contou reportagem do jornal Valor, com a brusca desvalorização do real, várias empresas do setor exportador se ferraram no mercado de derivativos. Tinham apostado na valorização do real. O mercado ia no sentido contrário. Precisavam cobrir suas posições no mercado de câmbio.

Enquanto o presidente Lula autorizava o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, a usar as reservas cambiais para impedir a falência do setor exportador, Mantega dava declarações demagógicas afirmando que o governo não diria dinheiro para a especulação.

No auge da crise, suscitou uma dúvida: o governo iria mesmo socorrer as empresas em dificuldades? Estimulou a especulação quando o BC realizava uma delicada operação em sintonia com a Reserva Federal (Fed), o banco central dos EUA, que ofereceu dólares a países em dificuldades para obter a moeda americana no mercado.

Mantega sabia da operação do BC e fingiu não saber de nada? Na prática, sua declaração só atrapalhou.

Nos últimos dois anos, o ministro Mantega perdeu o que ainda tinha de credibilidade ao fazer previsões de crescimento sempre otimistas e exageradas, de 4% ao ano. Em 2011, o Brasil avançou apenas 2,7% e, em 2012, as expectativas estão em torno de 1%.

Apesar da crise internacional, é muito pouco. Pior do que isso, só na União Europeia, mas não dá para se comparar com a Grécia, Portugal ou a Espanha. O Brasil é muito maior.

Para responsabilizar a crise externa, como aliás também faz a presidente Dilma Rousseff, Mantega criou a expressão "guerra cambial". Ao jogar mais moeda em circulação para estimular a recuperação dos EUA, o Fed estaria solapando as outras economias, como se a recuperação mais rápida da maior economia do mundo não fosse do interesse de todos.

As críticas à manipulação do câmbio para dar vantagem competitiva à China sempre foram veladas, dentro da política terceiro-mundista de solidariedade Sul-Sul que marca a política externa dos governos do Partido dos Trabalhadores. Os alvos preferenciais são sempre os EUA e a Europa.

Mas os dados oficiais indicam que não há uma enxurrada de dólares tentando entrar no Brasil. Com a justificada queda nos juros e as injustificáveis taxas de crescimento medíocres, o capital estrangeiro não está entrando no país.

O governo reage com medidas pontuais como cortes de impostos e encargos aqui e ali, mas não tem uma estratégia clara para promover o investimento e o desenvolvimento científico e tecnológico, fundamentais para aumentar a produtividade e a competitividade da economia brasileira.

O que faz Dilma? Reúne-se com a presidente Cristina Kirchner (a presidenta original) e elogia as políticas que estão afundando cada vez mais um país rico como a Argentina. Pior ainda: acredita que está certa. O risco, adverte The Economist, é a economia dar munição às oposições em 2014.

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