sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Palestina pede reconhecimento à ONU

NOVA YORK - O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, entregou agora há pouco ao secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, o pedido de reconhecimento de um estado nacional palestino independente como membro pleno da organização.

Neste momento, discursa diante da Assembleia Geral, sob grande ovação. Mas o reconhecimento deve ser vetado pelos Estados Unidos, por força de sua aliança incondicional com Israel.

Abbas está pedindo maior envolvimento da ONU no processo de paz, mediado até agora, sem sucesso, pelos Estados Unidos.

"Há um ano, falamos aqui das negociações para um acordo definitivo iniciadas em setembro de 2010 em Washington, sob a mediação do presidente Obama, do Quarteto, do Egito e da Jordânia", recordou Abbas.

"Entramos nas negociações com esperança, mas elas se romperam em semanas", lembrou. "Tentamos todas as alternativas, batemos em todas as portas, procuramos todos os caminhos. Consideramos todas as iniciativas. Mas todas esbarraram na intransigência israelense. Israel se nega a aceitar negociações baseadas no direito internacional e nas resoluções da ONU. Continuou construindo colônias nos territórios ocupados, com toda a brutalidade da agressão e da discriminação de nosso povo que essa política implica."

Para o líder palestino, isso acabou com as chances de levar adiante o processo de paz marcado pel Declaração de Princípios e o aperto de mão entre o primeiro-ministro Yitzhak Rabin e o então líder palestino, Yasser Arafat, na Casa Branca em 13 de setembro de 1993. Ele denunciou a construção da milhares de casas na Cisjordânia, especialmente no setor árabe de Jerusalém e a construção de uma barreira isolando áreas da Cisjordânia.

Ao mesmo tempo, aumentou a campanha de demolição e expulsão de palestinos de suas terras, num processo que o líder palestino chamou de "faxina ética": "Representantes eleitos por Jerusalém foram expulsos de suas casas. A Cidade Sagrada continua sitiada. Essa realidade tenta transformar a ocupação num fato consumado, reduzindo as expectativas realistas de criação de um estado palestino."

Também acusou Israel de bombardear e matar palestinos, numa "guerra de agressão permanente, com milhares de martírios desnecessários. Nos últimos anos, atos criminosos de milícias protegidas pelo Exército de ocupação cometeram frequentes ataques contra o nosso povo contra aldeias, universidades, no campo e na cidade", acrescentou.

O presidente palestino afirmou que a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, onde pretende criar seu país, representam apenas 22% do território histórico da Palestina definido pelo mandato dado pela Liga das Nações ao Império Britânico para administrar a descolonização da área depois da Primeira Guerra Mundial.

Ele defendeu a proposta da Liga Árabe de 2002, que oferecia o reconhecimento de Israel por seus vizinhos árabes em troca da devolução dos territórios árabes ocupados na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Na busca de uma solução internacional para o conflito, "a Organização para a Libertação da Palestina renunciou ao terrorismo e à luta armada", declarou.

"Nosso povo vai continuar a resistência pacífica contra a ocupação e o apartheid. Nossa posição tem o apoio de pacifistas em Israel e no mundo inteiro", observou. "Este pedido é uma confirmação da nossa confiança na diplomacia e no direito internacional."

Na sua visão, "não tira a legitmidade do Estado de Israel, mas tenta conter a expansão das colônias. Estendemos a mão ao governo e ao povo de Israel para construir a paz, um futuro onde nossos filhos tenhem liberdade, segurança e prosperidade. Vamos construir relações cooperativas, em vez de ocupação, colonização e eliminação do outro."

Apesar de tudo, "nos últimos anos, temos criado as instituições para criar um país independente e feito projetos de desenvolvimento para nosso futuro país, para promover a justiça e o Estado de Direito, institucionalizando regras e regulamentações para garantir eficiência e transparência em nossos ministérios."

"Meses atrás, conseguimos a reconciliação nacional" com o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), condenada por Israel porque este grupo não renunciou ao uso da força e é considerado terrorista pelos EUA e a União Europeia.

Por tudo isso, Abbas pediu o imediato reconhecimento internacional da Palestina como um país independente. Ressalvou que "é fútil entrar em negociações enquanto não houver regras claras e prazos, e o Exército de ocupação continuar mudando a realidade demográfica no terreno para criar um fato consumado. Isso é totalmente inaceitável. Nosso país é o último a continuar sob ocupação, indefinidamente, com a recusa de Israel de acatar as resoluções da ONU."

"A situação em nossa região, na Terra Santa, é extremamente delicada", advertiu. "É hora de acabar com a ocupação e o exílio de palestinos que vão de um lugar a outro sem voltar à sua terra. Chegou a hora de nossos homens, mulheres e crianças viverem em paz, dormirem em paz, das mães saberem que seus filhos voltarão para casa são e salvos, que poderão ir a escolas e universidades sem ter de passar por barreiras e outros obstáculos. É hora de libertar milhares de prisioneiros de consciência", conclamou.

"Meu povo só quer levar uma vida normal, como o resto da humanidade", resumiu o presidente da OLP agradecendo aos países que reconheceram a declaração de independência feita por Yasser Arafat em 1988 e agora recentemente, antes do pedido formal à ONU.

Esse pedido aponta as fronteiras da Cisjordânia e da Faixa de Gaza como territórios que constituirão a Palestina independente, com capital no setor oriental de Jerusalém. Sob grande ovação, ele mostrou uma cópia do pedido, para delírio de uma multidão reunida em Ramalá, na Cisjordânia, para acompanhar o discurso.

"A Palestina está renascendo", declarou. "Espero que não tenhamos de esperar muito mais tempo."

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu deve discursar daqui a pouco para reiterar a posição de Israel.

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