terça-feira, 17 de abril de 2012

Embaixador alemão: "UE não aceita fracasso da Rio+20"

A Europa ainda sonha em salvar a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que será realizada no Rio de Janeiro de 20 a 22 de junho de 2012: "A União Europeia (UE) não aceita o fracasso da Rio+20. Queremos resultados concretos. Precisamos de mudanças estruturais", afirmou hoje o embaixador da Alemanha no Brasil, Wilfried Grolig.

No encerramento da conferência No Caminho da Rio+20, organizada pela Fundação Konrad Adenauer e o jornal O Estado de São Paulo, o embaixador alemão defendeu uma transição para "uma economia verde, com crescimento verde, com metas de desenvolvimento verde, como as Metas do Milênio" para reduzir a pobreza.

Uma proposta central da Europa é transformar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência como a Organização Mundial da Saúde (OMS). É uma tentativa de salvar a Rio+20. Mas há pouco interesse no meio ambiente em meio à pior crise econômica internacional dos últimos 70 anos.

Os Estados Unidos e a China, as duas maiores economias, estão em ano eleitoral. Em plena campanha, dificilmente o presidente Barack Obama virá ao Rio para ser criticado pela total falta de compromisso do governo federal americano em adotar metas de redução das emissões dos gases que agravam o efeito estufa e ser acusado pela direita americana de fazer concessões.

A China é hoje um dos países que mais investem em energias limpas e renováveis, mas construiu seu modelo de desenvolvimento sem prestar a atenção ao meio ambiente. Foi um crescimento rápido e sujo. Seis das dez cidades mais poluídas do mundo ficam na China.

Como é o crescimento que legitima o poder absoluto do Partido Comunista, o governo chinês quer manter total controle sobre seu processo de desenvolvimento, sem concessões a acordos e organizações internacionais. As mudanças chinesas serão ditadas pelos chineses.

Já o Brasil mantém historicamente uma posição defensiva. Tenta destacar o aspecto social do desenvolvimento. Não quer se comprometer em acordos internacionais que impliquem qualquer cessão de soberania, por exemplo, uma convenção sobre florestas para preservar a Amazônia, prestes a enfrentar uma nova de devastação com o novo Código (Anti)Florestal em fase final de aprovação.

Para o embaixador aposentado Luiz Augusto Castro Neves, presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiros de Relações Internacionais (Cebri), a Rio+20 será apenas uma revisão dos resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92), quando mais de cem chefes de Estado e de governo se encontraram no Rio.

Na sua opinião, o mundo vive seu momento de maior instabilidade na era pós-Guerra Fria: "Uma década de unipolaridade foi prolífica na discussão de temas globais. A Rio 92 tornou a questão ambiental tema das relações internacionais. Houve a revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Os atentados de 2001 marcam o fim da unipolaridade inconteste dos EUA, revelam sua fragilidade".

Com o declínio da hiperpotência hegemônica, a emergência de novos grandes atores, como China, Índia e Brasil, a integração das cadeias produtivas pela globalização econômica e a migração do centro de gravidade da economia mundial para a Ásia, raciocina o embaixador Castro Neves, há uma indefinição de parâmetros: "Tudo isso torna a Rio+20 mais crítica".

O Brasil defende desenvolvimento sustentável que inclua os aspectos econômico, social e ambiental, disse o embaixador. Esse é o conceito lançado em 1987 pelo Relatório Brundtland. Refletindo a tradicional posição defensiva do Itamaraty em questão ambiental, chegou a falar que, no passado "queriam transformar países em desenvolvimento em grandes jardins botânicos e zoológicos".

Castro Neves entende que o sucesso da Rio+20 depende de um foco bem definido. Ele acredita que poderia ser a evolução rumo a uma economia com menor queima de carbono. É contra a transformação do Pnuma numa agência: "A criação de um órgão em si não é suficiente".

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